quinta-feira, janeiro 31, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Foto: Derinha Rocha

TRANSCEDÊNCIA
(Para Ari Lins Pedrosa)

Luiz Alberto Machado

O habitual de João Pessoa
Fisga o céu de Maceió
Onde o sol vai dormir no mar
Dormir no mar
E as jangadas de papel
Carregadas de sonho
Pro encontro do farol
Caminhou para onde
Enfiado na carne o horizonte
E abriu ferrolhos atrativos
Da imagem transcendental.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

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quarta-feira, janeiro 30, 2008

POETAS PAULISTAS



ETHEL FELDMAN

BOM BOM DIA

- Respira antes que tropeces na palavra. ..
- hmfffffffffffff
- Agora inspira. Nesta pausa reflecte. Encontra um sinónimo
- Mas e o... aquele... sabes? O, o ... gaita! Estou tão esquecida!
- Com pressa apressas a conversa. Atropelas o acto de estar.
Inspiro. Respiro. Antes de expirar - a pausa pedida. Por fim largo:
- Quando sugeres presente, cantas assim: pre, pre pre-sente! Será que é mesmo assim? Um milésimo antes de sentir? Inspira e canta-me outra …

-*-

Faz de conta que a verdade não é senão a verdade – sem tempo
Faz de conta que o desejo não é senão o desejo – sem dor
Faz de conta que o principio se confude com o fim – no vazio

Faz de conta que o tempo não é tempo - espaço
Ali mesmo onde o branco inventa a cor do teu sentimento

-*-

Sou Maria Madalena
Mais Madalena
que Maria
no corpo protegido
a vontade de amar

- E Maria?
- Ressuscita feito Jesus
- Transformista?
- Como tu quando te descobres a poente

Me invento Madalena
enquanto vou sendo Maria

assim sendo
vou-me inventando

-*-

essas mãos
que são por ora quatro
tão insanas
se tornam duas
tão doidas
se confundem
numa
tão. .
por dentro de ti
somos nenhum

Espera amor deixa que o sol pouse sem pressa
pelo tempo que prometemos existir

-*-

toada artodoada
a arte da nota sem tom

no baile no tango
me embalo

na língua a minha
o som deste som
sem tom

A poeta paulista ETHEL FELDMAN reside em Lisboa, Portugal. Ela realiza um trabalho poético digno de aplausos, apesar de até agora inédita, coisas da vida. Reúne seus trabalhos poéticos no seu blog Paladar da loucura.

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terça-feira, janeiro 29, 2008

REVISTA VEREDAS



A revista Veredas foi criada em 1998 com o intuito de incentivar a leitura e a escrita e hoje é uma revista dedicada à publicação de minicontos, micronarrativas e discussões acerca deste tema, editada por Ana Mello e Marcelo Spalding. Além da proposta editorial, estão disponíveis artigos e uma mini-livraria. Confira.

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segunda-feira, janeiro 28, 2008

POETAS ALAGOANOS



VALDEREZ DE BARROS

ACALANTO

Buscarei um recanto
Onde chorarei meu pranto,
Onde entoarei um canto
Triste, no entanto,
Será como um acalanto,
Que suavizará, como um manto,
O frio do meu desencanto...
-*-

DÁ-ME

Dá-me a luz do teu olhar,
Que minh'alma ilumina...!
A melodia da tua voz,
Que aos meus ouvidos soa divina...!
Dá-me a paz do teu sorriso,
Que me contamina e acalma...!
O aconchego dos teus braços,
Onde me sinto segura e amada...!
Dá-me o sabor da tua boca,
Que adoça o meu viver...!
A suavidade das tuas carícias,
Que me incendeiam, me dão prazer...!
Dá-me o fogo da tua paixão,
Que acelera o meu coração...!
Do teu corpo quero o calor...
Dá-me o teu amor...!

-*-

À DERIVA

Sou tripulante
De um barco
Levado pelo mar,
À deriva,
Sem âncora,
Sem bússola,
Sem rota,
Sem rumo,
Perdido,
Sem esperança
De encontrar
Um porto seguro...

-*-

DESVARIO

No silêncio do meu quarto,
Sozinha na cama,
Por debaixo do lençol,
Meu corpo queima e arde
De desejo de você...!
E me abraço, me acaricio,
Pensando serem suas mãos a me acariciar...!
O desejo vem mais forte ainda...!
Mas, num lampejo da razão,
Volto a mim, desse desvario...
Percebo amargamente
Como dói a solidão,
Como sinto sua falta,
Como queria que você estivesse
Sempre ao lado meu...
Como eu lhe amaria...!
Perdidamente lhe abraçaria!
Ardentemente lhe beijaria!
No seu corpo iria me perder
De tanto amor e prazer...!
Ah, se um dia eu lhe encontrasse...!
Se você também me amasse...!
Nos seus braços, feliz, eu cairia
E chorando, a Deus agradeceria,
A graça do seu amor ser meu...

-*-

NINHO DE AMOR

Na minha fantasia,
Construi uma casinha,
Onde fiz o nosso
Aconchegante
Ninho de amor;
Com cortinas nas janelas,
Ao redor um lindo jardim,
Onde flores de várias cores,
misturam seus
Deliciosos odores...
Na varanda,
Uma rede azul,
Onde nos deitamos,
Nos beijamos
E fazemos amor,
Sentindo em nós
O clarão da lua,
Que com sua magia,
Lá do alto nos vigia,
Um pouco enciumada...
Mas, carinhosamente
Ela nos contempla
E, com suavidade,
Sorri deslumbrada
Com a nossa felicidade...

-*-

EM MIM REPOUSAS…

Um dia eu te amei
E a esse amor
Dei tudo de mim...
Um dia te beijei
Suavemente, ou
Com um arrebatamento,
Que jamais sonhei sentir...
Um dia contigo fiz amor
Com intensidade,
Com ardor, numa entrega total,
num frenesi absoluto,
Corpos e almas unidos
Na mesma plenitude
De emoções, de sentimentos...
Um dia te dei meu amor,
Que era maior
Que o infinito...
Maior do que
O meu coração
Podia suportar
E se derramava em ti...
Hoje, em mim repousas,
Na minha saudade
Mais doce, mais querida,
Na minha lembrança
Mais dolorida...

VALDEREZ DE BARROS é formada em Educação Artística pelo CESMAC, com especialização em Música. Além de poeta é professora aposentada, foi incluída na antologia “Poesias de Alagoas”, organizada por Carlito Lima e Edilma Acioli, pelas Edições Bagaço/2007. Reúne seus trabalhos no Recanto das Letras e no seu lindo blog Gritos da Minha Alma.

