terça-feira, novembro 30, 2010
GILBERTO MENDONÇA TELES
ALGUNS POEMAS DA HORA ABERTA GILBERTO MENDONÇA TELES
GENIS IRRITABILE VATUM
Sou um poeta de água doce,
Banho-me em rios, fontes, lagos:
A minha musa sempre trouxe
A inspiração de alguns afagos.
Sou um poeta de assobio,
Trauteio notas nunca dantes
A minha musa está no cio
Dessas vogais e consoantes.
Sou um poeta bordalengo
Na lengalenga desta língua:
Se o meu poema é um monstrengo,
Talvez a musa esteja à míngua...
Sou um poeta de província
Passando férias na cidade:
Minha palavra é lance, é lince
A minha musa de alvaiade.
Sou um poeta cabotino
Que marcha teso como um cabo:
A minha musa toca o sino
Enquanto a porca torce o rabo.
Sou poetinha e poetastro,
Cheio de estrelas e estrilos:
A minha musa vem de rastro,
Voando baixo como os grilos.
E assim vou eu e assim vai ela,
De vez em quando é que nos vemos:
Ela no azul de um barco a vela,
Eu de canoa, mas sem remos.
HINO À TERRA
Terra, tu és a mãe! No teu ventre fecundo
A seiva do amanhã circula e revigora
A vida que reténs nas entranhas, no fundo
De tua alma que se agira em estos de pletora.
Quando o arado sulcar, numa próxima aurora,
O teu seio nutriz e o teu corpo rotundo,
Hás-de gerar, contente, ao lado de outra flora,
A planta do porvir e outra flor para o mundo.
Pois, num sopro de alento a andar de pólo a pólo,
Fertilizando todo o limo de teu solo
Num bafo de fartura e num hálito de paz,
Novas searas virão aurorizar-te a pele
E, nas graças do olhar benigno de Cibele,
Novas safras de furo à multidão darás.
HORA ABERTA
Sou pontual assim como quem joga
Uma pedra no mar.
Assim como quem bate na janela
E espera no jardim o acontecer.
Sou pontual assim como quem lança
Uma canção no rosto desdobrado
De quem chega.
No mais, sou pontual na complacência
De um deus oculto que boceja
Na hora aberta a sussurros e prodígios
Da vida acontecendo.
E que não basta.
LIÇÃO DE COISAS
As coisas se transformam
Se desnudam de suas vestes alvas.
Consideram a dimensão da página
E abrem a nossos olhos
(disfarçados) seu amplo
Mostruário de problemas.
Retém os transeuntes
Consumidos no fatigante
Espelho sem diálogo.
Sabem como dispor-se
À confidência das sílabas
Mais simples,
Desservidas
De visgo da saliva,
Impronunciada.
E mais que a noite múltipla
De estrelas, sabem deixar-se
Entre o silencio
E a palavra de amor,
Inadiável.
COMPOSIÇÃO
O amor põe suas mágicas
Em funcionamento.
O amor compõe, propõe, supõe,
Indispõe e interpõe
Sua adaga entre o ser
E o vazio do vicio
(a ser-viço do amor).
O amor compõe seus ácidos
Na linha mais ambígua
Da mão, entre o desejo
E o tato, nesse incêndio
Propagante e terrivel.
O amor dispõe seus plácidos
Novelos enredados
E fio a fio supõe
Sua mosca, seu tédio
E sua deslizante
Atração de suicídio
E adultério.
O amor
Propõe enigmas, trans-
Interpõe-se entre os seres
E apenas se indispõe
Para compor de novo
Sua casca e seu ovo.
SONETO GOIANO
Libertino não sei, mas gilbertino
Com certeza se diz, enviando setas
Contra o meu jeito arisco de menino,
Contra as minhas manias prediletas.
Há quem censure em mim o destino
De só querer as musas mais discretas;
E há quem me veja como um pente fino,
Como o mais democrata dos poetas.
Eu não sou bem assim. Sou até meio
Exigente e machista, mas receio
Que a mulher de Goiás – do Sul, do Norte –
Andou rezando alguma reza forte
Contra o meu jeito arisco de menino,
Contra as minhas paixões de gilbertino.
OLINDA
Aos olhos de quem chega, sobre o sal
E o sonho das viagens incompletas,
E antes de tudo – e límpida – projetas
Teus contornos de espuma e litoral.
Mais alto, o teu faro risca na cal
Das brumas e do tempo outras secretas
Ondulações que dormem inquietas
Nos teus braços de espuma e litoral.
E ao mar, ao vento, aos peixes e veleiros
Disputas, luminosa, os teus coqueiros
Desenhados no azul, como sinal
De que sobre este mar que te domina
Ergues teus olhos verdes de colina
E teus braços de espuma e litoral.
OFERTA
Toma! Nas tuas mãos aveludadas
Guarda meu coração, que é teu somente.
Dá-lhe as tuas caricias perfumadas,
Faze sorrir este vilão descrente.
Aquece-o no teu seio adolescente,
Rega-o com tuas lágrimas rosadas,
Afaga-o entre as mãos e um beijo ardente
Põe-lhe nas débeis fibras laceradas.
Talvez assim meu coração vivendo,
Nos teus seios de virgem se aquecendo,
Nos teus beijos de brasa se queimando,
Talvez, assim, meu coração, querida,
Sentindo o teu calor e a tua vida,
Nas tuas mãos despertará cantando.
RESIGNAÇÃO
Carrego nos braços leves
O peso-morto da vida,
Nem sinto o calor do tempo
Incinerando o meu gesto
Afeito a grandes surpresas
De noturnos sortilégios.
