sábado, maio 28, 2011
LUIS SÉRGIO DOS SANTOS: O POETA PALAVRARTE
LUIS SÉRGIO DOS SANTOS: O POETA PALAVRARTE – Conheci primeiramente o médico, poeta e letrista Luis Sérgio dos Santos, lá pela virada do ano 2000, virtualmente. Tempos depois, tive a honra e o prazer de conhecê-lo pessoalmente, nas minhas idas e vindas ao Rio de Janeiro.
Do ser humano Luis Sérgio Azevedo dos Santos, guardo ótimas lembranças. Um poeta solidário, uma figura extraordinária, incansável – que o diga sua biografia.
Foi nos anos 70 que ele passou a colaborar em revistas e jornais, publicando traduções e escrevendo artigos, co-fundando o Grupo Uni-Verso. Nesse grupo publicou o livro Carta Aberta. Depois publica Alvo Vivo e Pele de Sombra. Em 1984, publica o livro Deus não joga dados, pela Civilização Brasileira, premiado com Itanhangá, da União Brasileira de Escritores. Ele foi diretor do Departamento de Difusão Científica e Cultural, do diretório acadêmico da Faculdade de Medicina, tendo recebido em 1991, da Clínica Nossa Senhora das Vitórias, (São Gonçalo/ RJ), a homenagem de Médico do Ano.
Como compositor, em 1980 foi gravado por Terezinha de Jesus no LP Caso de Amor, pela CBS. Suas músicas e parcerias estão na sua página do MySpace. Também foi editor da Revista Xilo e do portal Palavrarte, participando do Clube dos Compositores do Brasil e editando o blog Notícias do Palavrarte.
Eis alguns poemas aqui na homenagem que fazemos a esse poetamigo que partiu nesta sexta, dia 27 de maio, deixando saudades.
DIAS LATINOS
Há muito que haver, e ainda haverá
na argila dos teus Tótens
- América.
Nós aqui
sentados na praça conversando,
com esta mochila de pesares e discórdias,
presa nos olhos por um couro dos teus abismos
- América.
Ali na frente, no armazém de eucaliptos e sabonetes
o espírito da floresta dorme, enquanto:
a boca da caixa registradora tem um intestino imenso
que deságua fora de muitos dos teus rios,
e abastece as margens das tuas nuvens do norte
- América.
Nós aqui a telefonar para o Corpo de Bombeiros
e prevendo o recolher das cinzas frias.
Nós aqui soltando cães (di)versos
sem vacinas, sem madames, e com carrocinhas.
Ali por trás, na Rua da Matriz
pela sexta vez ao dia,
o padre ajoelha frente ao Cristo, após,
coloca a mão direita nos ombros do confesso e pede:
que reze, que volte para o pão de domingo.
Ali na calçada
o fiscal fecha a língua dos jornais,
e na loja dos relógios,
o proprietário aumenta o volume do banho-maria
das estações de mormaço no rádio.
Na esquina
com a mesma faca das cebolas,
um João deu mais um corte no seio de uma Joana,
e confirmou a expulsão do Paraíso.
Nós sem poder te defender
e sem caravanas, cavalos e rifles,
Nós cheios de sinais de fumaça
como teus índios
- América.
Ali na periferia da metrópole,
os vagões de um trem
carregam tua certidão de especiarias,
e trazem de volta um cartório de algemas
- América.
Nós aqui despertos por um avião vasculhando pouso
nas verminoses do teu ventre,
nem de todo livre,
Nós abrindo uma melodia
para ver o movimento dessas asas.
Ali do lado
há uma fábrica de redes,
que como uma prodigiosa aranha tece um escombro
por definirem ser uma missão
a busca dos derradeiros peixes.
Nós aqui comprometidos e férteis
na barganha das tuas lendas bambas e coloridas
- América.
Ali na parede,
no bar, um velho confere o resultado
do bicho, ou da desesperança em canas nas
[mesas
dos deuses da sorte. E bêbado e esquecido,
ri como um jovem ante os botões
do "flipper" da tua aventura
- América.
Nós em toda parte
fantasiados e sem guias,
incoerentes,
a sair para tua festa, e pulsando ofensos
ao ouvir-te chamarem de mulher vadia
- América.
Nós
gastando a sola dos bandeirantes,
nós
batendo botas.
Nós amarrados nas cordas
desses nós,
dentro de caravelas surreais
de abstratos mares.
Nós, os calcanhares
dos teus pés puídos e descalços,
num corpo estranhíssimo
em que usas e abusas
da tua cabeça,
a ruir em ouro e sangüíneos diamantes
- América.
DEUS NÃO JOGA DADOS
I
"Deus não joga dados"
um dia disse o sábio Albert Einstein
e neste momento
pela perda ou pelo dano,
pelo ganho de um engano
numa rua qualquer
do mundo
entre
o claro e o escuro
um tiro explode o corpo de alguém.
Explode
e se transforma em fragmentos
de uma rápida estrela,
em cicatriz, num arame farpado
de energia, massa e luz
onde; E=m. c²
Há luz na consciência de uma pedra.
Einstein, és uma rocha.
Ouvi tiros
e pensei: O morto.
Deus é matéria
sólida / líquida / gasosa
o universo
é a carne de Deus.
Há Deus dentro de
nós,
há nós dentro de
Deus.
Uma
Uma mulher me ama,
na minha janela
existe o Atlântico, o Cruzeiro do Sul :
há vastos
equilíbrios suspensos
entre pequenas e grandes esperanças,
Há vastos campos de tempos
do que é / será
manhã, tarde, noite
e nisto sucede,
que ouvi tiros, e pensei:
- o morto.
