sexta-feira, março 14, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



ELBA

Luiz Alberto Machado

Há mil cantos no teu seio milumanoites milumamor
Ei-la jogando a sua voz agreste do leste no meu coração
Ei-la no sol que inaugura seu cabelo de guerra de terra & amor
E ela vem despertando furor minultima emoção milágrima
E eu me deliciando com seu jeito cantando o mundo & eu tocantando história de vaqueiro homenino de gente sem cor sem
E ela é um sonho de menina que dorme no quarto com cinturinha de pilão espiando o passado que dorme e os farrapos de esperança os beijos de antípodas e as ocasiões oh não!
Ela vem com seu cheiro matutino voz de língua afiada no meu sexo como o transe que se oferece à emoção ao alcance da mão & eu cantor derradeiro com a certeza do rio corrente armando revés no seu canto agora sim!
Ela vem dos teréns e com a urgência do amor o que significa pra mim a vida da minha fada madrinha.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

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FINAL DE SEMANA TATARITARITATÁ



SEMANA DA POESIA – RJ - 1ª Semana da Poesia, no Rio de Janeiro - SEXTA, 14 de março de 2008 DIA NACIONAL DA POESIA TREM DA POESIA Recital no Alto do Corcovado A Estrada de Ferro do Corcovado e o MinC convidam você para a 5ª festa de comemoração do nascimento de Castro Alves e Glauber Rocha homenagem póstuma: Wally Salomão Estação Estrada de Ferro do Corcovado Concentração: A partir das 15 horas Não perca o TREM DA POESIA (desde 2004) Coordenação Geral: Ricardo Ruiz Coordenação Poética: Tavinho Paes Produção Executiva: Herbert Marinho Poesia, Você Está na Barra A Partir das 18h Piano Bar do Clube do Condomínio Novo Leblon. Av. das Américas, 7607, Barra da Tijuca, em frente ao shopping InfoBarra. Convidados Especiais: Flávio Dórea, Sérgio Jerônimo, Tanussi Cardoso Coordenação: Mariangela Mangia e Aluizio Rezende Informações: alurez@oi.com.br ou 86257878 FILÉ DE PEIXE e GOMO http://www.filedepeixe.multiply.com/ palavril@gmail.com SÁBADO 15 de março de 2008 Poesia In Concert Artur Gomes IN Pessoa Artur Gomes http://youtube.com/fulinaima cine vídeo teatro poesia http://youtube.com/cinemanovo DOMINGO, 16 de março de 2008 Festa Poesia Canto do Leme A FESTA POESIA das domingueiras começa às 17h, no canto do Leme, entre a praia e a pedreira. DuduPererê & Eduardo Tornaghi Realização Movimento InVerso - Clauky Saba (inverso.movimento@gmail.com) Oficina Literária Cairo Trindade – Cairo (cairotrindade@gmail.com) e Site Alma de Poeta - Luiz Proa (luizproa@uol.com.br) Confiram a programação completa no blog www.movimentoinverso.blogspot.com Info: Luiz Fernando Proa www.almadepoeta.com Clauky Saba (produção cultural)
http://arteemtodaparte.blogspot.com & http://movimentoinverso.blogspot.com



GERVÁSIO BAPTISTA - Exposição no STF "Gervásio Baptista: 50 Anos de Fotografia", que será inaugurada na próxima quarta-feira (12), no Supremo Tribunal Federal (STF). A exposição traz 45 obras do profissional que tem a credencial de imprensa número 001 do Palácio do Planalto e é um dos mais respeitados fotógrafos brasileiros. Na mostra, os visitantes podem ver fotos já publicadas e bem conhecidas (como a do Presidente Juscelino Kubitschek acenando com a cartola em frente ao Congresso Nacional no dia da inauguração de Brasília) e também de arquivo pessoal. "Uma foto que eu considero, assim, curiosa, é a que eu fiz em Santo Amaro da Purificação: bonde puxado a burro. Na terra do Caetano Veloso", indica o fotógrafo. Baiano de Salvador, Baptista começou cedo na profissão. Fotografou políticos, artistas, eventos esportivos, belas mulheres, revoluções. Cobriu até a Guerra do Vietnã. Parte dessa história é contada em 4.130 verbetes que aparecem no Google quando seu nome é colocado como termo de busca, além de ser, ele próprio, um verbete da Wikipédia. Gervásio também ganhou uma capítulo especial no site da ABI –Associação Brasileira de Imprensa. A solenidade de abertura da exposição, com a presença da ministra Ellen Gracie, presidente do STF, será realizada a partir das 18 horas, no Edifício Sede do STF, Salão dos Bustos. Os interessados em conhecer mais a história do fotógrafo poderão visitar a mostra a partir de quinta-feira, dia 13 de março até o dia 18 de abril. A visitação é aberta ao público de segunda a sexta-feira, de 13h às 18h. Já nos sábados, domingos e feriados o horário de visitação é de 10h às 17h30. Serviço Gervásio Baptista: 50 Anos de Fotografia 13 de março a 18 de abril segunda a sexta-feira, de 13h às 18h sábados, domingos e feriados de 10h às 17h30 Salão dos Bustos Supremo Tribunal Federal – Praça dos Três Poderes Info: Isabela Lyrio http://www.flickr.com/photos/isabelalyrio http://www.punctum-foto.com http://punctum-foto.blogspot.com/



