sábado, setembro 18, 2010
POETAS DE SÃO PAULO
MARTA RODRIGUEZ
OS MEUS PRIMEIROS QUATRO POETRIX...
O caos
Arrasta-se moribundo
Vitima do caos ambiental
Que extinguirá o nosso mundo!
A nossa casa
Poucos são aqueles que se movem
Para manter o planeta
Com a saúde de um jovem!
A paz
A paz em ação
utando pela purificação
Dos corações alimentados pela ambição!
O amor
O amor humaniza a alma
Com a unção do bem querer
Trazendo-lhe a paz que acalma
ELA
Fruto da Terra
Suculento objeto do desejo
É fina e insinuante como um diamante,
É senhora de si, porém arrogante
É bela por natureza,
De criança a donzela
Tornou-se à mulher, devassa,
Amante
De face angelical, o olhar é fulminante
Os lábios cor-de-rosa são venenosos e provocantes
Dissipam um sorriso malicioso, delirante
A voz sensual deixa a mostra à língua afoita
Contornando a boca, deixando no brilho da saliva
O sabor exuberante da sedução,
Aquele que do seu cálice prova
Escravo se torna,
Pobre servo indefeso
Festeja em seu leito,
Desfruta da fruta gostosa, preso à teia
Ela é cruel,
Amordaça o infiel
Algema-lhe as mãos,
Devora-o por inteiro
Encaminha-o para as profundezas do desespero...
SIMPLESMENTE EU
Entre histórias de amor
Contos e fantasias, está a minha alma
Despida envolvida no fascínio pela escrita
Entre os mistérios do amor
E as viagens imaginárias
Esta o meu coração combinando letras
Em simples riscar de caneta
Entre versos nada reservados
Esta a minha voz em belas canções de amor
Revelando a minha forma de amar
Expondo as minhas manias
Não me envergonho de ser como sou
Sou assim, simplesmente o amor..
EU SOU A PAZ
Alguns temem a mim.
É natural, compreendo.
Seus corações ainda não evoluíram porque
ainda não se encontraram comigo...
Não temam...
Trago em mim uma força que não receia o perigo,
sou terna e silenciosa como um céu azul
num dia esplendoroso de verão...
Sinto que, aos olhos de muitos,
ainda sou diferente, como se eu fosse um monstro,
que as entranhas da Terra cuspiu
dando vida a uma semente oposta
às vontades do mal, que de uma árvore caiu,
germinou e se reproduziu,
trazendo consigo o perigo da união mundial.
Sim, posso até ser um monstro, na sua imaginação!
Sou uma criação divina e, vim em missão de paz...
Sou diferente, sim...
Sou um sentimento estúpido por amá-los demais...
Sou falsa e mentirosa,
um monstro repugnante e asqueroso
porque compactuo com a verdade,
a honestidade e sinceridade.
Porque semeio o perdão e,
porque sofro e choro por suas dores!
Aos olhos de muitos,
ainda sou um fruto maléfico espalhando o amor!
Sou indigesta para aqueles que não têm amor no coração.
Sou um monstro por ser uma arma mortal
contra a devastação humana, animal e ambiental!
Sou assustadora por ser branca como a neve,
por ser pura como a água e,
por possuir a calma dos anjos...
Para quem não me conhece, muito prazer;
- não sou um monstro!
Eu sou a Santa paz...
Abram vocês também os seus braços
para receberem a minha luz,
e em seus corações a paz...
O AMOR E O CAVALEIRO ARMADO
Se deseja ser o meu abrigo
não será se, fizer-se calado
como a um cavaleiro armado
sempre a postos a novos conflitos.
Mas, se quiser ser por mim, amado,
desmonte, baixe guarda, dispa-se da farda.
Venha a mim e estarei ao seu lado.
No jogo do amor, serei a sua espada,
o cavalo alado a levá-lo a voar...
