terça-feira, novembro 06, 2007

LENA JESUS PONTE: ÁVIDA PALAVRA



Entregue à alegra, eu beijo a boca do dia. A alma está no cio”.

A poeta e professora capixaba Lena Jesus Ponte lançou recentemente o seu livro “Ávida Palavra”, pela Editoração. Ela tem realizado a Oficina da Palavra Luiz Simões Jesus e a Oficina de Haicai Luís Antônio Pimentel e, também, ministrando aulas particulares de redação além de trabalhar como revisora. Tendo colaborado com artigos e crônicas em diversas publicações, teve seus poemas incluídos na "Poesia Sempre", da Fundação Biblioteca Nacional, e na "Revista Brasileira", da Academia Brasileira de Letras. Ela é integrante da "Antologia de Escritoras Capixabas", organizada pelo professor Francisco Aurélio Ribeiro, da Universidade Federal do Espírito Santo, dentre outras coletâneas. Ela é autora dos livros "Meu mundo", "Revelação", "O corpo da poesia", "Estações interiores - haicais", "Paçoca: a foca que sonhava em ser poeta" e "Na trança do tempo - haicais".
Sobre o Ávida Palavra, o poeta Ayrton Pereira da Silva diz: “Permeada de um vago sabor nostalgico, que afinal vem a ser um legado dos poetas, a lira de Lena Jesus Ponte cambia de tons e ritmos, desvelando um caleidoscópio de imagens sob cujo espectro se abrigam seus sonhos, perplexidades e assombros (...)Ora permeada de lirismo, ora de desataviado realismo, a poesia de Lena revisita por vezes o inefável ou se detém no duros instantâneos de uma urbe conturbada, presente e passado, justapondo-se porque por ambos o futuro é construído. (...) A poesia de Lena tem muitas vozes que, multíssonas, amadureceram sua dicção mais completa e consumada na diversidade dos ritmos que percorre, transmigrando, sem perda de substância, da disciplina estreita dos haicais ao cantabile das redondilhas; do cânone severo dos sonetos ao horizonte aberto dos versos livres”. É exatamente isso que ocorre nas três partes do livro: Canto a céu aberto, canto em gaiolas e canto em galhos de árvore. Para se ter idéia, na primeira parte “Canto a céu aberto”, ela traz, dentre outros, o belíssimo “No solar de Mateus”: “Nua e linda e fria de uma pele de pedra e coração sem mágoa nem passado nem futuro nem presente deita eterna ternamente estátua mulher despida de histórias e de carne em lençol de água”. Na segunda parte, “Canto em Gaiolas”, ela traz, entre belíssimos sonetos, este “Felinamente”:

Lânguida, a tarde estica o dorso, se espreguiça,
lambe o pêlo do tempo em acurado zelo.
O veludo das horas, cada vez mais belo,
Limpo se faz da angustia que a premência atiça.

Espelho dessa paz, um gato ao sol descansa.
A existência é o agora pleno de um bocejo...
Não pensa no futuro, livre de desejos.
Não busca nada além do que a visão alcança.

Também farta de apelos, sonhos e cobranças,
Das voltas ao passado, fugas do presente,
Corridas sem destino pro momento adiante,

Se entrega minha mente à paz das horas mansas
Dessa tarde felina. E então, felina mente
Repousa e lambe a tarde sob o sol radiante
”.

E na terceira parte “Canto em galhos de árvore”, traz uma série de haicais, destacando:

Entregam-se ao sol
as marias-sem-vergonha
sem medo de escândalo
".

Nada mais a dizer que aplaudir efusivamente a obra magistral de Lena Jesus Pontes. E convido, você leitor ou leitora, a conhecer: Ávida palavra. Vai ser uma ótima viagem, eu garanto. Veja mais Lena Jesus Ponte. E também no Guia de Poesia.

PONTE, Lena Jesus. Ávida Palavra. Rio de Janeiro: Editoração, 2007.