quinta-feira, janeiro 26, 2012

TODO DIA É DIA DA MULHER: MARTA NASCIMENTO




MARTA NASCIMENTO – Conhecer pessoalmente Marta Nascimento foi uma das experiências mais agradáveis que tive na vida. Simpaticíssima, gentil, acessível e generosa, essa paraibana radicada em São Paulo me recebeu de braços abertos na sua residência para divulgar o meu trabalho. O seu altruísmo espontâneo é meritório de toda minha eterna gratidão.
Nascida em João Pessoa, ela hoje é radicada em Barra Bonita, no estado de São Paulo. É radialista, poeta, apresentadora de TV, compositora e cantora, Marta começou sua carreira em 1986 com o Grupo Tribo Terra, participando de diversos festivais. Com mais de 100 composições musicais engavetadas, ela gravou seu primeiro cd Do Jeito da Vida, em 1997. O seu segundo cd, Eu Plural, foi lançado em 2000. A sua poesia já foi publicada nas antologias de 2003 e 2004 da Editora Casa do Novo Autor. Como radialista, ela comanda o programa cultural Olho Clínico, na TVC-Jaú, Canal 2. Conheça um pouco mais dessa simpática artista:



ENTREVISTA: MARTA NASCIMENTO

LAM - Marta, vamos para a pergunta de praxe: como e quando se deu seu encontro com a arte?

Posso te dizer que o palco sempre me chamou a atenção desde criança. Não fui aquela menina que brincou de boneca como tantas outras, eu já criava personagens e os exibia para a família em palcos armados no fundo do quintal da nossa casa.

LAM - Quais as influências da infância e adolescência que fundamentaram a sua formação profissional?

Meu pai foi uma influência muito forte na minha vida, Desde pequena lembro que ele nos educava através das suas metáforas nas histórias que  nos contava. Apesar dele não ter nenhuma ligação com a arte, nos transmitia uma visão de que a vida poderia ser vivida através daqueles personagens fortes que existiam nas suas referências. Ele cantava muito e me ensinava todas as músicas que ele gostava para que eu cantasse pra ele enquanto fazia o seu trabalho. Tive bons mestres musicais , como a minha irmã Lúcia e o meu cunhado Ailton, que me trouxeram o que havia de melhor na música daquela época, enfim, acredito que por essas influências a música se fez muito forte na minha vida e não é a toa que eu acabei fazendo o que faço hoje.

LAM - Você por formação é radialista. Também é cantora e compositora musical. Como se deu a escolha pelo rádio? Foi a cantora que levou você pra isso, ou foi o rádio que levou você profissionalmente para a música?

Foi a cantora que me levou ao Rádio. Recebi um convite do então diretor da Rádio da Barra, Alcemir do Carmo, para fazer um programa musical naquela emissora e me senti impotente para fazê-lo. Como assim, eu não era radialista? Risos, daí  senti a necessidade de fazer esse curso que me encantou e que me levou a TVC Jaú, onde estou até hoje. Do rádio que sempre tive vontade de estar, passei para a TV.

LAM - Você participou de diversos festivais de música. Isso contribuiu para sua formação de cantora e compositora? Conta pra gente essa experiência.

Posso te dizer que sempre foi uma surpresa ser classificada para um festival. Acho que esse palco é uma vitrine bem legal. Sempre coloquei minhas músicas com a intenção de que alguém que não esta ao nosso redor pudesse conhecer um pouco do que eu fazia e assim fui podendo crescer um pouco mais nesse área, pois a responsabilidade de estar nesse palco exige isso.

LAM - Você também participou do Ave e Viola e, depois, do Grupo Tribo Terra. Fala da experiência desses dois projetos.

O Ave e Viola era um grupo paraibano que me atraia muito pelo seu conteúdo musical. Amiga dos integrantes, esporadicamente  era convidada para participar de alguns shows. Naquela época era muito difícil encontrar uma mulher para cantar, pois nossos pais nos proibia de fazê-lo, mas com jeitinho fui conquistando esse espaço e foi muito bom.
A Tribo Terra foi a minha principal escola musical, pois com ela aprendi a enfrentar os palcos da vida. Quando saímos de João Pessoa em 1980, casada com um dos integrantes do Ave e Viola, Gil de Rosa, viemos morar em Barra Bonita , SP e aqui eu senti que o Gil precisava dar continuidade aquele trabalho que ele tinha deixado pra trás e procurei de uma certa forma suprir isso. Fui para uma escola de música aprender violão, coisa que nunca fiz direito, risos, e ficava observando quem que eu poderia convidar para formarmos um grupo e encontramos o Américo, que tinha uma sede muito grande de conhecer novos compositores e assim, Gil , Américo e eu, demos início a um trabalho autoral que nos rendeu  02  cds, Do jeito da vida e Eu plural e até hoje, apesar das dificuldades, sempre nos encontramos para compor juntos.

LAM - Você primeiro gravou Tom Cigano, depois o Prefiro ser romântica e, mais recentemente, Olhando Daqui. Fala do desenvolvimento desses projetos musicais e qual a receptividade do público.

