sexta-feira, fevereiro 29, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Imagem: Pôr do sol em Palmares, Luiz Alberto Machado.

CANTANDO ÀS MARGENS DO UNA
Para Tininho (memória) & Santa

Luiz Alberto Machado

Estou aqui à margem do mundo e dos sentidos
No meio de um verso anímico de Celina Holanda que pousa na varanda do meu peito
Estou aqui com todas as dores do mundo na varanda da alma no meio do vento que vem do Una no horizonte da tarde de junho no sol de câncer
Estou aqui com a cara pra vida sem relógio ou ampulheta, alumbrado ou quase com as palmeiras das rotas crepusculares que sou eu incólume sempre no coração
Estou aqui com a folia das crianças que sobem as côncavas e íngremes tardes de Santo Antonio para mirar no cruzeiro toda longitude do tapete mágico e a anatomia selvagem da cidade escrava do pó da cana e da mata
Estou aqui como se estivesse no meio dos pantanais da sorte onde a caiana me dá o troco da vida açucarada quando o sangue é suor que lava o corpo nos espelhos anis suspensos que o bueiro da usina toca.
Estou aqui na fumaça que sai com a nódoa execrável da calda como um golpe estrondoso na gengiva do Una e envenena a minha e todas as vidas daqui.
Estou aqui onde o verde é o muro e coisa alguma no luar da mata no espaço vazio implacável no pardo olhar que se perde na vigília das abusões dos morcegos da vida provinciana.
Estou aqui onde os sonhos escapam pelas brechas das casas alcançando o azul com promessas de sopa, xerém, pé-de-porco, mão-de-vaca, carne-de-sol, feijão verde e fome das sedes de sempre.
Estou aqui no mormaço com seus timbres suaves instaurados pelo sol dos ambulantes de deus que vivem na sesta contumaz, piongos insones debruçados sobre os sonhos de catavento.
Estou aqui e percebo a fuga que aduba a moldura da fatalidade presente porque pelas ruas da minha cidade eu vou voluntariamente vivo e às vezes fujo num vôo que se despenca da minha liberdade e só muito depois volto para minha cidade tapando os ouvidos, mãos na cabeça, peito aberto.
Estou aqui sem flores nem presentes, só com meu riso anêmico e o meu aceno de já voltei e voltarei sempre que puder só com meu gesto telúrico, pálin!
Estou aqui me certificando das promessas que rangem na guilhotina do tempo, furando o alambrado do poder quando meu olho cheio de graxa e óleo vem de São Bento e desce para a Várzea de São José com a cerca grande no Rio Formoso para limpar a sina, o lodo e a podridão.
Estou aqui neste espaço que é o descaso dos homens de nada, maiores que nada, menores que o próprio tamanho e que não sabem a voz pra cantar que lá vem um verso lá da banda de Barreiros, lá onde o vento faz a curva pra voltar. O vento traz Odete Vasconcelos, Odete, oh, Odete pr´eu poder admirar sua negrice, seu amor de companheira porque odeteme sonho, odeteamo, noitedia luzear por isso eu só queria tocar violoncelo para no meio um de improviso noite Bach das sinfonias de bar fazer um preludinho pra Odente Vasconcelos.
Estou aqui sem relógio ou ampulheta, alumbrado ou quase, curtindo as paragens do assobio imenso do Una a me dizer hermilamente: “Você só não vê a alma porque está escondida”.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

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PARA VIVER O PERSONAGEM DO HOMEM
A INTROMISSÃO DO VERBO
VAREJO SOTIDO

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

POETAS CEARENSES



DANIEL MAZZA MATOS

ARTESÃ

No interior do Ceará, Maria José da Luz
Filha da mãe ressequida,
Nasceu ressequida
E perdeu a luz dos olhos
Quando os seus olhos de criança
Ainda não haviam provado o gosto pleno
Da luz.
Da lua, artesã, esculpe na madeira:
Lima, corta, desbasta, enforma.
Os dedos que enxergam, trabalham.
Os dedos que enxergam, trabalha,
Dão luz a escultura de madeira,
Golfinhos em salto, os corpos em arco,
Tão perfeitos, quase-vivos: não parecem ter saído das mãos,
Mas pescados nas redes de suas lembranças.
Do mar...
Quando pequena acompanhava o pai, da jangada
Via golfinhos brincalhões
Aos saltos
Rodopios
Os corpos em arco
Mergulhado no azul das suas lembranças.

A CRUZ E A FORCA

É o silêncio que não cala as verdades,
E o verbo que oscula as mentiras.
É o silêncio que se deixa enlaçar,
E o verbo que se colga livremente.
É o silêncio que pede o silêncio,
E o verbo que vende o verbo.
É o silêncio que é necessário,
E o verbo a última das instâncias.
É o verbo calado na forca,
E o silêncio altissonante da cruz.