Estrelas não dizem nada
Da fala breve dos homens
A noite constrói mil planos
Que a madrugada aniquila
Na sua forja de pássaros.
Nem vento algum me revela
E inesperada mensagem
Que o tempo oculta ou dissolve
Na sua caixa de ferro.
Apenas, no dia inútil,
Vai aumentando, aumentando
O grito dos que não morrem
E se propõe ao mister
Dos horizontes futuros.
TECIDO
O texto tem sua face
De avesso na superfície:
É dia e noite, sintaxe
Do que se pensa , u se disse.
Tudo no texto é disfarce
Ritual de voz e artifício,
Como se tudo falasse
Por si mesmo, na planície.
Seja por dentro ou por fora,
Seja de lado ou durante,
O texto é sempre demora:
O descompasso da escrita
E da leitura no grande
Intervalo dos sentidos.
SEM-PÉ-NEM-CABEÇA
Vou pegar no seu pé, vou dar em cima
De você como nunca fiz ou faço.
Começo assim puxando pela rima,
Mandando beijo e imaginando abraço.
E, para entrar com o pé direito, juro
(e juro de pés juntos, mas bem vivo)
Que estou com o pé na estrada e estou maduro
Além de ser versado e possessivo.
Tomei ao pé da letra o juramento
E fiquei de pé firme no meu canto,
Assim nem um pé-d´água ou pé-de-vento
Pode arredar meu pé deste quebranto.
Um pé lá e outro cá, esta é de fato
A minha vida agora, repartido
Entre encontrar o pé deste sapato
E conservar das coisas o sentido.
Não posso dar no pé, sumir do mundo,
Nem sou um pé-rapado ou pedagogo...
E você sabe que não sou profundo,
Que brinco sempre de esconder o jogo.
Eu fiz meu pé-de-meia só pensando
Em lhe dar um presente bem bonito,
Mas houve algum pé-frio ou contrabando
E o melhor que pensei não foi escrito.
O jeito mesmo é lhe dizer que um dia
Vou pegar no seu pé, seguir seu rumo:
Quero ter um só lado – o da poesia,
Mas ser seu pesadelo de consumo.
Não tenho um pé-de-coelho, nem de trevo,
Nem dos tas goiaisis sou descendente.
Provendo dos sacis: tudo o que escrevo
Tem algo de travesso ou de indecente.
Não pelo pé-de-mesa, que não tenho,
Mas pelo pé-de-cabra da caneta,
Pela garapa, pelo mel de engenho,
Não sei se do saci ou do capeta.
Sei é que nesta história que não finda
Pego na sua mão, fico ao seu lado
E vejo que você ficou mais linda
E eu com o pé quebrado.
TIMBRE
Tudo pode a palavra enquanto peça,
Coisa de uso comum, quinquilharias:
Ela sempre se dá no que começa
E não se exibe toda à luz do dia.
Vive rente da noite, a desdobrar-se
A se mostrar difícil na visita:
Quanto mais dissimula o seu disfarce,
Mais se consente em figurar na escrita.
Anda sempre ao dispor – peixe sem isca,
Fóssil na prateleira etiquetado:
Certo modo de ser da forma arisca,
Certo jeito de tempo e de cuidado.
Às vezes não tem modo nem tem jeito,
Mas fia seu desejo de sentido,
Alguma dor azul dentro do peito,
O timbre de um verão desconhecido.
Reduzida à vogal, ao mais interno,
Se nutre de silêncio e de saliva:
A folha que arrancaram do caderno,
O barco de papel, mas à deriva.
Nada pode, no entanto, sem a fúria,
Sem o matiz do corpo na piscina:
A imagem só é bela se há luxúria,
Se há sugestão de sombras na cortina.
DA FIGURA
Atravessei o azul da noite para
Se inscrever num poema, mas, no fundo
Queria ver também como ficara
Sonhando com princesa um vagabundo.
Queria achar uma palavra rara
Para te dar, algum sinal profundo
Que, através de teu nome, atravessara
Todas as formas líricas do mundo.
Tentei tirar da noite alguma imagem
Que fosse apenas tua, alguma lente
Que te ampliasse dentro da linguagem,
Que te cavasse o espaço da figura
Mas nunca te mostrasse inteiramente
Nas soluções mais fáceis da leitura.
SONHEMA
É à noite que as palavras
Se recolhem ao coração,
Para não poluírem demais
Os olhos e os ouvidos
Desses eternos apaixonados
Que procuram na poesia
O que se perde e ganha
Como um pão-nosso de cada dia.
À noite elas se projetam
Nas paredes e se voltam
Para dentro dos poemas,
Como um sonhema, um termo assim,
Uma dessas coisas, meio difusas,
Um tanto aladas
E cada vez mais caladas
E cada vez mais sem fim.
Só a noite sabe organizar
Melhor o sentido das horas,
Inventando relógios que não
Existem na nossa coleção:
Um aparelho de marcar, por exemplo,
As ruas e pontos da cidade,
Onde ficaram para sempre
As nossas formas de saudade.
A noite é mesmo úmida
E fragmentada, é reticente
E tímida como alguém
Que procura um subterfúgio,
Mas sabendo que não adianta
Nada o encontrar,
Uma vez que o mundo anda agora
De pernas para o ar.
AS PORTAS DE OURO QUE SE VÃO ABRINDO
A minha vida foi sempre assim
Me fechavam uma porta
Eu abria outra
Me fechavam uma porta
Eu abria outra
Me fechavam uma porta
Eu abria outra
A minha vida foi sempre assim
Só abrindo as portas que não tem fim.
PARÓDIA
Todos os dias, minhas Flor, eu saio
Cabisbaixo e vencido, e sem futuro:
D. Quixote no site do esconjuro
Triste figura num cavalo baio.
