ADRIANO
NUNES & LARINGES DE GRAFITE - Conheci o poeta Adriano Nunes numa iniciativa
da poetamiga gaucha Carmen Silvia Presotto. Ela fez um suspense danado,
conversamos horas e horas sobre o citado poeta sem que eu tivesse visto uma só
linha do que ele já havia escrito. Um absurdo, confesso imperdoável a minha
absoluta ignorância.
Eis que, exatamente durante a III Flimar, é que tive a
oportunidade de ter um contato direto com a poesia dele. E ao apreciar o
Laringes de Grafite recém-lançado pela Vidráguas, pude ser impactado pela força
poética, findando com um misto de admiração, surpresa e satisfação. Confira:
UM POETA NÃO
SE FAZ SÓ
Um poeta não se faz só
De palavras e pensamento
Nem do que tanto pulsa adentro.
Um poeta não se faz só.
Às vezes, pousa o próprio invento
No acaso, como se por dó,
Numa plena ilusão, mas só.
Às vees, poupa-o do alheamento.
Todo poeta não é feito
Sob o forte efeito do sonho,
Do apelo pratico do peito
Nem do risco mais enfadonho.
Todo poeta, ser suspeito,
Tem de tudo medo medonho.
ADRIANO
NUNES – Ele é médico, servidor público federal e, sobretudo, poeta. É também
tradutor e editor do excelente blog Que faço como que não faço, onde publica
seus poemas e traduções dos
poetas mais importantes da Literatura Universal, quando passou a ser festejado
por críticos e poetas de renome nacional. Agora ele publica seu primeiro livro,
Laringes de Grafite, ampliando seus horizontes e firmando sua presença entre o
que há de melhor na poesia contemporânea.
ERA PARA
SER UMA CANÇÃO DE EXÍLIO
Meu canto de exílio
É o ruído de um riacho quase seco,
É isso.
Nunca vi sabiás
Nem saberia dizer como é um
Palmeiras? Só as conheço
De longe.
Mas meu coração abriga
O infinito.
MERCANTILISMO
Eu me consumo
Sonho
Sangro
Sinto
Surto
Um dia
Devolvo-me ao mundo
Corpo
Alma
Sombra
Sumo
DO QUE
QUER SER CONCEBIDO
Palavras são para isso,
Sim, para inventar
O paraíso.
Aprendi
Assim
Comigo.
Prometi tudo
Mesmo a mim,
Mas menti.
Palavras são para isso,
Digo, para desafiar
O íntimo.
Pronto.
Admito:
Palavras são para isso,
Repito, para cantar
O infinito
Do que quer ser concebido.
PRA TUDO
Todos os dias,
Apareciam-me muitas perguntas,
Premeditadas,
Sonhadas,
Sentidas,
Dadas ao tudo-nada,
Desenhadas,
Enfileiradas,
Juntas,
Sobre tudo.
Eu tinha nove anos e já
Sabia
- Ai, como eu sabia! –
A única resposta
Pra tudo:
Poesia.
O POEMA
O poema é
Essa sala de estar
Onde – desafiando o
Infinito –
Umas às outras, as palavras
Passam a se conhecer
Perigosamente melhor.
PARA TANTO
As sobras do que me penso
Assombram-me,
Somam-se às sombras
Dp que me sinto e
Soltam-se de si,
Dessa miríade de cores de um só sonho,
Do sumo sulfúrico
Do que me componho,
Em silêncio,
Em sintético silêncio,
Às cegas.
Certa vez,
Abriguei em meu âmago
Um tempo distante,
Um lugar ausente,
Algo sem nome, talvez,
Com outro nome,
Todos os nomes.
Que era?
A palavra por dizer,
Aquela falta,
Aquela angustia
A rasgar o tórax,
A expandir as jugulares,
A pôr lágrimas na face,
A afastar-me da tez da felicidade,
Mesmo tarde,
Mesmo nas tardes
De sol e de risos e de encontros
Íntimos, alma e corpo
Desfeitos, feitos
Um para o outro,
Quase dor.
Por essa
pequena seleção - e digo mesmo ser uma miúda reunião porque no livro outros tantos
bons poemas mereceriam mais que destaques aqui, o que me faria ter que copiar
todo livro -, trago uma mera demonstração do fôlego e da grandiosidade do poeta.
E digo mais: tudo aqui exposto é muito ínfimo mesmo. Para constatar, o livro
Laringes de Grafite, do Adriano Nunes, é apresentado simplesmente pelo poeta da
Academia Brasileira de Letras, Lêdo Ivo, prefaciado pelo poeta, filósofo e
compositor Antonio Cícero e com comentários de Antonio Carlos Secchin e José
Mariano Filho. Está constatado quão insignificante é tudo isso que trago aqui. Tem
muito mais: leia a obra. Eu recomendo: o livro é bom. Interessados em adquirir,
acesse a Vidráguas.
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