CALÚNIA

A língua é uma adaga
No meio dos dentes.
É doce o gosto
Da salsa palavra.
É acre o hálito
Da falsa palavra.
A palavra da alma
É afiada navalha.
Afiada palavra
A palavra atassalha.
Afiada palavra
Palavra-punhal.
A palavra da alma
Sonoro arsenal.
O fogo do ódio
Cresce e respira.
A ira gasosa
Na alma-fornalha.
O fogo do ódio
Na palavra-palha.

REMORSO

Nos vinhedos da memória
Colhidas e pisadas
As lembranças vermelhas.
As sobras do vinhaço
Renascem nos vinhedos:
Das lembranças vêm lembranças.
A culpa amarga enche
O cálice do coração
Com remorso tinto.

A NATUREZA DA CULPA

Há um Paul na memória
De onde recende o cheiro
Ruim das lembranças podres.
Denso é o cipoal dos remorsos
A esganar a alma plantada
Na lama e que planta a lama.
De permeio à terra impura
Nutrem a alma-lama as
Espessas raízes da culpa.

DANIEL MAZZA MATOS – O poeta e médico cearense Daniel Mazza Matos é especialista em hematologia e poeta autor dos livros “Fim de Tarde” e “A cruz e a forca”, este último ganhador do X Prêmio Ideal Clube de Literatura.

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DANIEL MAZZA MATOS
GUIA DE POESIA
VAREJO SORTIDO

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

A INTROMISSÃO DO VERBO



MINHA VOZ

Minha voz é a coragem de amar no ultraje dos desencontros.
E eu sou navio com rota esquecida e naufrágios muitos.
Quando o nublado olhar pousa em meu rio
É pressagio que paira no ventre de paixão.
Quando minha vez é torrente de dor no exagero sombrio de uma canção, não é nada, é tempestade que passou e deixou danos.
Quando minha voz é a coragem de amar,
Não é a sombra de um vendaval.
É a sujeito de um eterno pavio que aceso nunca apagará.

UAKTI

Deste corpo índio melodias nuas nos ventos das mulheres e das paixões. Um destino mágico das dulcíssonas flautas. E toda ribalta na mística da palmeira, a tríade verdadeira para acalentar um coração.

JOÃO

De ser-se homem João amou.
Como outro qualquer, nunca.
Mas, joãomente.
Hermético. Humílimo. Telúrico.
Com o braço de fibra
E a canção singela da alma.
João não foi ninguém
(quase que por sina Rapunzel)
foi vivo.

EM MIM

Estou com o sentido do mundo.
Tudo está em mim querendo explodir.
Já não tenho nada meu em mim,
“sou todo coração”
e observo todo o transluz que o clímax de viver emite.
Sou todos os rostos em mim.
Todos os acenos, todo enterro e toda festa.
Todo fremido e toda decepção.
E já não sigo só.
Em mim as vozes ecoam.
E a minha sombra não está abaixo do meu sapato:
Está no espetáculo da vida.

Em 1983 eu já residia em Recife quando o poeta Jaci Bezerra apadrinhou a publicação do meu segundo livro “A intromissão do verbo”, escrevendo o prefácio “O poeta define o seu caminho”: “O município pernambucano de Palmares tem gerado alguns dos nomes mais representativos da literatura brasileira. Exemplos – para ficarmos no ligar comum – são Ascenso Ferreira – altíssimo poeta que, curiosamente, durante cerca de 20 anos o descaso das editoras deixou impublicado -, e Hermilo Borba Filho, romancista que deixou uma obra marcante, além de ter sido um dos mais importantes agentes culturais que Pernambuco já abrigou. Os dois, cada um a seu modo, alcançaram sofridamente o caminho da glória. De Ascenso, sabe-se que teve que vender, ele próprio, o seu disco. Quanto a Hermilo, por ser quem foi – uma criatura incandescente de dignidade – nunca recebeu, em vida, o reconhecimento que sua obra e o seu trabalho mereceram e continuam a merecer. Houve já quem dissesse que a convivência com Hermilo, pelo modo como recebia e orientava os novos, supria a ausência de uma universidade. É possível, pelo que sabemos, Hermilo nunca negou os seus conhecimentos a ninguém. Ele orientava, estimulava, discutia idéias e emitia opiniões. Não importava a idade. Novos ou velhos, todos os que chegavam encontravam uma ampla e larga fraternidade. O poeta Juarez Correya, também de Palmares, pode tirar qualquer dúvida sobre o assunto. Juarez ou qualquer outro escritor que tenha com Hermilo convivido intimamente. Lembrando tudo isso, é que leio o poeta Luiz Alberto Machado. Palmarense que deixou Palmares, novíssimo, ele trouxe para o Recife a sua convicção e a sua fé na poesia. Seu primeiro livro “Para viver o personagem do homem”, publicado em 1982, já expressava um forte compromisso do autor com a poesia. E mais, a sua crença na poesia como instrumento de transformação do homem. Quer dizer, não se tratava de mais um poeta que tinha a poesia como uma prenda a ornamentar uma possível vocação. E, neste livro – A intromissão do verbo -, Luiz Alberto Machado reitera o seu compromisso: “e já não sigo só; em mim as vozes ecoam/ e minha sombra/ não está abaixo do meu sapato/ está no espetáculo da vida”. Já dissemos que Luiz Alberto Machado é um poeta novo. E, como acontece geralmente com os poetas novos, em quase todos os seus poemas ele se preocupa em definir a sua posição diante do mundo. Do mesmo modo, preocupa-se, como de certa forma já foi dito, em ressalta a importância da poesia (...) É evidente que a sensibilidade mais agudamente crítica terá restrições a fazer à poesia deste livro. O que é natural, uma vez que se trata de um poeta que praticamente faz sua estréia. Apesar disso, essa mesma sensibilidade reconhecerá que se encontra diante de um autor que sabe o que é poesia. E sabe fazer poesia. Pessoalmente, não tenho dúvidas quanto a isso. Por ser novo, Luiz Alberto Machado apenas inicia o seu caminho. E tenho certeza que em Palmares, no Recife ou em qualquer lugar, ele saberá abrir espaço para sua vocação. Razão porque principio a aplaudi-lo desde agora, quando “os pássaros estão voltados... estão voltando”.
O livro publico em 1983 pelas Edições Pirata, traz ilustrações do artista plástico palmarense Gilson Braga e nots da poeta Selma Villar.