Sei
do ser da morte:
Todos os dias
dentro de um minuto,
o último instante,
barcos cheios de gaivotas,
os peixes se afogando, sem oxigênio
- peixes fora do mar.
A morte:
não se entenderá
em seus símbolos.
II - CARTA A UM MORTO
Imagino-te
agora entre touros sombrios.
Estás na última agonia.
Dormes,
acordas,
não voltas.
Re (voltas).
Nada é igual.
Tudo é semelhante.
Estás morto,
distingues
as diferenças.
Não se morre
a mesma morte,
duas vezes.
Aqui não podem impedir
o tempo.
Removo pedras,
há uma oração:
é o ciclo da natureza.
Abelhas
inumeráveis
são impressas
na perfeição
dos relógios, dos calendários
das chuvas,
e as águas
voltam entre rios,
chão e céus.
Tudo se dissolve.
Tua cruz
são várias
outras cruzes.
Não conheço
as portas
por onde estás
no finito / infinito
da morte.
Se és
um morto comum,
disto que um tiro
é de vários em um,
levas na morte
o acender de várias palavras.
No coração do silêncio
há rios que não dormem,
e os regatos
refletem
quase nenhuma transparência
onde possamos ver os movimentos
das areias
no fundo de ser dos rios.
Não discuto meridianos & latitudes
Há vida
no vento da morte.
As cruzes
também dormem
mas não se desmancham
das
madeiras,
dos
mármores,
dos aços.
Tudo se dissolve,
a morte não.
A morte não tem cor.
Estás morto.
Teu tempo
não mais se dissolve.
Estás
assim como um:
morto em Dunquerque,
ou morto,
ontem em Nova Iguaçu.
Morto
estás
em toda qualquer parte
- onde -
os mortos se reúnem
e são semelhantes.
Se és
um morto de guerra
és um eco.
Tens as sombras
de todos os mortos do século.
Teu ombro dissemina
uma espada, estrela ou bandeira.
Percebo lagartas dos tanques
correndo entranhas dos campos
esmagando teus pés.
És assim
de alguma forma soldado
com solda entre ferros e aços.
A morte
não te distingue
mais
em Monte Castelo,
ou numa Floresta Negra.
Nada impede
que numa rua qualquer
de um lugar do tempo
tentes arrancar
uma bala do corpo.
É uma bala
que não cala.
É uma bala
que sobre todos
resvala.
Agora,
entre árvores,
raízes no útero da terra - mãe,
sobre ti
pousam os ventos,
ao teu lado
ainda correm
todos
os rios, as planícies, as montanhas.
Agora
não te faz
a morte
o grande dos mistérios,
e a noite é espessa,
sem fim,
O dia
é um sol
cheio de palavras
onde não amanheces,
e não poderás
retornar
desta mesma manhã:
- imensamente.
Ouvi tiros
e sei que "Deus não joga dados".
Os pescadores
recolhem as redes
de qualquer tarde,
o arco-íris
é um milagre,
Nossos filhos
serão ossos
entre deuses.
Todos são espíritos.
Todos
hão de conhecer
que Deus
não os jogou
Como dados.
"Deus não joga dados".
III - CARTA AOS FILÓSOFOS
Nada, em todo universo
é um acaso,
nada é indiferente
aos nossos atos.
Desabam filosofias
como colunas de um templo dos anos A. C.?
Onde estás?
Ó filosofia
aparecestes na Ásia Menor
com Tales de Mileto?
Qual é a tua realidade?
Qual é a nossa real-idade?
Anaxímenes é o ar?
Anaximandro é o indeterminado?
Empédocles
são os 4 elementos?
Ar, fogo, água, terra?
Amor e ódio?
Xenófones de Colofão:
" - Amigo quem és?
Para onde vais?
Que idade tinhas
quando surgiu o medo?"
Demócrito
são átomos e o nada?
Anaxágoras
é o nus?
É o luminoso universal?
Heráclito:
“ – Se vocês derem ouvido
não ao que eu digo
mas ao verbo da existência
(o nexus), então é justo
concordarmos
que um é tudo.”
Pitágoras
No princípio eram os números?
Sócrates
tens toda razão.
És o proprietário da ética.
És sábio.
Tua morte vive.
Aristóteles
quero te dizer palavras de mortais,
quero te dizer
que Alexandre
não era o Grande da Macedônia.
Felipe também morreu.
Platão
onde está a tua República?
E a dialética?
Sócrates
estás cada dia mais vivo.
IV – CARTA GERAL
Terra, terra
teu nome me aterra.
É azul, somente azul a terra Yuri Gagarin?
Vista de que distância?
Há 400 bilhões de sóis
apenas na Via-Láctea,
Na Terra
temos apenas um sol.
Sol e solo
transparência
onde pisamos na luz.
Exobiologia
és/serás uma ciência.
"Ciência" palavra latina
que quer dizer "conhecimento".
Onde estás?
Kepler
vistes a mecânica celeste,
graças a ti
pisamos leve na lua.
Heisemberg
da indeterminação tens o princípio.
Ó criação
crédula/incrédula
do mundo.
Richard Gott
bolhas, bolhas, bolhas,
a criação do mundo?
Steven Weinberg
em quantos/quantas vezes
3 minutos teríamos
para nos destruirmos
neste universo?
Ó teorias cosmogônicas!
V– CARTA AOS GUERREIROS
Napoleão
no exílio
perde a ilha do tempo.
Não há "nada de novo no front ocidental".
Não há nada para dizer ao Remarque.