O pior, o real, o mais escuro,
Ainda está no fundo do balaio:
O que um da sonhamos num desmaio,
O que se vai caindo de maduro.
Todos os dias, minhas flor, descubro
Que lá se foram junho, julho, outubro,
Que lá se foi o tempo e o seu rumor,
Deixando apenas, numa casa em obra,
Um resto de beleza, alguma sobra
Do que por certo se chamava amor.
VALSA TRISTE
Os teus princípios, que são precípuos
Que são modelos, que são reais:
São talvez ilhas em que dedilhas
As rendondilhas do nunca mais.
Os teus princípios são precípuos,
Fossas profundas, céus abissais,
Por onde passo buscando espaço
No descompasso do nunca mais.
Os teus princípios não são propícios
Às aventuras do mar sem cais:
Tem o seu mito, o seu infinito
E o pós-escrito do nunca mais.
Os teus princípios, próprios, precisos,
Seguem teu corpo por onde vais
Levam adiante, altissonante,
O triste itinerante do nunca mais.
Os teus princípios – edições princeps
De manuscritos originais –
Não tem leitura, tem a censura
E a conjectura do nunca mais.
Os teus princípios são os princípios
De tudo aquilo que tanto faz:
Nuvem de fogo, carta de jogo
No desafogo do nunca mais.
ESTUDO
Ao meu apelo nada falta,
Bem mesmo a capela da Baixa,
Tudo se quer ali e tudo
Descobre a forma abandonada.
Quase estrangulo a eternidade
Que me recita a cada instante
O que se perde no profundo
De sua essência e superfície.
O que não vejo é que domina
A cor mais lúcida e submissa:
A combativa, a que viaja
E não te encontra – rua, estátua.
Perfil de escultura, começo
Do que me esgota e determina:
Desejo agudo de encontrar-te,
Esperança sem paciência,
Pedra, ardósia, madeira, zinco
E mais o branco do papel,
Tudo o que te propõe exata
No teu devaneio e contorno.
No fundo o tempo está detido
Na sua bruma e movimento:
Piso, sótão, bosque, penumbra
Recinto escuro e claridade,
Tudo, tudo e até o longínquo
Mais uma vez se faz contíguo:
Forma de cama e de relógio
Na sombra inquieta da aroeira.
Mas algo se abre a contrapelo
No seu casulo de silencio:
Franja de luz, ternura extrema
Que borda a letra do poema.
IMPROVISO
De gênero só sei do alimentício,
Dos de primeira e vã necessidade,
Dos que tem em si mesmo o seu inicio
E sua própria lei e realidade.
Dos literários se como uma grade
Entre a imaginação e o precipício,
Uma coisa sem forma e densidade,
Nascimento de imagens ex-officio.
Sou lírico nas horas mais confusas,
Sou épico na luz e muita treva
E trágico sem sê-lo, na ironia
Do meu jeito de andar beijando as musas
Nesta facilidade que me leva
A ser um distante na poesia.
SE...
Se meu soneto fosse tempestade,
Se cada verso dele um pé-de-vento,
Se sua forma-fixa, seu acento
Enchessem de relâmpago a cidade;
Se granizo as palavras, num momento,
E se fosse trovão sua unidade,
E se chuva seu ritmo e novidade,
Se raio, seu perfil e andamentos;
Se meu soneto fosse uma enxurrada
De imagens, um caudal intempestivo,
Algo do fim do mundo e seus sinais,
Quem sabe se o dilúvio fosse nada
E o soneto um arco-íris incoativo
Sobre o mar das consoantes e vogais.
GILBERTO MENDONÇA TELES - O poeta, advogado e professor universitário de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira, Gilberto Mendonça Teles, é formado em Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia da Universidade de Goiás e, também, bacharel em Direito na mesma universidade. Defendeu a tese de doutorado em Letras, Drummond: A Estilística da Repetição, publicada em 1970 (Ed. J. Olympio), na PUC/RS. Publicou seu primeiro livro de poesia, Alvorada, em 1955 e sua obra poética ainda inclui os livros Arte de Armar (1977), Nominais (1993) e & Cone de Sombras (1995), entre outros. Já recebeu diversos prêmios literários e teve reunida toda sua obra poética no volume Hora Aberta – Poemas Reunidos. Veja a entrevista dele no Guia de Poesia e alguns dos poemas eróticos do livro Hora Aberta.
FONTE:
TELES, Gilberto Mendonça. Hora aberta: poemas reunidos. Petrópolis: Vozes, 2002.
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segunda-feira, novembro 29, 2010
WILLIAM GARIBALDI & VERSOS DE FOGO
WILLIAM GARIBALDI & VERSOS DE FOGO – Versos de Fogo é um excelente blog editado por William Garbaldi, pseudônimo do carnavalesco e escritor Bill Lennon de Oliveira, poeta que tem participado de diversos concursos literários e foi artista selecionado para o Festival de Presépios - Rio – 2010. No blog você encontra muita poesia, blogosfera, teatro, música popular, umbanda sem preconceitos, dicas de blogs e informações interessantíssimas. O autor por ele mesmo: “[...] Recentemente conheci a fundo a Contracultura e a Poesia Marginal e muito me identifiquei com ambos os movimentos e formas de pensar! Querendo ou não sou um marginal o dia inteiro! Era, antes de conhecer... um homem da contracultura. Entendo que as pessoas confundem fogo com violência, força com covardia e coragem com inconseqüência... e por ai vão se confundindo! Mas mesmo assim não me incomodo de ser um poeta de luta e de verdades firmes, ou de verdades de fogo. Sempre me identifiquei mais com a sobrevivência do que com a morte! Mais com a volta por cima do que com a dor dos poemas de saudade e solidão! Acima de tudo acredito na Era do Sol, no Novo Mito, onde os Amores Impossíveis são possíveis, onde a felicidade da sobrevivência pode substituir a dor nublada que se arrasta na produção poética como sua marca, e especialmente que a Luz da Beleza e Harmonia pode ser um Novo Caminho de expressar a arte! Acredito que a poesia é feita de musica, imagem, mensagem, forma, cor e ritmo em uma sinergia que é a alegoria da própria Vida e sua interrelação com a Vida em si!” Confira Versos de Fogo, imperdível.
