sexta-feira, fevereiro 20, 2009
O TRÂMITE DA SOLIDÃO
Foto: Derinha Rocha.
Imagem: Mar de Deus, de Dulce Maria D´Assunção.
TERÇA-FEIRA
Luiz Alberto Machado
Toda noite ali na minha visão esquálida de poeta amotinado e cortejando a vida na catarse de Gismonti
Todas as noites tal como o mar que nunca dorme a perseguir um grande amor
Todas as noites no cálice da agonia onírica dos casais dançando no menir do navio e seus namorados contornando o dólmen das fadas
E eu só a remover do labirinto febril a meio caminho da loucura
Todas as noites ali no meio da lua cheia que é tão fêmea
Ah, como é tão imprudente semear o insopitável amor perdido que é pernicioso e não se pode evitar nem repelir
Ah, todas as noites nesta longa noite longa onde é maior a solidão - um cobertor de inefável sonho
Ah! Quantos sonhos eu vi acabar e valeram iludir?
Que sei agora? Que sei de mésons, de pobres rhesus? Que sei da cidade perdida de Nko, no meio da selva africana, onde feiticeiros mortos reencarnam no corpo de gorilas amestrados? Pra quê exceder às necessidades coletivas? Que neurótico homo faber? Pra que renunciar da vida? E pra que viver?
Ah! Como eu vivo sonhando no interior das aberrações de Fellini sigo itinerante amaldiçoado e só por amor e é por este desejo que passo as noites em claro
Todas as noites nesta noite no inventário de quem sorri, na vigilância de quem ama, na insônia de amar
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