terça-feira, janeiro 11, 2011
VILMA ORZARI PIVA
OS VERSOS & PROSAS DE VILMA ORZARI PIVA
AI... CORAÇÃO !
Ai, coração! Por onde tu me levarás
Nessas fortes batidas aceleradas
Anunciando-me que convulsionarás
Irrigado de amor às estocadas.
Ah, coração! Faz-me corar de emoção
No contralto do ribombo sem cessar
Suspiros, gemidos que da cabeça
Aos pés transparecem na minha canção.
Compreendas-me, coração!Sou pureza
Às margens das febres das tuas escarpas
E a fragilidade no pacto da tua nudeza.
Eis-me artéria cravejada de amor e harpas
No segredo amante da tua torpeza
Sou a jugular da tua face e me farpas.
FLOR MULHER
Quando tu bem–me-quer na cor carmim
Espalhas pétalas macias no chão,
Aglutinas nos meus lábios teu jasmim
E deixas minha boca em palpitação,
Encarnada e rósea, feita flor mulher,
Em sedas que tuas mãos desfolham
Pétalas- talismãs que ao bel prazer
Tonalizam qual sorte as escolham.
Ainda assim trarei meus espinhos
Junto à haste da seiva amparada,
Vigilantes dos meus caminhos.
Retinta na cor da dor hasteada
Se não tiver toques do teu carinho
Serei pétalas de flor mutilada
SAL DA VIDA
Suspira a boca o hálito ofegante
Naquele beijo que o adeus deixara
Horas tristonhas depois do instante
Das bocas ungidas que ali estivera.
Com olhos molhados de despedida,
Naquele peito que o corte veio beijar
Quis a dor extravasar o fel da partida,
Na prece das mãos ainda a sangrar.
O corpo estremece, revive a paixão,
Expulsa o véu da morte, canta o sentir.
Ressurge o sal da vida e a sedução
De um vivo beijo nos lábios a colidir.
SANTO PECADO
Sagras teu corpo por todo nosso céu
Onde a santa esteve em profano ritual
A bendizer do meu amor habitual
Às madrugadas incensadas ao léu.
Rezam-me anjos para o santo ofício
No altar das oferendas, no asfalto,
Ardendo chamas de um mar cobalto
Que asperge meu corpo ao sacrifício.
No templo das ruas, entre paredes,
Na ceia da carne e no mistério da paixão
Sacralizando-me banquetes em procissão
Nesse meu sentir ardoroso por tuas redes.
Desnudando teus paramentos de linho
Na profanação das uvas prazeirosas
E no santo pecado das águas gozosas,
Somos a liturgia do peixe, mar e vinho.
CENTELHA DA PAIXÃO
Luzes de velas tremulam chamas
Da paixão sombreada nas paredes
Liberais do amor tatuando sedes
Em chispas acaloradas por flamas.
Na combustão do desejo ardente
Fagulhas invadem os poros suados,
Perdidamente lanham molhados
Dois corpos atritados, inclementes.
Por debaixo dos panos, nus, na alcova
Sem saber das horas, somente o tesão
Fervilha o tempo, peito e coração.
E faz-se a centelha da contraprova
Sem regras para amar sob ebulição
Das labaredas na força da paixão.
AMANHECER EM TEUS ACORDES
O amanhecer das flores orvalhadas, por entre beijos guardados nas reentrâncias
dos travesseiros, acorda-me perfumada de ti e conferes minha pele nas pontas de
teus dedos carinhosos, que perceptíveis expandem-se por caminhos umedecidos por
tuas noturnas digitais.
Acaricias meu rosto, meus cabelos estendidos na temperatura de teus abraços
reluzentes de sol sobre a cama desarrumada.
Ao som dos pássaros canto teu nome no céu da minha boca e vislumbro o amor nas
paredes azuis do nosso quarto.
Sinto o néctar de nossas línguas embebidas de licores, despertando meu corpo no
transpirar das gotas da tua saliva, e estremeço minhas pernas na harmonia de
teus cânticos deixados sobre meu umbigo.
Afasto suavemente o lençol... Encontro sobre meus seios teu beijo tatuado num
sorriso. Estendo-te minha mão. Palmo a palmo acaricio teu peito de acordes e
envolves-me no rocio do desejo. Quero-te!
E invade-me o tremor da tua voz ancorada nos meus ouvidos, palpitando-me
felicidades sobre os balcões dos dias que renascem para nos ver felizes!
DA MINHA VARANDA
O dia amanheceu preguiçoso respirando o ar puro das manhãs tranquilas. Um sol
tímido espiou mansamente os telhados e quintais que ficaram recobertos de folhas
trazidas pelo vento noturno.
As calçadas e as ruas esperam enxugar-se por entre os amontoados que misturam
galhadas e flores de Ipê, enfeitando agora os entulhos da esquina que ainda
ontem denunciava uma parede recém pintada.
As casas ganharam cores sombreadas de umidades e suas janelas gotejaram
lembranças do açoite e do uivo temporal que cantara solenemente a cumeeira.
E o dia abriu-se atrasado, se fez curto, iluminado de brevidades que da minha
varanda se estendeu em quietudes e carícias sob o manto da aurora em paz....
Hoje, mais cedo, acenderei estrelas no céu e a brisa mansa me anoitecerá.
VILMA ORZARI PIVA – A poeta e educadora paulista especializada na área da deficiência mental, Vilma Orzari Piva, já foi premiada no concurso Mamede Souza - Araras/SP e é integrante da Antologia de Novos Talentos da Literatura Brasileira. Edita o blog Poesias e Prosas, possui clipes no YouTube e também reúne seu trabalho literário no Recanto das Letras. Confira tudo isso e mais os poemas eróticos da autora no Crônica de amor por ela.
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