FERNANDO PESSOA HOMENAGEADO NO XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA - A coordenação do CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA, em sua décima-sexta edição, definiu os homenageados deste ano: Portugal e os cento e vinte anos de nascimento do poeta Fernando Pessoa. Parceria neste sentido foi firmada entre o Proyecto Cultural Sur/Brasil, Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves, Instituto Cultural Português e Consulado de Portugal no Rio Grande do Sul, em encontro recentemente realizado na capital do Estado. Haverá,portanto, a Feira do Livro, atividades estas preparatórias ao Congresso Brasileiro de Poesia, que será realizado entre os dias 6 e 11 de outubro vindouro.



POESIA FALADA DO RIO DE JANEIRO - PRÊMIO FRANCISCO IGREJA. A APPERJ - Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro - O tema do concurso é livre, sendo aceitos todos os estilos poéticos. Poderão participar poetas residentes no país, de qualquer nacionalidade, exceto os diretores da APPERJ. Cada concorrente poderá enviar até três poemas inéditos, em língua portuguesa, digitados, de no máximo 30 linhas (espaços inclusive), em 3 (três) vias de cada, acompanhados da taxa de inscrição: 10 reais por poema e cinco selos simples (cópia do depósito feito em nome de APPERJ, Banco Real, ag. 0367, cc 8736848), até o dia 31 de julho de 2008, para: Festival de Poesia Falada do Rio de Janeiro - Prêmio Francisco Igreja; Estrada de Jacarepaguá, 7166/404. Cep: 22753-045, Rio de Janeiro/RJ, Info: APPERJ www.apperj.com.br Outras informações pelos tel: Márcia Leite (21) 2447-0697 / Sérgio Gerônimo (21) 3328-4863. Apoio cultural: www.oficinaeditores.com.br

PERSONA NA CLICKTV – O programa Persona é apresentando por Warde Marx e traz crítica, informação, comentários, formação de público,dicas e serviços nas áreas de cultura, comportamento, atualidade, artes e espetáculos, com ênfase em teatro. Veja acessando www.clictv.com.br

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quinta-feira, março 13, 2008

GELÉIA GERAL & TATARITARITATÁ



O POEMA E SUA CRIAÇÃO - Espaço B_arco com Dirceu Villa e Ana Rüsche 8 encontros, sábado, das 14h às 17h Rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto 422, Pinheiros Informações: 3081-6986, www.obarco.com.br A oficina O Poema e a Criação propõe uma apresentação acessível, em 8 encontros, sobre as possibilidades de se escrever poesia, ensinando técnicas de diferentes dicções, seus limites com a prosa, o uso da imagem, as relações com a música e mecanismos de engenho poético. Além do material de apoio (impresso e audiovisual), será construído um blogue coletivo, no qual será possível proporcionar outro tipo de interação entre os alunos. Não é necessário conhecimento prévio para participar dos encontros, destinando-se tanto a escritores iniciantes quanto a interessados em literatura em geral. Programa: http://www.obarco.com.br/extras/o-poema-e-a-criacao/