A amada guia a trilhar os seus caminhos
o amor que só lhe quer bem-aventurado,
Num mundo real, onde a fantasia
só estabeleça entre você e eu, a paz.
Venha a mim cavaleiro, o amor por você anseia...
UMA HISTÓRIA DE AMOR
Contou-me um homem muito estranho de turbante na cabeça e vestindo uma túnica, que quem olhasse para o sol do meio dia em ponto, reviveria a passagem de um forasteiro apaixonado que perdeu sua vida pelas areias escaldantes do deserto à procura de uma escrava foragida que se perdera ao tentar atravessá-lo à procura de liberdade...
Então, ao meio dia atentei-me para o céu azul. O sol brilhava forte, e sob o calor escaldante eu o vi caminhando descalço na areia branca. O peito de fora e a calça dobrada até os joelhos, denunciavam o calor insuportável. O andar lento e desigual denunciava o cansaço eminente.
A sede era evidente, em seus lábios, as marcas de ressecamento deram lugar à pequenas fendas que sangravam.
Sob as noites estreladas, onde nada se via, apenas ouvia-se daqueles lábios, os gritos desesperados chamando-a, ecoando entre a imensidão do vazio da solidão.
Sob a luz do dia, o seu olhar perdia-se no horizonte, as pupilas delatadas denunciavam a fraqueza. Mas, ele não desistia, fome já não mais sentia. Apenas caminhava, caminhava, mesmo não vendo nada à sua frente a não ser, areia sobre areia. Ele caminhava incansavelmente, e a sede que sentia era de encontrá-la. Subia e descia por montanhas de areias fofas, que hora estavam aqui, hora ali, formando montanhas que iam para onde o vento as ordenavam desmarcando o caminho que antes ele havia marcado.
Até que em estado febril, o delírio passou a dominar-lhe os sentidos e os pensamentos.
Ao longe, ele avistou um lago, e nele, ela banhava-se nua, refrescava-se nas águas cristalinas de uma cachoeira que despencava em abundancia. Uma mulher de pele branca, de curvas perfeitas. Os olhos verdes como esmeraldas igualavam-se ao verde das folhagens ao seu redor. Nos lábios dela, um sorriso encantador convidava-o a banhar-se também.
- Um anjo sem nome! murmurou ele exausto.
- O meu anjo!
- Finalmente nos encontramos, meu amor! continuou ele estendendo-lhe os braços.
Ao lado de sua amada, um cavalo branco de asas saboreava daquela deliciosa e fresca água enquanto olhava-o com sarcasmo, e vez ou outra, relinchava provocando-o.
O desespero dominou-o ao vê-la montá-lo, e nua, sair a galope deixando-o para trás.
Os cabelos negros e compridos ao vento acenaram-lhe um último adeus.
No ímpeto do desespero, ele corre em sua direção...O solo escaldante treme!
A imagem desaparece...
- Ela se foi! grita ele, reunindo suas últimas forças...
Exaurido, ele ajoelha-se na areia quente e desiludido, chora!
Decepcionado com o seu fracasso, ele rende-se e deita-se, desfalecendo.
Algum tempo depois, o homem de turbante encontra-o. Mas, é tarde de mais, daqueles mórbidos lábios, apenas algumas palavras foram ouvidas:
- Oh Deus, o lago secou, e não saciei a minha sede!
- O cavalo se foi, e eu não pude me despedir do meu amor!
- A busca chegou ao fim, o meu sonho acabou!
SER TUA
Fazer de mim tua mulher
É absorver da vida o melhor.
É acreditar que a cada nascer do sol
A vida em mim, se completa...
Fazer de ti o meu mimo
É ter em meus braços a pureza
Do menino-homem que toda mulher quer.
É ser menina-mulher amada, sob as tuas vibrações...
Fazer de mim tua mulher
É partilhar dias e noites
De encantamentos sob a magia
De ser tua, apenas tua, do jeito que me queres
Fazer de ti o meu homem, o meu mimo,
É fazer de mim o ser feminino mais feliz.