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sexta-feira, janeiro 25, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



MACEIÓ, UMA ELEGIA PARA OS QUE OUSAM SONHAR

Luiz Alberto Machado

A cidade emerge no meu riso matinal e o sol faz paradeiro na minha alma desafortunada. Os meus passos reviram ruas redimindo meus pesares, remorsos e alucinações nessa paradisíaca paragem. É tudo muito lindo premiando o meu devaneio. E eu recito loas pelas beiradas da idéia, pelas abissais paralelas do meu exílio atrevido, de minha presença castigada.
Nesse cenário eu vou de corpo e alma. Vou pelas transversais, avenidas, perpendiculares, a reconhecer a punição da vida no que de vário se faz real pelo esplendor do mar e onde se lavam culpas no negrume do asfalto, onde se pezunham esperanças na imensidão do espaço, onde se constroem todas as avenças e desavenças de nada.
É outro dia sempre e a gente a sonhar com o estrondo da felicidade mesmo que tudo seja apenas feito de partidas e chegadas no desencontro dos anseios.
É outro dia sempre e a gente com o plano de vôo circunscrito na incerteza, como se a regra desse jogo fosse sempre o confronto da distância entre começar e acabar, sem ter prorrogação na morte súbita indesejada.
É outro dia e sempre a cidade emerge na minha finitude atlântica que bordeja pelas apaziguadoras ruas breves da Mangabeiras e se arrasta na expectativa da Jatiúca, aderna pelo emaranhado da Ponta Verde, singra pela beira-mar da Pajuçara e dá nos cotovelos rentes com a fabularia do Jaraguá. É lá onde me eternizo nas cinzas.
Adiante está a lama do Salgadinho empestando a Avenida onde uma guerra oculta cospe mulheres paridas e deserdadas dos arredores do Tabuleiro do Martins e homens ciclópicos que ululam desmemoriados de tudo sem nada, oriundos do longe mais distante das bandas de lá além do Mundaú e que povoam a superfície perversa da exclusão. E me refaço porque é outro dia e sempre me esforço subindo a rodoviária até o Farol onde contemplo de tudo: a fantástica panorâmica, o silêncio dos roncos cansados, a espera dos madrugadores por condução, a perspectiva que bate as botas em Cruz das Almas e o meu desejo que escorre descendo o Riacho Doce e se esquece dos pleitos que se tornaram causas inúteis revogadas previamente pelos tribunais de então. Mas é outro dia sempre e as crianças no meio fio da madrugada com seu cobertor de mar e de noite com sonhos incertos no barulho do trânsito indômito. É outro dia e um punhado de adultos amontoam o teatro cristão com o berreiro dos desentoados em preces devotadas com seus sotaques e timbres nas rezas por seus dissabores, por remoetas embaçadas, por sacrifícios ostentatórios, pela salvação das almas da ignomínia. E tudo parece um abstrato aceno de paradoxais festeiros na celebração da tragédia pelas mesquinharias políticas, pela soberba nos limites onde o canavial impera ao lado dos alguns poucos privilégios de gados e miséria nos pastos de outro tabuleiro, onde amadurece a desimportância da oportunidade e todos são escravos do passado mesmo que se achem senhores de si e do futuro, mesmo que a vida seja um lapso de tempo nas causas perdidas.
Mesmo assim a cidade emerge e meu coração se avexa com o tumulto do dia e se esboroa pela tarde e faz aconchego na noite que anuncia outro dia para um mais que desejoso amanhã. Amanhã que já será hoje, hoje que será ontem e tudo que esquecerá. E esquecendo não veja criança estendida na calçada da manhã, nem pedinte mendigando no semáforo, nem velho xingado nas filas, nem violência como efeito da desigualdade, porque os adultos precisam acordar ciosos de si a vingarem o humano à revelia dos mandos no sonho de todos os sonhos.
A verdade é que a cidade emerge nos meus olhos e já é outro dia. Mesmo assim continuo atrevido e teimoso de sonhos, enquanto o meu coração bate buliçoso e atônito pelas ruas de Maceió, entoando uma elegia para os que ainda ousam sonhar.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992. Poema incluído na antologia “Poesia de Alagoas”. Recife: Bagaço, 2007.

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quinta-feira, janeiro 24, 2008

POETAS GAUCHOS



POETRIX DE ANA MELLO

PROSÓDIA
em versos
de suave melopéia
remo contra a corrente

SECRETA PAIXÃO
minha sombra segue a tua
beija o vento,
lambe a rua

NA AREIA
amor e maresia
ele deseja em prosa
ela desfila em poesia

MORFOLOGIA E SINTAXE
amor gramatical
ele interrogação
ela ponto final

NA OBRA
pedreiro e poeta
vira na massa vida e suor,
prédio pronto - poesia concreta

SEIO
do filho que mama
a inveja do outro
pela mulher que ama

RELAÇÕES
na cama nosso amar
corre riscos, ao ser
discutido no jantar

LÚDICO
amor faz-de-conta
ela urdi
ele apronta

SONHO
ainda casulo,
imagina borboleta
em primavera

ANA MELLO – Ana Maria de Souza Mello, nascida em São Leopoldo, Ana Mello é licenciada em Ciências e Matemática pela Unisinos. Atua profissionalmente como téc. Química. Iniciou suas publicações em 2002 quando foi uma das classificadas no concurso da Carris, Relatos da História e outras Memórias, tendo conto publicado em livro com esse título. Participou de várias Antologias da Editora Litteris e CBJE. Publica em diversos sites na internet e é colunista do site SORTIMENTOS.COM desde 2003. Escreve poesias, contos e crônicas. É coordenadora do Movimento Poetrix no Rio Grande do Sul. Apaixonada por minicontos ministrou em 2007 quatro oficinas inseridas no Projeto Vamos Ler, em Cachoeirinha. O projeto é coordenado pela jornalista Sônia Zanchetta e tem como parceiros o Diário de Cachoeirinha, a Câmara Rio-Grandense do Livro, Secretaria Municipal de Educação e Pesquisa e Clube Literário de Cachoeirinha. Tem poema selecionado no Concurso Poemas no Ônibus e Trem - 2006.

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quarta-feira, janeiro 23, 2008

WILLIAM BLAKE



ANO NOVO

Som de flauta,
Não emudecei!
Noite e dia,
As aves se delitam.
O rouxinol, pelos campos,
E, no céu, o beija-flor,
Saúdam o Ano que chega.
Meninos contentes.
Meninas doces e pequenas.
O galo canta,
E o acompanhais,
Vozes felizes,
Sussurro de criança,
Alegremente,
Saúdam o Ano que chega.
Cordeirinho, aqui estou!
Vem me lamber,
Deixa-me puxar
Tua lã macia.
Deixa-me beijar
Tua face meiga,
Pois, alegremente,
Saudamos o Ano que chegou.

