sábado, agosto 20, 2011

ANA LUISA KAMINSKI

A ARTE POÉTICA & ONÍRICA DE ANA LUISA KAMINSKI



ORQUÍDEA OBSTINADA

Tão natural, vibrante, tenaz
quanto orquídea obstinada
que, insistente e vivaz,
floresce nos ares, nas pedras
após vendavais ou queimadas
ressurge, viceja, voeja
alma livre, azul, alizarin
onde ecoa, musicado, um "sim"!

TINTAS

A alma
tilinta
transita
entre
tintas
taças
tintos
trans-
lúcida
manhã
lírica
líquido
cristal
carmim



TRANS-LUCIDEZ

Apenas pingos poucos
cintilam choram curvos
ao cosmos costurados
clamam no véu do espaço
no escuro céu crispados...
Apenas poeiras esparsas
e cores-vozes voláteis
cheirando a orvalho e chuva
circulam velozes-versáteis
dançantes no ar azul-uva...
Apenas farelos frágeis
de ferro, fogo ou brasa
afagam a boca rubra
da esbelta taça dourada
postada no centro da casa...
Apenas pedaços soltos
de desejos faiscantes
sonhos, asas e vapores
flutuam nos instantes
da tarde quase triste
fragmentos de amores...

ASAS

Apenas partículas, penas
restos e sombras, plumas
riscos e sonhos, traços

rastros de asas rosadas

cinzas azuis e brumas
entre vôos e pinceladas
mil volteios e vertigens
ou delicadas an-coragens
no seio das madrugadas
no violetanil, viagens
em teu céu revisitado...

Apenas partículas, gotas
sobras e respingos de luz
sinais de desejos, doçura:
saudade aveludada e densa
do sorriso solar, da ternura
nesta manhã lilás manchada
de chumbo-cobalto, escura...

Apenas partículas, grãos
letras e luas aguadas
lembranças de loucuras sãs
aquarelas, memórias aladas
nas curvas noturnas, nos vãos
insistem e cintilam, dançantes
estrelas, entrelinhas, estradas...

PRELÚDIO

Às vezes, o silêncio prenuncia
Suavidades ou fúrias, entropias,
Mudanças de ritmo ou de rota,
Transfigurações, sensações, sinfonias...

Às vezes, o silêncio adivinha
Novos movimentos, encantos ou vozes,
Reafinação do caos, do corpo, da alma,
Reconfigurações no cosmos, arroubos velozes...

Às vezes, o silêncio pressagia
Eclipses solares, chuvas, semeaduras,
Pinceladas divinas num jardim lylás,
Manhãs iluminadas ou noites muito escuras...

Às vezes, o silêncio prelude
Rufar de asas, árias de sereias,
Nascimentos lunares, sons de alaúde,
Danças no mar-cobalto, bailados nas areias...

Às vezes, o silêncio anuncia
Encontros musicais, finais, vitais,
Outros vôos e ventos, reuniões ou rompimentos,
No túnel do tempo sem fim, viagens espirais..

SUTURAS

Às vezes, o silêncio
abunda, confunde, afunda
sufoca, sacode, suspira
envolve, escava, evoca...
Às vezes, o silêncio
agride, assalta, ataca
respira, assusta, soluça
instiga, castiga, inspira...
Às vezes, o silêncio
desmonta, remonta, modela
desarma, desperta, deflagra
acode, comove, constrange...
Às vezes, o silêncio
caduca, caleja, conspira
atiça, açoita, acossa
embota, estorva, estilhaça;;;
Às vezes, o silêncio
clareia, renova, costura
incendeia, ensandece, ensina
Às vezes, o silêncio
simplesmente suaviza e cura...

ASAS E CENSURAS

...Poderias, porventura, me recriminar
pela profundidade da ternura
que palpita em ondas de saudade insistente?...

...E, acaso, deverias me acusar
pela plenitude da entrega, inteira,
por ofertar a ti meu coração, sem reservas?...

...Poderias, será, me censurar
pela completa e integral confiança
depositada em ti, alma amada, alada e aflita?...

...Poderia eu te repreender, amor,
por teres te atrevido a voar mais longe
mais livre e desejante de aventuras?...


...Deveria eu te criticar, meu bem,
pela intensidade móvel e complexa
dos coloridos entrelaçamentos de amores?...

...Poderia eu reclamar, minha doçura,
de tuas asperezas e ausências, apenas
porque prefiro doçura e aconchego constantes?...

...Deveríamos nós desistir, acaso,
de acreditar ou de insistir no possível
dos afetos, dos sonhos, das asas
e nos arrepender do vôo encantado?...

...Ou, simplesmente, vibrar e celebrar
as lembranças mais doces, memórias
dos olhares cintilantes e assombros
do prazer de habitar, por um tempo
mundos e jardins azuis compartilhados?...



VELADURAS

Palavra-asa
palavra-pena
palavra-pluma

Palavra-véu
palavra-brisa
palavra-bruma

Palavra-céu
palavra-chave
palavra-chão

Palavra-pó
palavra-massa
palavra-pão

Palavra-flecha
palavra-faca
palavra-fogo

Palavra-alvo
palavra-dardo
palavra-jogo

Palavra-fio
palavra-linha
palavra-laço

Palavra-risco
palavra-fenda
palavra-traço

Palavra-pólen
palavra-sêmen
palavra-flor

Palavras vãs
vôos-viagens
ou veladuras?

Palavras-tramas
rendas de sonhos
ou tessituras

Vestindo vãos
driblando a dor
com urdiduras...

POEMAS-PONTE-PASSAGEM

POEMA: porta-pulsão
palco-porto-paixão
parede-espelho-escudo
violino-violeta-veludo...

POEMA: ponte-passagem
percurso-rumo-viagem
miragem-paisagem-doçura
delírio-vertigem-ventura...

POEMA: poço-fenda
abismo-teia-trama
tecido-rede-renda
fagulha-fogo-chama...


POEMA: pétala-pérola
pólvora-pedra-pluma
ostra-concha-casulo
onda-cascata-espuma...

POEMA: planeta-poeira
estrela-espaço-espasmo
estudo-cometa-espiral
desejo-orgia-orgasmo...

POEMA: gatilho-explosão
seiva-sangue-alquimia
trânsito-luz-infusão
êxtase-paz-epifania...

POEMA: sonho-constructo
devaneio-desenho-invenção
semente-utopia-gérmen
energia-cosmos-tesão...



ANA LUISA KAMINSKI – A artista plástica gaucha radicada em Florianópolis (SC), Ana Luisa Kaminski, cursou Letras na UFSC e possui mestrado em Literatura Brasileira. Foi premiadana Bienal Internacional de Roma, em 2004, e tem participado de exposições nacionais e internacionais. Sua arte onírica demonstra a promissora artista que possui o talento além das expectativas. Hoje é o aniversário dela, aqui nossa homenagem & parabéns. Veja mais dela no blog Ancoras e Asas, Retratos by Kaminsky, A Arte de Ana Luisa Kaminski, Na Foto, Para Ler e Pensar, e Rede Cultura. Veja tudo isso e muito mais dela no blog Crônica de Amor por Ela e Musa Tataritaritatá.

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