segunda-feira, fevereiro 11, 2013

O CAUDAL DO UNA DE PELÓPIDAS SOARES



O CAUDAL DO UNA DE PELÓPIDAS SOARES – Este artigo foi publicado na seção Opinião, do Diário de Pernambuco, mencionado no meu texto do Guia de Poesia. Não tenho a data da publicação. E atendendo solicitação da filha do escritor, a poeta Bartyra Soares, reproduzo o texto na íntegra.


O CAUDAL DO UNA


Pelópídas Soares


Unindo as suas águas à terra e ao homem, este rio Una une-se também à bacia do Vale do Pirangi, seu afluente e une, numa interação da paisagem humana e fisiográfica, o Agreste, a Mata e o Litoral, no sul do Estado. Às vezes se contorce beirando as fronteiras do norte das Alagoas. Em tempo, porem, recua, serpeia e novamente se estira dentro dos nossos limites, preservando a sua pernambucanidade, que é a sua identidade.

Nenhuma queda dágua importante registra. As setenta e cinco cachoeiras do seu curso, servem apenas para encrespar a sua correnteza e precipitar irritado o seu protesto contra a tragédia da gente nordestina que estampa as suas águas.

É uma corrente geradora de impetuosidade. Das suas margens, dos seus campos, das suas cidades e vilas, gerações de homens descem em torrentes sucessivas, à semelhança das suas águas, que nunca secam, como outra esteira líquida, para desaguar nas cidades grandes, gritar e ser ouvidos. Os rios carregam o destino de afogarem-se no mar. Alguns dos homens das suas margens também tem um destino comum: a cidade grande. Os das margens do Una carregam  uma legenda de vida para a posteridade.

Estes descem de São Bento do Una, de Altinho, Bonito, Canhotinho, Quipapá,  São Benedito do Sul, Maraial, Catende, Belém de Maria, Palmares, Água Preta, Barreiros e São José da Coroa Grande. São os Gilvan Lemos, os Hermilo Borba Filho, os Ascenso Ferreira, os Valença: Alceu, Jório, Lívio, Geraldo, Clávio; os Gueiros, à frente Nehemias e Eraldo; chamam-se José Maria Cerqueira, Waldemar e Alcides Lopes; Aristóteles Soares, Gasparino Damata, Bartyra Soares, Nelson Silva, Darel Valença, Murilo Lagreca, Bajado, Telles Junior, Douglas Marques, Jaques Gonçalves, Osmario Teles, Pedro Afonso de Medeiros, Ruy Ayres Bello, Júlio Bello, Estácio Coimbra, os irmãos Antiógenes e Nelson Chaves, Juhareyz Correya, Jether Peixoto, Odete Vasconcelos, Costa Porto, Manuel Lubambo, Jordão Emereciano, Jessiva Sabino, Margarida Mesquita, Valença Junior, Augusto Meyer, Garibalde Otavio, Raimundo Alves de Souza que se dizia pai de Vinicius de Morais; João Costa, Jocelino Ribeiro, as irmãs Costa Lopes, Eunice e Eulina; Manoel Martins Junior, os Griz, à frente Jayme; Letacio e Jaime Montenegro, Barros de Carvalho, Lelé Correa, Felinho, Nelson Ferreira, Luiz Alberto Machado e tantos outros, ficcionistas, poetas, artistas plásticos, jornalistas, compositores, músicos, atores, teatrólogos, ensaístas, políticos, que fazem a grandeza dessa região, no Estado e no País.

Homens que levam para os grandes centros culturais o espelho do rio Una e dos seus afluentes – a agressividade dos aveloses, a poética dos canaviais e os acenos finais dos coqueirais, antes que as suas águas barrentas dos mangues de Várzea do Una vá tingir o verdazulado do Atlântico. É Pernambuco na sua essencialidade. Tanto que, se um dia, alguma coisa mudar em Pernambuco, virá das margens deste rio Una.