-*-

A VOZ DO POETA

Escutai a voz do poeta!
Ele vê o presente, o passado
E o futuro. Os ouvidos seus
Ouviram de Deus, que, através
Do pomar, por ele o chamava:
Cego de lágrimas, no orvalho,
Pra que a fria chama da razão
Podando, ao amor retornasse.
As alturas por ti esperam;
As névoas do mal se foram,
E, sobre o sono benigno
Da manhã, se ergue o brilho.
Companheiro, não te percas;
O domo radiante dos astros,
O espelho d´água a refleti-los
De luz em luz são tua presença.

-*-

O MENINO TRISTEZA

Chorava meu pai, minha mãe gemia,
Quando ao perigo do mundo saltei,
Sem ajuda, gritando alto e despido,
Como pobre jogado a seu destino.

Nas mãos de meu pai lutando,
Em pano envolto me debatendo
Pensei que bem melhor seria
Continuar na mãe que me paria.

-*-

A MENINA PERDIDA

Jovens do tempo futuro,
Ao lerdes esta canção,
Ficai sabendo: outrora
Do amor foi dito imoral.
Durante o vosso tempo,
Nus e banhados ao sol,
Brilhem, à luz eterna,
A juventude e a pureza.
Certo dia, dois amantes,
Se encontraram num pomar,
Onde a claridade removera
Da noite a cortina escura.
Por sobre a relva giravam,
Os pais ao largo se fizeram,
Estranhos não se achegavam,
E seus temores ela esquecia.
Ao pai a bela se dirige,
Mas seu olhar reprovador
Abalou, qual vendaval,
Tudo o que nela era puro.
“Ó sinistro cuidado
que fazeis esvoaçar
as flores de meu cabelo!”
pálida e abatida brada.

-*-

O COMANDO DOS POETAS

Vinde! Que toda a malícia,
Guerra e desconfiança
Do coração desistiram.
A estupidez foi labirinto
Infindável, com lianas ao longo.
E tão-somente pra tombar,
Por ali se adentraram
Os que tropeçavam toda a noite
Sobre os ossos dos mortos,
Desejando o que ignoravam,
E pensando nos comandar
Quando deviam nos seguir.

-*-

A REAL IMAGEM DO HOMEM

Tem coração humano a maldade,
E o ciúme rouba-lhe a face.
O terror possui forma de gente,
E a morte, trajes de homem.
As vestimentas humanas são de ferro,
E, em forja, manufaturada sua forma.
A face humana, uma fornalha fechada,
E o coração, a sua garganta faminta.

BLAKE, William. Canções da inocência e da experiência. Tradução de Antonio de Campos. Palmares: Bagaço/Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.

William Blake (1757-1827) foi poeta, pintor, músico, místico e revolucionário inglês, precursor de Marx, Freud, Einstein e Marcuse, entre outros, defensor do amor livre, inimigo do preconceito de cor, autodidata. Ao morrer, foi enterrado numa cova não assinalada no cemitério de Bunhill Fields, Londres. Sobre esta tradução de Antonio de Campos, diz o crítico inglês, John Dewhurst: “(...) Visionário possuidor de pensamento com envergadura imorredora, admirável paradoxo de cristão, democrata das esperanças sociais, William Blake, no canto novo e na voz do poeta Antonio de Campos, nos convida à re-invenção de nossa própria humanidade”. O tradutor Antonio de Campos assim se expressa: “(...) O anjo se manifestou através do balido do cordeiro e do bramido do tigre do mesmo modo que outrora falara pela boca da jumenta de Balaão. Deus, ao longo da História, tem escolhido animais e homens mais nobres para entregar a sua mensagem. William Blake foi um deles. Vamos ouvi-lo”.

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terça-feira, janeiro 22, 2008

POETAS ALAGOANOS



ARI LINS PEDROSA

CONFRONTO

Nos alfarrábios do céu,
o deserto é o tapete
das sábias discussões.
As estrelas:
São taças
brindando os trabalhos.
A lua:
musa dos olhares confrontados,
iluminando mil dúvidas.
Mercenários sentados
sobre a verdade
fazem mil caras.
Cenário armado
debate titânico.
Do lado: o poderoso amanhã
iluminado pelo sol do novo.
Do outro: a realidade da noite
com seus mistérios
Ambos querem o sabor da vitória
(embora seja para poucos).
Que venha o veredito da sombra,
detonando aqueles impedidores
da verdadeira luz.


-*-

HAINETO NÚMERO 07

Mordaça corta a palavra que ameaça,
Excêntrico pensamento versa
Cada ponto da conversa.

O verdugo da palavra pisa,
Aliança nunca, só resta esperança,
Sem acreditar em cara-lisa.

Malícia é trunfo na mesa,
Agoniza a palavra presa,
A justiça é cega e voa da cobiça.


-*-

O PESCADOR DE SONHOS

Inspiração só
Não basta,
É isca
Do poeta
Para pescar
Palavras.


-*-

EPIGRAMA ECONÔMICO

Inflação zero, nem na ilha de Thomas Moore.

-*-

SONHOS AFLITIVOS

Pesadelo:
Sonhos perdidos
Durante o dia,
Buscando retorno
Nas noites longas.


-*-

EPIGRAMA GRAMATICAL

Vírgula: muleta da frase.

Ari Lins Pedrosa é poeta, escritor e editor alagoano, autor de vários livros de poesia, crônica, contos e literatura infantil. Edita o alternativo Notas Literárias há 12 anos, resultando na publicação do livro “O colecionador de sonhos” com entrevistas com nomes representativos da literatura brasileira. Os poemas selecionados são do livro “O pescador de sonhos” São Paulo: João Scortecci, 1992.

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segunda-feira, janeiro 21, 2008

VERA BARBOSA



Maravilhoso sítio desta artista fantástica, Vera Barbosa, reunindo seu trabalho nas áreas de teatro, televisão, cinema, música, além de uma galeria especial e o seu magnífico blog. Imperdível.

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CAROLA TRIMANO
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sexta-feira, janeiro 18, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



MARCYA HARCO

Luiz Alberto Machado

Amar-se
e ia arco onde o ar nos olhos são luas, sóis e laços
dos palhaços que amo em você
a ver no poema que clamo e é feito em ser
o seu jeito lindo de luz a valer de si
e seduz o amor e só
e tudo que há de bom e do melhor.

