O CAUDAL DO UNA DE PELÓPIDAS SOARES – Este artigo foi publicado na
seção Opinião, do Diário de Pernambuco, mencionado no meu texto do Guia de Poesia. Não tenho a data da publicação. E
atendendo solicitação da filha do escritor, a poeta Bartyra Soares, reproduzo o
texto na íntegra.
O CAUDAL DO UNA
Pelópídas Soares
Unindo as suas águas à terra e ao homem, este rio Una une-se também à
bacia do Vale do Pirangi, seu afluente e une, numa interação da paisagem humana
e fisiográfica, o Agreste, a Mata e o Litoral, no sul do Estado. Às vezes se
contorce beirando as fronteiras do norte das Alagoas. Em tempo, porem, recua,
serpeia e novamente se estira dentro dos nossos limites, preservando a sua
pernambucanidade, que é a sua identidade.
Nenhuma queda dágua importante registra. As setenta e cinco cachoeiras
do seu curso, servem apenas para encrespar a sua correnteza e precipitar
irritado o seu protesto contra a tragédia da gente nordestina que estampa as
suas águas.
É uma corrente geradora de impetuosidade. Das suas margens, dos seus
campos, das suas cidades e vilas, gerações de homens descem em torrentes sucessivas,
à semelhança das suas águas, que nunca secam, como outra esteira líquida, para
desaguar nas cidades grandes, gritar e ser ouvidos. Os rios carregam o destino
de afogarem-se no mar. Alguns dos homens das suas margens também tem um destino
comum: a cidade grande. Os das margens do Una carregam uma legenda de vida para a posteridade.
Estes descem de São Bento do Una, de Altinho, Bonito, Canhotinho, Quipapá,
São Benedito do Sul, Maraial, Catende,
Belém de Maria, Palmares, Água Preta, Barreiros e São José da Coroa Grande. São
os Gilvan Lemos, os Hermilo Borba Filho, os Ascenso Ferreira, os Valença:
Alceu, Jório, Lívio, Geraldo, Clávio; os Gueiros, à frente Nehemias e Eraldo;
chamam-se José Maria Cerqueira, Waldemar e Alcides Lopes; Aristóteles Soares,
Gasparino Damata, Bartyra Soares, Nelson Silva, Darel Valença, Murilo Lagreca,
Bajado, Telles Junior, Douglas Marques, Jaques Gonçalves, Osmario Teles, Pedro
Afonso de Medeiros, Ruy Ayres Bello, Júlio Bello, Estácio Coimbra, os irmãos
Antiógenes e Nelson Chaves, Juhareyz Correya, Jether Peixoto, Odete
Vasconcelos, Costa Porto, Manuel Lubambo, Jordão Emereciano, Jessiva Sabino,
Margarida Mesquita, Valença Junior, Augusto Meyer, Garibalde Otavio, Raimundo
Alves de Souza que se dizia pai de Vinicius de Morais; João Costa, Jocelino
Ribeiro, as irmãs Costa Lopes, Eunice e Eulina; Manoel Martins Junior, os Griz,
à frente Jayme; Letacio e Jaime Montenegro, Barros de Carvalho, Lelé Correa,
Felinho, Nelson Ferreira, Luiz Alberto Machado e tantos outros, ficcionistas,
poetas, artistas plásticos, jornalistas, compositores, músicos, atores, teatrólogos,
ensaístas, políticos, que fazem a grandeza dessa região, no Estado e no País.
Homens que levam para os grandes centros culturais o espelho do rio Una
e dos seus afluentes – a agressividade dos aveloses, a poética dos canaviais e
os acenos finais dos coqueirais, antes que as suas águas barrentas dos mangues
de Várzea do Una vá tingir o verdazulado do Atlântico. É Pernambuco na sua
essencialidade. Tanto que, se um dia, alguma coisa mudar em Pernambuco, virá
das margens deste rio Una.
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