É fazer de mim luz única,
Sob o teu amor, que jamais adormece.
Fazer de mim tua mulher
É eternizar-me em teu coração.
É viver uma real realidade que vai além da ficção
Tornando-nos para sempre, homem e mulher...
QUISERA EU, SER TUA
Quisera eu poder despertar todas as manhãs
ouvindo de teus lábios, o som.
Do teu coração, as batidas.
Quisera todas as manhãs eu pudesse sentir
de tuas ternas mãos, as caricias.
Dos teus beijos, as delicias do amor.
Quisera eu poder ser de todas as tuas manhãs
o sol que trás em sua magnitude
o calor da vida.
Das flores, ser eu, a essência
a despertar-te o interesse.
De todas as tardes, ser eu, o teu alento.
De todas as tuas noites, ser apenas eu, tua...
Quisera eu adormecer todas as noites
em teus braços, ouvindo a tua respiração
e o teu coração batendo sob os meus ouvidos
depois de um amor feito, perfeito...
Quisera poder ser eu, do teu céu, a Lua
bela e prateada entre as estrelas
recebendo da luz do teu olhar apaixonado,
todo o amor do teu mundo...
O PODER DE UM BEIJO
O silêncio se fez.
O beijo caloroso se eternizou, tornando-se ardente!
Os movimentos da língua dele percorrendo o interior da minha boca
repercutiam por todo o meu corpo como chicotadas de puro prazer
provocando-me sensações de arrepios e tremor.
Inebriada, sentia-me incapaz de distanciar-me.
Foi tão de repente que deixei-me entregue,
como uma selvagem aos cuidados do seu domador.
Num arfar desigual,
sentia os braços fortes dele aperta-me o corpo contra o seu,
enquanto uma de suas mãos acariciava-me a nuca soltando-me
os cabelos presos por uma presilha.
Agora a luta era de igual para igual.
Nossos corpos queimavam a medida em que as chamas do desejo
iam nos tornando cúmplices na troca recíproca de deliciosas caricias.
Sentíamos na carne a ardência daquele beijo, que nos excitava ainda mais...
Febris, faltava-nos o chão.
Faltava-nos o ar.
De súbito, ouvi o sussurrar ofegante daquela voz
masculina deliciosa implorar-me que deitasse no chão.
Aquele som ecoou em meus ouvidos como uma melodia de amor.
Sob o céu e a terra, ambos seremos as únicas testemunhas dos momentos
de prazer que ali se estabeleceu!
MARTA RODRIGUEZ – A poeta de Mogi das Cruzes. São Paulo, Marta Rodriguez, é autora do livro, “Coração – O Baú das recordações”, editado por Corpos Editora Portugal. É co-autora de diversas edições do Caderno Literário, editado por Pragmatha, e dos livros “Reflexões para Bem Viver” (Grupo Editorial Scortecci), da antologia: “Desde Todo el Silencio” Editado pelo Editorial Los Punõs de las Palomas Argentina. Ela escreve para Caderno Literário (Pragmatha) e em outras publicações como o Jornal de Tocantins Notícias. É membro de Poetas Del Mundo (Chile), de Los Punõs de Las Palomas (Argentina) e da Red Mundial de Escritores en Español (Remes). Ela também edita o blog Um Amor de Poesia e reúne vários de seus trabalhos literários no Recanto das Letras. Confira alguns dos seus versos eróticos no Crônica de amor por ela.