Amar-se ar como a pele do amor
o calor do granito no forno onde o grito é brasa que morno queimando já
somos o que for em flor no rito do amor.

Ah, mar
se ar, como eu venero e padeço e faço quarteto de lá em Cy
se havia amar era florar no ermo sem fim
como até viver a sonhar de mim para ser
só para você e amar,
amar você.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

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quinta-feira, janeiro 17, 2008

ALESSANDRA LEVTCHENKO



Foto: Catálogo Joana Maria de Alessandra Levtchenko

Alessandra Levtchenko iniciou sua carreira em 1994, optando pela fotografia de teatro nas peças de Patrício Bisso e Oswaldo Montenegro. Tendo como influências Herb Ritts e Bruce Weber, seu olhar a levou rapidamente para a fotografia de Moda, Música e Arte. Em 1998, no Rio de Janeiro, participou do Projeto “A imagem do Som”, uma exposição com 80 composições de Caetano Veloso, interpretadas por 80 fotógrafos contemporâneos com os patrocínios Petrobrás, Philips e o Globo nas Artes Visuais. Em 1999, com o apoio do Banco do Brasil e o Globo na Literatura, participou da exposição “Retratos Falados” composta por 12 personagens da literatura brasileira interpretados por escritores, artistas visuais e fotógrafos, no Centro Cultural Banco do Brasil. Realiza vários trabalhos, abrangendo os mercado de moda, fonográfico, e publicitário. Para clientes como Trip, Oi, Playboy, VW, Sony-BMG, Trama, Saldiva, A1 Brasil entre outros. Recentemente trabalhou no projeto “ Amazônia Caruana”, longa da cineasta Tizuca Yamazaki, fotografando as locações e os personagens, em várias regiões da Amazônia. No site dele você encontrará moda, musica, porfolio, publicidade e exposição. Ela será a responsável por workshop voltado para fotografia de nú editorial. O workshop prevê uma carga de 15 horas dividas igualmente entre teoria e prática. Na aula teórica serão dadas noções de iluminação e direção de modelos, elementos de maquiagem e dicas de produção de figurino, além de uma análise do mercado da fotografia de nú. O segundo dia é totalmente dedicado à atividade prática: em duplas, os alunos irão fotografar em tempo integral uma modelo com o auxílio de uma equipe de produção que inclui maquiador e produtor profissionais, simulando a realização de um editorial em locação. O workshop termina com uma aula de avaliação das imagens produzidas. Conteúdo programático do Curso: Linguagem e mercado profissional (como fotografar e para quem) Iluminação (jogo de luz e sombra e temperatura de cor para ambientalização) Fotografia em locação (equilíbrio de luzes e cenário) Direção (como trabalhar a direção para o melhor desenvolvimento do ensaio) Maquiagem e efeitos (como maquiagem pode ajudar a fotografia) Produção de figurino FICHA TÉCNICA Carga horária: 15h/aula. Dias 26- 27 e 29 de janeiro sábado (14:00-18:00h); domingo (9:00-18:00h) e terça (20:00-22:30H) Valor: R$ 900,00 ou 2 x R$ 470,00 Pré-requisitos: ser fotógrafo profissional ou amador com prática e ter os seguintes conhecimentos: exposição, temperatura de cor e latitutde de exposição. A fotógrafa não ensinará o básico, e sim como aperfeiçoar as ferramentas já utilizadas. Material necessário: Câmera fotográfica reflex, analógica, três filmes tipo slide; ou câmera reflex digital, e adaptador universal para cabo de sincronismo. Informações pelo tel. (11) 3021 3335/ (11) 30215631 ou cursos@danilorusso.com.br

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I CONGRESSO DE DECLAMADORES
WORKSHOP DE FOTOGRAFIA

quarta-feira, janeiro 16, 2008

JUAREIZ CORREYA



AMERICANTO AMAR AMÉRICA

América
Mulher de carnes cruas
Pregadas no meu peito
Como colunas de ventos colossais
Meus gritos são alegria de tambores
& montanhas de plástico
são doces campos de açúcar
& rios de sangue cheios de troncos negros
queimados na dança dos teus cabelos
que a noite estupra gargalhando
América
Eu me dou com este corpo de criança
Que a tua febre come e joga
Para os céus dos chacais
Meu corpo virgem nas estradas
Que a tua volúpia rodopia
Além onde estão todas as promessas
Para que o meu gozo encha os mares
E enterre todas as florestas
Com tempestades de espermatozóides
América
Tua alegria me embebeda eu sou teu
Deus poeta incandescido no teu ventre
Teus olhos brilham poemas terríveis
Gaivotas criminosas de Ginsberg
& me enfeitam & me enfeitam
arco-iris de luas gigantescas
empoeiradas nos ruídos das motocicletas
& há tanta doçura na gasolina
matando a sede na minha garganta &
alucinógenos & lírios & violetas & roseiras
& porres de cocaína & rolos de maconha
América América
Tua cabeça vomita jovens famélicas
Ninfomaníacas crianças sensuais
& doces meninas
brigando sexualmente pela minha carne
espalhada em todos os lugares
em todos os bares
em todas as praias
em todos os cinemas
em todos os caminhos que vão & voltam
em todos os espetáculos
em todas as feiras
em todas as casas minha carne ardente
espalhada sobre as estrelas & a gosma
& os satélites & o câncer
& os automóveis luxuosos & a carniça
& os prazeres financiados & a merda
dos estados unidos
América
Eu bebo no teu suor correntes
De petróleo & ouro & loucura
Eu sou um doido & belo êxtase de tua boca
Licores estranhos & luxuriantes escorrem
& umedecem-me a pele coberta de ilhas
dos Andes crispada
teu abraço carregadoesmagadormúltiplo
como avalanches multi modas coloridas
vermelho azul tuas pernas monstruosas
rasgam os panos de nuvens de galáxias
& me esmagam com todos os desejos
com toda a energia dos teus músculos de ferro
com toda a fúria das tuas células famintas
milhões de balas e besouros
guerrilheiros tupamaros estalando nos varais
da república desvairada & pombas brancas
carregadas de dinamites para festas
nas selvas & nos pântanos urbanos
América
Tuas velas correm lavras vulcânica
No meu corpo todo possuído
& pelos meus poros estraçalhados
entram bandos de sóis argentinos explosivos
como noites espanholas
& eu me desespero poeta errante & louco
sambando & cantando loas africanas
nas dunas dos teus seios impetuosos
& voo com os meus pés alados
na planície arenosa de púrpura & sal
para não descansar jamais
América América
Teus gritos metem jovens nos meus ouvidos
De todas as cores & raças mesclados
Irmãos nas ruas largas cantando canções
Me arrastam alegorias
& paises fantásticos de painéis
armadilhas de anúncios luminosos
& cavalos voadores & dragões
& poetas que alimentam-se de bombas atômicas
& ventres duros de fome
& choros de crianças guitarras
& mundos inteiros ansiando a hora
em que o fogo da minha carne
destrua os lobos & abutres & porcos
comedores de cabeças
América América doce América
Meu corpo te pertence flamejante & duro
Nas tuas entranhas me divido
Pasto para as tuas carnes vermelhas
Minhas caricias são mágicos jardins edênicos
& brasílica brisa
incendiada teu ventre se abre chão partido
& me engole assim com a cólera de séculos
pauliceias suicidam-se angustiadas
nos escritórios & nas ruas com as cordas
dos próprios músculos antes do carnaval
& vitimas habituais ferem as suas dores
no mesmo lugar agreste de águas
América América doce América
Arvores & bichos pregados nos meus cabelos
Como poros sexuais multiplicam-se
Eu sou tua alegria teu corpo teu deus
& tu me amas orgasmos de esperanças
luzes tontas na intima Amazônia
como os trovões da minhas voz
& os ardentes sonhos paradisíacos
& teu cansaço febril na minha boca
América América doce América

