quinta-feira, agosto 21, 2008

POETAS DE SANTA CATARINA



Foto: Tchello d´Barros.

OTTO EDUARDO GONÇALVES

O POETA É PIMENTA DO PLANETA MALAGUETA

Poucos são no mundo
Aqueles que provam do poeta
Pra alguns, ele é difícil de engolir
Ditadores odeiam gente que pensa
A mulher que prova do poeta, queima
Ela é chama temerária
E ela estará sujeita
À intermitências de temperatura
O poeta é um ladrão
Rouba com os sentidos
Transforma tudo em palavras
Nem um pouco egoísta
Devolve tudo em poesia
Sendo pimenta o poeta
Ele é tempero a ser notado
Queima a partir da língua
Portanto prove com cuidado
O poeta é um ser amado
Tem nas mãos uma arma
Carregada de tinta
Forte ou fraco
Traz nos ombros o peso da palavra
O poeta é pimenta do planeta Malagueta.

SIMBIOSE

Uma praia de consumi com uma humanidade de areia
Uma nuvem de pedra com uma estátua passageira
Uma flor de aço com uma lamina de macieira
Uma aranha evoluída com uma sociedade caranguejeira
Um esqueleto de Tróia com um cavalo humano
Um coração mediterrâneo com um mar oprimido
Uma geração de vidro com um resistente jarro de elite
Um segredo de maçã com uma torta de estado
Uma latrina moscada com uma noz vomitada
Uma federação de xadrez com um tabuleiro de loucos
Uma visão fora de ritmo com um hino míope
Uma bandeira mórbida com uma realidade arriada
Um camelo da Casa Branca com um membro do deserto
Um sorriso de guerra com um grito silencioso
Uma estrela deprimente com uma era cadente
Uma solução gótica com uma arquitetura utópica
Uma farda assustada com uma criança camuflada
Uma bomba mundial com uma paz nuclear.

THE VERVE LUCKY MAN

Como marionete sem fios
Tantas vidas tenho vivido
Rolando pelas águas dos rios
Muitas mortes tenho sofrido
À noite em mim me deito
Tal como doido varrido
Cravo-me as unhas no peito
De tanta dor amortecido
Arranco a carne pulsante
Muda como um sino derretido
Ela escorre fulminante
Pelo pulso estremecido
O peito mudo não me basta
Quero-me por completo esvaído
Mergulhar pra fora desta casta
Pelo mar ser engolido
Pois nãp é breve a dor ser poeta
Carregar nos ombros um poema eterno
E tê-lo as vezes como meta
Dói mais que o tombo até o inferno
Meio à queda quente, afônica,
Como arde diz o oco
Com ar de orquestra sinfônica
Não te deixe tratar como boneco
Corre pra fora da tua mente
Livra-te desta peste
Corre nu, todo indecente
Até voltar a ser silvestre.

OTTO EDUARDO GONÇALVES – O poeta, professor e roqueiro viajado catarinense Otto Eduardo Gonçalves é um cara da porra! Ou como bem diz o nosso amigo Tchello d´Barros: “O Otto existe?” Ao lado do poeta Jairo Martins, nós tomamos, cantamos, mangamos, poetamos e engolimos a noite de Blumenau no meio de umas e muitas. Um sarau muito doido e inesquecível. Hoje Otto mora num barco não sei que mar, se na Inglaterra, na Austrália e numa esquina dessas das águas de Santa Catarina. Por aí.

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