DIA DA POESIA – Dia Nacional da Poesia - 14 / 03 / 2008 – sexta-feira nascimento de Castro Alves e Glauber Rocha, homenagem póstuma: Wally Salomão - Estação Estrada de Ferro do Corcovado concentração: A partir das 15 horas TREM DA POESIA (desde 2004) passagem gratuita para os poetas Recital no Alto do Corcovado Coordenação Geral - Ricardo Ruiz coordenação Poética -Tavinho Paes Produção Executiva - Herbert Marinho + O Dia da Poesia, 14 de março, já está sendo comemorado: uma caravana da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins está percorrendo escolas públicas do Estado recitando e contando estórias. Cerca de 30 instituições vão receber a visita dos artistas. Nesta sexta, dia 14, uma programação especial acontece em Natal, com poesia nos ônibus, cantoria de violeiros e shows d’Os Poetas Elétricos e Chico César no Palácio da Cultura, a partir das 18h30, também com entrada franca. Outras informações: www.natal.rn.gov.br/.



POESIA NA BOCA - Os Poetas de Boca juntamente com o grupo Poesia Simplesmente e os Amigos do Café farão novo lançamento do cd Poesia de Boca, numa festa bacana e com muita poesia, durante a Semana da Poesia. Dia 25 de março, no Terça ConVerso no Café. Teatro Gláucio Gil, em Copacabana, RJ - 18:00 horas. Equipe Alma de Poeta
www.almadepoeta.com Festa de lançamento http://www.youtube.com/watch?v=0WbgBMduCkw Convite
http://www.youtube.com/watch?v=05oLL6_02_4



DIÁRIO DE AMOR PERDIDO – Poemas de João José de Melo Franco – Segunda-feira, 17/03/2008 a partir das 19h Leitura de poemas a partir das 21h Rua Conde de Bernadotte, 26 lj. 125 Leblon - Rio de Janeiro – RJ Tel: (21) 2274-0359 www.daconde.art.br João José de Melo Franco (1956) publicitário, cineasta e editor, é paulista de Barretos, e estreou, em 1979, com o livro Primeira Poesia (Edição do Autor), obtendo enorme estímulo da crítica especializada. A este livro, seguiram-se Esse Louco Desejo (Altair Brasil, 1980) e Amor-Perfeito (Altair Brasil, 1984). Nos anos 80 também escreveu Pequeno Dicionário de Termos Literários (Editora Três) e Dicionário Biográfico Universal (Editora Três). Em 2006, depois de 20 anos afastado do mercado editorial, publicou O Mar de Ulisses (Ibis Libris). Para 2008, além do presente livro, estão programadas as publicações de Carmina Burana, tradução de poemas medievais em latim, e Périplo (poesia), ambos pela Ibis Libris.

SALÃO DE FOTOGRAFIA - As inscrições para o XIV Salão Municipal de Fotografia acontecem até 31 de março e podem ser feitas na Casa da Cultura de Teresina, na Rua Rui Barbosa, 348 - Sul, das 8h às 13h. O tema é livre. O Salão premiará com R$ 2 mil a melhor fotografia de cada modalidade: Fotografia Colorida, Fotografia Publicada e Fotografia Preto e Branco. O Prêmio Fotógrafo José Medeiros, de R$ 2,500,00, será concedido ao melhor trabalho do Salão. Outras informações: (86) 3215.7849.

VOZES DE MENINAS - Helio Neri convida para o Vozes de Meninas: lançamento do livro de poemas 8 Femmes, (8 mulheres escritoras) + leitura com: Virna Teixera, Greta Benitez, Jurema Barreto de Souza, Vanessa Molnar- dia 14/ 03, sex. feira, a partir das 19:30, local: Casa da Palavra, Praça do Carmo, 171, centro, Sto André – SP.

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quarta-feira, março 12, 2008

APRUMANDO A CONVERSA & TATARITARITATÁ



EU VI O BRASÍ JOGÁ.

Zé Brejêro

Já farto dos prejuízo
Que eu tinha nas prantação
Azuní meus matulão
Num corozin de cavalo
Caminhei seiscentas légua
Dessas qui satanáis maicou
E fui pará no interior
No istado de São Paulo

O póbe do meu quartáu
Num agüentando as caminhada
E eu já cas canela inchada
De tanto assim caminha
Pedí rancho na Senzala
Da fazenda Trêis Maria
E só entonce no outro dia
Me incontrei nas capitá

Bati o mundo e o fundo
Atráz de incolocação
Pru fim bati num portão
Dum palacete granfino
Donde apareceu um gorducho
Cum cara de quem mato
E após cubá-me todo, falou:
“-Qui dezeja seu minino?”