-*-

ORAÇÃO DE NARCISO

& se lambeu as mãos
se bebeu nos braços
se amassou no tórax
se fundiu no ventre
se partiu carícias
se sorveu sussurro
se escondeu escama
do corpo dentro de si.
& se ergueu do chão
se apartou dos laços,
se estendeu, um touro
se abriu em dentes
se sortiu de notícias
da carne errando urros
do corpo cheio de si.
& se escorreu então
se acendeu mormaço
se apossou no clímax
se partiu demente
se somou lascívias
do amor que ateia chamas
do corpo mesmo por si

-*-

PONTE SOBRE ÁGUAS TURVAS

Se teu sorriso
Não movesse o rio
Contra as correntes do leito
Onde escorre
Eu poderia sim eu poderia
Cair nesta noite
Sem esperança de te encontrar
Minha canção é tão pouca
Minha canção chove
E me faz um homem débil
Tua lembrança joga no meu rosto
Teus braços cheios
De plantas e odores
Teus peitos macios de tremores
E de nuvens encharcadas
Cigarros sapatos cuspo pedaços
De árvores e de pássaros
E tuas palavras algumas, que eu misturo
Com seixos assovios e a melodia
Que você gostava de ouvir na minha boca
Agora também o céu é feio e não tem graça
Tua lembrança me entristece
E me enterra
Nestes espelhos

-*-

PARÁFRASE A MAIACOVSKI

Nos demais
- isto se sabe naturalmente
e mesmo com certa vulgaridade –
o sexo está plantado
(entre as pernas)
num altar sob o ventre,
em mim
a anatomia bemlouqueceu:
sou todo sexo

-*-

CANÇÃO DE QUEM SE FAZ AMANTE

De que me serve este amor
Como uma chaga aberto?
Na cidade de criaturas vazias
Perdi a noção de mim
Enegreci o cheiro do meu calor
Enterrei o meu sexo
Num buraco de excrementos sem raízes.
De que me serve tudo isto
& a beleza que eu carrego
& as minhas palavras sinceras
& a luxuria dos meus gestos expostos?
Caminho apenas
Para evitar esses desencontros que se forjam
A minha espera em cada esquina
& se metem casa a dentro pregados
na minha roupa & pulando rutilantes na máquina.

JUAREIZ CORREYA é poeta, escritor, editor e gestor cultural pernambucano, criador e ex-presidente da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho. Diretor editorial da Panamérica Nordestal Editora, do Recife (PE). Publicou, entre outros livros: POETAS DOS PALMARES, organização(1973/1987/2002); AMERICANTO AMAR AMÉRICA (1975/1982/1993); POESIA VIVA DO RECIFE, organização (1996); CORAÇÃO PORTÁTIL (1984/1989); POESIA DO MESMO SANGUE,em parceria com José Terra (2007); ARRAES NA BOCA DO POVO - Cordéis & Repentes -,organização (2007). Os poemas aqui transcritos são do livro “Americanto amar América”. Recife: Nordestal, 1982.

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JUAREIZ CORREYA
PONTE SOBRE ÁGUAS TURVAS
POETAS DOS PALMARES
PROJETO LITERÁRIO DELICATA

terça-feira, janeiro 15, 2008

POETAS DOS PALMARES



Imagem: do artista palmarense Darel Valença Lins.

ALOISIO FRAGA

EU STOU AQUI

Eu estou aqui!
Na relva que brota de mim mesmo...
Na árvore amiga que lhe dá a sombra....
No galho seco de um arbusto morto!
Eu estou aqui!
Nas lágrimas que jorram dessa fonte
Eternizando minha grande dor.
E na rocha muda eu já tenho vida.
... e o homem passa sem querer me ver!
Eu estou aqui!
Ofertando a vida, a mais pura vida
E o homem insiste em não querer me ver!
Eu estou aqui! Eu estou aqui!
Palpitando vida, verdadeira vida,
No sopro amigo de uma aragem fresca,
Sintetizando, assim, a própria vida....
E o homem foge sem querer me ver!
Eu estou aqui!
Eu estou aqui!
Eu estou aqui!


ALOISIO FRAGA nasceu em Palmares, em fevereiro de 1919. escreve há muitos anos, mas em completo ineditismo. Vive em São Paulo, onde se dedica ao comércio. Está preparando um livro de poemas para publicação. In: Poetas de Palmares. Recife:Fundarpe/Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.

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ELTÂNIA ANDRÉ
FOLIA TATARITARITATÁ

segunda-feira, janeiro 14, 2008

ANA RÜSCHE: ACORDADOS



Ana Rüsche, paulistana, advogada, foi presidente da Academia de Letras da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo no ano 2000, cursa o 3° ano da Faculdade de Letras da FFLCH-USP, pesquisadora integrante do Grupo SADI (Semiótica e Análise do Discurso), membro do Clube Pan. Está lançando o livro Acordados. Veja detalhe no Fórum do Guia de Poesia.

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sexta-feira, janeiro 11, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Imagem: Ana Pana.

TOADA

Luiz Alberto Machado

Canto a ti o meu sonho
E no sonho a minha vida
- é só o que disponho
E a razão da cantiga.