Os seres,
a anti-matéria,
o jogar os dados
a pretensão de um cálculo
entre labirintos
de vida X morte.
"Deus não joga dados".
A realidade é um todo :
não somos números
no jogo de mais um na multidão.
No momento
há outro tiro,
outro ser explode.
Num inverno
desabamos na ideologia,
o céu a tremer
na lei, des - lei
e ruína do vôo metálico,
onde
ir ao imaginário
mata,
apaga,
liberta:
um oceano
de um provisório
espaço.
Neste ano
nascem crianças armando circos líricos
que passarão vésperas a verem
os símbolos
da morte e da ressurreição.
E = m . c2
Há rios no mar.
Há diferentes
olhos nas bíblias.
Dividiremos
o infinito
em conteúdo de todos
os mortos:
- o Homem de Neanderthal.
Dividiremos
as metamorfoses
dos dias:
ou hão de surgir às noites,
do existir e/ou
não
existir
uma angústia mortal
no interior
das espadas & razões.
Dividiremos
a cruz,
luz,
na agonia do indi-visível,
no fim
do multiplicar
o que endividamos
aos Profetas,
aos vinhos, e aos pães do Apocalipse.
A RESISTÊNCIA
Não há fábricas
para a coragem e a esperança,
e operários
não são
abelhas fabricando o mel.
Fabricam sim
a resistência
e isto impressiona,
ilumina
como se fabricassem
olhos e corações,
como se a alegria
saísse das fábricas
transportada em paixão.
AS CARRETAS DE CANA-DE-AÇÚCAR
As carretas
atadas a um trator
não só levam o peso das canas.
Às vezes
mostram
que levam a voz
o modo de andar
a camisa xadrez aberta no peito,
os filhos
e a amplidão
dos braços que levam as canas.
CARTA AO VIZINHO CHINÊS
Deve ser gêmea, senão a mesma,
é a de ontem, é igual e se disfarça
numa metade escurecida
a lua
que neste momento ronda
como eterna sentinela
a trazer fosca iluminação
sobre a caixa de fósforos,
sobre os palitos
que conhecerão em chamas - um sol.
(Existe o inverso sentido,
o sol iluminando a lua,
e a lua iluminando os pedaços de sol
guardados nos fósforos).
Deve ser sem dúvida a mesma,
a lua que amanhã olhará
um desconhecido
que neste momento mora na China
e faz uma vigília qualquer
sobre o arroz.
(Temos a mesma lua,
somos cúmplices destas iluminações).
Já chega a ser mais do que gêmea,
é exatamente a mesma,
quero simplificar
a lua que volta
amadurecida,
e não estou mais só apenas
olhando a lua,
e seria como se ela me olhasse
e de outras existências
ela, a lua, me permitisse conhecimentos.
Assim sendo
ó desconhecido chinês
não sei o teu exato tráfego
entre esta lua,
e há uma grave denúncia,
uma sonora, uma metamorfoseada denúncia
quando a lua
vem nos dizer que apenas passa
sempre por uma frágil rua
que chamam mundo,
uma única rua descalça
que é a mesma
que existe na Grande Muralha,
que é a mesma
por onde o carteiro
chega a minha porta.
A lua nos faz um só acontecimento.
Assim sendo,
ó já visto chinês,
peço que também
coloques a tua mão sobre a nossa lua.
Tenho olhado esta lua,
venho pensando nos grãos de arroz,
e no instante em que morreu
a tua última imperatriz
de pequenos pés.
Tenho pensado numa embarcação
cheia de muitos,
muitos
antepassados olhando a lua enquanto era uma noite
uma espessa noite,
até que todos eles reunidos
pudessem vir me trazer apenas dois olhos
para olhar esta lua.
Tenho visto tuas porcelanas,
tenho visto algo do azul
desbotando
e sendo devorado por dragões.
Sei,
deves gostar de pingue-pongue
e o mar, o mar
é uma grande mesa quando sobre as águas
passa a lua, - uma bolinha
sobre as águas
e que vai
e volta,
e que vai
e volta.
Estamos assim dentro de um jogo.
Por fim já vizinho,
conhecidíssimo
e amigo chinês -
o jogo é muito antigo.
Olhes a tua lua,
olhes a minha lua,
jogues para cá,
jogarei daqui a tua lua.
Fico aqui pensando em milenares dragões
que querem devorar
o mar,
o arroz,
e a nossa única lua.
A ARANHA E A TEIA
O que teces é a fábula
imaginada e espontânea
brota em pontos e encontros.
Como o homem
de tijolos armado
só que mais entranhada.
Mais exata sem adorno
porque a beleza é só ser
o perfeito do natural.
Pareces vir de outro mundo
mas não espantas
pois já és todo o espanto.
És toda tanto tempo
mas pareces tão de repente
organismo revelado.
És toda tão antiga
mas pareces tão nascente
que estás sempre renascendo.
Ensinas o criar
és conquista e brinquedo
pareces um tanque de guerra.
Mas sombria, muito sombria
de uma morte aparente
frágil de possibilidades.
Suas patas no chão
tocam como uma pluma
pisa no mar.
Carregas impacto de aparição
súbito salto e calmo
aprofundamento
no espaço.
És leve igual folha
porém pesas
com o alcance do mistério.
Mas trazes a leveza
que não mostra a balança
que só vê o sentimento.
Possuis internos diálogos
de penumbra e segredo
de lutas e ciências.
Aqueces apesar das aberturas
de um calor que nascente
é possuído de chama animal.
Os fios correm em ágeis dedos
rede que embala
mãe que protege filho.
