A ARTE POÉTICA & ONÍRICA DE ANA LUISA KAMINSKI
ORQUÍDEA OBSTINADA
Tão natural, vibrante, tenaz
quanto orquídea obstinada
que, insistente e vivaz,
floresce nos ares, nas pedras
após vendavais ou queimadas
ressurge, viceja, voeja
alma livre, azul, alizarin
onde ecoa, musicado, um "sim"!
TINTAS
A alma
tilinta
transita
entre
tintas
taças
tintos
trans-
lúcida
manhã
lírica
líquido
cristal
carmim
TRANS-LUCIDEZ
Apenas pingos poucos
cintilam choram curvos
ao cosmos costurados
clamam no véu do espaço
no escuro céu crispados...
Apenas poeiras esparsas
e cores-vozes voláteis
cheirando a orvalho e chuva
circulam velozes-versáteis
dançantes no ar azul-uva...
Apenas farelos frágeis
de ferro, fogo ou brasa
afagam a boca rubra
da esbelta taça dourada
postada no centro da casa...
Apenas pedaços soltos
de desejos faiscantes
sonhos, asas e vapores
flutuam nos instantes
da tarde quase triste
fragmentos de amores...
ASAS
Apenas partículas, penas
restos e sombras, plumas
riscos e sonhos, traços
rastros de asas rosadas
cinzas azuis e brumas
entre vôos e pinceladas
mil volteios e vertigens
ou delicadas an-coragens
no seio das madrugadas
no violetanil, viagens
em teu céu revisitado...
Apenas partículas, gotas
sobras e respingos de luz
sinais de desejos, doçura:
saudade aveludada e densa
do sorriso solar, da ternura
nesta manhã lilás manchada
de chumbo-cobalto, escura...
Apenas partículas, grãos
letras e luas aguadas
lembranças de loucuras sãs
aquarelas, memórias aladas
nas curvas noturnas, nos vãos
insistem e cintilam, dançantes
estrelas, entrelinhas, estradas...
PRELÚDIO
Às vezes, o silêncio prenuncia
Suavidades ou fúrias, entropias,
Mudanças de ritmo ou de rota,
Transfigurações, sensações, sinfonias...
Às vezes, o silêncio adivinha
Novos movimentos, encantos ou vozes,
Reafinação do caos, do corpo, da alma,
Reconfigurações no cosmos, arroubos velozes...
Às vezes, o silêncio pressagia
Eclipses solares, chuvas, semeaduras,
Pinceladas divinas num jardim lylás,
Manhãs iluminadas ou noites muito escuras...
Às vezes, o silêncio prelude
Rufar de asas, árias de sereias,
Nascimentos lunares, sons de alaúde,
Danças no mar-cobalto, bailados nas areias...
Às vezes, o silêncio anuncia
Encontros musicais, finais, vitais,
Outros vôos e ventos, reuniões ou rompimentos,
No túnel do tempo sem fim, viagens espirais..
SUTURAS
Às vezes, o silêncio
abunda, confunde, afunda
sufoca, sacode, suspira
envolve, escava, evoca...
Às vezes, o silêncio
agride, assalta, ataca
respira, assusta, soluça
instiga, castiga, inspira...
Às vezes, o silêncio
desmonta, remonta, modela
desarma, desperta, deflagra
acode, comove, constrange...
Às vezes, o silêncio
caduca, caleja, conspira
atiça, açoita, acossa
embota, estorva, estilhaça;;;
Às vezes, o silêncio
clareia, renova, costura
incendeia, ensandece, ensina
Às vezes, o silêncio
simplesmente suaviza e cura...
ASAS E CENSURAS
...Poderias, porventura, me recriminar
pela profundidade da ternura
que palpita em ondas de saudade insistente?...
...E, acaso, deverias me acusar
pela plenitude da entrega, inteira,
por ofertar a ti meu coração, sem reservas?...
...Poderias, será, me censurar
pela completa e integral confiança
depositada em ti, alma amada, alada e aflita?...
...Poderia eu te repreender, amor,
por teres te atrevido a voar mais longe
mais livre e desejante de aventuras?...
...Deveria eu te criticar, meu bem,
pela intensidade móvel e complexa
dos coloridos entrelaçamentos de amores?...
...Poderia eu reclamar, minha doçura,
de tuas asperezas e ausências, apenas
porque prefiro doçura e aconchego constantes?...
...Deveríamos nós desistir, acaso,
de acreditar ou de insistir no possível
dos afetos, dos sonhos, das asas
e nos arrepender do vôo encantado?...
...Ou, simplesmente, vibrar e celebrar
as lembranças mais doces, memórias
dos olhares cintilantes e assombros
do prazer de habitar, por um tempo
mundos e jardins azuis compartilhados?...
VELADURAS
Palavra-asa
palavra-pena
palavra-pluma
Palavra-véu
palavra-brisa
palavra-bruma
Palavra-céu
palavra-chave
palavra-chão
Palavra-pó
palavra-massa
palavra-pão
Palavra-flecha
palavra-faca
palavra-fogo
Palavra-alvo
palavra-dardo
palavra-jogo
Palavra-fio
palavra-linha
palavra-laço
Palavra-risco
palavra-fenda
palavra-traço
Palavra-pólen
palavra-sêmen
palavra-flor
Palavras vãs
vôos-viagens
ou veladuras?
Palavras-tramas
rendas de sonhos
ou tessituras
Vestindo vãos
driblando a dor
com urdiduras...
POEMAS-PONTE-PASSAGEM
POEMA: porta-pulsão
palco-porto-paixão
parede-espelho-escudo
violino-violeta-veludo...
POEMA: ponte-passagem
percurso-rumo-viagem
miragem-paisagem-doçura
delírio-vertigem-ventura...
POEMA: poço-fenda
abismo-teia-trama
tecido-rede-renda
fagulha-fogo-chama...
POEMA: pétala-pérola
pólvora-pedra-pluma
ostra-concha-casulo
onda-cascata-espuma...
POEMA: planeta-poeira
estrela-espaço-espasmo
estudo-cometa-espiral
desejo-orgia-orgasmo...
POEMA: gatilho-explosão
seiva-sangue-alquimia
trânsito-luz-infusão
êxtase-paz-epifania...
POEMA: sonho-constructo
devaneio-desenho-invenção
semente-utopia-gérmen
energia-cosmos-tesão...
ANA LUISA KAMINSKI – A artista plástica gaucha radicada em Florianópolis (SC), Ana Luisa Kaminski, cursou Letras na UFSC e possui mestrado em Literatura Brasileira. Foi premiadana Bienal Internacional de Roma, em 2004, e tem participado de exposições nacionais e internacionais. Sua arte onírica demonstra a promissora artista que possui o talento além das expectativas. Hoje é o aniversário dela, aqui nossa homenagem & parabéns. Veja mais dela no blog Ancoras e Asas, Retratos by Kaminsky, A Arte de Ana Luisa Kaminski, Na Foto, Para Ler e Pensar, e Rede Cultura. Veja tudo isso e muito mais dela no blog Crônica de Amor por Ela e Musa Tataritaritatá.
E veja mais novidades na Agenda da HomeLAM e os clipes do show Tataritaritatá no YouTube ou baixe todas as músicas gratuitamente na Trama.