SIMONE LESSA – A professora, escritora premiada e
artista plástica Simone Lessa, edita o excelente blog Simone Lessa reunindo
seus projetos pedagógicos, entrevistas, crônicas, poemas e muitas outras
informações. Ela também reúne seu trabalho literário no Recanto das Letras. Por
ser uma pessoa bastante simpática, dinâmica, independente e batalhadora, resolvemos
entrevistá-la para a campanha Todo dia é dia da mulher. Confira:
LAM - Simone, você é pernambucana radicada em Maceió e que tem uma
atividade bastante múltipla. Então, vamos começar pela cidade natal: quais
referências significativas de seu lugar de origem que contribuíram para sua
formação?
Acredito que tudo que acontece
em nossa infância contribui para nossa formação adulta. Falo isso, porque vim
para Maceió com 5 anos de idade, então, de Recife só tenho algumas visões. Na
verdade, de Pernambuco tenho mais lembrança é de Palmares e de Rio Formoso.
Palmares, para onde íamos de férias numa rural velha, os adultos na frente e as
crianças espremidas atrás. De Rio Formoso, o Rio Una, o Engenho Cocaú, onde
minha mãe nasceu e se criou, o contato com os inúmeros primos e tias. O que
ajudou na minha formação com certeza, foi valorizar a união familiar, o dar
valor à família, aos avôs, principalmente.
LAM - Qual a leitura que você faz de Maceió e de Alagoas como um
todo?
A leitura é bem triste. Sempre
que se fala em Alagoas ou em Maceió, no Jornal Nacional, por exemplo, é
tragédia na certa! Altos índices de mortalidade infantil, de adolescentes
grávidas, drogados e abandonados. Por outro lado, se viro a página de minha
leitura, me deparo com crescentes manifestações artísticas, com o mais bonito
litoral do Brasil, com uma gente hospitaleira e falante. Passei 11 anos longe
de Alagoas, e quando voltei, em 1995, vi Alagoas com outros olhos. Comecei a
valorizar mais o estado que me acolheu, acolheu minha família. Por todo lado,
fazia questão de levantar a bandeira dos “amamos Alagoas”. Acredito que este
sentimento só desenvolvemos quando perdemos o que amamos ou estamos longe do
lugar que moramos.
LAM - O que na sua infância e adolescência contribuíram para
definir sua atividade pedagógica e artística?
Com certeza minha mãe, maior
referência de atividade profissional;pois ela foi professora primária por 37
anos! Lembro-me que já com 6 ou 7 anos,
brincava com minhas amiguinhas de escola e colocávamos as bonecas pra assistir
as aulas. Depois, no final da adolescência, com 16 anos, passei no vestibular
para direito no CESMAC, e no primeiro ano, já fui convidada para ser Monitora
de Direito Romano. Quer dizer, o ensino está no meu sangue! A parte artística
que começou na adolescência, foi a escrita... vivia escrevendo poesias, e a
coisa fluía rapidamente, escrevia até em papel de guardanapo pra não perder o
raciocínio, imagina.
LAM - Como surgiu a escolha pela atividade pedagógica? E por que
História e Geografia?
Demorei 23 anos para assumir que sou professora, pois
nesse intervalo, casei, viajei, trabalhei com cerimonial público, separei.
Quando voltei à Maceió, estava com uma filha de 8 meses e precisava retornar à
advocacia. Fui trabalhando, mas fazer o que não dá prazer tem um custo muito
alto, e as doenças começaram a aparecer: depressão, dores de estômago etc... Há
alguns anos, “chutei o pau da barraca” e resolvi ser apenas aluna de
Licenciatura em História. Comecei a ser feliz: a saúde voltou, comecei a me
arrumar, fazer pós-graduação...viver! Como sempre fui muito ligada em História
e Geografia, optei em estudá-las mais profundamente.
LAM - Qual a satisfação de ser professora num país onde essa
profissão é bastante desvalorizada?