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terça-feira, fevereiro 26, 2008

POETAS MARANHENSES



LILIA DINIZ

INSENSATEZ

Joguei
Moedas
No poço
E no desejo
De viver
Um minuto apenas
De um sonho mesquinho....
Acordei ferida!

DESPERTAR

Quando as vozes
Não mais forem roucas
Cortarão os céus
E calarão
O grito daqueles
Que destilam opressão.

VOLTA PRA CASA

Habita em mim
a singela casa
de minha infância

Na fartura do quintal
o limoeiro traquino
florido sempre
adoçando meus ouvidos
com os cantares diários
do passaredo em festança

O velho sabugueiro
perfuma abril em flores
curando febres
estouradas em cataporas
e alucinações
em labaredas

Lamparinas atrepadas
nas paredes de taipa
incandeiam a imensidão
dos meus olhos meninos

Sala
quarto
cozinha
abrigam o quase nada de mim

Mas é lá no terreiro
barrido todo amanhecer
pelas cuidadosas mãos de meu pai
que brinco de catar
restos de sonhos e lembranças
(...)
Retorno pra casa, pois mãe me chama, pai reclama minha ausência e um imenso vazio, uma ausência de mim vem sendo tecida em minha alma. Alma que já não se contenta em falar da sua essência. Pede mais...
Embaraçar
meus versos
no poeirão da boiada

Sujá-los
na lama perfumada
dos currais

Queimá-los
em caieiras ardentes

Mendigar olhares piedosos
às rimas que ainda não fiz
às rimas que ainda não sei fazer
e que me esperam
impacientemente
na dor da busca
de mim mesma

LUZ

Não a vejo no final do túnel
Busco-a constantemente em vão
Desgarro-me e procuro
Só encontro em mim solidão!
Sorriso - ação distante
Êxtase - somente de dor
Caminho – parto difícil
Certeza – lamento.

ARACNÍDEA

A poesia tem pernas que tecem
Com agilidade a imaginação.
Nas teias do mistério
Fisgam suas presas,
Num emaranhado de sentimentos
Às vezes imobilizadas pela dor
Fluindo com precisão
Sacia a fome do poeta
E devora os que amam não pensar
Corre por fios perfeitos
Da rede em construção.
Desafia a fragilidade
Armando um lance certeiro
Naqueles que se encantam
E se deixam seduzir
Pelas ocultas faces da palavra.

LILIA DINIZ - A poeta e atriz maranhense Lilia Diniz tem participado de várias perfomances teatrais poéticas em Congressos, Seminários e outros eventos. É membro do Proyecto Cultural Sur, movimento de intercâmbio que abriga poetas, artistas plásticos, atores e músicos das Américas. Participou do IX e do X Congresso Brasileiro de Poesia realizado em Bento Gonlaves-RS. É autora dos livros Babaçi, cedro e outras poéticas em trama e Miolo de pote da cacimba de beber. Também edita as páginas da FESTA DO COCO BABAÇU E OUTROS TRIERO acessando:
http://www.flickr.com/photos/liliadiniz/ & www.liliadiniz.zip.net

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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

POETAS DOS PALMARES



Arte: Teatro Cinema Apolo, de Ângelo Meyer.

ANTONIO VELOSO

REMORSO

Um remorso tão grande me apavora
Ao final desta vida tão inútil...
É que tudo que eu fiz, me foi tão fútil
E já não posso remediar agora.

Em vão procuro os atos bons de outrora
Numa vida que enfim seria útil
E, no entanto, ficou tão inconsútil
O tempo que perdi, que foi embora.

Os meus sonhos, amores, ilusões,
Meus trabalhos, amigos e paixões
Tudo acabou... apenas ficou isto:

Uma vida comum, ao bem perdida
A minha alma a vogar desiludida
Esquecida de tudo.... até que existo.