Canto a ti a toada
Porque nosso é o destino
Que canto desde menino
Porque minha é a tua estrada.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

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SIMONE AVER



TODA POESIA – excelente blog da poeta, escritora, desenhista e professora Simone Aver. Ela é formada em Letras e é professora de séries iniciais do Ensino Fundamental, em Bento Gonçalves - RS. Na sua página do Recanto das Letras ela reúne toda a sua produção literária.

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quinta-feira, janeiro 10, 2008

RENATA PALLOTTINI



O JOGO DA PACIÊNCIA

I

Deixaste como herança o jogo da paciência
Vermelho e negro e no vermelho e negro
O sexo e a solidão tua fúria e tristeza
Organizadas sobre a mesa
Organizado sobre a cama o corpo
De pulsação particular teu rosto
Faminto quente a tua boca densa
Ensinando à minha boca o jogo da veemência
Vermelho e negro e no vermelho e negro
O sexo e a solidão tua altivez de chama
Acesa sobre a cama
Paciência paciência inútil jogo
De incompleta beleza um pouco de óleo
Para o ungido do peito e semente do solo
Que quando pus as cartas (uma e outra)
Com minha própria mão armei dois polos.


-*-

O TRATO

Era assim meu afeto
E assim é que o conservo;
Maduro na lembrança
E secreto e severo.
Não o pus (minha boca
Altiva) em gesto ou voz;
Meu sol no entanto era
Muito mais sol.
Não o soubeste, e agora
Se sabes, não te dói.
Se sabes, não te move,
Dizes, e em ti não passou.
Não importa; do trato
Não fui eu quem faltou.
Meu caminho foi feito;
Guai de quem não amou.


-*-

SURREALISTA

Em tua boca não há palavras para mim
Não obstante o teu amor (e nele creio).
Vives um mundo exato; e eu tropeço
Nos dias e nos medos.
Vou me virar pra dentro, como um fruto
Depois da flor; e me como a mim mesma.
Vou subir pelo tronco, parasita,
Vou cair no poema.
Vou voar pelas asas marinheiras
De mil e uma, mil e duas borboletas.
Ah, vou emudecer solenemente e em verso,
Ah, vou me suicidar como Santos Dumont.
Quando me procurares, meu amor,
Verás no meu lugar a casaca da libélula
E um fio de cabelo “ton sur ton”.


-*-

DECLARAÇÃO DE ÚLTIMA VONTADE

Quando eu estiver pra morrer
Levem-me depressa a Madrid,
Avisem Juan Carlos e Sofia
E preparem o Teatro Real.
Flores vermelhas e amarelas,
Tapetes pendurados nas janelas
E os reis – tão acertados, tão repousantes.
Tanto, a essa altura, já será vitoriosa
A revolução socialista...
Por que não posso morrer monárquica?
Por que não posso me enterrar antiga?
É um velho desejo, um conflito insopitado.
Levem-me para a Praça Isabel Segunda
(antes, Praça da Ópera)
e deixem que o povo venha vender castanhas no meu enterro
- esse povo, para sempre dividido
entre a revolta e o amor ibérico às bandeiras.
Mas se alguém me quiser ainda viva
Pra responder por malfeitos
Ou retribuir um beijo
Bastará que ordene à banda para atacar “La Revoltosa”.
Em dez segundo estarei de pé
Com um cravo na orelha
E um touro vivo no coração.


-*-

POÉTICA PARA O POVO

Eu me proponho escrever o Poema
Eu te convoco e peço uma pena
Prometo dar o sangue
Se deres a palavra
Prometo dar à luz
Se me deres a alma
Prometo dar um grito
Se me ferires a faca
De tudo isso há de sair o Poema
Palavra, sangue e faca
Um riso na garganta, uma exigência
De espaço.


A poeta, escritora, dramaturga, ensaísta e tradutora paulista, Renata Pallottini fez Filosofia na PUC e Direito na USP, estudos de teatro na Sorbonne Nouvelle e na Escola de Arte Dramática – EAD, se doutorando pela Escola de Comunicações e Artes – ECA/ISP. Ela é autora, dentre outras peças, de Pedro Pedreiro que tem música de Chico Buarque. Apesar de intensa atividade no teatro, na TV, como professora e em atividades administrativas ou políticas, é na poesia que Renata Pallottini encontra seu chão mais rico e fecundo. Os poemas aqui selecionados fazem parte do seu livro “Noite Afora”.

PALLOTTINI, Renata. Noite afora. São Paulo: Brasiliense, 1978.

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EXPOSIÇÃO FOTOGRAFIA DO CARIRI - SESC JUAZEIRO
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quarta-feira, janeiro 09, 2008

POETAS MOÇAMBICANOS



MIA COUTO

COMPANHEIROS

Quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho

por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros


-*-

A FABULA DO MACACO E DO PEIXE

Um macaco passeava-se à beira de um rio, quando viu um peixe dentro de água. Como não conhecia aquele animal, pensou que estava a afogar-se. Conseguiu apanhá-lo e ficou muito contente quando o viu aos pulos, preso nos seus dedos, achando que aqueles saltos eram sinais de uma grande alegria por ter sido salvo. Pouco depois, quando o peixe parou de se mexer e o macaco percebeu que estava morto, comentou - que pena eu não ter chegado mais cedo.

-*-

POEMA MESTIÇO

escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico
sangro norte
em coração do sul
na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo
hei-de
começar mais tarde
por ora
sou a pegada
do passo por acontecer


-*-

Mia Couto nasceu na cidade de Beira, Moçambique, em 1955. Licenciado em Biologia pela Universidade Eduardo Mondiane. Dirigiu a Agência de Informação de Moçambique, a revista Tempo e o jornal Notícias de Maputo. É membro da Organização Nacional de jornalistas e da Associação de Escritores Moçambicanos. É um dos escritores moçambicanos mais conhecidos internacionalmente. Estreou com o livro de poesia Raiz de Orvalho, publicado em 1983. Outras obras: CONTOS: Vozes Anoitecidas (1986), Cada Homem é uma Raça (1990), Estórias Abensonhadas (1994), Contos do Nascer da Terra (1997), Na Berma de Nenhuma Estrada (1999) e O Fio das Missangas (2003). ROMANCES: Terra Sonâmbula (1992), A Varanda do Frangipani (1996), Mar Me Quer (1998), Vinte e Zinco (1999), dentre outros. Em 1999 recebeu o Prêmio Vergilio Ferreira pelo conjunto de sua obra. Em 2007 recebeu o Prêmio União Latina de Literaturas Românticas e foi vencedor do prêmio Zaffari & Bourbon de Literatura, na Jornada Nacional de Literatura.

