quinta-feira, dezembro 11, 2008
POETAS DO RIO GRANDE DO NORTE
REYNALDO BESSA
hoje nenhuma palavra
a ser dita
nenhum grito,
nenhum silêncio
saudade nenhuma
nada
apenas um dia
que despencou do
calendário
*
uma noite
minha mãe
puxava-me pela mão
éramos quatro;
eu, ela, o medo e a pressa
disso lembro-me bem
enquanto os três conversavam
eu pregava os olhos nos olhos tristes das casas e
me dava uma tremenda vontade de perguntar
“mamãe, o que elas têm?”
*
deixa disso
siga o risco
o que é a vida
se não olho e cisco?
seja arisco
sangra o resto
o que é a morte
se não sábio disco?
nunca teremos o pouco aquém do menos
nunca seremos o muito além do mais
a cota será certa
a senda será meta
sempre serena será
a reta eterna da
raça toda
*
hoje sonetos
amanhã só netos
*
rio de fevereiro,
quando alguém me diz:
só em março, depois do carnaval
rio de março,
o ano só começa em abril
rio de abril,
o primeiro dia é quando somos sinceros
rio de maio,
desse, rio demais
é o mês do meu aniversário e
não há nada pra comemorar
rio de junho,
o carnaval ainda não acabou
rio de julho,
não há motivos, por isso rio
rio de agosto,
mais pra lá do que pra cá, mas ainda riso
rio de setembro
o dia sete é uma boa piada
rio de outubro
sou uma criança, mas eles não acreditam
rio de novembro
o ano seguinte já mostra o seu riso amarelo
rio de dezembro
o vizinho me sorri, só porque é natal
em janeiro não rio
meu riso tira férias
vai ao Rio de Janeiro
curtir um choro
*
tarde quente
sonhos esfarrapados no varal
úmidas lembranças
*
entre a caneta e o
guardanapo; um dilema
eu não sabia se tentava ou se
ia ao cinema
não fiz uma coisa nem outra
assoei o nariz com o quase-poema
ah! chega!
com ele ou sem ele
nada muda
é tudo cena
*
o mar
o azul
o domingo
bati na porta de Deus
Ele estava dormindo
o bar
o sol
o alarido
fui convidar Deus para um trago
Ele havia saído
então!
bebi
o mar
o azul
o domingo
o bar
o sol
o alarido
só não bebi Deus
porque Ele havia morrido
*
os vestidos escondem
mais segredos do que o mar
*
marchinhas
fevereiro sambando
sem ela
*
os macacos
desceram das árvores
aí nasceu o trabalho,
a infidelidade, o divórcio e
o apartamento de um dormitório
*
seu corpo
é o único argumento
que não sei
refutar
*
seus olhos
são meu livro de cabeceira
REYNALDO BESSA - O cantor, compositor e violonista potiguar, Reynaldo Bessa nasceu em Mossoró, no Rio Grande do Norte, morou em Fortaleza e já está radicado em São Paulo há 15 anos. Já lançou quatro cds autorais. O trabalho de estréia foi “Outros Sóis” (1994 - independente). Em 1996, lançou “O Beco das Frutas” (Selo – Alpha Music) e o terceiro, “Angico” (2004 – Selo - Devil discos) este último, selecionado para o prémio TIM de música de 2005. Além dos discos autorais, Reynaldo Bessa já participou de vários discos de outros artistas e cds de coletâneas. Num desses projetos, o cd “Cachaça Fina” dirigido ao mercado europeu, teve incluídas duas músicas do artista. Reynaldo Bessa tem parcerias com diversos outros compositores. Dessas parcerias, a música “Por Amor” de Bessa e Zé Rodrix, foi gravada pelo grupo IRA!, no seu acústico MTV. Das inéditas, É a única música no disco que não é do guitarrista Edgar Scandurra. Já tocou ao lado de Rosa Passos, Quinteto Violado, Chico César, Alceu Valença, Moraes Moreira, Zé Geraldo, Geraldo Azevedo, entre outros. Já participou de diversos festivais de música, sendo premiado diversas vezes. O Artista está lançando o seu quarto disco, “O Som da Cabeça do Elefante" com participação da cantora maranhense, Rita Ribeiro. Desse cd, duas músicas já foram selecionadas para o mapeamento da música brasileira, realizado todo ano pelo Instituto Cultural Itaú.
Sobre o livro Outros Barulhos, o poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, Fabrício Carpinejar, “(...) o músico e compositor Reynaldo Bessa guardou a infância no quarto até onde deu. Agora explodiu pelas janelas e portas. Outros barulhos é um baú que transbordou: quando os mortos e vivos se embaralham na linguagem, lembranças são confundidas com premonições; vozes, com cheiros. Ou ele publicava esse livro ou ficava louco, não tinha escolha. É uma fartura de vida, um armazém de fiados, armário de brinquedos extintos, que todo leitor vai se exuberar. É uma obra da saudade. A saudade alegra, inclusive, os dias em que cortamos os dedos. Sua sensibilidade é espiã. Não suportaria suas dores se não carregasse também a dos outros. Por isso, sofre com o bêbado voltando para casa, como se houvesse um trapézio transparente na rua; os vizinhos rindo e os familiares o segurando com os olhos. A poesia quando narração é imbatível. A poesia como contadora de histórias é imbatível. Sabemos muito mais da memória de Bessa.”
SERVIÇO: Noite de Autógrafos Data: 18/12 – quinta-feira Local: Av. Paulista, 509 – Cerqueira César – Tel.: 2167-9900 Horário: das 18h30 às 21h30 Livro: Outros barulhos Autor: Reynaldo Bessa Editora: Anome Livros.
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