Proximidade de ternura
pressentimento selvagem
força e abrigo.
Longínquo despertar
porque me prendes
mais pelo olhar.
Cada dobra é dobra
de oração por acaso
nada desconfias.
Armadilha de permanência
não gemes a brisa fácil
não cai a gravidade casual.
Inflamas um habitat
não de pedra, todo janelas
para ser livre como pássaro.
Percorres uma geografia
de preparo e melodia
de agilidade e desafio.
Espelho de empenho
malhas de destino
aberto para a luz.
Procura de defesa
caminho de vertigem
em encantado preparo.
O MAIS E O MENOS
Desvendada
a inconstância
dos números
se aprende o - menos
se acende o - mais.
Menos:
a manhã salina sem pátio
na sombra das grades no chão.
Mais:
a saudade da árvore
num rosto sem sombra.
Menos:
o ruído da despedida
de gastar os braços.
Mais:
membros acenando
aos caminhos.
Menos:
o lavrador e a enxada
cavando as pedras.
Mais:
o trator como um grilo
sobre os olhos das plantas.
Menos:
Pés nus
Pisando ventos.
Mais:
o trilhar esperanças
entre as perdas e ganhos do dia.
Menos:
o chão bebendo o rio
e peixes secos de tédio.
Mais:
o rio parindo águas
sobre o barro das cachoeiras.
Menos:
a dança dos ponteiros
na batida das horas.
Mais:
o tempo não parando
Por escutar um relógio.
Menos:
elefantes cinzas
num lago de prata.
Mais:
o banho sem metal
dos animais.
Menos:
a morte de um pássaro
em vôo noturno.
Mais:
a revoada para ilhas
de segura ecologia.
Menos:
a mulher sem filhos
na varanda azulejada
Mais:
os filhos retirando
os desenhos dos azulejos.
Menos:
o filme já deposto
sobre o branco da tela.
Mais:
a paisagem
devolvida a própria rua.
Menos:
a inconstância dos números
sem vozes no ar.
Mais:
a permanência dos símbolos
como uma tatuagem.
NERUDA
l.
Um dia como outrora, não esse
de folhas sem fôlego sobre as janelas
e olhos cabisbaixos apodrecendo
suas seivas como se estivéssemos
diante do fim dos tempos.
Em que noite sonha agora
teu coração qual fruto despencado,
de que matéria é teu dia?
Grandes são os navios,
maior é o mar
- toda água é a mesma.
Um país se faz entre ossos
e aí está o cálcio dos teus poemas,
um minério que desperta
e volve qual pedra que voasse,
que se atirasse contra rochedos
- é teu poema.
A desigualdade, a injustiça, a paixão,
esses elementos Pablo
quer ver em forma de pão e luz,
mas entre papéis
o sol bebe a chuva
e se contempla
a imperfeição deste mundo,
a mais perfeita das imperfeições
quando as idéias se cravam no chão
e são raízes de pedras mudas.
2.
Deus deve ter recitado
muitas vezes a Bíblia,
Deus deve estar cansado de eternamente
falar através das chuvas, dos trovões, dos vulcões.
Idéias e ideais,
Deus te deu um chão de uvas
e aqui estamos entre bagaços.
3.
Um trem com olhos de cão
atravessa o céu, e nuvens
são paridas da chaminé da locomotiva.
Nuvens se transformam em carneiros
e saber onde fica a pólvora
não faz um revolucionário.
Um trem com olhos de cão
vai puxando a linha que divide
o dia da noite,
folhas quais seios de fêmeas
descem das árvores, acenam adeus
mas não vais partir.
Já chegastes antes, chegastes cedo,
estavas em Parral
sendo que cravava no chão os trilhos
para que chegasse o trem.
Vagões carregados de flores são distribuídos
por todas as Temucos reais e imaginárias.
Para que mais de vinte noivas
possam se saberem bem amadas,
mais de vinte vezes,
esta noite, como em outras,
deverão ser lidos
"vinte poemas de amor e uma canção desesperada" ,
Por todas as Temucos reais e imaginárias.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Luz de prata. Prato se vazio é repleto de sol,
claridade repentina.
Canto de galo, som de manhãs tecidas em redes.
Todas as minhas sedes.
Todas as fomes,
lamparina
acesa na palavra que brilha.
No sol
vi uma mulher amadurecendo
e depois se transformando em menina,
contrariava o sentido original do tempo
como um relógio
rodando ponteiros para a esquerda
foi ficando mais nova e aos 18 anos
tecia, tecia, tecia a rede
que alucina.
Na lua
luz de prata.
Luz macia, luz que flutua e balança
dentro de redes em varandas
de uma praia nordestina.
A menina que tecia é a mesma
que qual vigia vi habitando
em dois lugares:
ela estava em Andaluzia, estava em Recife.
O mundo tem disso:
às vezes se junta num livro, tudo perto.
Às vezes as fronteiras são só riscos
no papel:
Dobrar de páginas.
O poema pode sobreviver
no branco do papel que foi árvore,
o sementear de letras vai texturizando
e diversificando o mundo
onde se tira sal do mar
e da água dos rios não sai açúcar.
O mundo é tão diverso, chuvas
não fazem um rio mas ajudam,
são muitas faltas dos rios que fazem a seca.
No sertão
os olhos podem conter
rios ausentes, cachoeiras imaginadas,
lagos vazios.
A geografia da fome, a história da fome,
a matemática da fome, o desenho da fome.
Todas as matérias das fomes
sempre podem ser mudadas pelo homem.
A água pode ir para onde o homem mandar.