“-Meu patrão cheguei do norte
Um tanto desmantelado
Num tenho no borso um cruzado
Prá móde comprar um pão
Se vormicê pricizá
Dum trabaiadô dispôsto
Aceito com muito gosto
seja qual for a função”

“Entre prá dentro cabôco
Sua graça cuma é?
Vamos bebê um café
Mode adispôis cunversá
Eu preciso de um vigia
De vergonha e de corage
Pra guarda minha garage,
Minha casa e meu quintá”

Ganhei logo a confiança
Daquele bom cidadão
Qui num era mais patrão
Era um pai e um amigo meu
E a cabo de trêis semana
Me falou-me: “Zé Brejêro,
Vô viajar prú instrangeiro
E vormicê vai mais eu”

Veja as coisa cuma é,
Quando Deus qué meu patrão:
Um curumba disgraçado
Qui nunca andou nem de trem
Mitido cum gente de bem
Viajando de avião

E cum distino as Oropa
Pra vê o Brasí jogá
Eu já tinha visto falar
Qui o Brasí era o mió
Mais quando ispiei cum esses óio
Qui a terra hái de cumê
Posso afrirmá sem tremê
Num pode havê mais mió

O patrão mim ensinou-me
O nome dos jogadô
Do bolêro ao centrefó
Ele deu difinição:
O golêro era Girmá
Qui pegava inté pensamento
Djarma era o elemento
Siguro na maicação

O outro beque, o Beline
O falado capitão,
Pelos are ou pelo chão
Num queria brincadeira.
Foimava cum Orlando e Zito
A respeitada barreira

Na ponta isquerda o Zagalo
Topava quarqué parada
E quando dava uma canelada
Era da páia avuá
Perto dele um mulecote
Cunhicido prú Pelé
Esse tando cum a bola nu pé
Pudia comemorá

E o centrefó, o Vavá
Foi na minha opinião
O mais mió jogadô
Tendo os péis do Didi
Aqueles passos bem feito
Levava tudo nos peito
E sempre maicava um gol

Só não posso mi isquecê
Dum caboco meio Zambêta
Qui fazia tanta faceta
Tanta goga e imbraiação
Qui os póbre dos ingrês
Ficava tudo azuado
Uns de cóca outros assentado
E outros cá cara no chão

Cum jogadô dessa maica E aqui fica um consêio
Ninguém pudia perdê Pra num si perdê de vista
E cuma havera de sê Jogadô do Brasí é artista
O Brasí foi campeão E discunhece maicação
E se o patrão entrô na farra Quem inventou aquela taça
O xeleléu nem se fala Faça outra diferente
Isquecemo inté as mala Prú que a qui vêio cá gente
No campo de aviação Ninguém dêxa vortá não.

SEXTA DE VERSOS: Nesta sexta-feira, dia 14-03, a partir das 19h30min, o gracejo e a irreverência da poesia popular nordestina voltam a se espalhar no Restaurante Feijão & Cia., com mais uma edição do projeto SEXTA DE VERSOS, desta vez em comemoração ao DIA NACIONAL DA POESIA. O cordel, o repente, a embolada e a poesia matuta se misturam nas declamações dos integrantes da União dos Cordelistas de Pernambuco (Unicordel) e seus convidados. A Unicordel é um movimento que tem o propósito de divulgar e promover a literatura de cordel, visando a despertar a consciência da comunidade para a sua importância como genuína expressão da cultura pernambucana, como instrumento de formação e informação, além de fonte de prazer e entretenimento. Criada em abril de 2005, a Unicordel ao longo desses seus quase três anos de existência vem promovendo recitais, oficinas, palestras e debates nos mais diversos ambientes (restaurantes, bares, mercados públicos, empresas, escolas, faculdades, sindicatos, etc). O Feijão & Cia fica na Rua São Francisco, nº 60, bairro do Paissandu (Por trás do Hospital Português), servindo petiscos e bebidas diversas (com destaque para a cerveja sempre gelada), com preços bem camarada. Fone: 3231-6293. Evento: SEXTA DE VERSOS Data: 14/03/08 (sexta-feira) Hora: 19h30min Local: Restaurante Feijão e Cia - Rua S. Francisco, nº 60 - Paissandu (por trás do Hospital Português) Preço: R$ 3,00 Realização: União dos Cordelistas de Pernambuco-Unicordel Informação: Altair Leal (3371-5564 / 92587151) João Campos (99770746) e Gilberto-Feijão&Cia (32316293).