PALHAÇOS

Quando eu morrer, por certo, os meus parentes
Lamentarão, por mera cortesia,
Esse infausto colapso que um dia
Me levou para mundos diferentes.

Lamentarão também, indiferentes,
Meus amigos de festa e de folia,
Não faltando é bem certo, a covardia
De umas lingüinhas frias, maldizentes.

Mas, se realmente uma outra vida existe,
Se para salvação d´alma consistem
Fora do corpo o espírito vagar

Lá... bem longe, que boa gargalhada
Eu darei, vendo a triste palhaçada
Desses tristes palhaços a chorar.

ANTONIO VELOSO nasceu em Palmares (1894-1976), publicou poemas e artigos em jornais, editando poemas e livros, sendo membro do Clube de Poesia do Recife, cidade onde faleceu. Ele foi incluido na antologia Poetas dos Palmares.

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sexta-feira, fevereiro 22, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Imagem: Improvisation, do pintor expressionista russo/francês Wassily Kandinsky (1866-1944).

DEGREDO

Luiz Alberto Machado

O rio da vida, minha infância no Una.
A correnteza e os dias, a passagem do garoto.peralta
Pro adolescente perdido, pro adulto enrolado.
Hoje os tempos são outros e guardo meus segredos no rio.
Não acredito em mais nada, a menos que tudo se exploda.
Não pressinto mais nada, tomara o inopinado sempre.
Eu não sei de mais nada e só tenho uma luz às mãos
E sei que não posso deixar que apague a vela.
Os meus lábios cálidos sussurram poemas de dor.
E os meus desejos calados fazem versos de nada.
Guardo apenas algumas dores, o presente incerto e a alma do mundo.
Apenas o sol reluz esperança.
Estou só e não preciso que ninguem me comprrenda
Eu sei que não ninguém me compreende, oxalá,
E aqui me purgo. Estou nu e só.
O inferno está deste lado
E o céu inexiste na mentira de deus.
Agora são os meus e os seus segredos aqui.
Nada mais.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

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PARA VIVER O PERSONAGEM DO HOMEM
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quinta-feira, fevereiro 21, 2008

PARA VIVER O PERSONAGEM DO HOMEM



EREMITA

Meu navio a sorte inventa
E na desilusão dos sonhos
Atraca.

Era 1982 quando eu imaginava haver reunido um catatau de versos e a pressão aumentava para que eu publicasse um livro. Vinha já de anos com o prestígio de ter poemas infantis publicados no caderno semanal “Júnior” do Diário de Pernambuco e estava participando constantemente de saraus e recitais pelo meio do mundo.
Os encontros realizados durante “As noites da cultura palmarense”, capitaneada pelo amigo José Duran y Duran, forneciam incentivos que eram redobrados pela professora Jessiva Sabino e pelos colegas de colégio e de bar.
Nessa época eu já estava cursando Letras na Famasul, de malas prontas para residir no Recife e continuar o curso na FAFIRE. Andava mais voltado para a as áreas do teatro e da música, sempre apresentando uns melodramas, jograis e outras apresentações com poesia, música e teatro.
Foi quando chegou Juarez Correya e me peitou para publicar alguma coisa. Oito dias depois entreguei um volume com o título: “Uma poesia no mundo”. Eram 50 poemas adolescentes, nada de muita valia.
Juarez retornou sugerindo a mudança do título: “Para viver o personagem do homem”. Aí Ângelo Meyer fez a capa, Paulo Menezes Profeta o prefácio, o Gulú levou pruma gráfica da Universidade Federal de Pernambuco – que eu paguei numa valsa da peste - e o livro ficou pronto.
Lancei primeiro na Biblioteca Pública Fenelon Barreto, em Palmares. E, depois, na Livro 7, em Recife.
Levei algumas lapadas na lata: houve quem me aconselhasse por abandonar a literatura, rasgar meus escritos, coisas do tipo. Realmente, o volume criado durante minha adolescência, não dava lá muito cloro não. Ou melhor, não dava cloro nenhum. Possivelmente nem deveria tê-lo publicado.

A MALDIÇÃO DE NARCISO

A maldição de Narciso
Não é ver Calibã
É ver Narciso.

Foi nesse livro que publiquei um poema em homenagem ao Egberto Gismonti e que, depois, foi incluído no Jornal Caipira, edição encartada do disco “Em família”. Também “O soltador de pássaros” dedicado ao Ângelo Meyer.

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quarta-feira, fevereiro 20, 2008

POETAS DE GOIÁS



AL-CHAER

LUA ÁRABE

Não fosse este torpor
Depois
De teu corpo
Escreveria mais
Escreveria muito
Escreveria excessos
Vicio
Já escrevi demais
Ademais
Palavra é de menos
Bastava o título
Tua cor
E o silêncio.

RAÍNHA BRANCA

Das lendas árabes
O sangue
Os cantos
A poesia
A força dos guerreiros
A devoção a Allah
Esta herança
Eu te encontrei
Mulher das mil e uma noites
Fêmea dos mil e um milênios
Agora
Eu posso contar
Esta história
De oásis
Rainha Branca
Dos meus deserto
De amor árabe
De areias de pegadas de camelo
De sede de encontro
Dos tempos milenares dos cedros.