A água obedece a lei da gravidade,
o homem nem sempre.
Há um tempo insolúvel
em que o futuro não há.
Há um tempo que se dissolve
de outra forma no ar.
Há pessoas sendo feitas
de jerimum, macaxeira, e água
de se esperar.
Há o tempo solúvel e insolúvel.
Vai para o lado, vai para cima
é paisagem da janela do trem
imaginar um rio.
Depois o sertão é silêncio
onde uma canção pede um rio, vários.
E rios secam sobem aos céus, evaporam.
Às vezes um rio pode chegar e se escuta:
Piracema, piracema.
Há rios em que peixes podem ir e voltar.
Quem treinou peixes assim?
Ilusão e concha.
Miragens.
Palavras ao deserto.
No sertão se aprende o silêncio.
Até a hora do vento assobiar.
A chuva foi escondida dentro dos cactos.
Há engenhos que engendram
a água que se tira do chão.
Furar poço é isto:
Lutar contra a sede da terra.
A boca da terra devora.
Existe terra seca no céu?
Existe terra seca no inferno?
É possível que por dia
três ou mais Severinos e algumas Marias
imaginem que a vida melhor exista
em outro pedaço do país.
É assim esta vinda para a outra vida
que muitas vezes é a outra morte.
É outra morte nas favelas gerais
destas cidades tão sem campo
onde nem se colhe escolhas.
Cidades que se fazem outras
sobre montanhas de esperanças
sem travessia.
Num sonho um rio existe no caminho.
Um rio é uma estrada que pode ser feita
até para a água da chuva se deitar.
Um rio é um destino
que escolhe por onde andar.
Cabe num sonho um rio nascer?
Cabe num sonho dar um filho
ao rio São Francisco e deixar este filho
de rio ir pelo sertão aprendendo a andar?
Assim como uma faca
pode ter o percurso que o homem
encaminhar, pode á água no chão um novo
traçado no chão riscar.
Um rio faz um curso,
um homem faz um discurso,
e da confluência destas águas pode o destino
mudar.
Não há lei que diga:
Fique o rio no seu canto,
que nada adiante há de se cantar.
Um rio risca no chão seu traço
também pelo que o homem ao rio destinar.
O homem risca no chão outro rio
e pode outros filhos dos rios a um rio dar.
Há engenhos que engendram
a água que se tira do chão.
Furar poço é isto:
Lutar conta a sede da terra.
A terra seca tem fome.
A terra é isto
se alimenta do homem e do bicho,
às vezes come raízes
e bebe água ao goles.
Se a chuva não der a terra o que beber
ela racha.
A cana guarda o açúcar
como um relógio o tempo.
Depois se espreme o suco destas horas
dentro da cana, e surge o açúcar
em luz cristalina.
Luz nordestina.
A trilha que trago é um trevo
tirado da seca.
Vacas magras.
Sonhos magros.
Há pedras.
A pedra de Drummond, a pedra da cartilha
de educação pela pedra
onde vou abecedarizando o canto.
Canto escrito em meu país
nas linhas de silêncio,
linhas em branco
onde se escreve o som.
Som do ranger das rodas
do carro-de-boi, som
do ranger de cordas,
som de cancelas sendo abertas.
Vi o canavial.
desfazendo a fome, e fazendo a sede,
ou fazendo a fome, e desfazendo a sede.
Vi o canavial contando ao vento
do difícil encontro de um engenho
que desfizesse a fome,
e a sede de uma só vez.
A natureza faz o homem.
O homem faz a natureza.
Difícil algo de uma só vez:
Desfazer e refazer a vida.
Havia um galo tecendo a manhã
há mais de trinta anos num dos livros
que li no ginásio.
Sei que este galo agora são múltiplos
pois daquele canto fez-se a luz balão.
Há muitos cantares engendrados
contra a queda,
é um cante para cima,
em que se há de subir
cortando contra a fibra.
Algo tecido no vento,
rede vazada de luz.
Algo vai sendo refeito
o canto se aprende
e segue guardado
entre cascas.
Há o canto ainda em gemas
dos galos que vão nascer.
Há o canto que se multiplica.
O canto ainda aprendizado
de vários instrumentos
numa orquestra de uma sinfonia
nos raios de sol tecendo
redes ou rios,
num outro tempo
tecendo mais fácil a manhã .
ITAIPU
Onde a onda anda indo e vindo
entre as rochas e o vento,
onde
a gaivota vai buscar o peixe,
e o olhar do homem e da mulher
decifram o azul se transformando em verde,
se derramando sobre o branco
sendo tingido de amarelo
do sol
entre as mãos de seus filhos.
Onde
o sol
incansável sobe e desce montanhas
carregando nuvens e mais nuvens nas costas.
Onde o horizonte tenta esconder o mar,
e há casas e mais casas no alto de uma colina
frente ao mar,
longe, não tão longe,
casas no alto
no meio do caminho
entre o mar e a nuvem,
no alto, não tão alto.
Onde a orquídea escolheu viver
bebendo gota a gota luz e sombra
se equilibrando nas rochas,
dançando no claro-escuro
com os vários tons dos verdes
com que a mata se veste.
Se veste, e se despe a mata
e fica nua íntima das estações,
e ao mesmo tempo lhe visitam
o verão-outono e pode ser
a primavera-inverno num só dia qualquer,
mata que se abre
e recebe, e acolhe sementes,
e se instala e se cria
mais mata inundando os olhos,
mata, árvore, folha, mulher.