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quinta-feira, setembro 16, 2010
FÊ LUZ & VERBALIZAÇÕES DO AMOR EM TRANSE
FÊ LUZ – A premiada artista plástica e poeta Fê Luz trabalha com desenho, pintura, objeto, mural, cenário, instalação, ilustração e intervenção urbana. Vem trabalhando a poesia como elemento de importância. Seu campo de pesquisa envolve o espaço: habitat urbano e natural. Observado, apropriado e interagido. Foca modificações temporais e recria novas condições para esses espaços ocupados, vazios ou inventados. Agora ela está lançando o seu terceiro livro, “Verbalizações do amor em transe", de poesia interativa, no próximo dia 22 de outubro, na Fundação Badesc, em Florianópolis, e dia 5 de novembro na Feira do Livro de Porto Alegre. Na ocasião haverá apresentação de vídeo-poesia sobre o livro, em que vozes declamam poema em diversos idiomas. Informações 48 32049383/91221285. Aproveite e veja o maravilhoso site da Fê Luz com toda sua arte e, também o seu blog Liluah Feluz.
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sábado, setembro 11, 2010
POETAS DE ALAGOAS: FÁBIO DOS SANTOS
POEMAS DE FÁBIO DOS SANTOS
I.
Quando vim ao mundo
Um corvo esguio piou num frágil galho de oliveira.
Ou era um triste cipreste?
Não chorei porque não tinha do que se queixar,
Eu não era como os outros bebês.
Recém-nascido já vim com a lascívia na saliva
E com apenas seis meses já falava latim.
Ou eram latidos?
Língua nenhuma me perturbava,
Pois, eu não tinha pressa.
De vez em quando soltava uns grunhidos abrasivos
Mas só quando eu sentia raiva.
Aos doze meses, uma grande confusão: as primeiras peraltices e maldades.
Odiava mingau! No entanto, entupiam-me o estômago.
Como paga, eu cagava na cara dos curiosos.
Resmungares daqui, resmungares dali...
Esse menino tem raça com o capeta! Parece que saiu da nata de Macunaíma!
Como o mundo era mal e chato! Como as pessoas eram tão idiotas!
E calado, produzindo meus primeiros fingimentos poéticos,
Balbuciava versos, embora que monossilábicos e babados.
II.
Poderia ser uma página em branco
Se eu não descobrisse em tempo
Que a Majestade não escolhe berço.
Refiro-me à Musa que nos embala com sua doçura e saber
E eterniza-nos depois de crucificar-nos.
A mesma Musa que envolveu em seu manto de ouro os Grandes Homens.
III.
Quando completei dois anos, levei o meu primeiro tombo.
Foi a partir daí que percebi o árduo caminho
Pela frente, as aporrinhações de adultos imaturos,
As orquídeas de choro fácil e indomáveis.
As seqüelas foram muitas como as negras penas daquela ave.
Os ambientes pelos quais passei, achei-os infelizes
E se pareciam com as apelativas paisagens de Van Gogh.
IV.
Aos nove tive a minha primeira namorada:
Uma coroa gorda e feia que tinha uma cara de jaca mole.
Os pesadelos afloraram como germes
Disfarçados em ogras e bruxas, paixão e rancor,
Porque as flores, antes de mim, já haviam sumido
Sem que o mundo pudesse ser inventado.
Nenhuma Ceci nem Iracema pairou em minha vida;
Às vezes, algumas Ritas Baianas, em que eu era obrigado a vencê-las à marra.
Amor mesmo, serei brevemente sincero, nenhum.
Talvez eu queime a boca e quem sabe mais para a frente
Eu volte aqui e rasgue esta página.
V.
Aos onze, veio a escuridão e envenenou mamãe.
Eu a fixava de olhos secos ali deitada ainda sorrindo o último beijo.
Os beiços carnudos, agora mudos.
Em que mundo ela estaria agora?
Então, morrer não dói?
VI.
Aos treze fui reprovado no ginásio.
Eu pensava que estudo era vida de porco,
Só para quem tinha talento para ser porco,
Ter focinho de porco, patas de porco...
E não sabia que, ao assobiar Chopin, eu estava sendo um porco,
Lendo Dostoievski, dublando Jorge de Lima, vivendo uma vida de Fabiano.
Por que será que eu era assim?
Dizem por aí que treze é uma idade perigosa...