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terça-feira, março 11, 2008

POETAS PERNAMBUCANOS



ÂNGELO MONTEIRO

O RECIFE OCULTO*

Há o Recife que viveu em mim
E não o que eu vivi.
Há o Recife que acendeu minhas perplexidades
Quando ao passar abstraído em suas pontes
Atrás de mim deixei correndo as águas
Ao seu destino numero e só.
Há o Recife enflorado de presenças
Sem história. E há outro anfíbio e oculto
Plasmado pelas ânsias de uma fé intensa
À redondez das coisas óbvias.
Uma cidade é mais que uma cidade
Para todo o que foge às superfícies
E, atrás de encontros mais irmãos
Que a silhueta fria dos seus edificiios,
Busca descer às paragens mais secretas
Onde lateja o sangue das correntezas
E a alma viscosa dos seus pobres mangues
Ao seu cruzamento de ontens e amanhãs.
Por isso, para mim,
Que celebrei a falácia das auroras
E desprezei a dor velada dos crepúsculos
Fala mais alto o recife que eu não vi.
Aquele que está sempre de passagem
Como a rua passeada há muitos anos
Ou o reflexo distante da paisagem
Dos meus enganos e meus desenganos.
O Recife suspenso sobre as águas
Em memória dos sonhos desfolhados
Na lápide dos dias.

EXPECTAÇÃO Nº 1**

Não só compreendidos mas adivinhados
Quero que sejam os ventos de minha alma.
Assim me disse a voz por trás das portas
Que se fechavam sobre o meu destino,
Quando eram movediços todos os caminhos da terra
E a minha paciência era já uma forma de crueldade
Perante a agressão inocente, e não calculada, das coisas.
Eu era um pobre pontífice de tiara desgastada
Cuja benção apodrecia em mãos que já não sabiam abençoar.
O cansaço era a única atmosfera
Em que meu corpo e a minha alma jaziam.
E eu não sabia o que fazer desse cansaço
Até que me sobreveio um abalo
E a voz me falou, clamando no seu fogo enigmático,
Debatendo-se em meus ossos e animando minhas esperança
Que eu não sabia se existisse mais.
Eu não tinha mais que uma oferta de cinzas
No meu coração carbonizado:
Mas minha falsa vida, sob o seu hálito,
Viu destruídos os laços protetores
Que ainda me prendiam aos antigos enganos
E às tremulas aparências
Da face em que deixei de acreditar.
Louvada seja a voz no seu esforço
De nos fazer escravos dos seus dons.
Pois submissos servos nossos corpos
Aspiram no seu fogo ser aniquilados.
A voz que tem domínio sobre as portas
E habita a inviolada região dos selos:
E pela luz dos seus signos submete
As mais cansadas sendas e bandeiras.
Daí que seja vil qualquer esforço
Fora do movimento
Impresso pela voz em que nossos corpos.
O maior sentimento é um movimento
Do seu querer em nós, impresso e dado.
Se não formos submissos ao seu apelo de chamas
E não quisermos ser por elas incendiados,
Seremos pobres jazigos, sem a graça da morte,
Pois só depois de perdidos somos salvos.
(Se é que alguém um dia já foi salvo).
De qualquer modo nos perderemos,
Pois todo caminho leva à perdição.
O próprio caminho se perde quando achado,
E ai de quem se perde muito tarde.
A voz me revelou essas coisas
Pondo em meus ouvidos o beijo da promessa
De que as palavras – feras provocadas –
Seu destino de feras cumprirão,
E poderão nos levar a não sei quantas milhas
Dos ventes terrestres
Ao coração perturbado dos outros mafiosos de Deus.

EXPECTAÇÃO Nº 4**

Iniciei a minha vida pública
Semeando equívocos, de qualquer forma melhores
Que as pretensões habituais
Dos falsos sustentadores da ordem do mundo.
Iniciei a minha vida pública
Falando, quando deveria calar,
E calando, quando deveria falar.
Em nenhuma parte
Encontrei os seres de minha escolha:
Agregando-me àqueles sem parte alguma com minha alma
E desagregando-me de outros que deveriam estar ligados comigo.
Meu erro fundamental
Foi julgar que houvesse acaso no mundo.
Quando, mesmo entre os cultivadores do acaso,
Existe a misteriosa exigência de uma ordenação.
Não sou responsável pelos eclipses
Nem pelos cataclismos:
Eles por si dispensariam meu testemunho.
Mas sou responsável por ter traído minha própria voz,
Condescendendo com apelos estranhos à minha natureza.
Sou responsável por ter gerado
Das minhas próprias forças o antípoda.
E o Deus me recrimina em tom de benção,
E apesar de o ter vilmente traído,
Depois de confundir todas as vozes
(as dos anjos e as dos demônios)
ainda me faz reencontrar o eco sagrado de sua voz
há tanto tempo perdida.