Onde raso-fundo, bravo-manso,
azul-verde-claro-escuro, o mar
canta se apresentando plural
pulsando o seu ritmo marítimo-ritmo
voz do mar, som do mar, língua de espuma
que beija a língua negra do asfalto
querendo chegar a praia.
Entre a natureza em curvas
montanhas-seios apontados para os céus
bocas-flores de hibiscos, ou
bocas-flores de bromélias, e tantas outras
entre o mar-montanhas para se ver o verde,
se ver o mar do alto e de longe, o mar
para se ver só se vendo.
Praias irmãs, Itaipu, Piratininga,
Camboinhas, Itacoatiara, Itaipuaçu
anunciando o poder das águas,
e nosso humano compromisso
com as lagoas, as aves, as folhagens
porquê nossos filhos devem ter
o direito de ver o que nelas vemos.
Praia, praia, praia
horizonte diante do mar
para se ver a lua,
ou ir onde perto Várzea das Moças
lindo nome, onde perto Engenho do Mato,
onde quero saber o que produz
este engenho. Sei não distante
Largo da Batalha onde não espero
nenhuma derrota, onde sei perto um rio
que não poderia ser outro qualquer,
Rio do Ouro.
Praia, praia, praia
horizonte diante do mar
para se ver o sol,
e se ver lagoas enquanto lagoas
espelhos d'água refletindo luz solar.
Sons, tons
dos pássaros
onde podem escolher viver:
sanhaçu, mutum, trinca-ferro,
araponga, tangará, gaturama, tiê-sangue,
saira, viuvinha do brejo, papa-capim.
Igreja pequena, casa pequena, barco pequeno,
coração grande,
modo de falar parecido com o de um índio,
onde um museu arqueológico
foi escolhido para ficar
te esperando diante do mar.
Onde podem escolher viver:
Quaresmeira, tuia, amarelinha,
ave-do-paraíso, sálvia, azaléia,
plumbago, jasmim-manga, árvore da felicidade,
onze-horas, chuva-de-ouro,
trevo-de-quatro-folhas,
maria-sem-vergonha, brinco de princesa,
aguapé, cróton, dama-da-noite,
e muito, muito mais.
Onde
quero te levar a um jardim.
Onde o homem pode criar,
e ir fundo em seu mergulho
até querer ser defensor do mar,
porque a fome do homem
não é como a dos pássaros, a dos peixes,
nem como a das árvores diante do ar.
0 homem
pode saber
o tempo da semente, do mergulho, e do revoar,
pode saber
que a caça, caça antes a natureza,
e assim deve saber caçar, e deve ser
como as árvores que nada exigem pelas sombras,
e os pássaros que plantam outra mata
onde a mata não pode morrer.
Onde
o Criador
construiu com sua infinita calma,
e continuou construindo além
anos e anos, como se não quisesse
deixar o ritual dos sete dias.
Onde
o homem
não deve começar uma mobilização
às vezes rude, às vezes indevida
de pedras e de árvores, de terras e areias.
Onde
o homem
vem vindo às vezes feroz
trazendo consigo
toda a extensa parafernália,
de grandes máquinas com imensos pneus de borracha,
que esperamos não ter intenções de apagar
verdes-páginas-folhas,
deste caderno da natureza
Confira mais:
Show Tataritaritatá no Palco Aberto ,
Comemorando 5 anos do Tataritaritatá e suas mais de 160 mil visitas ,
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PROJETO CORDEL NA ESCOLA ,
TCC ONLINE CURSO
TODO DIA É DIA DA MULHER,
MINHAS ENTREVISTAS
segunda-feira, maio 23, 2011
DIANA BALIS
DIANA BALIS
VIDA CARIOCA
O transeunte corre pela orla
Ipanema é suave na manhã de outono
A Lagoa apressa os olhares
O mar segue adentrando montanhas.
O Cristo Redentor apóia a vistoria
A manhã é serena de vida breve.
Banhar-se em cachoeiras na Floresta
Cora o berço esplendido de saudades.
Reza uma realeza de calmarias,
Os povos festejam o futuro Natal.
Cheio de impostos, os cursos dos Rios,
Correm sem preocupar o amanhã de sustentabilidade.
MEDO
Medo de escuridão
Medo do temporal no pé de alçafrão
Medo de paixão
Medo dos olhares de um glutão
Medo do sorriso do pedinte de pão
Medo na contramão fugindo do ladrão
Medo adormecido no tempo da afeição
Medo de amor anfitrião
Medo do sim na vontade de dizer não!
FACES DA LUA
Eu não mudo com o tempo,
É o tempo que muda.
Eu sou reflexo das vidas passadas
Vivo o futuro.
Ao acordar cheia de esperança,
Caminho sem rumo ao mundo.
A Terra clama amor,
Os homens a destroem.
Exoro o amor,
A vida encandeia oportunidades.
O homem que me encontrar viva,
Resgatará a minha face da morte.
BRUXA SAPECA
Com minha varinha de condão
E de avião,
Fui ao Japão!
Transformei-me em Gueixa.
Canto, danço, converso,
Vou satisfazer todos os seus desejos!
Na hora agá, virei um Dragão!
E sai soltando fogo pelas ventas!
De volta ao meu castelo
Ria a bessa!
Feliz Sexta
Feira
AVALANCHE
Tormentas profundas prendem a respiração
As vidas duvidam das riquezas e dos pesares
Pessoas pedintes imploram atenção deitadas as ruas
O objeto é secretamente definido como UFO
Invadem o céu do Rio de Janeiro e observo espantada
O destino é a avalanche de terras e presos desesperados
Nada comparado ao ar que fica retido na garganta
É difícil respirar e já sufoco devido ao pânico
Os olhares das pessoas, serão muitos discos voadores
As pessoas soterradas olham e esperam, há falta de ar
Terra, céu, ar, conto um, acalma, um, dois, três,
É hora de acordar
E respirar...finalmente vivo!