Tom Cigano é o meu primeiro filho musical e eu gosto demais dele. Ele aconteceu justamente pela dificuldade de dar continuidade ao trabalho da Tribo Terra e eu tinha sede de por pra fora aquilo que já tomava conta de mim, que era o gostinho de poder musicar uma letra minha ou de alguém que não soubesse fazê-lo. Conseqüentemente veio o  Prefiro ser romântica reafirmando aquilo que eu sempre fazia na Tribo Terra que era cantar a parte romântica do grupo. Nesse trabalho pude também explorar o que eu havia aprendido na TV e resolvemos lançá-lo juntamente com o DVD.  Olhando daqui é o mais recente trabalho, lançado em dezembro de 2011. Nesse CD eu gravei algumas músicas das minhas irmãs, sobrinho, cunhada e coloquei também algumas parceiras com amigos letristas, pois minha família sempre teve esse desejo ,  de que eu gravasse alguma coisa deles e obtive um resultado bem interessante. Quanto à repercussão desses trabalhos, sempre foi muito boa, não tenho do que me queixar, pois quando somos reconhecidos no lugar onde vivemos isso é mais do que gratificante e graças a Deus, isso sempre aconteceu.

LAM - Você também é poeta com várias poesias publicadas em livros e antologias. Para você é a poesia que torna a vida suportável?

Rindo, não diria poeta, eu gosto de escrever algumas coisas, rs...! Mas, te digo com franqueza: gosto muito da vida que levo, mas ao escrever ou mesmo musicar, sinto-me uma pessoa mais leve...

LAM - Você apresenta o programa cultural Olho Clínico. Fala pra gente da proposta do programa.

Esse programa começou enquanto eu fazia o curso de radialista. A convite da TVCJaú para que eu fizesse um programa musical no seu canal, eu me vi numa sinuca: queria ir para o rádio, mas ali seria um canal bacana para por em prática projetos que eu tinha em mente. Resolvi aceitar e a minha proposta foi a de valorizar o lado criativo do autor de suas obras, fosse qual fosse esse segmento e assim o Programa Olho Clínico se firmou mostrando aquele que compõe, que cria, que ensina, que educa e parece que deu certo, pois ele já esta no ar a quase 08 anos.

LAM - Você mantém um belíssimo sítio na rede, reunindo seu trabalho artístico. A internet tem contribuído para a difusão do seu trabalho?

Hoje esse meio de comunicação é um dos mais fortes canais para a divulgação de um trabalho, seja ele qual for. Com certeza ele ajuda muito a nos divulgar e quem esta fora dele, fica fora do mundo.

LAM - Quais os projetos que Marta Nascimento tem por perspectiva de realizar?

Acho que todo compositor deseja ver o seu trabalho impresso num CD, portanto, meus projetos sempre serão aqueles que me levem a esse final. Estou com planos de lançar mais um CD nesse ano, com a parceria de um amigo compositor, o Eller e acredito que dará certo, pois já esta quase pronto  faltando apenas detalhes para colocarmos em prática.
Aproveito aqui a oportunidade para agradecer esse espaço que me destes, valeu...!


Veja mais dela no site Marta Nascimento, no Programa Olho Clínico e no Clube Caiubi de Compositores.

Confira mais da campanha Todo dia é dia da mulher na Agenda.






quinta-feira, janeiro 19, 2012

AFONSO PAULO LINS



AFONSO PAULO LINS – O poeta pernambucano Afonso Paulo Lins, como eu já dissera em materiais veiculados no Fórum do Guia de Poesia e no Música,Teatro & Cia, foi e continua sendo um dos meus parentes mais responsáveis pela minha dedicação à literatura e à música. Melhor dizendo, toda minha ligação com as artes eu devo à contribuição irrestrita que esse ser humano iluminado sempre dedicou tanto aos mais jovens, como a todos que tivessem a graça de tê-lo por amizade.

Foi exatamente ele que, eu ainda menino, me iniciou na música desde a erudita, o rock progressivo, o jazz, a new age, até as contemporâneas expressões múltiplas da música universal. Ou seja, foi exatamente ele que me apresentou de Bach a Cage, de Villa Lobos ao Al Di Meola, Egberto Gismonti, Paco de Lucia e Laurindo Almeida, do Yes ao Belchior e Jamiroquai, enfim, o meu contato com o universo musical foi ampliado exatamente pelo bom gosto e disposição de apresentar pra gente sempre uma novidade nessa área. Foi daí que me tornei um audiófilo inveterado.

Não diferente foi na literatura, quando por ele fui influenciado para o hábito da leitura, ao me iniciar na obra de James Joyce, Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges e todos os autores da Literatura Fantástica latino-americana, bem como de Ezra Pound, T. S. Eliot, Mallarmé, Paulo Leminski e José J. Veiga. O exemplo dele de leitor mais que assíduo me influenciou definitivamente.

Melhor ainda que tudo isso, foi ele estar sempre disposto a dialogar e dividir sua erudição com a gente da minha trupe, evidentemente muito mais nova e desencontrada, com papos regados a uma boa cerveja aprofundando os questionamentos que torpedeavam a nossa inexperiência. Isso fez com que eu e vários amigos da minha geração fossêmos tão influenciados por sua conduta incandescente, a ponto da gente imitá-lo sem o menor pudor. Éramos, então, verdadeiros clones dele.

Afonso não é apenas poeta, é muito mais. Ele cursou Direito e Letras, publicou vários de seus trabalho em jornais do Brasil e dos Estados Unidos e é autor de um livro de contos ainda inédito, o Nordestenses, afora tantos outros que tenho certeza estejam no seu baú literário. Também foi incluído na antologia “Poetas de Palmares”, seleção e introdução de Juarez Correia, editado pela Editora Palmares, em 1973.

Além disso, Afonso Paulo é uma figura daquelas do/de bem, simpaticíssimo, acessível e sempre pronto para nos surpreender com um outro olhar, uma outra visão e muitas outras possibilidades de se ver e encarar a vida e o ser humano, contribuindo para o nosso melhor discernimento.