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quinta-feira, novembro 25, 2010
DAISY MARIA GONÇALVES LEITE
DAISY LEITE – A escritora, poeta, compositora e doutora potiguar Daisy Maria Gonçalves Leite, lançou recentemente o seu livro “Falando de amor”. Ela foi selecionada dentre outros autores, e sua obra foi editada pela Casa do Novo Autor Editora Ltda. Enfermeira graduada pela Escola de Enfermagem de Santos /SP março /1962, ainda aluna, iniciou o estudo da comunicação do infante através do choro, tendo, em 1964, viajado para a Suécia em busca de novos conhecimentos sobre o choro infantil, uma vez que no inicio da década de 60, a análise espectrográfica do choro já fazia parte da clinica pediátrica do Departamento de Pediatria do Hospital Karoliska, presidido pelo pesquisador e estudioso do tema, Professor John Lind, com quem manteve contato, até seu falecimento em janeiro de 1983. Licenciada em Enfermagem pela UFRN (1972), foi uma das seis fundadoras do curso de Enfermagem do Departamento de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da UFRN, onde elaborou o primeiro programa da Disciplina Enfermagem Pediátrica, para o reconhecimento do mesmo, pelo MEC./1974 Foi professora de Neonatologia, da tradicional Escola Doméstica de Natal./RN. Em 1980 idealizou, o Baby Home Ltda, centro de estudo e pesquisa do choro infantil, com equipe multiprofissional treinada na comunicação através do choro, o qual funcionou no mesmo endereço, seu consultório de puericultura. Coordenadora Técnica da Clinica Pedagógica Professor Heitor Carrilho, campo de extensão da UFRN, no atendimento a criança excepcional onde teve a oportunidade de ampliar seus estudos sobre choros anormais -1981/1986. Presidenta fundadora da Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Norte, Cadeira n° 07, com a patronesse poetisa macaibense Maria de Lourdes Cid, tendo sido a Academia registrada no Oficio do Registro Civil das Pessoas Jurídicas 2º Oficio de Notas - Ribeira Natal/ RN no dia 08 -02-2000. (permanecendo como representante legal da Entidade até o dia 21-06-2-05, segundo Certidão do 2º Ofício de Notas.). Ela recebeu recentemente o diploma e medalha Noel Rosa, , pelo centenário do seu nascimento, em Caxambú-MG, entregue no sarau da primeira quarta feira do mês de outubro, no Sarauterapia do CRO (Conselho Regional de Odontologia), pelo presidente Dr. Rubens de Barros Azevedo. Da sua lavra o seguinte texto:
O Nascimento
por Daisy Leite
A tia Umbelina, moça solteira de 54 anos de idade, pele alva, de quase dois metros de altura e pesando uns 90 quilos, nascida no ano de 1881, falecera há quase seis meses.
Sua sobrinha, LILITA, (Luiza), que ficara com três meses de gestação, hoje completava os nove meses. Acordou sentindo as primeiras dores do parto. Nervosa chamou a mãe que dormia no quarto ao lado. – Mamãe, Mamãe, eu acho que chegou a hora. É melhor ir chamar o DIOMEDES na Cova da Onça e diga-lhe para trazer a Dona ADELAIDE.
DIOMEDES, o marido de LILITA, era um dos sócios, juntamente com o irmão, do Bar A Cova da Onça, situado à Avenida Tavares de Lira, 44 próximo ao cais do porto, no bairro da Ribeira, local de encontro de políticos e intelectuais.
A Dona ADELAIDE, uma famosa parteira, "pegou" os bebês da Ribeira por muitas décadas.
O bairro da Ribeira, nome dado pelos portugueses, no inicio do século XX, por pensarem trata-se de uma ribeira, devido ao terreno de campina alagado, ensopado e pantanoso, era o "palco" do desenrolar de toda história da família natalense.
Lá se foi LEOPOLDINA chamar o DIOMEDES, para providenciar a parteira.
Enquanto no silêncio da madrugada, portas batiam, pessoas movimentavam-se pela casa, e ouviam-se vozes nervosas... O papagaio de Dona Umbelina acordou sonolento no seu poleiro e começou a chamar: Dona Umbelina, Dona Umbelina e continuou: Papagaio real é de Portugal. E se perguntava: Que passa meu louro? E ele mesmo respondia: É o Rei, é o Rei que vai a caça. Toca trombeta e caixa que o Rei passa. Toca meu louro!
Às 4:10h da madrugada, enquanto ouvia-se o primeiro choro do recém-nascido, ouvia-se também o toque de trombeta e caixa que o papagaio, tão bem reproduzia.
Assim aconteceu a "solenidade" do nascimento da 2º filha do casal DIOMEDES e LUZIA (LILITA), que nasceu num dia de Sábado – dia de Nossa Senhora –, na Rua do Triunfo, 101, hoje, Rua 15 de novembro, pesando quatro quilos e medindo 52 centímetros ao nascer.