MÃOS DADAS

Onde for-em
Minhas mãos querem
Ir-mãos

DESEJO

Melhor
Me
Olhar
Te
Ver
Melhar
Molhar
Te ver
Mulher

HORIZONTE

Meu sol
Se
Poema
Nu seu
Cor
Poente

CHUVAS DE VERÂO

Tarde se abre desde
Cedo ao cio
Dos seus vales
Nesta espera molhada
Sol o pôr-do-sou
Das suas montanhas
Em alvorada
Arderei noite
A dentro de você noite
Afora
De mim
E das manhãs
De verão anunciado
Nas nossas tardes

AL-Chaer é a grafia correta do sobrenome árabe de Alberto Vilela Chaer, um mineiro radicado há anos em Goiás. Mestre em Engenharia Civil pela PUC-Rio, professor universitário, poeta publicado em diversas antologias e autor do livro “Partitura” publicado em 2006.

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terça-feira, fevereiro 19, 2008

POETAS MINEIROS



FERNANDO FÁBIO FIORESE FURTADO

PORQUE CANTAR JÁ NÃO MUDA EM MANHÃ

Porque cantar já não muda em manhã
A paisagem, nem mesmo abrevia a cena
Onde me falta, ali onde o amor acena
- decerto uma rubrica temporã,

o gesto equívoco de quem espera
aquele que na palavra demora
e, sabendo não haver olhos nem hora,
descreve a elipse que não quisera.

Porque cantar já não apura senão
O palrar do corpo, a palavra pouca
E demasiada – o nada, o nunca, o não.

Porque mesmo em festa, cantar ressalta
O que em mim recusa, recua ou apouca
Quando a palavra acusa minha falta.

BIOGRAFIA

quem
como altar ou casa
o dédalo elegeu
de nenhum deus foi refém
por buscar outra face
no chão sem algarismos
no oceano sem sintaxe

quem, consagrou os dias
ao diálogo das nuvens
e noites consumia
descarnando arcanos
com suas miragens
um herói engendrou
- lá onde finda a palavra
e a fábula principia

quem herdou as rasuras
do livro de linhagens
e soletrou-as
para tecer a biografia
os signos
em punhal traduzia

SERPENTE EMPLUMADA

Gente não morre,
Fica embaraçada
Nos cílios da grande hora.
Arrasta um nome
Com cuidados de
Quem afina instrumento.
Pernas pronúncia
Para o baile findo
Descansam nos arames.
Eia riso, rio,
O terreiro esplende,
Estamos no seu anel.
Percute o tombo
Do amor, enfim entre.
Olhai quem canta o enredo:
O embaixador
Afinou instrumento
Para um corpo discorde.

CACILDA GANFONHA

No desvestido
Os varais vagam.
Onde dependurar
O que a descoberto?
Por que cercar o corpo
Como altar ou pasto?
Um despudor detém os cílios.
Os muitos me atravessam
Como uma rua ao meio-dia.
Sílaba de lençol
Termina em hiato.

AMÉLIA, COMO GRADIVA

Como são belos os pés
Da jovem perdida na penumbra.
Como são ásperos os espíritos
Sob o sol do meio-dia.
Como são frágeis a borboleta,
O lagarto, a rosa.
Quanto demora
Para desmontar um fantasma?

AS MOÇAS DO EMBALO

Das Dores é uma.
Imaculada outra.
Podiam atravessar a parede
E a casa amanhecia.
Aos pares ficam invisíveis.
Acolhem a sombra uma da outra.
Mulher sem sombra dói?
Menino não sabe
O que era para não ver.
Nem perguntar.

FERNANDO FÁBIO FIORESE FURTADO é poeta, doutor em Semiologia, escritor e professor da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG. É autor, dentre outros livros, de Ossário do mito, Corpo Portátil e Dicionário Mínimo.

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

POETAS ALAGOANOS



Foto: Rafael Polly.

TCHELLO D´BARROS

penso
louco
existo
e isto
porque
resisto



vênus
nos
vê nus



nua vens
eu nas
nuvens



seios
sei as
tuas
duas
luas
nuas



ter ou não ter
eis
ambição



Tio
Sam
nos
USA
????