Hoje ele se encontra radicado nos Estados Unidos, o que nos faz uma falta braba. E como sou assumidamente discípulo dele, manifesto aqui minha eterna gratidão, registrando nesse modesto espaço, alguns dos seus trabalhos literários.

TIO JERUSO

Tio Jeruso não mais existe
De seu ver e ouvir. 
No seu recinto abobadado 
O trancado do seu peito 
Ferido se escancarava. 
Onde havia o cheiro 
Para quem chegasse 
(munido de nariz) 
De óleos e picaretas 
Pregos e parafusos, 
E o odor corrediço 
De fechaduras. 
Onde lhe avistamos uma tarde 
Carregar ao peito as mãos duras 
Como se de súbito tivesse resolvido 
Amolegar na raiz de sua dor 
O enfermo coração.

SINTOMA

Arcanjo Gabriel chegou, 
Como de hábito, 
Para nunciar um parto 
Numa virgem qualquer 
Aqui de baixo. 
Infelizmente, sua tarefa 
Estranhamente dificultou-se 
E acabou, todo confundido, 
Metendo-se numa farra 
E estrangulando a citada virgem. 
Consta: 
Depois suicidou-se na latrina
Enforcando-se num rolo de papel higiênico 
E descendo pela descarga 
Que ele próprio acionou. 

UBIRAJARA

A ferida 
Comeu-te o rosto 
E a vida 
De trinta e três anos. 
Mas, tu disseste, cara de churrasco: 
O Senhor é meu pastor, nada me faltará”. 

O VERBO SUSPENSO

O mais humilde, honesto 
E solitário dos homens 
É o que está nu. 
(isto acontece quando as palavras 
Submersas vão à bancarrota) 
- Estive nu 
E a todos minha nuice 
A limpeza, a detergência 
Dessa nudez estampada 
Desiludiu.

PALMARÁGUAS TROMBUDAS

“Enverga a lamina/O cirurgião ferido/E com ela torta/Examina o enigma/Da cicatriz e da dor” T.S. Eliot (Four Quartets)

Havia de ser que toda esta água libertada voltava do ceu. Chuva que se amontoava, se derramava, mas em queda, ainda não sabia que se ia tornar rios, ladeira abaixo. Era uma revoada dáguas.
Vinha de enxurro, de nuvens baixas, gordas, soltas, soberanas, sem servir a ninguem. Montada em si mesma aguaceirava mata e montanha, sem aviso nem descanso. Era o mundo todo de repente uma enorme cacimba? Até parecia um fogaréu líquido. Rios então corriam, grávidos, suas margens já não mais servindo pra enjaular aquelas aguas. Diziam que a chuva sabe caber um oceano em cada uma de suas gotas.
O terrestre da montanha se desfazia liso e mole. Abarrotado barro recolhia humidade e, frouxo, bafejava em sacolejo ladeira abaixo, em desempilho de lama e armazenadas pedras enormes, no desmorroneio.
Arrastadas lamas, bagulho e arenoso, em folga de reprêso atiravam-se ao adiante sem encontrar fim. Em tudo um destapar de entulhos.
Via-se que no engrossante da lama a água rebojava e dançava assustada, escorrendo pelo rebisbaixo do ladeiro.
No derredor crescia mata alagã.
O vento que bufejava e rebufava empurrava as aguas em amontôo. Será que aquele vento em tanto se enfuriava que se tinha talvez tornado um Tornado?
As águas soltas corriam imperiais, coisa que semelhava um momento de folia.
Espalhados e ajuntados iam pessoas e bichos, casas e mobilias, chupetas dos meninos, carros, bicicletas e sapatos do povo. Aquilo assim era coisa que nao tinha o direito de ser, de não poder caber na vida de ninguem.
No meio daquela noite olhei: o ceu não retalhava luares antigos.
Tudo o que carecia de parar de acontecer, acontecia. O vento se assoprava no ladeiroso, serra abaixo trazia de empuxo quem fosse deixado pra tras, sacudia, tonteava e aturdia, que dava de mexer e derrubar de pirambeira no meio do bananal.
Eram as águas rebeldes, sem memoria, vertente em desentulhe, fazendo la embaixo um repentino mar.
Em qualquer ponto que passassem essas águas eram apertadas demais, não encontrando jeito ou maneira de atravessar sem destruir. Carregavam balaustradas, terraços, terrenos e alpendres. Moviam terras e pedronas rochosas enormes, montanheiras, bagulho e pedregulho.
Vai que em tanto momento se ouviu estrondo estúrdio la de cima, coisa que parecia vir da cumeeira do ceu. Corriam bichos e gente com os braços levantados. Mais barro pedra e agua se descarregavam de cima das ladeiras. Um de repente brejo cortava o barro e levava mais casas e a fabrica de doces.
Dona Otavia, gorda e velhusca, de nem metro e meio mexia-se dentro da casa, ocupava-se em acudição: queria salvar os netinhos naquela escuridão dágua. Safrejou levar três que pôde arrebatar pra lugar seguro por cima da agua. So não alcançou de salvar o resto, que se afogaram junto dela, num cantinho da beira.
Seu Bento Madaleno, pequeno e magrinho, homem de esparsas idéias, mas de coração perpétuo não media de entender o todo inteiro daquilo. 
Saído para o trabalho, voltava pra não encontrar casa, mulher e filha levados, arrebanhados no arrôjo do rio. Embutido em si mesmo nada falou. Nem gesticulava gesto qualquer. Era assim fora do orçamento. 
Sem exclamar, guardava-se calado. Somente movia-se ao redor, sem dizer palavra, dava com a cabeça, naquela mesma maneira, de tanto dó, a cabeça muito espêssa.
Mas já, em tempo se reunia. Enfiou na cabeça o chapeu ate as orelhas. No imediato comunheteiro, comungava agora com todos, se arranjava então de benfazejo: resolveu decidir, juntou-se aos outros no ajudatório, ligeiro e de repente acudidor poderoso, ate parecia o heroi da epopeia. Triunfante sapiente, sabendo fazer, participava da socorrição, de qual modo que parecia glória. Movia-se destro, um anão-gigante, de mãos duras, de duro trabalho, mãos cavalares, duro trabalhante. Agia com tino e destrez nunca antes suspeitados, apto no acudir e salvar.
Dizem que, naquele arroubo socorreu quantidade de gente e bichos. Mas de derrapando-se no resvaladio, deu que derrubou-se de enxurreio, ate o fundo do buracão, onde agora o rio se erguia em alturas, monarco, ao poder de aguas passadas.
Bento, de engulho, sossobrou inteiro e mesmo apostou pelejar luta. Depois, afadigado se rendeu, dando de se afundar naufrago, naufragabundo.
Encontraram-no além, no outro dia, perfeitamente exato, morto no meio do lamaçal. Dava-se de satisfeito: feito é o que tinha de ser feito, temporão. Ninguem lamentou.
Afundado na lama parecia de algum modo mais velho, afracalhado, velhusco, mesmo avacalhado, naquele tanto teor de pessoa.
Por tras dos morros ventos persistiam, temporavelmente.





