quinta-feira, janeiro 03, 2008

POETAS DE PALMARES



ADALBERTO MARROQUIM – Poeta palmarense formado em Direito. Transferiu-se para Maceió onde foi delegado de polícia e criou o Instituto de Educação. Faleceu na capital alagoana.

O MACACO DE DARWIN

Num baile chique da aristocracia
- imagem do caráter brasileiro –
por capricho ou, talvez, por zombaria,
(quem sabe lá porque razão) havia
um macaco servindo de copeiro.

O orangotango olhava aquilo tudo:
Moços, moças, decotes e casacas...
E entre tanta alegria, ele, contudo,
Ele, a surpresa, o clown, alma da festa,
Tinha fundas saudades das macacas
Que deixara no seio da floresta.

Lá pelo menos não havia o tango...
A moda, por exemplo, era.... outra coisa,
Nem nunca um macaco orangotango
Quis imitar o passo da raposa.

E depois o shimmy, o abraço, a cola,
Os cochichos por trás do reposteiro
E coisas tais que o pobre do copeiro,
O pobre mono quase perde a bola!

Pois é mesmo possível que essa gente...
(pensava o símio lá consigo) Sim!
Pois é possível que essa gente fútil
Continue a pensar sinceramente
Que descende de mim?!


A ANTONIO NOBRE

Anto, meu pobre e desgraçado amigo,
Que dor, que pena triste assim te fez?
Que sentimento fez nascer contigo
O mais triste poeta português?

A vinha da esmeralda, o ouro do trigo
Coimbra e o Mordego da formosa Inês;
E tu, meu velho, no teu fado antigo,
Só, sempre só, compondo o SÓ talvez...

Eras, na tua estranha soledade,
Como a alma do penedo da saudade
Que errasse pela sombra do choupal....

Passaste, mas, relendo-te as cantigas,
Choram de comoção as raparigas
E os poveirinhos do teu Portugal.


FONTE:
CORREYA, Juhareiz. Poetas dos Palmares. Recife: FUNDARPE/Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.

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