quarta-feira, fevereiro 13, 2008
POETAS POTIGUARES
Foto: Alexandro Gurgel
ANTONIEL CAMPOS
EPIGRAMA
Se tanta coisa esqueci,
Inda guardo o que errei.
O certo desaprendi,
Incerteza é minha lei.
O tempo que eu não me dei
Diz a parte que eu perdi;
No que dei, fiz que não vi,
Das duas partes, restei.
Nem sei se a pergunta ouvi,
Sei a resposta: não sei.
DIAS
Ontem, cada um.
Hoje, cada qual.
E eu achando tudo igual.
Não via perigo,
Tudo era normal,
E esse era o motivo.
Foi mal.
A/DOIS
Por prudência,
Falaremos amenidades
(a feira por fazer,
as contas a pagar,
os filmes da tv),
sem deixar que algo mais grave se insinue.
Cuidaremos para que um sorriso
Permeie e intercale nossas falas.
E não nos atreveremos
- jamais –
a cruzar olhares.
GRAFITE
O poema é do tamanho da idéia.
É lamentável o rastro da lâmina.
Ridículo, o do enxerto.
Constrangedor o meio-termo.
E sublime a coincidência.
BULA
É falso todo o verso que convence.
Se há razão,
Não me pertence.
MELHOR DO QUE O GOZO QUE ME DÁS
Melhor do que o gozo que me dás,
É o gozo que me dás dia seguinte:
Ris à toa.
O tanto que se diz é tanto faz,
E tanto faz quem diz e quem ouvinte:
tudo é loa.
No outro dia toda em mim estás,
E estou inteiro em ti, por conseguinte.
: coisa boa.
MAGNIFICAT
Tivesse um lince na visão, nada veria.
Tivesse o mar e todo mar seria areia.
Tivesse um puma nos meus pés, não chegaria.
- Bendita és tu que me completas e medeias! –
Não faço idéia do alheio que eu seria,
Se eu não tivesse a poesia que me alheia.
O poeta potiguar Antoniel Campos nasceu em Pau dos Ferros – RN e é engenheiro civil. Já puiblicou os livros Crepes & Cendas (1998), De cada poro um poema (2002) e A esfera (2005).
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