terça-feira, janeiro 10, 2012

TODO DIA É DIA DA MULHER: JÔ A. RAMOS

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JÔ A. RAMOS - A jornalista Jô A. Ramos, possui licenciatura em Letras pela Universidade Candido Mendes e Jornalismo pela CUP, pos-graduada em Sociologia Urbana pela UERJ e trabalha na ZL Comunicação com a produção de documentários e assessoria de imprensa, tem seu trabalho publicado como documentário na edição de setembro da Revista de Histórica da Biblioteca Nacional, atuando como palestrante sobre os direitos da mulher e a Lei Maria da Penha. É redatora do suplemento agrícola do Jornal da Bahia, editora responsável do Jornal l´art que é especialiado em música clássica, jornalista e repórter do House Organ da Cosigua do Grupo Gerdau, idealizadora e produtora do Tardes Clássicas e criadora do projeto Tardes Poéticas do Centro de Artes Galouste Gulbenkian. É autoria do projeto-livro Vista Carnaval – Pernambuco, aprovado pelo Ministerio da Cultura em 2010 e edita os blogs Jo A. Ramos, Finsde Tardes Poeticas e WJDW-Defesa da Mulher, este ultimo criado para denunciar a violência contra a mulher.

ENTREVISTA:

LAM - Jô, as primeiras perguntas são de praxe. Servem para traçar um breve perfil do entrevistado. Então vamos pra primeira: quando e como se deu seu encontro com o jonalismo?

Desde os 6 anos de idade eu já escrevia e lia muito, sempre foi assim. Sempre li sobre política, mesmo não tendo ninguém da família envolvida. O jornalismo foi a forma que encontrei para me comunicar com o maior número de pessoas possível. Acho que  realizei melhor esse desejo com o surgimento das redes sociais principalmente com a criação dos Blogs.

LAM - Que influências da infância e adolescência possibilitaram a formação de sua identidade profissional?

Sempre estive cercada por livros que comprava com o dinheiro da mesada. Aos 16 anos quando comecei a ler Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre e as entrevistas da jornalista italiana Oriana Fallaci, entendi muita coisa que estava acontecendo no mundo e principalmente com nós mulheres.

LAM - Qual a sua posição com relação à extinção do diploma da categoria?

Acho péssimo. Não por uma questão elitista e sim por defender a necessidade de um conhecimento acadêmico que é fundamental. Nem todo mundo nasce com um texto na cabeça e para realizá-lo, muitas vezes, é preciso o conhecimento da técnica. Para qualificar, filtrar e organizar os conteúdos é necessário o trabalho profissional, qualificado do jornalista. A quantidade de informações disponíveis hoje  é quase incomensurável, somente um profissional da informação, um jornalista qualificado pode organizar esse conteúdo para disponibilizar à sociedade.
É importante saber ouvir a sociedade, verificar a veracidade das notícias, manter contato com fontes de informações e, por fim, publicá-las. Até hoje, nenhuma profissão foi questinada sobre o fato de existir uma formação acadêmica para ser exercida, por que isso aconteceu com o jornalismo?  é uma boa pergunta.
Abro uma brecha para os colunistas. Esses sim, independentes de serem ou não jornalistas podem emitir suas opiniões. Quem decidi isso é o boss do veículo. Com a criação dos Blogs o leitor pode formalizar suas idéias e defendê-las como quiser, é mais um espaço para publicação.

LAM - Você desenvolve um trabalho bastante engajado em dois blogs que edita: o Defesa da Mulher e o Myself. Fala da proposta de cada um desses seus blogs.

O Defesa da Mulher é um blog que propõe a divulgação de notícias, dados, matérias, depoimentos e entrevistas sobre a violência contra nós mulheres, não só no Brasil como no mundo. É impossível viver em um país onde a cada 2 horas 1 mulher é assassinada, ficar omissa.
O Myself é mais livre no conteúdo. Falo sobre tudo, de política a religião, música, livros, cinema..etc.

LAM - A imprensa brasileira, a seu ver, tem dado a devida atenção e de forma idônea e isenta acerca do problema da mulher brasileira?