Na pia batismal da Igreja do Bom Jesus das Dores – evidências da existência desta igreja, desde 5/2/1776, – recebeu das mãos do Pe. Frederico Pastors, o nome de Daisy Maria, tendo como padrinhos Aristófanes, e sua esposa Maria do Céu Fernandes de Araújo, a primeira mulher eleita deputada no Rio Grande do Norte, Brasil e America do Sul, cujo mandato foi cassado por Getulio Vargas e Carmelita Mesquita como madrinha de apresentar.
ERA UMA VEZ... [Augusto Meyer]
Quem passa? É o Rei, é o Rei que vai à caça!
Mal filtra o luar a sombra do arvoredo.
Joãozinho, a um restolhar, treme de medo,
Maria escuta, se uma folha esvoaça...
Era uma vez um rei... jogou a taça
Ao mar, e o amargo mar guarda o segredo...
E a princesinha que cortou o dedo?
Faz muito tempo... Como a vida passa!
Era uma vez a minha infância linda
E o sonho, o susto, o vago encanto alado...
Vem a saudade e conta-me baixinho
Velhas histórias... E eu já velho ainda
Sou um Pequeno Polegar cansado
Que pára e hesita, em busca do caminho...
Nota: A minha mãe quando menina gostava de declamar e cantar e ficava deitada num banco bem embaixo do poleiro do papagaio declamando e cantando.
Aos 12 anos de idade ela foi escolhida no Grupo Escolar Augusto Severo, para saudar os pilotos do Hidroavião Jahú que posou no rio Potengi.
Eu menina adorava ouvi-la contar a “solenidade” do meu nascimento Depois de adulta resolvi pesquisar e encontrei nos versos de Augusto Meyer o inicio da “fala” do papagaio.
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quarta-feira, novembro 24, 2010
POETAS DE SANTA CATARINA: EFIGÊNIA COUTINHO
EFIGÊNIA COUTINHO
AGORA
No cálice da felicidade bebemos
A alquimia que nos contagiou.
Vivamos cientes todo este esplendor
É este é o agora que nós desejamos.
Minha alma que na tua se embala,
Entregue ao amor com realidade.
E os nossos sonhos da cor de opala,
Realizaremos em infinita fidelidade.
Buscaremos sempre ungir a nossa vida,
Neste alvo amor de sublime ventura.
Pois tu és, ó tão amada criatura,
A razão de minha felicidade sentida!
Chegou de nossa decisão, a hora,
De viver do amor derradeira emoção.
Este é tempo-espaço todo nosso Agora
E deixar fluir todo o sentir do coração.
UM MÁGICO LUGAR
Eu ando cansada de vagar
Nestes caminhos espinhosos.
São tantos horizontes
Cheios de íngremes montes!
Quero encontrar um mágico lugar
Onde nossos corações silenciosos,
Possam então serenos amanhecer
A magia de um Futurecer...
E o amor poder sentir,
Lá, onde tuas mãos eu possa segurar,
Levemente teus lábios beijar
Até o tempo deixar de existir.
Corra, corra nesta direção!
Onde o peito clama futurecido
Abasteça de sonhos o seu coração
E deixe este tempo desluzido.
Deixe que os olhos brilhem,
Os braços num abraço compartilhem
E os lábios comungam da emoção.
Corra cheio de desejos,
As vozes celestiais a escutar,
De Anjos e Querubins em solfejos,
Tão suave e perene canção...
Tirando-nos o cansaço de vagar.
Como se não tivesse corpo a alma ama.
Ama o corpo na calma que clama
Sentindo da vida a essência,
A deslumbrar na fragrância
Do amor a si contentar.
No aconchego do ninho
Num terno bem-querer a lacrar,
O sorriso vai ao céu aberto,
A sentir o aroma do ar descoberto.
E no encanto do tempo sonhado,
Vai natureza perfazendo o caminho
Com ramos de flores do sonho apaixonado!
AMANTE
Pela linha do horizonte vem,
Teu reflexo em minha mente
Domina o tempo infinitamente
Sem correria, sem saída
Com imagens aquém...
Sendo a mais ditosa das presas
Da toda emoção consentida
Nesta emboscada de desejos,
Na espera da teia dos teus loucos beijos,
Em maliciosas surpresas!...
Neste ardor do amor afim
O tempo que há de vir,
É refrigério saber-me tua amante
Neste tempo presente...
De desejos ardentes
E de bem-querer alucinante.
É dentro desta noite sorrateira
Que te envolvo em paixão manhosa
Para inquietar teu corpo com explosão
Feito á minha maneira,
Com meu cheiro de rosa
Dominada pela paixão,
Levando o Universo ao desassossego,
Porque Amor é Amor,
Que traz o gosto do pêssego,
E por ser Amor, vai conspirando
Em delírios suspirando,
E... Esquecendo os reversos,
Vão se compondo os meus versos.
O CANTO DO UIRAPURU
Ó pássaro de belo canto!
Pousa leve e dá teu recado.
Trazes pra mim o encanto
Dos beijos de meu amado?
Uirapuru do canto belo,
Quero ouvir o teu cantar.
Nele escuto o sonho que velo
De meu amor encontrar.
Uirapuru volta e pra ele diz
Que recebi o seu recado.
Que ele deixou muito feliz
Meu coração enamorado.
Mando-lhe festivos beijos
Para os seus lábios afagar.
Vão assim cheios de desejos,
De poder lhe enamorar!...
MEU GATO
Meu gato é uma tentação,
Fez em meu coração seu ninho
Deixando-me sentir toda magia
Do seu amor em plena energia,
Aplacando minha sofreguidão,
Ele vem sempre de mansinho,
Com seu olhar me encantando,
Com seus pelos macios me acarinhando,
Arrancando de mim muito tesão.
