domingo, outubro 24, 2010

POETAS DE ALAGOAS: JURANDIR MAMEDE



JURANDIR MAMEDE

SOCORRO OPERÁRIA

Socorro operária mulher de cimento.
Todo dia desce o morro com o sol,
Socorro caminho estreito.
Carrega construções na cabeça
E outro mundo no ventre.
Socorro fuma de produção,
Certeza dos marginais,
Socorro poluição.
País no chão, Socorro,
Vai ao céu com o sol descalço.

ÂNCORA DO TEDIO

Partem naus
Do porto do tédio,
Náufragos da cidade.
Ancora, marinheiro,
Toda tristeza em todo cais,
Regressa a pique
Com a despedida do sol e da lua.
O mundo fica por viajar do outro lado das águas.

ASAS

Pássaro incolor
Nas transparências
Do mundo solitário
Voou. Pássaro na gaiola
Não cantou, suplicou.
Pássaro fechou a visão,
Mas a porta do mar
Ficou aberta.

ALMA A ALMA

Moro nas nuvens,
A saudade é fiel.
Desço pelas chuvas
Ou em raios de sol,
Mas eu volto.
Contra a infidelidade inseticida
Atravesso a brisa, a ventaria e o mar,
Entro na alma-irmã e passeio na canção,
Saio na voz e vou sorrir,
Vou cantar.

-*-

A mulher
Com o dedo
Tem o homem.
O homem
Com a mão
Tem a mulher.
Feitiços de solidão.

-*-

Uma rosa quando amputada
Na roseira deixa um vácuo,
Dando existência à sua existência.
A rosa não tocada, não fenece.

-*-

Eu não gostaria de viver só porque nasci
E morrer só porque vivi.

-*-

A cabeça
Que o meu corpo
Sustenta é a mesma
Que suporta o mundo.

-*-

CONTAGEM ZERO

Resto de século
Conta segundos
Como um coração
Mente uma vida.

OVNI

Uma música
Do fundo das galáxias
Tá chegando.
Talvez
Nos ensine para que serve
A paz e a guerra.

PESTE NUCLEAR

Os mortos falaram aos vivos
Os vivos tresmalharam olhando a chuva
A chuva lavou as cidades
As cidades viraram cemitérios
Os cemitérios cercaram o mundo
O mundo mirou o vazio
O vazio dissecou o vácuo
O vácuo preencheu o universo
O universo falou aos mortos
E os vivos nada disseram.

CHUVA NUCLEAR

E quando chover chamas
Quem protegerá as crianças
Do caos espontâneo
Dando ordens as vértebras humanas?

GUERRA ANÔNIMA

Os encantos nos encontros de nuvens
Embelezam as chuvas.
Há alguma coisa no espaço metafísico.
Talvez a arvore
A energia solar
Mas ainda faltam fios de raios até o oceano.
Há alguma coisa no espanto metafísico
Chuvas de relâmpagos sobre as arvores
Chuvas de trovão sobre o mar
Mas ainda falta qualquer coisa no espaço
Metafísico
Para que as nuvens não separem
Nesse dia sem aparência de existência.

GUERRAS ASSASSINAS

A primeira, um lago de sangue afoga oceanos.
A segunda, chuvas de lágrimas no velório da humanidade.
A terceira, nem lago. Nem chuvas, nem guerras, nem nada.
Morre a vida e a morte.



JURANDIR MAMEDE – O poeta Jurandir Mamede nasceu em São Paulo e se transferiu aos 4 anos de idade para Maceió. Possui formação em Letras e já publicou os livros de poesias O ocaso não é por acaso (1986), O inverno do sol (1992), Cosmo das águas (1995), Velocidade escura (2002) e Lente Caótica (2002).

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