Não. A imprensa não cobre o assunto como deveria. Quando o assunto é violência contra as mulheres ainda estamos nas páginas policiais, mas, já existem  abordagens que mostram o tema como uma questão de saúde, de direitos e de políticas públicas e isso nós devemos aos movimentos de mulheres que conseguiram pressionar os órgãos de comunicação.
A mídia tem o poder na medida em que defini o que será manchete ou não, o que será lido ou não pelo público. É  preciso garantir que os profissionais de imprensa exerçam esse poder de maneira ética e com responsabilidade social. É fundamental estimular a responsabilidade social da imprensa, alertar, conscientizar e sensibilizar jornalistas a respeito da gravidade desse problema.

LAM - Qual a sua perspectiva com a edição da Lei Maria da Penha?  Esse instrumento atende os anseios no combate à violência contra a mulher? A legislação brasileira abrange e atende a expectativa de se erradicar a pratica da violência contra a mulher?

A Lei Maria da Penha foi um grande avanço, mas, precisamos de muito mais, para que ela seja cumprida. Desde a promulgação da Lei Maria da Penha, o número de serviços especializados aumentou em 35% (de 521 para 707).
Atualmente, existem 707 serviços especializados - 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, 166 Centros de Referência de Atendimento à Mulher, 71 Casas-Abrigo, 62 Defensorias Especializadas e 20 Promotorias Especializadas. No que se refere à justiça e à segurança, foram criados 53 juizados especializados/varas adaptadas de violência doméstica e familiar e 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Segundo a SPM, além da criação, muitos recursos têm sido investidos para o reaparelhamento/reforma das Delegacias Especializadas, de Centros de Referência de Atendimento à Mulher e de Casas-Abrigo.
Com tudo isso, ainda não podemos afirmar que estamos perto de um atendimento exemplar. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados de 2009 mostra que apenas 559 municípios brasileiros possuem os chamados Centros de Referência para mulheres em situação de violência. Isso representa apenas 10% do total de cidades brasileiras. Estes centros oferecem assistência psicológica e atendimento jurídico para vítimas de violência doméstica.




LAM - Ao trabalhar o mote "Todo homem que maltrata a mulher não merece jamais qualquer perdão", realizei uma série de estudos e pesquisas para poder fechar esse meu trabalho poético numa martelada para cordel. Nessa pesquisa, ao se fazer uma leitura que compreende tanto a abordagem feita pela Tannah Hill até as escritoras e estudiosas de hoje das causas das mulheres, observando que os reclamos não são menores até então, principalmente no que tange à exclusividade da luta dos homens nas suas causas, enquanto a das mulheres incorpora não só as causas delas, como a de todos os excluídos. O universo masculino tem demonstrado solidariedade, ou ainda é determinante o machismo de sempre?

O machismo ainda está muito presente na nossa sociedade, é só observar o número de mulheres estupradas, humilhadas e mortas em nosso país. A atenção voltada à temática da violência doméstica e o seu combate tem se intensificado desde a criação da Lei Maria da Penha, em agosto de 2006. Mas enquanto as mulheres são o foco principal das políticas públicas, há quem trabalhe na outra ponta do problema: os homens que as agridem. Um exemplo é o Instituto Noos, no Rio de Janeiro, que desde 1999 atendeu cerca de 300 homens que procuraram, espontaneamente, ajuda para pararem de bater em suas mulheres.

LAM - A seu ver, a internet tem contribuído para coibir os abusos e violências contra a mulher?

A internet é mais uma forma de divulgação, esclarecimento e informação do que de coibição. O que vai mudar o atual quadro de violência contra as mulheres são as políticas públicas, educação, construção de mais Centros de Referência e Casas Abrigo.



LAM - Você também edita um excelente blog literário, o Tardes Poéticas. A respeito dele, um verso do meu poema "Primavera de Ginsberg" ficou bem identificado: "[...] Só a poesia tornará a vida suportável". Qual a proposta desse seu blog?

A poesia tem a força de apaziguar-me com o mundo conturbado em que vivemos, por isso, ela é indispensável. Sou apaixonada por poetas e livros. A proposta é divulgar nas redes escritores e poetas tentando sensibilizar as pessoas e dizer  que nem tudo está perdido. Temos poesia.

LAM - Quais os projetos que você tem por perspectiva realizar?

São tantos... rssrsr..bom, tenho 3 documentários, dois já aprovados pela Lei Rounet e 1 livro:
1-Mulheres Benditas que vai falar de 6 mulheres brasileiras biografadas pela escritora Ana Arruda Callado.
2- Documentário sobre o Acervo do Museu-Casa de Rui Barbosa.
3-O projeto VIVA MULHER é um documentário com mulheres de várias cidades do Brasil sobre violência, principalmente a doméstica. Quero levar informações sobre direito, cidadania e formas de defesa para as mulheres, com palestras e debates. O documentário de 60 minutos vai registrar tudo em um período de 6 meses. Lançaremos nas casas de apoio às mulheres, nos centros, nos abrigos, e onde nos for dada a oportunidade de mostrar o trabalho. Complementando o projeto lançaremos um livro e disponibilizaremos cópias do documentário para cine clubes e bibliotecas. Nossa intenção é alcançar pequenas cidades, onde o acesso a informação é mais precária. Estamos buscando parceria e patrocínio.
E por último a publicação de um livro sobre Recife e Olinda, também aprovado pela Lei Rounet. Todos esses projetos estão à procura de patrocínios/apoio/parcerias.
Grata pela oportunidade de falar com seus leitores. Bj, Jô.





