NATANAEL LIMA JUNIOR À ESPERA DO ÚLTIMO
GIRASSOL E OUTROS POEMAS – Ao ler o Último Girassol do Natanael Lima Júnior
detectei muitas afinidades: eu me via em cada verso dos seus poemas, como no
meu texto O sol nasce para todos.
Tudo me chamou a atenção no livro. Primeiro
pela carga simbólica do girassol com seu heliotropismo, notadamente a partir das
expressões ameríndias como da deidade inca, também da imortalidade chinesa e
das mais variadas invocações místicas e poéticas.
Além de pernambucano, também iniciou como
eu em 1982, publicando seu primeiro livro. É que pelas mãos do Juareiz Correya
na coordenação da Nordestal Editora, publiquei em 1982 o meu primeiro livro e,
em 1983, publiquei meu segundo livro nas Edições Pirata, pelas mãos do Jaci
Bezerra. Quer dizer: circulamos pelas mesmas amizades no Recife, sem que nos conhecêssemos
pessoalmente.
As afinidades se tornaram mais agudas com
seus versos de esperança, persistência, perseverança, solidão, companheirismo,
como se tivéssemos a mesma preocupação: a do compromisso com o nosso tempo e a
nossa terra, como eu dissera num texto inaugural da primeira publicação das
Edições Bagaço. E eu me vi envolvido emotiva e solidariamente com suas
perspectivas e cometimentos poéticos. Parabéns, Natanael.
Conheci mesmo o autor pela internet quando
ele passou a editar o espetacular blog Domingo com Poesia, acompanhando desde
2011 a publicação de excelentes textos e divulgando eventos e realizações.
Só pude conhecê-lo pessoalmente durante
as festividades da III Flimar, em Marechal Deodoro, Alagoas, quando vi de perto
a grandiosa pessoa e ótimo livro que se encontra muito bem expressado nas palavras
da apresentação do escritor e
professor da UFPE, Douglas Menezes, no prefácio do escritor e critico literário
Luiz Carlos Monteiro e nos depoimentos do poeta e médico José Luiz Melo, do
poeta e editor Juareiz Correya e da doutoranda de Évora, Doralice Santana. Melhor
que eu apenas falar do livro é destacar alguns dos seus poemas que merecem a
atenção e o aplauso de todos.
AINDA BATEM NOSSOS CORAÇÕES
Sim, poeta, é chegado o tempo de
recomeçar
É chado o tempo de nos unir
Voz a voz
Sonho a sonho
Poema a poema.
Sim, poeta, é chado o momento de navegar
(“navegar é preciso”)
E embalar nossos sonhos
Numa canção fraternal
Aberta ao sol e as manhãs.
Sim, poeta, é chado à hora
(“viver não é preciso”)
Nada mais nos acrescenta
Tudo mais nos limita.
E para não nos esquecermos,
Ainda batem nossos corações.
EXALTAÇÃO À ROSA DE PURÍSSIMA BELEZA
Meus versos, pobres versos
Uma canção singela a ti
Lume de estrelas, sol radiante de
esplendor
Harmonia, encanto, encarnação do amor
Esperança, coragem, vida gerando vida
Rosa de puríssima beleza, mãe,
companheira, mulher.
METÁFORA
O poeta excita
O orgasmo da manhã
E transa com a terra
E o manguezal.
O poeta traça a sua sina
E provoca alterações
No curso provinciano das águas.
O poeta é que põe
O sonho em transe.
PREMONIÇÃO
A cidade aflita deixa existir:
O caos, o medo, o pânico
Em mim.
O medo prometeu
Embora (ainda) acorrentado
Transgredir o fim.
A RUA E A CASA
A rua e a casa interagem
E se completam
Num ciclo interminável
De sonhos e emoções.
A rua limita a casa
A casa equilibra a rua.
A rua transgride
A casa transforma.
QUEM VAI CONTER A VIDA
Quem vai conter a vida
Se é sutilíssimo
O seu poema
Em cada amanhecer?
Aqui ninguém é dor
Ninguém passa a limpo o tempo
E o excesso é a conta da vida
Em nós há primaveras
E manhãs insuladas
Ninguém há de conter
A vida transitória.
ELEGIA ÀS COISAS QUE FAÇO
No poema que me traço
Ameaço e abraço
Torturo e afago
Às vezes me faço místico
E às vezes me faço louco
Às vezes me faço coisas
Restos
Migalhas
Lembranças
Às vezes as coisas fazem
Renascem
Brotam
Ressurgem
No poema que me traço
Eternamente me busco
Passo a passo
Frente a frente
Lentamente
No poema que me traço
Todas as coisas
Um dia existirão
EFÊMEROS
Efêmeros,
O sentido perdeu o sentido
E a vista não avista
Além do vasto.
NATANAEL
LIMA JUNIOR – É pernambucano do Cabo de Santo Agostinho, cidade da região
metropolitana do Recife e radicado em Jaboatão dos Guararapes. Membro da
Academia de Estudos Literários e Linguisticos de Anapoles (GO) e da Academia
Cabense de Letras (PE), é autor dos livros de poesia Clarear (Pirata, 1982),
Universo dos meus versos (Grumete, 983), Folhas poéticas (Grumete, 1985) e À
espera do último girassol & outros poemas (Bagaço, 2011). Ele também edita
o blog Domingo Com Poesia.