VII.
Aos quinze fui agraciado na Escola Edson dos Santos Bernardes.
Contemplado pelas corujas e pelas garças da educação.
Que mudança! Eu era normal, ou aparentava ser...
A vergonha que eu tinha era a de ter sido filho da lagoa Mundaú,
Descobrindo que eu poderia me tornar um fruto ingrato.
Vergonha sincera de ter sido extraído pelo destino de uma favela,
De ter convivido com pessoas sujas e bichos duros.
“A pobreza não é um pecado, é a verdade”, já disse Dostoievski.
Porém, os moleques do meu tempo não sabiam disso
E, por isso, evitavam-me.
Até os bichos merecem a dignidade.
VIII.
No entanto, o tempo me ensinou que a amizade só é possível
Quando não há miséria como obstáculo.
E enquanto miseráveis, alcançamos maravilhas
Sonhadamente.
IX.
Após a última ida de mamãe,
Vivi longos treze meses enjaulado num mundo saturado de corruptos
E corruptores, no internato.
Tive decepções terríveis e sonhos arrancados,
Uma vida de cão, um Oliver torto...
Não tinha nada de gauche nem de Romão...
Estava para lá de Robin Hood
Curtindo os Besouros.
X.
Aos dezenove servi ao exército.
Tempo curto de orgulho imenso.
Esse tempo passou como o Halley
E eu nem pude senti-lo, intensamente.
XI.
Não sou astrólogo nem astrônomo.
Nem cozinheiro nem cantor.
Nem violonista nem aprendiz de feiticeiro
Nem professor.
Sou um hominomorfo fero
Uma abelha aposentada
Incapaz de sentir o néctar das flores.
Estaria assim, eu não sendo nada?
Enquanto vejo tanta coisa sendo,
Tanta gente passando como nuvem
Levando uma vida sem signo.
XII.
Capítulo para um livro de influências ideológicas:
Os caminhos por onde trilhei, as pedras que testemunhei,
As dores que colhi, o trabalho perseguido durante toda a vida,
As grandes obras que li e vivi, as esperanças que investi...
Os tropeços literários, só traduzíveis pelo sentimento...
A revolta que tive, a rebeldia que acreditei, a carga que carreguei...
Tudo isso viera de uma única fonte: dos livros.
De Gullar, Graciliano Ramos, Zola;
De Chopin, Corelli, Mozart;
De Monet, Van Gogh, Renoir;
De Pascal, Dostoievski, Baudelaire;
De Borges, Balzac, Mallarmé;
De Drummond, Saramago, Chekhov;
De Humsun, Sartre, Mayakovsky;
De Huxley, Lispector, Rosa, Nabokov;
De Heidegger, Aristóteles, Orwell;
De Poe, Wilde, Hesse, Nietzsche...
Eis o pilar de uma formação profícua;
Se não me foi permitido compreendê-los, tive-os junto a mim.
XIII.
Viver bem é um segredo,
Não é um resultado de uma obrigatória e dolorida aquisição de conhecimentos.
Para que um beija-flor viva toda sua plenitude
Duas coisas bastam: o céu e as flores.
Para que as rosas perfumem o mundo
É preciso que haja mãos acalentadoras.
Para que o mar se imponha com todo o seu poder: a imensidão assustadora.
Por que se preocupar em aprender uma única cosa?
Custe-me o estômago e os olhos
Mas é preciso que se apreenda a alma de todas as coisas.
XIV.
Huckleberry Finn povoou minha infância;
Graças a ele descobri à vida as mais felizes aventuras:
Como superar a sequidão da miséria;
Como entender os adultos;
Como apreciar a natureza primitiva.
Mas a infância é uma época verde, passageira,
Morre no instante em que descobrimos um pouco de Paulo Honório
Dentro da gente.