Que gato mais manhoso!
Se em seu trabalho se estressa,
Comigo muda de opinião,
Pois eu vou mais que depressa,
Faço-lhe um carinho bem gostoso,
Sossegando o seu coração.
Assim tudo vira uma folia,
Quando o meu gatinho chega,
Em meu colo ele se aconchega
E de afagos me extasia!
Ó meu Gatinho!...
Como eu adoro seu carinho!
O PERFUME DO PRAZER
Do meu corpo, pelo sol dourado,
Exala o perfume que te dá prazer.
Da gruta, o delírio sendo ofertado,
Sem exaustão segue o amanhecer.
Nessa libido toda entrega se funde,
Num querer supremo de nossa paixão
Para que a fenda de amor se inunde,
Festejando o gozo com rara emoção.
Sentindo o cheiro do teu corpo grito
Insaciável, ao teus carinhos clamo.
No meu desejo, o teu desejo excito,
Para te receber na Gruta, eu te chamo.
Entre noite e dia nosso tempo para,
Num universo de delírios inundado.
E meu corpo que no gozo dispara,
Recebe teu corpo do néctar perfumado.
ENAMORADO LUAR
Eu e o Luar companheiro,
Com uma taça de vinho
Entre o véu da noite a sonhar... Caminho.
Assenhorear-se do meu ser por inteiro,
Uma brisa suave me acompanha
E pela via láctea, subo ao alto da montanha.
Um silêncio cintilante me comove
E danço feliz a brindar
Sozinha sob a tênue luz do luar,
Que amável de afagos me envolve.
Vagando, vou pelos sonhos prateados,
Ao som de maviosos cânticos angelicais
Que por harpas são executados,
Enterneço minha alma apaixonada,
Banhada de multicores cristais.
As nuvens por um instante recobrem a lua...
Minha alma busca a tua,
Neste momento sublime, sinto-me amada.
Os pensamentos me enlevam
A lua torna a sorrir, no céu azulado,
E com seus raios me levam
A beijar na taça, aquele luar enamorado.
MAGIA DA TARDE
Na fenda aberta, a magia faz morada,
Para encantar com sua beleza singular.
Onde o crente bebe da deusa o néctar,
Dos lábios quentes a porção nacarada.
Numa entrega sem medo do proibido,
Rasga a fenda que recebe o seu gozo
Vai prenhe de todo seu libido...
Buscar naquele feitiço o mais gostoso.
E o sossego do homem foi embora,
Ao provar da deusa o sabor da vida.
Num encanto que lhe clama toda hora,
Àquela mágica beleza revelada e exibida.
A fenda se fez assim, em dimensão,
Para aclopar seu desejo fluentemente,
Lá ele derrama seu tesouro com emoção,
Neste paraíso que se oferta docimente.
BILHETE
Se é verdade que queres me amar
Ama-me suave como passarinho,
Beija-me sempre com muito carinho
Assim como as estrelas beijam o luar.
Ama-me assim bem devagarzinho
Deixando nosso sonho embalar,
Todo o carinho que vamos trocar
Buscando da felicidade, o caminho.
Fale-me de um amor leal, sincero
Bordando todas as cores do Luar,
Fazendo-me em teus afagos flutuar,
Pois é assim, meiga que eu te quero.
Quero-te com formosura te abraçar
A dançar em acordes de um bolero
E entre infinita carícias eu te espero,
Para no sempre o nosso amor celebrar.!
LEITO DE AMOR
No branco leito de amor,
Onde os corpos desejosos
Fluem da paixão todo fulgor
Numa entrega abissal,
Nossos lábios apetitosos
Selam um amor imortal.
E num gozo frenesim,
As promessas vão se cumprindo
Num deleite de orgasmos
Sobre o lençol de alvo cetim...
Numa rendição sem pudor
Teu corpo, vai no meu se fundindo,
Agitando... Com entusiasmo,
Soltando na pele, calor aprazador.
E no tempo, nossos momentos,
Eternizam-se em fruição
Fazendo dos sentimentos
Coloridas ondas luzentes,
Levando os dois amantes,
Aos píncaros da satisfação!
NOVA MATIZ
Dentre aroma de flores, a relembrança
Da ultima chama em sinuosa dança...
Paixão a razão de todo encantamento
Num adejo por sonhos que acalento!...
Mas tudo ficou assim tão distante...
Perdeu a cor, aquele sonho vagante,
Levando a ventura com seus matizes
E apagando da paisagem, o arco-íris!
E assim tão de repente, tudo emudeceu...
O sonho presente, no passado se perdeu.
O futuro renascerá, portanto, de nova raiz,
Deixando a alma leve com outro matiz...
Se tudo ficou tão distante e impreciso...
Que reviva sempre sem pranto, o riso
Dos lábios a se unirem em souvenir
Num só canto de faustoso sentir!...
FRENESI
Quando os teus olhos, fitei,
Mundos de desejos e loucura...
Senti bater descompassado
Meu coração, em infinda formosura.
Todo o meu ser, entreguei
Num total frenesi afogueado...
Uma explosão de orbes
Entre o céu a terra, cegou-me
Com tanta sedução, aos astros elevou-me!
Há! Que esplendor, sublime fulgor!
Templos, altares, louvor...
Mundos de sentimentos e magias
Que belas Ilusões divinais. Sinfonias!
Celestes aromas vertem do corpo.
Neste altar dos deuses
Meu destino será mais belo.
Num conto de fadas me encanto...
Dourado sonho canto.
Ainda te tenho pelas noites minhas
Nas cinco pontas duma estrela brilhante,
São teus raios ainda a iluminar meu estro!