Desde que minha mãe formou-se
professora na cidade de Ribeirão/PE, que ouço falar nisso: ” filho de pobre
estuda pra professor, mas ganha pouco”. Na verdade, tenho em mim a satisfação
dos que ensinam, dos que acreditam que precisamos da figura do mestre, do que
tem algo a nos ensinar. Caso não acreditasse nisso, teria continuado na
advocacia, cobrando R$ 2.000,00 (dois mil reais) por um divórcio. Acredito que
não tem dinheiro que pague você alfabetizar, receber um cartão no dia dos
professores de seus ex-alunos...tem não!
LAM - Você desenvolveu um estudo sobre inclusão social para PNEs,
como resultado da sua pós-graduação. Fala pra gente como foi desenvolver essa
pesquisa e os resultados obtidos. A inclusão é possível no Brasil ou é uma
utopia?
Minha primeira pós-graduação
foi resultado de pesquisa que fazia na área de cerimonial público. Na época,
fiz um curso de especialização em Recursos Humanos e vi a necessidade de um
estudo sobre os portadores de necessidades especiais. Fui às entidades que
trabalham com deficientes auditivos e fui muito bem acolhida. Passei 8 meses
dentro dos supermercados de Maceió fazendo relatórios e pesquisas com
questionários. Foi trabalhoso, mas bem gratificante, pois, aprendi libras e
cheguei perto daqueles com os quais não tinha nenhuma convivência. Na época,
2006/2007, Maceió tinha poucos portadores de deficiências trabalhando,
principalmente, diretamente com o público. A rede Bompreço, na época, foi a
primeira a fazer a experiência e meu trabalho trouxe os resultados de forma
escrita. Até hoje, o antigo Via Box e o Bompreço, possuem os resultados de meu
trabalho. Com essa pesquisa obtive o título de habilitação em Didática do
ensino superior para portadores de necessidades especiais em audição, pela
Faculdade Maurício de Nassau, de Recife/PE.
No caso do Brasil, acredito nas
políticas publicas para os PNEs, sim! O Brasil tem leis especiais e avançadas,
talvez o que precise, sejam vontades e atitudes, tanto dos amigos e parentes
destes, como dos gestores públicos.
LAM - Você é escritora premiada que participou de duas antologias
e tem textos publicados até em revistas no exterior. Fala pra gente dessas
publicações e do seu oficio de escrever.
Escrever pra mim é um exercício
diário desde os 14, 15 anos. Primeiro tinha um caderno, depois, passei a mandar
meus contos e poemas para concursos literários mundo afora, e as coisas foram
acontecendo. Em 2004 veio o primeiro prêmio, num concurso da AG Editora, e o
conto está em vários sites e blog de amigos. O meu maior desafio foi escrever
com um tema pré-estabelecido: roupa íntima! Pois é! Daí nasceu “A calcinha de
Dona Joana” (http://www.recantodasletras.com.br/contoscotidianos/775209) meu conto mais lido e elogiado no site http://recantodasletras.com.br. A publicação em revista veio em 2009 e reeditada
agora, em Agosto/2011 pela Revista Íntima Magazine, que é de Portugal, mas com
circulação em toda Europa. Tenho amigos lá e me disseram que os franceses e os
portugueses amaram. Que bom!
LAM - Você reúne seus textos no Recanto das Letras e no seu blog.
Fala pra gente da proposta do seu blog e, como indagação, a internet tem
contribuído para difusão do seu trabalho literário?
