quarta-feira, julho 18, 2012

DIA DO TROVADOR – ARGEMIRO CORREA



ARGEMIRO CORREA: DIA DO TROVADORArgemiro Corrêa, pai da poeta Meimei Corrêa, era poeta, trovador, contista, cronista. Fez muito pela cultura ao longo da vida. Um poeta apaixonado pelas rosas, se intitulava "O feliz cantor das rosas". Eis algumas trovas dele:

Nos quatro versos da trova
Eu ponho a minha paixão,
Velha história - sempre nova,
E fonte de inspiração.

Com alguém que recebeu
Seu título de doutor,
Recebi também o meu
Diploma de trovador.

O sorriso de Maria
Tem um mistério estupendo,
Lembra o sol de um belo dia,
E a paz da tarde morrendo.

Tanto o bem como a maldade,
Tem linha satisfatória,
E a plantação é à vontade,
Só a colheita é obrigatória.




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segunda-feira, julho 16, 2012

CARMEN SILVIA PRESOTTO


CARMEN SILVIA PRESOTTO – Conheci primeiro o trabalho extraordinário que a Carmen Silvia Presotto desenvolve no espetacular Projeto e Editora Vidráguas. Logo me apaixonei pela excelente iniciativa e passei a indicar nas minhas páginas, o que levou, por consequência, a desenvolver um contato mais estreito com a autora.

Deu-se então o lançamento do seu terceiro livro, Postigos, quando procurei realizar uma entrevista com ela. Simpática como é, aceitou na hora e publiquei aqui no Varejo Sortido.

Os anos se passaram e mantivemos contatos e trocas de figurinhas pela rede, até que agora no mês de julho, de passagem por Maceió, pudemos conversar pessoalmente.

Isso se deu numa noite chuvosa na praia da Pajuçara, quando pudemos trocar ideias por horas sobre literatura, música, teatro, cinema, editoração e direito autoral.

Na ocasião fui premiado com a oferta de seus dois livros, EncaiXes (2006) e Postigos (2010).

A leitura desses volumes me extasiou a ponto de selecionar alguns dos poemas aqui e agora:

LIVRE

Redesenho o cotidiano
Pontos
E tramas
- coisa absurda –
Me ouço em outros poemas
Feito sussurro ao vento.

RENCAIXES, HÁ MÃOS QUE AMAM

Ser poeta
Ser louco
Homem entre destinos
Caminho de muitos caminhos
Enquanto morte,
Ser de todos,
Encaixo-me...

BRANCA PÁGINA

Pauta livre
Silêncio
Que arquiteta o sonho
Pálida
Calço meus pés em teus sussurros
Viajante
Com tes lábios danço
Tombo páginas
E me reescrevo luares em claras idades.

FLORES DA LUA

Quando as sombras se iluminam
Em meu peito
- flores espelhadas –
Abraço o eterno
Horizonte
Que com arte me revestes.
E onde tua luz me veste...

ERA OUTONO

A casa fora cerrada...
Aumentou o vento
Partimos tristes.
Atrás dos muros ficaram as bonecas, os jardins,
A cadelina, a infância...
Descobríamos o muro dos tempos.

EXPIAÇÃO

Ah, seu fantasma!
Coloquemos tinta nas veias
Vistamos nossas carnes
Sem pantalhas,
Baixemos a cortina
E zarpemis
Decantados
Sem frestas nem gavetas
Homens-palavras
Sejamos!

ilumiNADA

Aço e pedra
Barro e água
Amor cicatrizado
Rastros iluminados
Ou um ou nada...
Deixo a Terra toda ilusão!
Que eu passe,
Que todos passem
E onde todos passarão
Parto dias
Estrelo noite
Rabisco outra luz.

ANAIS

Não me vejo nas coisas como elas são.
Quero ser um poeta tecido por carne
E livre de ponto.
Quero ser aquela nuvem atrás do pensamento.

FELI(Z)IDADES

Migrações
Transformações
Mudanças
EncontroDesencontro
Fôlego
E de novo
Lá vai ela, a Esperança a caminhar por aí.

POEMA-MACABRO

“rasgo cicatrizes”
Sulco chagas no último verso.

MOMENTOS

Há momentos tão brancos
Com que borro minha pele
E escrevi
Há dias tão cinzas
Que assombro céus
Condenso paredes
Escuto fantasmas
Nas folhas em pauta
Me reencosto à Lua
Nua de carne
Com lágrimas impuras
Brinco com estrelas
Anoiteço
Há dias tão vermelhos...

ENCAIXES E POSTIGOS DE CARMEN SILVIA PRESOTTO – A poesia da escritora e editora Carmen Silvia Presotto traduz momentos de uma versificação cônscia de quem sabe o que faz, com o intimismo dos olhares prospectadores que flagram na sua existência alvoradas e crepúsculos, telhados e pisos, céus e mares, afeto e quebra-de-braço, enfim, montagens, recortes, painéis, fragmentos, colagens e amalgamas. Tudo se parece num quebra-cabeça onde ela desvenda a poesia e a vida.



No seu livro EncaiXes, ela própria diz na apresentação: “[...] Acredito que a escritura é uma respiração, onde o texto é mais do que o que o humano vê, é a materialidade com que se tece a vida. [...] Assim como respito, bebo, sonho, amo, eu escrevo... torno-me verdadeira. Sinto no papel e nas palavras um mundo onde posso colocar pensamentos e indagações sem censuras. Sou uma romântica, talvez ingênua, mas acredito que mudanças e versos são os pilares de um mundo novo: o meu mundo!”.



Já no Postigo, Pedro Du Bois diz: “[...] Carmen ousa novidades a partir dos mesmos e tantos e quantos poetas nos atravessam a possibilidade de sermos escritores e leitores. Insaciável em sua voracidade pelo encontro do ser em si mesmo, até que consigamos sair de nós e nos espalhemos em transferências, (re)criações, opostas diferenças e jogos. Sua literatura seduz pela inconstância com que nos lança ao desocnhecido de tudo o que conhecemos (desde sempre). [...]”

Também Tânia Du Bois fala do Postigos: “[...] é poesia diferenciada, desenvolvendo o apuro para com experiências expressivas, onde realimentamos nossa capacidade de alterar as nossas prefetências – incrível viajem ao tempo através de uma janela que nos permite espreitar poesia. [...] Ler Postigos é opção dentro da poesia, para quem gosta de desafios [...]”.

Por fim, Donaldo Schüler assinala: “Os versos de Carmen Silvia Presotto, em Postigos, saltam precisos, misteriosos, provocativos. Levam-nos a sombras de inusitado brilho. Trevas se fazem oceano e nos chamam a aventuras em que visões oníricas e experiências cotidianas, agonia e gozo, suores e lágrimas confluem. A leitura nos atrai a silêncios, nascedouro de palavras inauditas. Espaços virtuais evocam míticos contornos de outrora. Fronteiras entre hoje e ontem se apagam. Poemas, flutuando engarrafados a todos os lugares e a lugar nenhum, abrem-se em repentinos cartões postais”.


Reitero todas as palavras ditas acerca da poesia de Carmen Silvia Presotto: a poesia que capta no olhar de quem sente e transpira a essência do viver. Aplausos de pé. E confira a entrevista dela no Varejo Sortido e outros dos seus poemas no Crônicade amor por ela.