E neste supremo instante,
Em poema, este arrebatamento eu selo!
A VELHA BICICLETA
Da velha bicicleta lembrando,
Em seu selim, bem acomodada,
Na pontinha dos pés ia pedalando,
Na magia da manhã enamorada.
Hoje só tenho terna lembrança
Dessa viagem ao tempo de criança,
Quando pedalava a consentir
Ir além, para emoções sentir!
Da bicicleta, as rodas se partiram
Vi aquele mundo ir sumindo...
Nos pedais do passado fugiram,
E só deixaram o relembrar lindo.
Eu quero de novo sonhar e sentir,
Ao tempo da velha bicicleta reviver.
Que outras emoções venham surgir,
Para um novo deleite eu viver...
FANTASIA OU REALIDADE
Será realidade ou Fantasia
Quando você naquele dia,
Chegou dizendo ser a felicidade
E levou minha alma em liberdade?
Fantasia ou realidade,
Em versos loucos sussurrados
Escutei você tecendo a verdade
De minhas noites e dias velados.
Realidade e fantasia,
Que nos embebem por noite e dia
Na ilusão de fogo ardemos
E os sonhos do amanhã tecemos.
Fantasia ou realidade,
Temos a liberdade para amar
Sonhando de viver toda vontade
E no alvorecer, do sonho não acordar!
Realidade na Fantasia,
Buscando agarrar toda alegria
Da palavra dentro do sonho,
Que em versos de amor componho.
Fantasia ou realidade,
Que bordam com fios encantados
Os sonhos de mágica felicidade
Deixando-nos eternos enamorados!
TERNA CANÇÃO
Paira no ar uma suave canção,
É um sussurrar de lembranças
Gotejando na noite em solidão,
Dentre as nuvens de fumaças.
Murmura o coração de saudade
A dividir-se com arrebatadora paixão,
Perfazendo o mundo de felicidade
Na sutileza d'alma com emoção.
Mergulho na certeza do amor
Entregando a alma aos sentimentos.
Vivendo da vida todo o candor,
Surgido em cada doce momento.
E na doçura da canção que escuto,
Vai esvaindo-se a minha solidão.
Revestindo-me de um amor absoluto,
Fazendo feliz todo meu ser em elação.
PRESSÁGIO
Vou me despindo de corpo e alma
numa entrega plena, cheia...
sem sequer dar conta que
respirava, pois o corpo tomou
proporções transcendentais
duma natureza superior
indo ao mais alto do universo
e, deitou ao manto celeste, em
meio de estrelas e o garboso luar
num bailado cadênciado entre esferas
duma transcrição de tudo que existe
acima e abaixo dos meus olhos
o ar que respiro, me cinge,
abraça, me mantém entusiástica...
Acima, profecias, oráculos, respostas
e alimento para corpo e alma,
forças ocultas que regem o destino,
sem tino ou desatino, eu atino!...
EFIGÊNIA COUTINHO – A poeta carioca Efigênia Coutinho é formada em Artes, especialista em Tapeçaria de Tear, buscando a raiz indígena e sua história natural. Ela hoje reside no estado de Santa Catarina e já realizou diversas exposições e faz parte da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores – AVSPE. Também edita o seu belíssimo blog Efigênia Coutinho e Sua Poesia.
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Poetas de Santa Catarina.
domingo, novembro 14, 2010
POETAS DE SÃO PAULO: CLAUDIA PASTORE
CLAUDIA PASTORE
OS MEUS OLHOS DO MEU PAI
Recebi dos teus olhos
Ternos
Toda beleza
Pra se viver
Recebi dos teus olhos
Sábios
Toda coragem
Para só ser
Recebi dos teus olhos
Luz
O mapa das ruas
Por onde devo caminhar
Dos teus olhos
Amendoados
Castanhos e bem feitos
A cor da terra
E os desígnios
De amar
Recebi dos teus olhos
Mortos
Toda saudade
Que infinitamente
Terei que suportar.
CHAMA
Tenho as armas
De um corpo
Forte e bom
Para trazer-te
Sempre
Farto e fértil
Para perto
De mim
Tenho as armas
Marcadas
Fortes, definidas;
Mamas, ancas e pernas...
Domino este jogo,
Esta dança etérea,
Esta guerra ancestral.
Tenho a chama
Primeira
De todos os tempos
Que se chama você,
Que se chama
Você...
POESIA ABSTRATA
Pescar saudades no escuro do quarto é garimpar você no mormaço da minha mente. É sublimar-se em águas correntes, ondulantes, duradouras. Águas do corpo humano.
Flagrar verdades que me maltratam é recapitular o meu mundo, tão antigo quanto todos os mundos.
Lembrar das coisas, de sub-títulos, obras escritas, palavras de mestres ou de prolixos.... Lembrar teu rosto...
Despedaçado dentro de mim.
GUERNICA
Lutar para estar
Aqui,
Porque é aqui
Que a chuva
Esfria
A lâmpada
De mercúrio
E o pneu
Roça o
Asfalto
Molhado
Fazendo barulho.
Em dimensões menores
Eu vejo o mais fundo:
Sou gigante
Para mim mesma.
Amores da vida
Da minha vida inteira
Enterram meus pés
No chão,
Explodem
Minha cabeça-coração,
Cicatrizam
Minhas feridas.
Guernica
É a paisagem
Então vista.
ENCONTRO
Vem,
Vim te buscar,
Vem,
Vim te querer,
Vem...
Não vim pra te entender,
Vem...
Não vim pra te saber,
Vem,
Por isso vim.
Vim,
Por isso vem.