Tchello d´Barros é poeta, escritor, artista plástico e ator catarinense radicado em Alagoas, que começou a vida sendo premiado com desenhos, até realizar exposições no Brasil e no exterior, participa de antologias poéticas, publica livros, atua no teatro e milita nos mais diversos eventos culturais e artísticos, a exemplo de chegar a presidir a Sociedade Escritores de Blumenau. Foi incluído na antologia Poesia de Alagoas, editado pelas Edições Bagaço, 2007. E MAIS: ARQUITETURA DO INEFÁVEL - Infogravuras de Tchello d'Barros - O espaço de exposições Sala das Najas do consagrado e premiado site cultural Garganta da Serpente apresenta desta vez a mostra "Arquitetura do Inefável" do artista visual e escritor catarinense Tchello d'Barros, radicado em Maceió/AL - ARQUITETURA DO INEFÁVEL - A série de infogravuras Arquitetura do Inefável, de Tchello d'Barros apresenta uma releitura de elementos arquitetônicos onde elementos de cor e forma de arquitetura antiga e moderna são abstraídos graficamente e recebem uma diagramação reinterpretada pelo artista. Essa coleção de imagens dialoga com outras produções do autor, em especial pelo uso dos esquemas mandálicos na composição e a paleta de cores selecionada para esta série. A impressão física dos trabalhos tem sido em diversos tamanhos, usando suportes como PVC, polietileno, lona plástica, plotters e papel fotográfico. As obras participaram inicialmente da exposição (física) "Graphos & Chromos", exposta no Sesc de Maceió/AL. - TCHELLO D'BARROS Nascido em 1967 em Brunópolis/SC e residente em Maceió/AL, é escritor e artista visual. Residiu em 12 cidades no Brasil e percorreu 20 países em constantes pesquisas na área cultural. Publicou "Olho Nu" (1996), "Palavrório" (1996), "Letramorfose" (1998), "Olho Zen" (1999) e "A Flor da Pele" (2003), todos de poesia. Publica contos e crônicas em vários jornais, revistas e sites. Foi sócio fundador da Sociedade Escritores de Blumenau e presidente por 2 gestões, tendo idealizado e coordenado diversos projetos culturais, dentre os quais o Fórum Brasileiro de Literatura realizado anualmente em Santa Catarina. Organizou diversas mostras de poesia, desenho, fotografia e artes visuais, na condição de curador e promotor cultural. Ministra as oficinas de poesia “Laboratório de Poesia” e “Iniciação à Arte do Verso”, e também ministrou cursos de desenho em diversas instituições. Participou de Salões de Arte Contemporânea com Instalações e Site-specific. Realizou 10 mostras individuais com desenho, pintura, fotografia e arte digital, tendo participado ainda de 15 exposições coletivas. Editou 6 publicações literárias entre coletâneas de poesia estudantil e antologias de autores emergentes e consagrados. Participou do projeto Viva Poesia, com palestras e oficinas em mais de 40 escolas de redes municipais, estaduais e sistema privado de ensino. Organizou e coordenou os concursos Viva Poesia e também o Prêmio Cidade de Blumenau - Concurso Internacional de Literatura. A partir de 2004 passa a residir em Maceió/AL e dedica-se à pesquisa metalingüísticas nas modalidades da literatura e das artes visuais. Lá foi gestor de Literatura no APL Cultura Sebrae/Seplan e membro fundador do Fórum de Artes Visuais de Alagoas. Participa da Câmara Setorial de Artes Visuais - Minc/Funarte. Em Maceió expôs suas obras no Misa, Pinacoteca da Ufal, Galeria Miguel Torres no Teatro Deodoro, Oficina Cultural do Sebrae e Espaço Cultural da CBTU. SERVIÇO (de 15 de fevereiro a 14 de março) http://www.gargantadaserpente.com/najas/index.shtml Contatos: Tchello d'Barros (0.82) 8857-1967 tchello@tchello.art.br Mais sobre o autor: www.tchello.art.br www.tchellodbarros-artesvisuais.blogspot.com

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sexta-feira, fevereiro 15, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Imagem: Sickle, Bandolier, Guitar, 1927, da fotógrafa e atriz italiana/mexicana Tina Modotti (1896-1942).

EPÍGRAFE

Choro um mundo morto, mas não estou morto eu que o choro” (Píer Paolo Passolini).

Luiz Alberto Machado

Hoje é uma segunda-feira de julho.

Poderia ser uma quarta de um dia branco, ou quinta invernosa, ou domingo sombrio ou qualquer dia de maio ou janeiros da vida no tédio da minha existência.

Hoje é uma segunda-feira de julho.
Estou pra viver.
Estou para que o mundo possa girar na luz dos meus poros.
Estou pro que der e vier.

Hoje é uma segunda-feira, amanhã será terça e não haverá futuro. Todas as terças são as mesmas quartas e dão nas quintas que não passam de sextas que rebatem no sábado e nada mais são todos os dias que um domingo sombrio em qualquer maio ou janeiro da vida no tédio da minha existência.

As pálpebras serenam muralhas e ardem nervosas no meu cérebro de sonos incinerados.
As pálpebras e a clausura: o silêncio das catedrais nos arranha-céus do meu apartamento mudado na cafetina das vitrines de todos os crimes, de todos os desejos, de todos os bocejos e tudo que estiver por vir.
As pálpebras e a cidade grande: a frieza murcha em burburinho pelas vanguardas clandestinas, pelas bombas, a fumaça dos automóveis, as vísceras da noite, os monopólios dos dias.
As pálpebras e os mísseis insones nos latifúndios agrestes com seus pederastas ocultos na estupidez homofóbica.
As pálpebras e o sono na periferia da fome onde uma desgraça é o polvo hegemônico da ganância no veneno absoluto do terror.
As pálpebras e o choro das crianças rebentando nas favelas que escorrem no meu peito.
As pálpebras e a procissão dos desvalidos que mordem a exclusão.
As pálpebras e os poetas candeeiros da vida no avariado intestino do Brasil.
As pálpebras e as guerras de sempre, a fome de ontem, os órfãos do futuro, o destino da vida e nada mais.