  

quarta-feira, janeiro 04, 2012

domingo, janeiro 01, 2012

TODO DIA É DIA DA MULHER: ELIANE AUER



ELIANE AUER (MOÇA BONITA)


Fiquei escondidinha entre as nuvens
Procurando a estrela mais cintilante
Para presentear-lhe como o mais lindo diamante.
Ela é a mais bela que já vi
Porque no firmamento não há
Eu que a produzi
Quando passei por lá...

RISCOS DE UM LÁPIS

O lápis encantador
É ele que corre entre os dedos
Desde a infância mais pura
Até os tempos de desassossego

Lápis que ousa riscar
Os lábios formosos da moça bonita
A fina flor da fazenda
E o belo vestido de noiva em renda!
Os belos carrosséis dos parques
Os palhaços e as flores
As cartas dos amores
Risca o livro acabado
Os papéis esbranquiçados
E o sorriso estampado...

ANTES 

Antes
Antes que eu não mais enxergue...
Antes que o brilho se apague...
Antes que o amor acabe...
Antes que eu adormeça, me aqueça!
Antes que seja tarde, me escute!
Antes que a dor não caiba mais em mim, me acalme!
Antes que chegue o fim, me alcance...
Antes que o meu dia vire noite e o sono chegue.
Antes que chegue o inverno e as folhas caiam.
Antes me dê um sorriso e passeie comigo de mãos dadas.
Antes me aqueça no abraço e sentemos num banco de praça.
Antes, me beije até não pensar em mais nada...
Antes...

SONHANDO COM AS ESTRELAS 

Quando se tem um banco na praça 
Nele os sonhos fazem morada 
Tem princesa olhando estrelas 
Tem alma encantada 
O teu olhar é de festa e alegria 
À espera de beijos e afagos intensos 
Eternos sejam os doces sonhos noturnos 
Do mais puro encontro de amor 
Seja ele o céu estrelado ou 
Com juras de amor ao luar prateado. 
Embaixo da árvore, no banco 
É um sonho estar ao teu lado 
Contando as estrelas no céu 
Saboreando no vespeiro do anjo 
O mais puro e doce mel.

CASA VELHA

Quem habita a herança e o destempero 
Daqueles que só querem se dar bem ma infelicidade alheia 
A alegria e o desespero 
Foi amor e ilusão 
Até aonde vai a paixão 
Por aqueles que não lhe deixam nada de herança? 
Até mesmo na bonança 
Tem mesquinharia e deselegância. 
Casa velha de hospedeiro 
Meliantes e mendigos 
Virou homem bem honesto 
Viram monstros e protestos 
Casa velha virou abrigo 
De delinqüentes e oprimidos 
Vivem nela desabrigados 
E também muitos drogados. 
Casa velha já não agrada 
Àquele que não conseguiu achar o que procurava 
Restos de vidas mortas 
Sobras de parafernálias.

AMOR CARENTE, AMOR INTENSO

Só eu consigo te amar assim
São mistérios inexplicáveis
Mas adoráveis
Não é o seu rótulo
É a essência que me inspira
É o seu universo,
O seu tempo
Mesmo corrido
Que me energiza
É a idade, a sabedoria
Conquistada pela ação do tempo
A beleza ímpar, pintura inédita.
E na falta de tempo fazer o seu tempo para mim.
Eu te quero sim.
É na sobriedade que me aqueces
No olhar que me conheces
No acordar do Sol que me ilumina.
Só eu consigo te amar assim
Nesse amor carente, amor intenso
Envolvente entre nós.
Até... que não chegue o fim.
Não quero o fim.

ENCONTRO DE AMOR

O meu amor por você é de encantos
Como uma viagem de barco no mar
Onde o vento transporta sem rumo
Até que um dia você possa me encontrar
E quando me encontrar me aqueça
Porque o frio das noites foi muito
Seja companhia diária na sombra
Não quero solidão sem sua companhia
Encha de cores a minha vida sem brilho
Como a primavera de flores enche a estação
E em prece agradeceremos o encontro
Num ato de grande emoção.

POEMA DO AMOR ESQUECIDO 

Um amor que adormece 
Sem canção de ninar, 
Num barco navegando 
Quando saiu a pescar. 
E navegando esqueceu que um dia 
Teve um amor que deixou adormecido 
E no orvalho da noite em alto mar 
Quem sabe as ondas poderão acordar? 
Um amor que ficou na sombra 
Numa cabana velha coberta com palha 
Um marinheiro encontrando o barco à deriva 
Um novo rumo pode dar ao náufrago 
E o amor que esquecido ficou 
Poderá a esperança, resgatar o que restou! 

PLEBEIA

Enquanto deitada solitária, inquieta e triste
Naquele mundo não poderá mais ficar
É hora de dar adeus e não mais alimentar.
A dor profunda como punhal desferido no corpo
E que fique cravado até o final.
Melhor que não seja retirado para não sangrar
E não ganhar grandes quelóides para relembrar.
O encanto de cinderela passou à meia noite.
Agora só resta o sapatinho de cristal.

SOLIDÃO DE AMIGOS

-Estou com vontade de ter a sua companhia...
Pega a Lua para nós dois!
Vamos apreciá-la?
Sinto-me tão solitária!
-Ah! Também estou me sentindo solitário!
Dê-me a sua mão.
Aperte forte!
Preciso sentir a sua presença.
Sinto-me no abandono,
Triste sempre!
-Não fique assim!
Estou aqui perto de você.
Vou buscar a Lua para ser a nossa companheira.
Olhe agora para o céu!
Consegue enxergá-la?
Está na beira da praia, não é?
Eu também!
Vamos!Viaje comigo nesse pensamento!Estou juntinho de você.
Estou olhando também...
A noite está linda!
A Lua está magnífica! Está lá só para nós dois!
O vai e vem das ondas...
O brilho das estrelas...
O canto das águas...
São músicas criadas exclusivamente para os nossos ouvidos...
-Você conseguiu me acalmar!
Consigo sentir o ventinho suave no rosto.
É como se sentisse o seu carinho na minha face.
Preciso sentir seu abraço.
Está tão presente!
Sinto que estou adormecendo...
- Sim, você está adormecendo!
Amanhece e o Sol desponta no horizonte num espetáculo incrível!
E assim... Acordamos!

