quarta-feira, janeiro 26, 2011
AILA SAMPAIO
AÍLA SAMPAIO: DE OLHOS ENTREABERTOS
NO DIA DOS MEUS ANOS
No dia dos meus anos,
tu vieste, como um anjo, abençoar-me.
Como um homem,
tu vieste beijar-me a boca,
ensinar-me o amor
em rápidas lições.
No teu abraço,
meu corpo desenhou espirais,
aprisionou o instante
e parou os ponteiros de todos os relógios
sem indagações.
Do lado de fora, a chuva a distrair
o mundo com seus muros e interditos.
Do lado de dentro, um incêndio
a queimar nossos corpos aflitos,
nossas bocas a compor, uma na outra,
as mais belas e impublicáveis canções.
ILUSÃO
Tudo já foi dito
digitado ou manuscrito,
aos gritos ou em silêncio
por ato ou omissão.
Eu é que não acredito
e, como toda mulher apaixonada,
insisto
em só ouvir o coração!
DE OUTRO TEMPO
Há em mim uma casa desabitada
perdida no abandono dos ventos
que sopram sem direção
há portas que batem silenciosas
atrás de um adeus sem data,
lágrimas nas paredes retintas
e trancas enferrujadas nos portais
há hera entranhada nas vigas,
nos muros e em minha alma,
fechando porteiras,
lacrando janelas
misturando-se ao musgo
que no jardim cresceu
Há em mim um silêncio quase sagrado
e a memória de um tempo que não é o meu.
PALAVRA
ainda te necessito
para despir os meus silêncios.
Lâmina cortante ou ungento que sara,
és tu, palavra, a vestimenta das histórias,
o vento que leva toda mágoa
ou o anjo que anuncia as boas novas.
AMO-TE
Amo-te como flor que cresce no deserto
somente com o sal da terra.
Como fera mansa que deixa a selva,
amo-te em paz, em plena guerra,
e navego em teu corpo, sem remos, sem embarcação.
Amo-te como quem vê estrelas no amanhecer,
como quem, longe do litoral, vê o mar
e guarda no pensamento uma canção.
Como quem ama simplesmente por amar
e sem saber por quê,
amo-te em silêncio e te desejo
como quem sai a velejar deseja o vento.
ESPERA
Quando ele a encontra rapidamente na hora do intervalo de trabalho não sabe do dia inteiro de espera que ela carrega nos olhos. Ele a olha como se a visse e se vai. Ela o vê antes de olhá-lo e, resignada, ansiosa, se mantém ávida pelo que ele nem sonha que pode lhe dar.
AILA MARIA LEITE SAMPAIO – A escritora, poeta e professora cearense Aila Sampaio é graduada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará – UECE, com Especialização em Língua Portuguesa.É mestre Letras pela UFC com a dissertação Tradição e Modernidade nos contos fantásticos de Lygia Fagundes Telles, em 1996. É funcionária da Secretaria de Educação do Ceará e integra o quadro de docentes da Universidade de Fortaleza - UNIFOR, ensinando Metodologia da redação no Curso de Direito. É assessora pedagógica do Centro de Ciências Humanas, editora da Revista de Humanidades e leciona nos Cursos de Publicidade e Propaganda e Audiovisual e Novas Mídias as disciplinas: Língua Portuguesa I e II e Estética e Linguagem. É autora dos livros de poesias Desesperadamente Nua (1987) e Amálgama (2001) e do ensaio: Os fantásticos mistérios de Lygia (2009). É membro da Academia Cearense de Língua Portuguesa, cadeira 21. Edita o blog Literaila e tem textos publicados no Jornal de Poesia, no LiteCearense e no LiteBrasil. Veja tudo isso e muito mais de Aila Sampaio no Crônica de amor por ela.
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