segunda-feira, agosto 25, 2008

LITERATURA BRASILEIRA



ARCADISMO – ALVARENGA PEIXOTO – o poeta e político carioca Inácio José de Alvarenga Peixoto (1744-1793), foi o mais envolvido na Inconfidência Mineira, e destroçado por ela quando foi preso e condenado ao degredo perpetuo na África. Teve suas obras publicadas mais de setenta anos depois da morte, mostrando-se um pré-romântico de traços nativistas. O nativismo impõe-se com sabor popular nos rondós e madrigais, sendo por isso o mais pré-romântico que seus pares. Foi um dos poetas ilustrados que construiu uma obra bem marcada pelo seu aspecto político, em defesa da República, contra a guerra e em prol dos escravos. Entre as suas obras estão: A Dona Bárbara Heliodora, poesia; A Maria Ifigênia, poesia; Canto Genetlíaco, poesia, 1793; Estela e Nize, poesia; Eu Não Lastimo o Próximo Perigo, poesia; Eu Vi a Linda Jônia, poesia; e Sonho Poético, poesia.

SONETO Nº 1

Entro pelo Uraguai: vejo a cultura
Das novas terras por engenho claro;
Mas chego ao Templo magnífico e paro
Embebido nos rasgos da pintura.
Vejo erguer-se a República perjura
Sobre alicerces de um domínio avaro:
Vejo distintamente, se reparo,
De Caco usurpador a cova escura.
Famoso Alcides, ao teu braço forte
Toca vingar os cetros e os altares:
Arranca a espada, descarrega o corte.
E tu, Termindo, leva pelos ares
A grande ação já que te coube em sorte
A gloriosa parte de a cantares

À D. BÁRBARA HELIODORA

Bárbara bela, Do Norte estrela,
Que o meu destino Sabes guiar,
De ti ausente Triste somente
As horas passo A suspirar.
Por entre as penhas De incultas brenhas
Cansa-me a vista De te buscar;
Porém não vejo Mais que o desejo,
Sem esperança De te encontrar.
Eu bem queria A noite e o dia
Sempre contigo Poder passar;
Mas orgulhosa Sorte invejosa,
Desta fortuna Me quer privar.
Tu, entre os braços, Ternos abraços
Da filha amada Podes gozar;
Priva-me a estrela De ti e dela,
Busca dous modos De me matar!

EU VI A LINDA JÔNIA

Eu vi a linda Jônia e, namorado
fiz logo eterno voto de querê-la;
mas vi depois a Nise, e é tão bela
que merece igualmente o meu cuidado.
A qual escolherei, se nesse estado
eu não sei distinguir esta daquela?
Se Nise vir, morro por ela,
se Jônia vir aqui, morro abrasado.
Mas, ah! que esta me despreza, amante,
pois sabe que estou preso em outros braços,
e aquela não me quer, por inconstante.
Vem, Cupido, soltar-me desses laços:
ou faze desses dois um só semblante,
ou divide o meu peito em dois pedaços!

ESTELA E NISE

Eu vi a linda Estela, e namorado
Fiz logo eterno voto de querê-la;
Mas vi depois a Nise, e é tão bela,
Que merece igualmente o meu cuidado.
A qual escolherei, se neste estado
Não posso distinguir Nise d'Estela?
Se Nise vir aqui, morro por ela;
Se Estela agora vir, fico abrasado.
Mas, ah! que aquela me despreza amante,
Pois sabe que estou preso em outros braços,
E esta não me quer por inconstante.
Vem, Cupido, soltar-me destes laços,
Ou faz de dois semblantes um semblante,
Ou divide o meu peito em dois pedaços!

FONTE:
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