NAS BATIDAS DO CORAÇÃO

Quero ouvir
O teu coração
Deitar no teu colo
E ter a forte emoção
Perceber o doce acelerar
Descompassar e devagarzinho acalmar
Quero dividir
O silêncio quebrado
Pelo cantar dos pássaros
No primeiro dia de primavera
Quero dividir a alegria sem pensar
Sem imaginar, se virá amanhã outro dia
E, nas batidas do nosso coração
Extasiar-me de emoção...
Sentir o compasso
Do beijo estremecer
A face quente do desejo
No teu rosto afogueado de prazer
E nos amarrarmos um no outro sem soltar
Até que a força forte que anima
Diminua para poder sonhar...
E recomeçar a chama
De tanto Amor
Incendiar

E SE FOSSE AGORA?

E se fosse agora?
Se fosse agora, seria paradisíaco!
A busca suave 
O rosto sereno
As esmeraldas tão lindas
As flores do campo...
Um conto de fadas
A noite estrelada
Um cavaleiro e uma cavalgada
Um mar de estrelas
Um céu anil
Vivendo um sonho
Tão juvenil!


ELIANE AUER – A professora e escritora capixaba, Eliane Auer que também se assina Moça Bonita, é professora do Núcleo Comum, Coordenadora Pedagógica da Rede de Ensino Municipal, formada pela Universidade Federal do Estado do Espírito Santo, pós-graduada com especialização em Inspeção, Orientação, Gestão e Supervisão Escolar no Instituto Vale do Cricaré - São Mateus/ES. É também voluntária do PROERD - Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência.



ENTREVISTA DE ELIANE AUER

LAM - Eliane, você é professora e escritora. Então vamos trabalhar em duas partes, primeiro a professora. Quando, como e por que você se definiu professora?

No passado, em minha região, os familiares escolhiam o curso que as mulheres deveriam seguir, não deixando opção de escolha. Havia o famoso curso básico, em que se faziam todas as matérias e se optava pelo curso no segundo ano. Havia apenas os Cursos Científico, Técnico em Contabilidade, Técnico em Administração e Magistério (que era o curso para mulheres). Ao iniciar o curso, me identifiquei, pois sempre gostei muito de desenhar, pintar e criar. O curso exigia criatividade.
Tinha uma professora de Didática e Prática de Ensino que era muito exigente e ela era dona de uma escola privada renomada no município. Sempre me elogiou muito e assim que eu concluí o curso, no ano de 1983, ela esteve na casa de minha mãe, me convidando para assumir a minha primeira sala de aula, era uma sala de alfabetização.Com um mês de trabalho, convidou-me para trabalhar dois turnos.Assim, me dediquei por 11 anos à essa escola privada.

LAM - Quais as influências da infância e adolescência que determinaram a escolha pelo magistério?

Na verdade, os antecedentes eram já de duas irmãs formadas em magistério, porém nenhuma das duas atuava na área educacional.

LAM - Você passou por uma experiência pedagógica de sonhar com a faculdade, mas um sonho que ficou distante na época. Ao lado disso veio a hora de ser mãe e depois conseguir entrar na faculdade de Pedagogia. Fala pra gente dessas experiências.

Aos 18 anos de idade, assim que me formei, tive a minha iniciação na área educacional.
A faculdade, na época, ficava numa cidade da região serrana, no município de Colatina, como moro no município de São Mateus, norte do estado do Espírito Santo, tornava-se inviável financeiramente, era uma faculdade particular.
No ano de 1993, me casei e em 1995 tive minha primeira filha. Chegou o momento da renúncia para cuidar da minha filha e me realizar como mãe.
No ano de 1999, fiz um concurso público municipal para professora, onde fui aprovada. Reassumi a sala de aula e vieram as exigências para a prática docente, sendo elas curso de pedagogia ou normal superior.
Prestei um vestibular para ingresso num projeto EAD (educação Aberta e à Distância) entre a UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) e com o material didático fornecido pela Universidade do Mato Grosso.
Este curso de pedagogia foi semipresencial, onde eu trabalhava como professora num bairro periférico e desenvolvia os projetos e trabalhos de pesquisa nas horas vagas,além de desempenhar o papel de mãe.



LAM - Além dessa experiência, outra significativa foi a de se confrontar entre o ensino público e a rede privada. Relata pra gente como é que se deu esse confronto entre a escola pública. Qual a sua perspectiva hoje com relação tanto ao ensino público, como o do ensino na rede privada?

