segunda-feira, fevereiro 11, 2008
POETAS DOS PALMARES
AMARO MATIAS
FUGA PARA A LIBERDADE
Livre na Serra Leoa
Costa da Mina, Marfim e d´Ouro
Moçambique e Angola
Nigéria, Sudão – com desdouro
Trazidos e escravizados
Não lhes coube na cachola.
A sonhada liberdade
Irmã gêmea da Igualdade
Que não chega...
Ao trabalho atendiam
Sol a sol no dia a dia
Na lavoura produziam
Nas fazendas e senzalas
Seu suor do peito exala....
Lamento negro no canto
E a nostalgia traz pranto...
Eles têm musica para tudo:
Dançar, rezar e trabalhar
Muitas vezes alegres ou dolentes
Fazem da voz seu escudo
Para seu espírito elevar
A escravidão os ofende
Fogem libertos para os Palmares
Longe do látego que se extende
Dos feitores aos calcanhares
Ali respiram bons ares.
Herdamos deles, que graça –
A faceirice, o gingado
A coreografia que traça
E deixa o estranho extasiado!
Sem pensar em esnobismo,
Hoje, quebrados os grilhões
Aves livres pra voar
Se há conceitos novos e ações
Igualdade e Fraternidade
Lá se vai muito axé pras multidões.
DAS REBELIÕES INCONTIDAS
Se a liberdade não vem
O banzo os mata de dor
Recordação d´África contem
Melancolia e pavor
O engole língua é seu hara-kiri
Revoltados não temem de ninguém
Os arreganhos, a crueza
Ao retorcer-se na morte em frenesi.
A escravidão os ofende,
Fogem libertos pros Palmares
Longe do látego que se estende
Dos feitores aos calcanhares
Ali respiram bons ares.
DO DESENVOLVIMENTO ALCANÇADO
Remoto choro e clamor
Exigindo providência
Quilombos com destemor
Espalhados com fervor
No tempo da inclemência
Salve, salve Ganga Zumva
Seu império na altura
Zumbi, o Zumbi dos Palmares
Teu nativismo e bravura!
CREIO, SIM
Creio no mar, no céu na terra.
Creio sim, no eco e no som.
Creio sim, na fama,no dom.
Creio em Deus que tudo encerra.
Creio no gosto que aferra
Idéia do doce e do bom;
Grava à memória o bom tom
No morro, no rio, na serra.
Creio na bala certeira
Creio no verdor da campina
Creio em tudo que é fecundo.
Creio na morena faceira
Creio no amor, que domina
O mais forte deste mundo.
Amaro Matias nasceu em Água Preta, Pernambuco, e viveu por muito tempo em Palmares, onde se destacou como um dos mais brilhantes educadores. Ele é flólogo, escritor e poeta, seu nome é verbete do Dicionário Brasileiro de Poetas Contemporâneos. É bacharel em Direito e professor licenciado em Ciências Sociais pela Fculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru – PE. Membro fundador da Academia Caruaruense de Cultura, Ciências e Letras, efetivo e correspondente de outras do país e Europa (Portugal e Espanha), além de membro de diversas instituições educacionais e culturais, vive atualmente em Caruaru. Publicou o livro de poesia “Das musas de ontem e de hoje”, em edição do autor, Recife, 1985, “Dos Palmares - extensão lutas e fatos - história da tróia negra de Zumbi”, 1988; “Fragmentos da História Norte taquaritinguense”, (publicação do governo municipal) 1993; História das Comarcas Pernambucanas (publicação do Tribunal de Justiça de Pernambuco) 1994; Aprendendo a Língua Pátria 1997; Nordeste - Berço do Brasil - descoberto ou invadido em 1500? Em 2000 Cultura Universitária; e foi incluindo na antologia Poetas dos Palmares.
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