ÂNGELO MONTEIRO - O poeta, filósofo, jornalista e ensaísta alagoano radicado no Recife, Ângelo Monteiro, é professor universitário, Mestre em Filosofia pela UFPE e já publicou vários livros de poesias e de ensaios, dentre eles, “O Inquisidor”**. Participou da antologia Poesia Viva do Recife*. Poesia Viva do Recife: nova edição da antologia homenageia a cidade em agosto A antologia POESIA VIVA DO RECIFE, lançada pela CEPE-Companhia Editora de Pernambuco, em 1996, com a participação de 100 poetas, será relançada, este ano, ampliada com a presença de 150 poetas pernambucanos, em homenagem à cidade no “6º. Festival Recifense de Literatura”, que ocorre em agosto. Na primeira edição, realizada por iniciativa do jornalista Evaldo Costa, diretor-presidente da CEPE (hoje secretário de Imprensa do Estado), o então Vice-Governador Jorge Gomes (hoje Secretário de Saúde do Estado) assinava a primeira orelha e o então Secretário da Fazenda Eduardo Campos (hoje Governador do Estado) assinava a segunda orelha, ressaltando que “feliz é a cidade que, como o Recife, pode orgulhar-se de ter na poesia uma parte essencial de sua substância vital.” Essa primeira edição contava com a participação destes 15 poetas, ausentes da nova edição, pelo fato de terem falecido : Alberto da Cunha Melo, Arnaldo Tobias, Audálio Alves, Celina de Holanda, Edmir Domingues, Estephânia Nogueira, Francisco Espinhara, Geraldino Brasil, João Cabral de Melo Neto, Mário Souto Maior, Nerivaldo Xavier, Paulo Cardoso, Potyguar Matos, Sílvio Roberto de Oliveira e Waldemar Lopes. O poeta e editor Juareiz Correya, organizador da antologia e idealizador da “Coleção Poesia da Cidade”, projeto da Nordestal Editora, que já publicou também a POESIA VIVA DE NATAL, em 1999, e tem prontas para publicação as antologias POESIA VIVA DE SÃO PAULO e POESIA VIVA DE MACEIÓ, explica que a nova edição da POESIA VIVA DO RECIFE, “embora desfalcada com a ausência desses nomes importantes da poesia pernambucana, hoje eternizados, apresenta, na medida do possível, uma seleção de nomes que, nas duas últimas décadas e nesta década, têm renovado a expressão poética em Pernambuco, sobretudo atuando na vida cultural recifense.” A segunda edição da antologia, revista e ampliada, além de preservar 85 poetas/poemas da primeira edição, publica textos, criados sobre o Recife, de alguns poetas já maduros e destes novos e novíssimos poetas que “vivem, amam e eternizam a cidade” : Adriana Perrucci, Aluísio Santos, Antonio Botelho, Ary Sergas Santos, Arnaud Mattoso, Carlos Cardoso, Carlos Maia, Cida Pedrosa, Cuinas Cervantes, Débora Brennand, Davino Sena, Delmo Montenegro, Eduardo Diógenes, Edvaldo Bronzeado, Esman Dias, Everardo Norões, Fábio Andrade, Fernanda Jardim, Fernando Araújo, Fernando Chile, Gustavo Krause, Ivan Maia, Ivan Marinho Filho, Joca de Oliveira, Jomard Muniz de Britto, José Almino de Alencar, José Terra, Josilene Corrêa, Lara, Lenilde Freitas, Liana Mesquita, Luciano Nunes, Luiz Carlos Dias, Malungo, Marcílio Medeiros, Marcos d’Morais, Mariana Arraes, Miró, Nivaldo Lemos, Odmar Braga, Paulo Jofilson, Pedro Américo de Farias, Raimundo de Moraes, Robson Sampaio, Rogério Generoso, Romero Amorim, Ronildo Maia Leite, Samuca Santos, Sérgio Augusto da Silveira, Sérgio Leandro, Silvana Menezes, Sílvio Hansen, Tarcísio Regueira, Wilson Vieira e Valmir Jordão, entre outros. * Poema incluído na antologia Poesia Viva do Recife. ** Poema incluído no livro “O Inquisidor”. São Paulo: Qurion, 1975.