Quando adolescente, quis ser um gênio, perseguir sem descanso
Os rastos do Dr. Jekyll e me foi revelado um grande mistério:
A vida é uma espécie de concerto regida por um Grande Maestro,
As batidas cardíacas ditam o ritmo e os impulsos nevróticos, o caminho.
Eu, um simples coadjuvante dessa orquestra, ou espécie de Frankenstein reinventado
Sob as garras do poderoso Mr. Hyde.
XV.
Tenho cultivado mais livros do que pessoas.
Às solidões que vivi, tive apenas uma única testemunha: as bibliotecas.
Nada de saliva humana expelida pelas multidões.
A multidão é muda e nada diz a respeito.
Expectante sempre aguardei o ritmo natural das coisas.
Quando olhava para os meus, a tristeza com sua sequiosa influência
Me cuspia à cara.
Minha família foi-me sempre um esturro irritante
Que eu tinha de superá-la e não entregar-se jamais à derrota.
Uma mãe morta sem o por quê; uma avó sem língua e sem pernas
E sem nome e sem porquê;
E uma irmã perdida pelo mundo.
Minha vida foi isso: um riso melancólico entre uma capa e outra
De um livro.
XVI.
Aqui penso no Amor.
O que é Amor? qual o seu nome?
Que território habita?
Talvez eu esteja na minha fase punk:
Olho a tudo e a todos, secamente;
Como se esse tudo estive para sempre podre
E que eu vivesse sobre carniças. Vomito gritos de rancor,
Endurece-me o coração contra a Fome, a Guerra, o Fanatismo, a Corrupção...
Contudo, o mundo com o seu jeito de menino enjoado ainda tem o sabor de primavera.
Prometeram-me aos quatro ventos
Mas ninguém me escuta, como se todos os ouvidos virassem zumbi.
Escutam e obedecem...
Escutam e obedecem...
Não é assim que gira a Terra?
XVII.
Um pouco de realidade, de mundo-cão, de que a vida vai melhorar,
De que vale a pena sonhar, de que um dia a inflação irá despencar,
De que os juros irão desabar, de que o salário mínimo alçará vôo...
Vozes que ouço por todos os lados; vozes ocas e absurdas, diplomacia
Televisiva. Sou povo e mereço seguir por cima, preciso provar, jogar-me
Contra a insensibilidade das paredes, perseguir uma verdade qualquer
Esturricada, desavessada, sem estoicismo algum.
Sei que as paredes são burras, mas desistir jamais.
XVIII.
Para entendermos o outro, a simplicidade basta.
O tigre de bengala não exibe sua beleza selvagem
Porque já nascera sob esse privilégio.
Assim o é o pinheiro.
Assim o é o universo.
Viver e ser útil sem querer complicar.
Deixemos esse papel ao encargo dos dédalos
E dos labirintos
Para que os minotauros da vida os entendam.
XIX.
Aos vinte e oito anos, lancei meu primeiro livro:
Tinha um aspecto artesão e rudimentar.
Um livro simples como um galho de árvore.
Para mim, a maior obra do mundo, e tenho mais onze tarefas para cumprir,
Como os doze trabalhos de Hércules.
Grande porque simples
Como uma figueira tombada;
Como um vestido que chora esquecido na lavanderia;
Como um imponente coqueiro à beira-mar que sorrir sem sentido,
Simplesmente porque é o coqueiro mais feliz do mundo;
Como um dançarino do Guerreiro lá de Alagoas que, de tanto sapatear,
Já não consegue manter-se de pé;
Como uma rádio que ninguém sintoniza;
Como uma pulga que não se estremece com o xampu,
Porque ninguém se importa com as pequenas coisas;
Como uma cadeia que não se surpreende com a fuga...
Enfim, um livro de palavras rústicas e de falas cruas; de metáforas puras
E sem hipocrisia.
Um livro escrito por mim, que sou ninguém, porque não posso ser visto
Tão facilmente.
XX.
Dizem que a solidão é um mal.
Enganam-se as bocas que expelem esta inverdade.