As baratas de Ipanema
Voam por todos os lados
Por cima
Por baixo
Nas costas
Ao lado.
Elas sobem paredes
E vibram nos telhados
Pulam nas pernas
E aos pés
São filosofas
Interessadas
Intrigantes
E fofoqueiras.
AS BARATAS DE IPANEMA
As baratas de Ipanema
Surpreendem a madrugada
Em noite de Lua cheia
Espantam os fregueses
E dizem boa noite
Cantam felizes na entre luz
As baratas de Ipanema
Invadem as boates
E os transeuntes
Os boêmios poetas
E nostálgicos compositores
Recordam-nos a Cecília
Interessam-se pela literatura
E há candura em suas asas
As baratas de Ipanema
Peludas ou peladas
Surpreendem o Prefeito e o Vice
Turistas e bêbados,
Perdidos ou achados,
Ricos ou pobres artesãos,
Apaixonados e donos de bares.
As baratas de Ipanema
Reflexivas e marxistas
Vivem da práxis diária,
Os meios justificam seus fins,
Os bueiros na escuridão da noite
Mormente as desculpam.
As Baratas de Ipanema
São os resultados da paixão
Do homem pela mulher,
Do medo pelo desejo,
Do calor pelo ar,
Da água pela terra,
Do meio ambiente atrás da mulherada
As baratas de Ipanema
Escutam gritos estridentes
O prazer é masoquismo
E assim mais um boooooommm!
É mais de uma chinelada!
Matei mais uma charada!
ÁGUAS DE JANEIRO
O córrego do amor navega no interior da mata
As águas fluem em cânticos aos pássaros velozes
A floresta escura de dia encontra a nascente
Os rumores serão de insetos picantes e barulhentos
O vento nos galhos e folhagens, acena ao estreito
As bromélias e orquídeas alegres, revigoram a passagem
As maritacas grulham do alto em busca do alimento
O ruidoso Rio transforma-se em vilarejo
Calmo, belo, é pequeno o riacho.
SEDUÇÃO ANIMAL
A teia no arranha-céu do olhar
O mosquito no pernoite abocanhar
As expectativas ao alcance do carpo
O zumbido ecoa suave no adentrado corpo
Os lábios entre dentes e sacudidas
Cedem às mordidas das bocas carnudas
O desejo é sugar até o último gole
O vento espalma que o amor assole
Obedecendo a sedução, o achincalhar.
Sorvendo a aranha do caldo do aferrolhar.
(*Mosquitos e Aranhas! "Bah!"," O Meu!", É Mundo animal.)
DIANA BALIS – A escritora, psicóloga e professora de teatro e musicalização infantil, Diana Balis, é diretora do Grupo Conto & Cena, publica seu trabalho literário no Recanto das Letras e edita o blog Diana Balis. Veja tudo isso e mais dela no Crônica de amor por ela, no BlogAgenda e no Brincarte.
Confira mais:
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Comemorando 5 anos do Tataritaritatá e suas mais de 160 mil visitas ,
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PROJETO CORDEL NA ESCOLA ,
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TODO DIA É DIA DA MULHER,
MINHAS ENTREVISTAS
domingo, maio 15, 2011
ANA PAULA FUMIAN
POEMAS, LETRAS & TEXTOS DE ANA PAULA FUMIAN
VIDA SINGULAR
Cada coração procura sua órbita
Um descompasso sem passo marcado
Como correnteza que desfaz um caminho
E o vento que sopra vida
Na alma sedenta de amor
Feito pássaro a procura de ninho
Um andarilho que perdeu a estrada
Feito fagulhas da saudade que fere
Que nem o tempo desfaz
Cada coração procura seu ângulo
E para construir laços causa espanto
Como o impar querendo um par
Um limitar da eternidade no papel
O tempo querendo voltar
E o fim que recomeça no limite
Como lágrimas que não precisam de olhos
Para nascer
Cada coração tem sua fortaleza
Na busca de uma proteção que não existe
Selas transparentes e couraças de seda
Rochedo que briga com os lírios
Na incerteza de um talvez
Cada pulsar tem sua composição
Mas na melodia de um adeus
Todo acorde desafina.
QUERO
Quero as flores que colhi no seu jardim
Para enfeitar meus dias tão vazios
Quero as borboletas coloridas
E os pássaros que cantam de manhã
Quero o silêncio dos seus olhos
E o descansar da tarde que chega
Quero o afago dos seus lábios
A tocar meu rosto devagar
Quero a brisa dos seus gestos
A me procurar sem direção
Quero suas certezas duvidosas
E seus planos incertos
Quero a tempestade da paixão
Pra confundir os nossos mundos
Quero o tempero do seu medo
E a segurança do seu sono mais profundo
VIAGEM
O que me trouxe aqui foi a vontade de te ver
Foi a vontade de entender o que sua ausência me causa
Foi a vontade de ler seus planos
E por engano me encontrar nas suas loucas manias
Foi a vontade de invadir seu segredo
De perturbar seu sossego
E entender o medo que você tem de amar
O que me trouxe aqui foi o meu corpo teimoso
Que não responde mais aos meus comandos
Foi a noite que me rouba o sono
E o pensamento que não para de pensar
Foi a urgência de acabar com tanta espera
E a vontade de transformar meu inverno
Numa tranqüila e doce primavera
O que me trouxe aqui
Não é o mesmo que me faz querer ficar
Eu vim por causa de você
E fico porque não vejo outro lugar
Onde eu encontre o amor com tanto medo de amar
RECOMEÇO
Recomeço, juntando tantos pedaços, o que ontem me desfez hoje constrói os meus traços!