EQUÍVOCO
A vejo
Sereia
De todos os mares
Mal sabia
A mãe
Rainha e
Sub versiva
De lares
A vejo
Princesa
De reinos aquáticos
Mal sabia
A proletária
Arroz e feijão
Em noites solitárias
LUA: SUBSTANTIVO FEMININO SINGULAR NORMAL
A lua é mulher.
Muda de posição,
De cor, de nome...
Uma noite aparece.
Outra não...
Possui diversas facetas.
Tanto é que
A lua é mulher,
Que é do signo de Leão:
Menina bonita
Dos olhos espertos.
Aquela que brilha
Sozinha, altiva e vaidosa!
É certo.
A lua é mulher.
Daqui,
Aglutina-se com o céu
Quando as nuvens
A encobrem
Ou quando foge
Em lua-de-mel
Sabe-se lá com quem.
De lá,
Seu coração
É apenas um
Queijo mineiro
No escuro
De um forno
Microondas.
PESSOA
Navegas, que eu sei,
Entre livros e pedras
Trazidas de longe,
Por deuses, profetas...
Navegas por mares,
Por rios sinuosos
Que antes, tão calmos,
E agora nervosos...
Navegas, eu sei,
E o sei muito bem !
Dos livros às pernas e
Por entre as pernas...
Mergulhas profundo,
Explorando impune,
Odores perfumes,
De um outro refúgio,
De um Outro mundo...
Navegas de dia
Mas sonhas à noite,
Quando navegar ou viver
Já não é mais preciso,
Já não é mais o ato,
Já não é mais o ser.
REFLEXO
Deixa o teu cabelo
Mais comprido
E descobre
Que o mundo
É dos vermelhos.
Pega o primeiro ônibus
Que chegar
E segue
Rabiscando
Os teus caminhos.
Toma um banho
Tira o ranço
Gargareja
E lança fora
O que te desgosta.
Te livra do cinto
Do tênis pesado,
Do abrigo amassado
E veste alguma coisa
Light, meio midnight.
Pega-te nos braços
Levanta-te bem alto
E lança-te longe,
No absurdo do acaso.
Deuxa o teu cabelo
Mais vermelho
E descobre
Todo apelo
Que te come.
DOIS POEMAS DA SÉRIE POEMETOS MINEIROS
PARA VIOLA DE UMA CORDA SÓ
I
As histórias
Da minha vida
Inseridas
Na parede,
Assim
Como o trem
Que partiu
Sem os olhos
Teus
II
Em terra estranha
Onde nasce gente feliz,
Difícil mesmo
É de avistar
Aqueles olhos
De frente,
Em meio
A tanta miséria...
ABSURDO DO ACASO
Café, cigarro
Trago, um malho
Bota um mentex
Na boca
E desboca
Na Avenida Brasil,
Rumo ao Parque do Ibirapuera.
Já era o cara
Que te consumiu,
Já era o caso
Que você criou.
Vê se te cria
E te consome
Fora das horas
Que você conhece.
Submete-se no absurdo
Do acaso
Permitido por você,
Por você apenas permitido
E procura
Algo mais que
Não somente um AB-SURDO.
Pára de fumar
Ou fuma pra valer,
Tosse a tua tosse de protesto,
Atesta-te o atestado de loucura
E fica pensando que é são.
Em São Paulo, São Vicente
Já morreu na Baixada
Que afundou.
Principia pela própria vida
Que antes,
Coisa natural
E hoje,
Elemento essencial.
TRIBUTO ÀS MULHERES
Mulheres lavam a roupa suja
Em casa.
Satisfazem seus desejos
De mulheres sobre-humanas
Na rua.
Mulheres lavam,
Mulheres passam,
Mulheres querem
O tempo inteiro.
Mulheres fazem
Mulheres vão;
Estão em todos
Os lugares
Onde mulheres
Possam estar
Ou não.
Mulheres bebem,
Mulheres fumam,
Fazem ginástica
Ou natação,
Não fazem nada.
Vivem do nada,
Buscam o belo
Não criam nada.
Mulheres tem contração
Cólica, menstruação,
Desejam filhos,
Evitam tê-los...
Gostam de sexo
E de batom.
Mulheres somem,
Fogem de casa,
Caem no tédio,
Na depressão;
Mulheres amam.
Os homens
Não.
CLAUDIA PASTORE – A escritora, professora e pesquisadora paulista Claudia Pastore, cursou Letras na PUC/SP, fez mestrado em Comunicação e Semiótica, em 1997 e é doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo). Ela participou da antologia poética: Saciedade dos Poetas Vivos, Blocos, RJ, 1996; e publicou Quem Sente Somos Nós (poesia), Scortecci, SP, 2003.
FONTES:
PASTORE, Claudia. Caderno de Poesias — Claudia Pastore. Revista Crioula – nº 3 – maio de 2008
MICCOLIS, Leila; FAUSTINO, Urhacy. Saciedade dos poetas vivos. Vol. XII. Rio de Janeiro: Blocos, s/d.
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AGENDA
quinta-feira, novembro 04, 2010
TUDO QUE HÁ DE ANINHA MONTEIRO: 10 ANOS!!!
ANA MONTEIRO & TUDO QUE HÁ – Comemorando seus 10 anos de carreira, a colunista social alagoana Ana Monteiro mantém o badaladíssimo blog Tudo Que Há e no jornal impresso alagoano Primeira Edição, com tudo que se passa em Alagoas e no Nordeste. Seu trabalho representativo é fruto das viagens que realiza há mais de 10 anos por todo Brasil, em busca de tudo o que há de melhor na noite e na vida da sociedade. Parabens, Aninha, pelos 10 anos!!! Confira, imperdível.
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