Comecei o blog em 2007, mas
escrevi pouco. A partir de 2009 levei a coisa mais a sério quando notei que as
pessoas liam, acessavam e comentavam. Só colocava contos e poemas, mas fui me
interessando por Projetos Pedagógicos e comecei a postá-los, também. Fez muito
sucesso com os professores de outros estados. Recebi e-mails, cartas e até
telefonemas pedindo pra bolar esse ou aquele tipo de projeto pedagógico. Agora
mais recentemente, comecei a fazer entrevistas, colocar assuntos que minhas
alunas me pedem: unhas, cabelos, celebridades... Então, meu blog ficou bem
eclético: sento diante do computador e vejo os assuntos do dia,os e-mails,
penso em algo e posto! Como todos da minha geração, essa estória de internet é
meio bicho. Às vezes, quero colocar ou fazer algo no blog e não sei... peço um
“help” a minha filha, Bárbara e tudo se resolve! Na verdade a internet tem
muitos recursos que ainda não domino e sempre peço pra que meus amigos ajudem a
divulgar meu trabalho. Aliás, meu blog é:
http://www.simonelessa.blogspot.com.
LAM - E a artista plástica? Como você concilia Literatura e Artes
Plásticas? São momentos distintos de criação ou um complementa o outro?
Na verdade, a pintora apareceu
num daqueles momentos de depressão que falei acima. O período da pintora vai de
2002 a 2005 e só! Neste tempo fiz exposições e vendi alguns quadros, mas a
maioria está em casa de parentes e das professoras de minha filha (dava sempre
de presente, no dia 15 de Outubro). Não tenho saudades de pintar, pois foi uma “saída”
psicológica, um escape. Fico admirando, acho bonito, legal, mas passou!
LAM - Fala pra gente acerca daquela matéria do Don Juan na
Internet, como foi essa experiência?
Como bom jornalista, Alberto, você desenterrou um defunto
de CSI. A matéria é verdadeira, e até hoje, tem gente que pensa que foi coisa
minha, que é um conto. De fato, tudo começou num bate-papo na sala da UOL.
Conheci um português, passamos a nos falar todos os dias, depois passamos pra o
MSN, foto, depois cam. Bem, tudo durou exatos 2 anos, e um belo dia, ele me
pediu em casamento. Fiquei chocada, mas feliz! Ele mandou acertar hotel,
comprar roupas novas, vestido pra casamento civil e tudo que tivesse direito. E
falou por fone: “Vou te mandar o anel de noivado pra seus pais acreditarem em
mim, meu amor”. Quem não acreditaria nisso? Bem, fiquei em dúvida quanto uns
preparativos e liguei pra o celular dele (morava em Liseu, cidade de Portugal).
Quem atendeu? A mulher dele!!! Sim, era casado e tinha filhos com ela, que,
aliás, estava grávida de 6 meses. Quase tive um troço e morri, quando a moça,
chorando, falou que sabia de mim e que Antônio sempre fazia essas coisas pra
enganar as moiçolas pelo mundo afora. Fiquei passada. Liguei pra Bragança, onde
tenho um amigo que era delegado e pedi pra ver de perto a estória. Em 24h
estava com um relatório confirmando tudo.
Bem, essa é a estória e foi publicada pela Revista da
Editora Abril, Sou + eu, que recebe estórias, receitas e várias coisas de suas
leitoras. A versão de Antônio não tem, pois a polícia deu em cima dele e fugiu
pra Alemanha, mas ajudei a “Desmascarei um Don Juan da Internet”.
LAM - Quais os projetos que Simone Lessa tem por perspectiva
realizar
Não acredito muito em pré-estabelecer metas
muito longínquas, então, vou aos poucos. Para agora, participar da bienal do
livro de Alagoas/2011, como ouvinte e espectadora, fazer as oficinas e
observar, sempre! Estudar e continuar
procurando uma escola legal pra ensinar, onde meu trabalho seja valorizado.
Aperfeiçoar-me nos Estudos Afro-brasileiros, minha
mais recente paixão. E claro, tentar encontrar uma editora que publique meu
romance infanto-juvenil, intitulado “Armadilhas no Castelo”, que se passa na
época medieval e está direcionado aos alunos do 6º e 7º anos do ensino
fundamental. ”Esperanças movem os vivos. Os mortos têm apenas sonhos” é um
ditado chinês do Séc. X que muito diz de mim.
Um afro-abraço ao meu amigo Luiz Alberto
Machado e agradecer, mais uma vez, pela confiança.
E veja mais o meu
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