sábado, janeiro 05, 2013

NATANAEL LIMA JUNIOR À ESPERA DO ÚLTIMO GIRASSOL E OUTROS POEMAS




NATANAEL LIMA JUNIOR À ESPERA DO ÚLTIMO GIRASSOL E OUTROS POEMAS – Ao ler o Último Girassol do Natanael Lima Júnior detectei muitas afinidades: eu me via em cada verso dos seus poemas, como no meu texto O sol nasce para todos.
Tudo me chamou a atenção no livro. Primeiro pela carga simbólica do girassol com seu heliotropismo, notadamente a partir das expressões ameríndias como da deidade inca, também da imortalidade chinesa e das mais variadas invocações místicas e poéticas.
Além de pernambucano, também iniciou como eu em 1982, publicando seu primeiro livro. É que pelas mãos do Juareiz Correya na coordenação da Nordestal Editora, publiquei em 1982 o meu primeiro livro e, em 1983, publiquei meu segundo livro nas Edições Pirata, pelas mãos do Jaci Bezerra. Quer dizer: circulamos pelas mesmas amizades no Recife, sem que nos conhecêssemos pessoalmente.
As afinidades se tornaram mais agudas com seus versos de esperança, persistência, perseverança, solidão, companheirismo, como se tivéssemos a mesma preocupação: a do compromisso com o nosso tempo e a nossa terra, como eu dissera num texto inaugural da primeira publicação das Edições Bagaço. E eu me vi envolvido emotiva e solidariamente com suas perspectivas e cometimentos poéticos. Parabéns, Natanael.
Conheci mesmo o autor pela internet quando ele passou a editar o espetacular blog Domingo com Poesia, acompanhando desde 2011 a publicação de excelentes textos e divulgando eventos e realizações.
Só pude conhecê-lo pessoalmente durante as festividades da III Flimar, em Marechal Deodoro, Alagoas, quando vi de perto a grandiosa pessoa e ótimo livro que se encontra muito bem expressado nas palavras da apresentação do escritor e professor da UFPE, Douglas Menezes, no prefácio do escritor e critico literário Luiz Carlos Monteiro e nos depoimentos do poeta e médico José Luiz Melo, do poeta e editor Juareiz Correya e da doutoranda de Évora, Doralice Santana. Melhor que eu apenas falar do livro é destacar alguns dos seus poemas que merecem a atenção e o aplauso de todos.


AINDA BATEM NOSSOS CORAÇÕES

Sim, poeta, é chegado o tempo de recomeçar
É chado o tempo de nos unir
Voz a voz
Sonho a sonho
Poema a poema.

Sim, poeta, é chado o momento de navegar
(“navegar é preciso”)
E embalar nossos sonhos
Numa canção fraternal
Aberta ao sol e as manhãs.

Sim, poeta, é chado à hora
(“viver não é preciso”)
Nada mais nos acrescenta
Tudo mais nos limita.

E para não nos esquecermos,
Ainda batem nossos corações.

EXALTAÇÃO À ROSA DE PURÍSSIMA BELEZA

Meus versos, pobres versos
Uma canção singela a ti
Lume de estrelas, sol radiante de esplendor
Harmonia, encanto, encarnação do amor
Esperança, coragem, vida gerando vida
Rosa de puríssima beleza, mãe, companheira, mulher.

METÁFORA

O poeta excita
O orgasmo da manhã
E transa com a terra
E o manguezal.

O poeta traça a sua sina
E provoca alterações
No curso provinciano das águas.

O poeta é que põe
O sonho em transe.

PREMONIÇÃO

A cidade aflita deixa existir:
O caos, o medo, o pânico
Em mim.

O medo prometeu
Embora (ainda) acorrentado
Transgredir o fim.

A RUA E A CASA

A rua e a casa interagem
E se completam
Num ciclo interminável
De sonhos e emoções.

A rua limita a casa
A casa equilibra a rua.

A rua transgride
A casa transforma.

QUEM VAI CONTER A VIDA

Quem vai conter a vida
Se é sutilíssimo
O seu poema
Em cada amanhecer?

Aqui ninguém é dor
Ninguém passa a limpo o tempo
E o excesso é a conta da vida

Em nós há primaveras
E manhãs insuladas

Ninguém há de conter
A vida transitória.

ELEGIA ÀS COISAS QUE FAÇO

No poema que me traço
Ameaço e abraço
Torturo e afago
Às vezes me faço místico
E às vezes me faço louco

Às vezes me faço coisas
Restos
Migalhas
Lembranças

Às vezes as coisas fazem
Renascem
Brotam
Ressurgem

No poema que me traço
Eternamente me busco
Passo a passo
Frente a frente
Lentamente

No poema que me traço
Todas as coisas
Um dia existirão

EFÊMEROS

Efêmeros,
O sentido perdeu o sentido
E a vista não avista
Além do vasto.


NATANAEL LIMA JUNIOR – É pernambucano do Cabo de Santo Agostinho, cidade da região metropolitana do Recife e radicado em Jaboatão dos Guararapes. Membro da Academia de Estudos Literários e Linguisticos de Anapoles (GO) e da Academia Cabense de Letras (PE), é autor dos livros de poesia Clarear (Pirata, 1982), Universo dos meus versos (Grumete, 983), Folhas poéticas (Grumete, 1985) e À espera do último girassol & outros poemas (Bagaço, 2011). Ele também edita o blog Domingo Com Poesia.