Trabalhar em uma escola privada foi uma experiência extremamente positiva, tinha riqueza de materiais didáticos, apoio dos pais, diariamente a dona da escola estava presente e era uma professora de carreira, que conhecia bem os anseios de uma sala de aula e os problemas que poderiam surgir e como solucioná-los junto com os professores.
Na rede pública, uma grande tristeza vivi, pois trabalhava em um bairro periférico. O oposto da situação da escola privada.
Crianças com fome, convívio diário com drogas e mortes, violência, pedofilia, zoofilia, incesto...
Lá, consegui um pacote completo de problemas emocionais: depressão, bipolaridade, ansiedade, síndrome do pânico e fobia social.
Faço acompanhamento psiquiátrico, psicológico, neurológico...
Depois de 11 anos vivendo com laudos médicos, descaso, críticas e ironias até mesmo com o nome de uma medicação, "pondera" (pondera é a paroxetina, um antidepressivo inibidor da recaptação da serotonina)

Perspectivas:
Quanto ao ensino público, vejo muitos colegas com laudos psiquiátricos e fazendo tratamentos emocionais, percebo nas instituições federais, os IFES, -cito onde a minha filha mais velha estuda- total descaso com a causa educacional. Prédios inacabados, faltam laboratórios, apoio profissional. Enfim, foram quase três meses de movimento e o ano letivo só será concluído no ano de 2012, atrasando consequentemente o próximo ano letivo.
Na rede pública municipal, continuam as ameaças feitas por alunos a professores e salários de descaso. Com tudo que passei em problemas emocionais, em nenhum momento a assistente social procurou saber sobre o que acontecia ou como a minha família se comportava com a situação. Acredito que com nenhum outro colega ocorra algum apoio.
Na rede privada, acompanho minha filha mais nova, a insatisfação salarial dos profissionais é a mesma, apesar do valor da mensalidade paga pelos alunos ser bastante alta.
Vejo que se não houver investimentos em capacitações, incentivos salariais, condições dignas de trabalho, segurança e comodidade, de nada adiantarão discursos mirabolantes descrevendo o cenário educacional.
Precisa-se de atingir as fraquezas, os erros, desde a base.
O aprendizado do aluno da escola pública, com fome, acredito que se torna difícil.  Defendia a idéia do café da manhã, pelo menos para que a criança não fique esperando pela merenda de hora de recreio apenas. Mas, os políticos vão para seus gabinetes de barriga cheia!

LAM - A seu ver a LDB vigente atende aos anseios de professores e estudantes?

A lei 9394/96 dá muita liberdade para as escolas, para os sistemas de ensino dos municípios e dos estados, fixando normas gerais. Alguns detalhes da LDB vigente são tidos como ganhos importantes para os cidadãos: "a União deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de seus orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público" (art. 69); O Ensino fundamental passa a ser obrigatório e gratuito (art. 4) e; a educação infantil (creches e pré-escola) se torna oficialmente a primeira etapa da educação básica.
As políticas educacionais formuladas a partir da LDB trouxeram vários desafios para a formação dos docentes para atuar na educação básica, onde devem ser habilitados em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação.
A partir do momento em que se tem um profissional qualificado e habilitado para o exercício da função, o aluno passa a ter ganhos de conhecimento.

LAM - Você desenvolveu um trabalho acadêmico acerca da Petrobrás em São Mateus (ES). O que motivou a realização dessa pesquisa e os resultados obtidos?

A motivação se deu através da economia da cidade. Desde os anos sessenta a Petrobras, no nosso município, tem tido um papel relevante para a sociedade mateense.Promovendo desenvolvimento na economia local através de empregos, renda, royalties.Na minha vida, foi muito mais do que economicamente, trouxe-me um funcionário que se tornaria o meu marido e pai de minhas filhas, que muito me apoiou no desenvolvimento do trabalho.Bem como pesquisas empíricas com pessoas que vivenciaram a descoberta do petróleo no nosso município.
Através desse trabalho de pesquisa pudemos mostrar a importância da Petrobras na nossa região e dos produtos derivados do petróleo na economia.
O objetivo principal que era passar a informação e a importância da Petrobras no município e a presença no nosso dia-a-dia.


LAM - Você também destinou atenção ao tema da Etnografia. O que levou você a se debruçar sobre este tema?

Na verdade, este estudo etnográfico se deu sobre a coleta de dados de uma família, abordando uma temática de antropologia. Infelizmente , as aparências ditam as regras da família dentro de uma sociedade.Buscando o conhecimento mais voltado para a antropologia, o foco principal foi a família, com seus hábitos e costumes diários.

LAM - Agora é a vez da escritora. Como e quando se deu seu encontro com a literatura?

Na infância, tive uma professora que gostava de pedir para recitar na frente da sala, para os outros alunos. Sempre gostei muito de poesias e leitura.
Sempre escrevia alguma homenagem que pediam discursos em nome de alguém, mas nunca assinava.
Ao iniciar o tratamento psicoterápico em 2007, tive uma psicóloga maravilhosa que me incentivou a escrever minhas dores, sentimentos, frustrações, angústias, raivas... Era uma tarefa de casa após cada sessão de terapia.
Porém, sempre observava que tinha muita poesia nos escritos: eram folhas e folhas. Ela pedia para que eu sempre assinasse tudo que eu escrevesse.Assim fui escrevendo, me envolvendo  emocionalmente com a literatura e me apaixonando a cada dia mais e mais.
Com o incentivo dos comentaristas, fui escrevendo. Gosto de me sentir livre na escrita.



LAM - Você reúne seu material literário no Recanto das Letras e também edita um blog. A seu ver, como está a receptividade ao seu trabalho literário?

Percebo uma boa receptividade no trabalho através dos comentários e pelo perfil de muitos comentaristas.
Atualmente, além do Recanto das Letras, o PEAPAZ, a Poetas Del Mundo e Poetas Capixabas. E no blog Eliane Auer.
Percebo que alguns blogs postam também os meus trabalhos.

LAM - Quais os projetos que você tem por perspectiva realizar?

Produzir uma nova obra literária e voltar à faculdade através do curso de psicologia, para poder ajudar às pessoas emocionalmente.


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