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FREUD E LACAN - falados 1, de Miguel Oscar Menassa
PALESTRA: CORDEL E XILOGRAVURA POPULAR NORDESTINA
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terça-feira, janeiro 08, 2008

RUBENS DA CUNHA



Rubens da Cunha acaba de lançar o livro “Aço e Nada” que é uma seleção das crônicas publicadas no Anexo do jornal A Notícia entre fevereiro de 2004 e março de 2007. Ele escreve para o Jornal desde 2004 todas as quartas feiras. O livro foi um dos vencedores do Edital de Apoio à Cultura promovido pelo Governo Municipal de Joinville. As crônicas foram agrupadas em quatro grandes temas:
1 - Os animais dentro - crônicas com personagens, de cunho mais existencialista 2 - O olho vigiador - são olhares sobre a cidade, o urbano 3 - O corpo da gratidão - crônicas poéticas, odes e cantos a assuntos diversos 4 - O morador das palavras - Crônicas que divagam sobre o ato de escrever, poesia, palavras... Trata-se do seu terceiro livro publicado. Os outros dois são 'Casa de Paragens' pels EDUFSC e 'Campo Avesso' pela Ed. Letra D'água. O 'Aço e Nada' saiu pela Design Editora.

VEJA MAIS:
ASSOCIAÇÃO POETAS NA PRAÇA
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
e MÚSICA.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

FOTOGRAFIA/FOTÓGRAFO



Foto: E o vento se fez carne, de Tchelo d´Barros.

A palavra fotografia, segundo enciclopédias consultadas, é oriunda, inicialmente, da palavra heliographic, criada em 1810 pelo físico francês Joseph Nicéphore Niepce (1765-1833). Posteriormente, veio a palavra photogenic, em 1839, criada pelo físico inglês William Henry Fox Talbot (1800-1877). E, finalmente, da palavra photographic citada em 1839, pelo astrônomo inglês Sir John Frederick William Hershel (1792-1871). Sua definição nos dicionários leva a generalização diversa, sendo compreendida como a arte e processos de fixar, pela ação da luz, a imagem de objetos sobre uma superfície sensível e, por extensão, a reprodução da imagem assim obtida. Tal definição é inclusiva, porque pode ser estendida a técnicas de reprodução de imagens que têm denominações específicas e distintivas.
A sua história tem início em 1822, quando o francês Joseph Nicéphore Niepce colocou dentro de uma câmara primitiva uma folha de papel quimicamente sensibilizado e apontando essa câmara a uma mesa posta em seu jardim, conseguindo fixar no papel, após uma exposição de várias horas, uma tênue imagem da realidade. Essa fotografia seria a primeira conseguida no mundo. A teoria por detrás da experiência de Niepce, no entanto, remonta à Renascença, pois foi Leonardo da Vinci quem primeiro descreveu o método e os efeitos da câmara escura. Da Renascença até o séc. XIX, vários pintores e desenhistas se utilizaram desse fenômeno físico para melhor reproduzirem a realidade, lançando mão de caixas de madeira pintadas de preto, chamadas, portanto, câmaras escuras. Foi aí que Niepce interessou-se pela litografia, quando esse processo reprodutivo foi aperfeiçoado. Na mesma época, outro francês, o pintor e cenógrafo Louis Jacques Mande Daguerre (1787-1851) criou em 1837 o daguierreótipo. Daí a França divulgou o processo ao mundo inteiro. Por volta de 1840, o físico inglês William Henry Fox Talbot patenteia sua criação usando um sistema de negativo-positivo, apontando para o desenvolvimento técnico do futuro. Os talbótipos copiavam quantos positivos o fotógrafo quisesse. Em 1851 a chapa molhada substituía o daguerreótipo e o calótipo, aperfeiçoada pelo pintor inglês Frederick Scott Archer. Finalmente surgiram em 1880 as chapas secas quando a partir disso a fotografia passa a ser quase a mesma dos dias atuais, pois foi o norte-americano George Eastman (1854-1932) que em 1878 que dá o passo decisivo para a fotografia moderna. A arte fotográfica ganha impulso com Alfred Stieglitz (1864-1946) e, posteriormente, o jornalismo que terminou por fazer da fotografia moderna uma mensagem presente em qualquer lar.
No Brasil a fotografia chegou no Rio de Janeiro, via daguerreótipo, em 1840, hoje consagrada pela arte de Sebastião Salgado, Miguel Rio Branco, Vick Muniz, Mario Cravo Neto, dentre outros.
O dia 8 de janeiro é consagrado à fotografia e ao fotógrafo. Em razão disso, fotógrafos natalenses organizam exposição fotográfica e caminhada ecológica para celebrar a data. A Associação Potiguar de Fotografia – Aphoto, preparou uma programação para celebrar o Dia Nacional da Fotografia, 8 de janeiro, com seus associados e fotógrafos. As atividades culturais da Aphoto têm o propósito de agregar a fotografia como lazer e intercâmbio entre fotógrafos amadores e profissionais. Neste dia, a partir das 14h, sob o comando do fotógrafo Canindé Soares e com o apoio da Associação Potiguar de Fotografia, haverá um varal fotográfico na comunidade do Maruim, onde foram registradas cenas da própria comunidade por membros da Aphoto, no ano passado. Na ocasião, acontecerá distribuição de brinquedos, balas e doces para a criançada que mora no Maruim, além da entrega das próprias fotos do varal para as pessoas da comunidade que serviram de modelos para as fotos expostas. Ainda no Dia Nacional da Fotografia, 8 de janeiro, a partir das 18h, o salão nobre do Restaurante Galileu abrigará a exposição fotográfica coletiva “Foco Potiguar”, apresentando 40 imagens do Rio Grande do Norte clicadas pelos membros da Associação Potiguar de Fotografia. A exposição “Foco Potiguar” ficará em cartaz até o carnaval. SERVIÇO: Varal Fotográfico no Maruim Onde: Comunidade do Maruim Quando: 08 de janeiro Horário: 14h00. Local de Encontro: Mercado do Peixe (praça de Alimentação) Exposição Fotográfica “Foco Potiguar” Onde: Restaurante Galileu (av. Prudente de Morais) Quando: a partir do dia 8 de janeiro. Horário: 18:00. APHOTO http://www.flickr.com/photos/apofoto/ Informações: 8817-3359 ou alex-gurgel@oi.com.br
Também a equipe da Eco Jornada estará realizando a Mostra Fotográfica "ECO JORNADA". Local: Café Matisse - (CIC) Centro Integrado de Cultura. Data: de 08 à 28 de Janeiro de 2008. Endereço: Av. Irineu Bornhausen 5600 – Florianópolis/SC. Vernissage dia 08 de Janeiro de 2008 as 20h com Show do Mustache Maia Trio. Info: www.ecojornada.com.br Germano Preichardt manoge@gmail.com Tel: (51)8403.8093/ 3213.3464 Presidente do Paralelo 30 Fotoclube www.confoto.art.br/paralelo/ http://paralelo30fotoclube.blogspot.com/