Uma inquisição de baixo quilate - Por Ronaldo Castro*

"A Universidade Federal de Pernambuco, através do seu Departamento de Filosofia, acaba de ter negado, e pela segunda vez, uma simples progressão ao professor e poeta Ângelo Monteiro. Para quem conhece o grande poeta, esteta e ensaísta isso é um escândalo que torna, a priori, este ou qualquer outro artigo inútil. "Ai de nós - diz o poeta T.S. Eliot - que perdemos a sabedoria pelo conhecimento, e o conhecimento pela informação". E a filosofia é, sobretudo, sabedoria. As universidades não criam a inteligência, mas deveriam reconhecê-la, sob suas diversas formas, e não negar-lhe, farisaicamente, abrigo em sua morada. Não têm o Daimon e nem o toleram. Preferem antes a sombra dos administradores acadêmicos que a luz de um espírito livre e sedento de saber. O talento poético e filosófico do professor Ângelo Monteiro está imortalizado em sua obra vasta e profunda e mais ainda encarnado em sua própria vida pessoal. O inesquecível professor Alfredo Antunes, uma das poucas luzes desse já sombrio Departamento de Filosofia, pergunta: "Quem foi que disse que os Poetas têm que ficar de fora da "República"? Quem foi que propôs que sentimento e razão não devem dar-se as mãos?" Mas os doutores, representando a UFPE, não estavam interessados na coerência entre o ser e o conhecer e, sim, na posse das pequenas e lustrosas vantagens acadêmicas. Imagino que a poesia e a estética de Ângelo Monteiro sejam muito pouco aproveitáveis à instrumentalização do saber tão em voga. Mas não acredito que tenha havido nem mesmo esse mísero critério nessa inquisição. Ao saber do ocorrido procurei conhecer os métodos de avaliação e me certifiquei de sua miséria. Devo admitir que me surpreendi com a coerência das notas, impecavelmente uniformes, como é de praxe à burrice doutoral. Um certo isolamento monástico do poeta Ângelo Monteiro pode ter um aspecto anti-social, mas a solidão não alimentou toda a história da filosofia? Toda a nossa civilização não se nutriu até hoje desses solitários? Como comparar a verdadeira produção intelectual com a mera exibição de títulos acadêmicos? É um aspecto menor o fato de se ter uma personalidade mais ou menos social numa comunidade intelectual, ao contrário de certas comunidades onde a participação nos rituais sociais é fundamental. Mas creio que os Departamentos de Filosofia no Brasil estão tomados do esprit de corps. Na verdade os sindicatos europeus são bem mais modernos que as nossas elites intelectuais. É sintomático que o autor de O Inquisidor, sofra justamente uma inquisição, ainda que de baixo quilate. Mais simbólica ainda é a formação dos seus inquisidores. Há entre eles um ex-jesuíta (e por lembrar de suas aulas sobre Filosofia da Religião arrisco dizer que se trata de um jesuíta sem Jesus, pois que só buscava explicações materiais, sociológicas e psicológicas para a existência de Deus. Era espantoso!). Há ainda um especialista em Filosofia e Psicanálise e uma doutora na Psicologia do Desenvolvimento Cognitivo. É quando me dei conta de que o critério formal de participação na vida acadêmica, bem como a estatística kafkiana dos títulos, constituíam apenas uma mise en scene para confrontar o que realmente interessava: a alma do poeta diante do corpo filosófico, ou melhor, do cadáver. O peso psicanalítico dessa inquisição livrou a Universidade Federal de Pernambuco do pesadelo de um poeta que ama a beleza do segredo e do mistério. Devo admitir que os psicanalistas estavam bem afiados. A ironia em tudo isso é que esse veredicto do Departamento de Filosofia da UFPE na verdade coroa de êxito duas grandes obras do Ângelo Monteiro: o Tratado da Lavação da Burra, que trata da ausência de universalidade do "ser brasileiro" e O Inquisidor, onde vemos o poeta transcender as contingências. Quem viver verá! Aliás, já se vê!"

*Ronaldo Castro é escritor

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