segunda-feira, março 31, 2008
POETAS ALAGOANOS
ELISABETH CARVALHO NASCIMENTO
SONATA
(Música de Luiz Alberto Machado. Vozes: Valderez de Barros & Gabi. Arranjos de Jarbinhas Rocha)
Lembra o tropeço do minueto
que dançamos pela vez primeira?
Lembra o licor que restou
no primeiro sonho lugar comum?
Lembra o adágio sonolento
que parou na quinta nota difusa?
Lembra do adargueiro
que na falta de guerras
escudava o amor?
Lembra da tosca azenha de vovó
que girava moendo segredos?
E ficamos no ar
eternos ébrios
do amor que sequer começou.
VIDA BRANCA
Voluptuosa sob o caramanchão
O corpo girava
Em ângulos de festa
Os pafos do vestido de organdi
Faziam ondas no espaço
Irritando a pele
O chapéu atirou-se longe
Fugindo...
E na falta do pás-de-deux
Rodopiava na valsa do só
Enquanto a luz banhava de branco
A vida.
SOLITUDE
A solidão dói mais
Na madrugada
Passeando em dores no peito
Como um vulto que perambula
Em becos úmidos
Quase desaparecidos na neblina espessa
Encurvado, sorrateiro
E minha solidão
No silêncio dos que dormem
Em crime premeditado
Faz mais uma vítima.
FIO DE VIDA
Nem sei quanto me resta
Dos dias certos
E de tão parca festa
Nem olho a reluzente ampulheta
Correndo fios de ouro
Silenciosamente.
PEQUENO SONHO
Meu coração
Vasilha de barro sob goteira
Recebe gotas sonoras
Da chuva
Fazendo canto de ninar
E adormeço sonhadora
De desejos
Iluminada pelo dourado
Dos seus cabelos.
MATA-BORRÃO
Meu coração balança no peito
Na tentativa de apagar
Essa paixão doida e doída
Meu coração balança na vida
Feito o mata-borrão de meu pai
Pressionado sobre o papel
De molhados números e letras azuis
Sorvendo o excesso de tinta
Tal como tento conter
A intensidade desse amor.
PRISIONEIRA
Prende-se a vida em mim
Como sua marrafa buena-dicha
Por entre fios ondulantes
Ondulados
E se me recosto a morte
Firma-se em estribos de prata
Qual amazona delusa
Que não vai
Nem vem
Presa como esapulário
Na memória.
SAUDADE
Faz tanto tempo dessa réstia escurecida
E ainda
Vejo você
No fundo do abismo que jamais bebi
Onde Toulouse escondeu a taça?
TIMIDEZ
Ao fitar seus olhos
Me vem patética timidez
Tão tola
Quanto o preconceito
Enfrentado pelo solitário pingüim
Que estático
Na fantasia do pólo
Repousa acima de nós
Sobre a geladeira.
ELISABETH CARVALHO NASCIMENTO – A magistrada alagoana Elisabeth Carvalho Nascimento é desembargadora no Tribunal de Justiça de Alagoas e autora do livro “Da cor do passado”. Deste livro recolhemos os poemas selecionados aqui. FONTE: NASCIMENTO, Elisabeth Carvalho. Da cor do passado. Maceió: Catavento, 2007.
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