Hoje é segunda-feira de julho quando a clavícula fraturada arde pela morte e crava a sua dor no meu país.

Hoje é uma segunda-feira de julho pra uma terça que dá na semana e desinoiteço seguindo avante. E todas as terças são as mesmas quartas e dão nas quintas que não passam de sextas que rebatem no sábado e nada mais são todos os dias que um domingo sombrio em qualquer maio ou janeiro da vida no tédio da minha existência.

Hoje é segunda-feira e mesmo que o chão me falte e o equívoco impere e o embaraço ignore e o nirvana maralém e o choro nas pisadas e as ruínas itinerantes e a vida e a morte, nada mais, sigo avante.

Hoje é uma segunda-feira de julho e vou parindo passos na íngreme madrugada do Recife.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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PRIMEIRA REUNIÃO
GUIA DE POESIA
VAREJO SORTIDO
TATARITARITATÁ

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

GUIA DE POESIA



Já estão no ar as novidades do Guia de Poesia. Confira.

Entrevistas: Xênia Antunes e Lau Siqueira.
Nos artigos: Educação pela arte.
Na resenha: Ari Lins Pedrosa, o colecionador de sonhos.
Poeta do Mês: Sérgio de Castro Pinto
Poetas Consagrados: O major reformado, Fernando Pessoa.
Entre os contemporâneos: Rosane Chonchol, Dalila Teles Veras e Carlito Lima.
Nos Portais Poéticos: Portal Cultural Anand Rao
Nas revistas eletrônicas: Poesia & afins, Diversos Afins e O Olho.
No cordel: Marco di Aurélio.
Nas associações: Poetas Capixabas e Grucalp.
Nas Bibliotecas Virtuais: Pesquisa & Cia.
Nos blogs poéticos: Varejo Sortido e Graça Graúna
Nos Concretismos & afins: Lambuja.
Nos Haikais: Alfredo Rossetti
No Publique: Livro Falante.

VEJA MAIS:
GUIA DE POESIA
FÓRUM DO GUIA DE POESIA
SHOW TATARITARITATÁ

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

POETAS POTIGUARES



Foto: Alexandro Gurgel

ANTONIEL CAMPOS

EPIGRAMA

Se tanta coisa esqueci,
Inda guardo o que errei.
O certo desaprendi,
Incerteza é minha lei.
O tempo que eu não me dei
Diz a parte que eu perdi;
No que dei, fiz que não vi,
Das duas partes, restei.
Nem sei se a pergunta ouvi,
Sei a resposta: não sei.

DIAS

Ontem, cada um.
Hoje, cada qual.
E eu achando tudo igual.
Não via perigo,
Tudo era normal,
E esse era o motivo.
Foi mal.

A/DOIS

Por prudência,
Falaremos amenidades
(a feira por fazer,
as contas a pagar,
os filmes da tv),
sem deixar que algo mais grave se insinue.
Cuidaremos para que um sorriso
Permeie e intercale nossas falas.
E não nos atreveremos
- jamais –
a cruzar olhares.

GRAFITE

O poema é do tamanho da idéia.
É lamentável o rastro da lâmina.
Ridículo, o do enxerto.
Constrangedor o meio-termo.
E sublime a coincidência.

BULA

É falso todo o verso que convence.
Se há razão,
Não me pertence.

MELHOR DO QUE O GOZO QUE ME DÁS

Melhor do que o gozo que me dás,
É o gozo que me dás dia seguinte:
Ris à toa.
O tanto que se diz é tanto faz,
E tanto faz quem diz e quem ouvinte:
tudo é loa.
No outro dia toda em mim estás,
E estou inteiro em ti, por conseguinte.
: coisa boa.

MAGNIFICAT

Tivesse um lince na visão, nada veria.
Tivesse o mar e todo mar seria areia.
Tivesse um puma nos meus pés, não chegaria.
- Bendita és tu que me completas e medeias! –
Não faço idéia do alheio que eu seria,
Se eu não tivesse a poesia que me alheia.

O poeta potiguar Antoniel Campos nasceu em Pau dos Ferros – RN e é engenheiro civil. Já puiblicou os livros Crepes & Cendas (1998), De cada poro um poema (2002) e A esfera (2005).