Veja mais:
JOMARD MUNIZ DE BRITTO
RUBENIO MARCELO
e
PREMIO LITERARIO LIVRAIRA ASABEÇA

sexta-feira, janeiro 04, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



ELITA DE ARNALDO

Luiz Alberto Machado

Enquanto eu brincava no tempo e na terra, ela me deu seu sorriso de sempre menina sapeca do Galozé, o valente.

Vinha da rua da calçada alta de nossas meninices, com seu jeito e farda do Ginário, bumbos pela Cumade Fulosiinha, rio Una, Curupira e Trombetas de nossa fantasia.

A gente misturava bagaço no peito e na raça até chorar com meu filho na U.T.I.

E ríamos muito, até na canção de Clarinha por Arnaldo, que eu nunca mais entoeei.

Hoje eu cantei Clarinha porque nunca tive mais que a minha dor num verso solidário.

Hoje ela beija minha manhã com seu riso de sol.

In: Elita Ferreira: homenagem da Família Bagaço à Elita Ferreira, por ocaisão do IV Festival Recifense de Literatura A Letra e a Voz, em agosto de 2006. Recife: Bagaço, 2006.

Veja mais Elita Afonso Ferreira e Primeira Reunião. Não deixe de ver as previsões do Doro para 2008. E vem aí o Carnaval Folia Tataritaritatá!

quinta-feira, janeiro 03, 2008

POETAS DE PALMARES



ADALBERTO MARROQUIM – Poeta palmarense formado em Direito. Transferiu-se para Maceió onde foi delegado de polícia e criou o Instituto de Educação. Faleceu na capital alagoana.

O MACACO DE DARWIN

Num baile chique da aristocracia
- imagem do caráter brasileiro –
por capricho ou, talvez, por zombaria,
(quem sabe lá porque razão) havia
um macaco servindo de copeiro.

O orangotango olhava aquilo tudo:
Moços, moças, decotes e casacas...
E entre tanta alegria, ele, contudo,
Ele, a surpresa, o clown, alma da festa,
Tinha fundas saudades das macacas
Que deixara no seio da floresta.

Lá pelo menos não havia o tango...
A moda, por exemplo, era.... outra coisa,
Nem nunca um macaco orangotango
Quis imitar o passo da raposa.

E depois o shimmy, o abraço, a cola,
Os cochichos por trás do reposteiro
E coisas tais que o pobre do copeiro,
O pobre mono quase perde a bola!

Pois é mesmo possível que essa gente...
(pensava o símio lá consigo) Sim!
Pois é possível que essa gente fútil
Continue a pensar sinceramente
Que descende de mim?!


A ANTONIO NOBRE

Anto, meu pobre e desgraçado amigo,
Que dor, que pena triste assim te fez?
Que sentimento fez nascer contigo
O mais triste poeta português?

A vinha da esmeralda, o ouro do trigo
Coimbra e o Mordego da formosa Inês;
E tu, meu velho, no teu fado antigo,
Só, sempre só, compondo o SÓ talvez...

Eras, na tua estranha soledade,
Como a alma do penedo da saudade
Que errasse pela sombra do choupal....

Passaste, mas, relendo-te as cantigas,
Choram de comoção as raparigas
E os poveirinhos do teu Portugal.


FONTE:
CORREYA, Juhareiz. Poetas dos Palmares. Recife: FUNDARPE/Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.

Veja mais Poetas de Palmares. E também no Guia de Poesia.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

CRONIQUETA



Foto: Pedro Cabral Filho

O SOL NASCE PARA TODOS

Luiz Alberto Machado

O sol contempla todas as manhãs no maior exemplo de justiça que se possa imaginar. É assim como eu vejo, este é o meu olhar. E mesmo que leve oito minutos e meio para nos tocar a pele brozeando nossa vida, o disco alado, indiscriminadamente, reluz para brancos, pretos, cafusos, mamelucos, crioulos, mulatos, arianos, caboclos, mongóis, germanos, multicor ou descoloridos. Seja o que for: católico, batista, pentecostal, confucionista, judeu, quackers, budistas, anti-semitas, ateus. Seja que gênero, até homo, hetero, trans, hermafrodita ou assexuado. Seja ou não flamenguista ou de que time for. Ou, ainda, iconoclasta. Seja, enfim, afortunado, pobre, emergente burgüês, desafortunado ou estornado miserável. O que me deixa por lição é que seu fulgir encarna o privilégio de constatar a maior e mais verdadeira liberdade, isso porque, seja através do prisma de Newton ou das citações da Cidade de Campanela, aprendemos que "o amor à coisa pública aumenta na medida em que se renuncia ao interesse particular... ninguém deve apropriar-se das partes que cabe aos outros". E mesmo sob as situações mais adversas, deveríamos ter com o etério brilhante a mesma atitude de Manco Capac, o inca primeiro que abriu os olhos e inquiriu das criaturas da ignomínia o que esperavam da vileza, quando o sol dava vida para serviço dos homens e vegetais do mundo. Ou como os Maias e a bela lição de modéstia do vigoroso astro, confirmando ser o ser humano subalterno e acidental, vez que em suas fábulas pregam que se se nasce de noite, só se realiza ao alvorecer.
Irradiante, pois, nos ensina que os deuses são matinais para honrar a alma, indo, com sua majestade, do oriente ao ocidente a caminho da constelação de Lira. E eu, curaca silente, tiro minhas sandálias para sentir o chão, voltado para o leste, aplaudindo o espetáculo dos clarões da aurora dourando a vida de todos. Beijo, na catarse do momento, os primeiros raios e os guardo no meu relicário para entregá-los às mãos puras que "contemplam-no como a imagem de Deus, chamam-no de excelso rosto do Onipotente, estátua viva, fonte de toda luz, calor, vida e felicidade de todas as coisas". Sigo pelas supremas hierofanias solares colhendo no Livro dos Mortos: "o ontem me criou. Eis hoje. Eu crio amanhãs".

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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