Pois, é através da solidão que conversamos com Deus;
Que libertamos o coração e a veia poética;
Que podemos chorar sem sermos percebidos;
Que podemos furtar os desejos mais recônditos;
Que podemos estrangular o mais inócuo rancor;
Que podemos rezar sem vergonha;
Que podemos pedir sem temor...
Neste momento, choram-me os joelhos de felicidade.
Como a felicidade é tão estranha.
FÁBIO DOS SANTOS – O poeta, músico e compositor alagoano, Fabio dos Santos, já foi contemplado com 6 prêmios da Academia Alagoana de Letras e é autor do livro Bichos Urbanos. Está na comunidade Escritores Alagoanos e edita o blog Meus Filhos Adoráveis.
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domingo, setembro 05, 2010
OS FILHOS ADORÁVEIS DO POETAMIGO FÁBIO SANTOS
FÁBIO SANTOS, O POETA-MÚSICO DOS BICHOS URBANOS! – Conheci Fábio num desses dias bastante agoniados. Como na vida não vale a pena esquentar o quengo com nada, eu andava enredado numa teia de broncas que nem sei como me safei ileso. Foi. Confesso que ele contribuiu e muito para que eu tivesse tirocínio para sair dos palpos de aranha que a nossa existência nos submete vez em quando.
Pois bem. Um dia lá de fins dos anos 90, estava eu mais liso que o mais condenado dos desendinheirados, quando conheci o Guarda. Isso mesmo, um sujeito que tive a oportunidade de privar da amizade e que me acompanhou nessas horas de penúria braba e situações destrambelhadas.
Não tinha eu sequer um rumo para dar na venta, quando o meu amigo Guarda ficou do meu lado zanzando pra lá e pra cá, conversando animadamente literatura e música.
Estava eu trabalhando meus livrinhos infantis e lutando para sobreviver (como sempre), quando ele me chegou com um volume que eu achei arretado: Bichos urbanos.
Não é que eu descobri um Guarda literato? Apois foi. Fui até pro lançamento do livro que contou com a presença da Guarda Municipal e da então prefeita de Maceió.
Li o livro e gostei. Até comentei a respeito, embora não saiba onde que está publicado. Mas que comentei, comentei.
Passou-se o tempo e um dia ele me visitou. Chegando lá em casa, eu comecei a dedilhar algumas das minhas composições musicais. Aí ele pegou outro violão e acompanhando algumas. Porém, uma delas, ele fez um solo que fiquei arrepiado. Foi. Tanto que repeti várias vezes minha canção “Armadilhas” e ele viajando aos solos.
Fique bestificado.
Não é que o Guarda além de escritor era guitarrista? E dos bons.
Foi depois disso que descobri que o Guarda devia ser chamado de Fabio Santos, mas como sou incorrigível de chamar carinhosamente meus amigos pelo apelido (às vezes o mais comum já instalado, outros que eu mesmo sapeco nunca de forma depreciativa, sempre com o coração só para dar uma originalidade na nossa amizade), não mais deveria chamá-lo de Guarda, mas de Fabio Poeta porque ele é um excelente compositor e bom escritor, prova disso são os vários prêmios que ele já arrebatou da Academia Alagoana de Letras. Além do mais, é uma figura daquelas surpreendentes e que só nos traz prazer tê-lo por companhia.
Depois dum bocado de ano perdido pelo meio do mundo, eis que me encontro com seu trabalho literário e musical aqui na rede, principalmente no blog Meus Adoráveis Filhos, como também no da banda Oficina 137 onde desfila suas composições musicais.
Do antes jocoso Guarda agora maduro Poeta, guardo boas lembranças e a sua amizade no meu coração.
Pra você, meu amigo, meu apreço e gratidão. Vamos juntos & tataritaritatá!!!
PS: Confira o que ele escreveu a meu respeito no seu blog Meus Adoráveis Filhos!!
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