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terça-feira, fevereiro 12, 2008

POETAS PARAIBANOS



Foto: Guy Joseph

LÚCIO LINS

TRABALHO FEITO
Para ser
Pai de santo
Falta-me presença de espírito

REQUERIMENTO/DESPACHO

P. Deferimento
O sofrimento supra
Citado nos processos
Que o tempo traça
N. Termos
Arquive-se

VESTINDO O POEMA

Meu exercício de voar
É pousar na imaginação
Das asas
É fazer ninho
Com as palavras

IMAGENS

O T de tv:
Antena externa
O V de tv:
Antena interna
(a imagem é minha)

EFEITOS COLATERAIS

No muro de minha casa
Os loucos miam
Eu despido de médico
Prescrevo cães
Vezes ao dia

DEDICATÓRIA

À poesia:
Refúgio íntimo
Da minha loucura

O poeta paraibano Lúcio Lins (1948-2005), formado em Ciências Jurídicas e funcionário do Departamento de Comunicação do CCHLA da UFPB, participou do Movimento Jaguaribe Carne nos anos 70 que reunia música e poesia. Integrou a equipe editorial da Revista LER, publicou vários livros de poesias e diversas composições musicais.

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LUCIO LINS
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segunda-feira, fevereiro 11, 2008

POETAS DOS PALMARES



AMARO MATIAS

FUGA PARA A LIBERDADE

Livre na Serra Leoa
Costa da Mina, Marfim e d´Ouro
Moçambique e Angola
Nigéria, Sudão – com desdouro
Trazidos e escravizados
Não lhes coube na cachola.
A sonhada liberdade
Irmã gêmea da Igualdade
Que não chega...
Ao trabalho atendiam
Sol a sol no dia a dia
Na lavoura produziam
Nas fazendas e senzalas
Seu suor do peito exala....
Lamento negro no canto
E a nostalgia traz pranto...
Eles têm musica para tudo:
Dançar, rezar e trabalhar
Muitas vezes alegres ou dolentes
Fazem da voz seu escudo
Para seu espírito elevar
A escravidão os ofende
Fogem libertos para os Palmares
Longe do látego que se extende
Dos feitores aos calcanhares
Ali respiram bons ares.
Herdamos deles, que graça –
A faceirice, o gingado
A coreografia que traça
E deixa o estranho extasiado!
Sem pensar em esnobismo,
Hoje, quebrados os grilhões
Aves livres pra voar
Se há conceitos novos e ações
Igualdade e Fraternidade
Lá se vai muito axé pras multidões.

DAS REBELIÕES INCONTIDAS

Se a liberdade não vem
O banzo os mata de dor
Recordação d´África contem
Melancolia e pavor
O engole língua é seu hara-kiri
Revoltados não temem de ninguém
Os arreganhos, a crueza
Ao retorcer-se na morte em frenesi.
A escravidão os ofende,
Fogem libertos pros Palmares
Longe do látego que se estende
Dos feitores aos calcanhares
Ali respiram bons ares.

DO DESENVOLVIMENTO ALCANÇADO

Remoto choro e clamor
Exigindo providência
Quilombos com destemor
Espalhados com fervor
No tempo da inclemência
Salve, salve Ganga Zumva
Seu império na altura
Zumbi, o Zumbi dos Palmares
Teu nativismo e bravura!

CREIO, SIM

Creio no mar, no céu na terra.
Creio sim, no eco e no som.
Creio sim, na fama,no dom.
Creio em Deus que tudo encerra.

Creio no gosto que aferra
Idéia do doce e do bom;
Grava à memória o bom tom
No morro, no rio, na serra.

Creio na bala certeira
Creio no verdor da campina
Creio em tudo que é fecundo.

Creio na morena faceira
Creio no amor, que domina
O mais forte deste mundo.

Amaro Matias nasceu em Água Preta, Pernambuco, e viveu por muito tempo em Palmares, onde se destacou como um dos mais brilhantes educadores. Ele é flólogo, escritor e poeta, seu nome é verbete do Dicionário Brasileiro de Poetas Contemporâneos. É bacharel em Direito e professor licenciado em Ciências Sociais pela Fculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru – PE. Membro fundador da Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras, efetivo e correspondente de outras do país e Europa (Portugal e Espanha), além de membro de diversas instituições educacionais e culturais, vive atualmente em Caruaru. Publicou o livro de poesia “Das musas de ontem e de hoje”, em edição do autor, Recife, 1985, “Dos Palmares - extensão lutas e fatos - história da tróia negra de Zumbi”, 1988; “Fragmentos da História Norte taquaritinguense”, (publicação do governo municipal) 1993; História das Comarcas Pernambucanas (publicação do Tribunal de Justiça de Pernambuco) 1994; Aprendendo a Língua Pátria 1997; Nordeste - Berço do Brasil - descoberto ou invadido em 1500? Em 2000 Cultura Universitária; e foi incluindo na antologia Poetas dos Palmares.

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sexta-feira, fevereiro 01, 2008

FOLIA TATARITARITATÁ



Arte: Derinha Rocha.

Gentamiga,
Vamos cair na frevança da Folia Tataritaritatá!!!

Duas advertências:

Se dirigir, não beba; se for beber, me convide que a gente toma uma de lavar a terra.

Outra:


Beijabrações & até dia 11 de fevereiro!!!!

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