DESORDEM
Você criou essa desordem
Bagunçou as minhas horas
Encheu de incertezas minhas ideias
Me mostrou alguns atalhos
E a paciência de coração que ama
Insistiu no improvável das minhas escolhas
E tranformou minhas esperar em urgências
Desfez os meus pontos finais
E escreveu no final de cada fala
Delicada reticências
Me ensinou a aceitar com calma a saudade
E a entender a ausência sem compromisso
A perdoar sem terceiras intenções
E a um pouco o juízo
Você colocou sentido em tantas coisas
Deu direção, deu vida e cor
Essa bagunça agora inevitável
Colocou desordem na ordem
Que me impedia de enxergar
A travessia contrária
Que caminha o amor...
Que caminha o amor...
METAMORFOSE
O rio passou
Eu fiquei olhando
A voz me chamou
Eu senti a ausência
A folha caiu
Eu fiquei trêmula
A palavra me tocou
Eu virei poema
EXPRESSÃO DO SILÊNCIO
Quantas frases não ditas no espaço desse tempo. Eu corro do escuro pra ver a luz dos seus olhos. Subo no muro que separa nossos corações. Entendo que nosso destino está na contra mão. Eu me esquivei do seu sorriso mas cai no seu olhar, do meu céu eu vi seu céu com todas suas estrelas contornando a imensidão. Seu reflexo no espelho me tira o sentido... Não quero mais a realidade como um abrigo na noite, nem quero a caridade das canções que falam de amor. Quero o estar dos dias. nas brisas dos pensamentos que você rouba de mim ao poucos. Quero as frases não ditas, gravadas no meu ser, como tudo que há de lindo em você, mas que de alguma forma passou a existir dentro de mim...
E SE (LOUCURA)
E se eu soprar o sol e ele cair do céu e se afogar no mar em pleno verão? E se eu resolver desligar as estrelas que brilham de noite no ninho de cada constelação? E se eu resolver pintar o céu de rosa e vender as nuvens como algodão doce num parque de diversão? E se eu engarrafar o mar só pra ter as ondas revoltas nas conchas das minhas mão? E se eu riscar o horizonte de amarelo, colocar letreiros luminosos só pra chamar sua atenção? E se eu arrancar as linhas paralelas do arco-íris para enfeitar num dia nublado as grades do seu portão? Pode ser que você me chame de louca, também pode ser que não! Pode ser que eu esteja sonhando! Mas também pode ser essa seja minha estranha mania de chamar sua atenção.!
ANA PAULA FUMIAN – A escritora, poeta e letrista mineira Ana Paulo Fumian, é administradora de empresa, participa do Clube Caiubi de Compositores e Poetas del Mundo, edita o excelente blog Manuscritus e Uvas Verdes.
Confira mais:
Show poético musical Tataritaritatá no Projeto Palco Aberto. Dia 19 de maio, às 20hs no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, Maceió. ,
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sexta-feira, maio 06, 2011
SHOW TATARITARITATÁ NO PALCO ABERTO
TATARITARITATÁ NO PALCO ABERTO – No próximo dia 19 de maio, às 20hs, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, em Maceió, acontecerá o show poético-musical Tataritaritatá de Luiz Alberto Machado.
O SHOW - Show autoral poético-musical de Luiz Alberto Machado e banda, será realizado com 17 músicas de diversos gêneros como xotes, baiões, martelo agalopado, sertanejo de raiz, toada, balada, rock, pop, frevos, poemas e causos. Na ocasião ocorrerá a gravação do cd e do dvd ao vivo do espetáculo.
O AUTOR – Luiz Alberto Machado é escritor, compositor musical e radialista, editor do Guia de Poesia do Projeto SobreSites no Rio de Janeiro, membro da Cooperativa dos Músicos de Alagoas - Comusa e escreve regularmente para jornais, revistas e alternativos além de blogs, sites e portais da internet. Já publicou 6 livros de poesias, 7 infantis, 2 de crônicas além de ter vários textos publicados em veículos impressos e virtuais do Brasil e do exterior. Parte do seu trabalho está reunido na sua home www.luizalbertomachado.com.br
O PROJETO – O Projeto Palco Aberto é um conjunto de ações e produtos para a valorização da cultura e, em especial, da música produzida em Alagoas. Possui a visão de ser um centro de referência de capacitação e captação para a cultura alagoana. Tem a missão de promover atividades que permitam capacitar a cadeia produtiva e o mercado alagoano, criando um ambiente favorável para o desenvolvimento da produção artística e, cada vez mais, ampliar a visibilidade dessa produção. O projeto já realizou 4 Edições da Música Alagoana realizadas, com 01 DVD e 03 CDs publicados, mais de 100 shows realizados com 41 artistas que já participaram c/ shows individuais e autorais.
SERVIÇO: Show Tataritaritatá no Palco Aberto de Luiz Alberto Machado e banda. Dia 19 de maio, às 20 hs, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas (Av. Fernandes Lima, ao lado do CEPA), Maceió – AL. Informações: 82.8845.4611 ou acessando www.luizalbertomachado.com.br
Veja as músicas do show na Trama
Veja os clipes do show no YouTube.
Confira mais:
Show poético musical Tataritaritatá no Projeto Palco Aberto. Dia 19 de maio, às 20hs no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, Maceió. ,
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