sexta-feira, fevereiro 06, 2009
POETAS DO MARANHÃO
ROBERTO KENARD
A FAMILIA
tem alguém no telhado
talvez a avó louca
embriagada de tiquira
tem alguém no telhado
possível o neto
esperando a lua
tem alguém no telhado
provável o gato
com medo dessa família
E QUANDO AMANHECE AMANHEÇO
E quando amanhece amanheço
com a noite em jejum entre
os dentes com a vida em lençóis
sobre mim
A vida?
Se mole eu
a engulo de um só
gole se dura
eu a corto de um
só golpe
Se dada é
sem força se possuída
é como o vento se
vendida é uma puta
E O QUE É UM POEMA?
Um coração vermelho desarmado
no meio de uma folha branca?
Um homem desamparado caminhando
numa cidade que fede a roupa suja?
Uma mulher grávida desamada
dentro da Praça João Lisboa seria?
Não importa o que seja um poema
se dentro de instantes estará nascendo
um ditador no Cone Sul da América
Se na Central Operária Bolivian
Marcelo Quiroga acaba de ser assassinado
E meu coração não se conforma
meus olhos não se conformam
meu corpo não se conforma
O VITRAL
anjos confabulam
por trás do branco
um rio nasce
e estende sua magreza
pombos descem
sobre a estátua comem a tarde
CÂMARA INDISCRETA
o poeta lírico-barbado
babuja
no bar
seus poemas
boa tarde
elegante bardo
cuidado com o vento
suas folhas íntimas
não resistem ao menor sopro
o coração sobre a mesa
breve o garçom virá removê-Io
um barco atraca no cais
lugar de coração é no peito
teimoso bardo
curió pardo exposto aos turistas
a mulher burguesa
baton e ruge
ergue o braço
garça o garçom passa
poeta velho brada:
liturgia do inútil
rudo desaba
asa do vento navalhada:
na tarde provinciana
e cinza.
ROBERTO KENARD – O jornalista, professor universitário e poeta maranhense Roberto Kenard estreou na década de 80 com o livro No meio da vida, premio da Fundação Cultural do Maranhão. Em seguida publicou Do lado esquero do Corpo e, logo após, O camaleão no espelho, Foi diretor de cadernos culturais e de redação de vários jornais. Escreve uma coluna diária e é diretor de redação do Diário da Manhã. Edita o Blog do Kenard http://robertokenard.blog.uol.com.br/
FONTE:
BRASIL, Assis. A poesia maranhense no século XX. Rio de Janeiro/São Luiz-MA: Imago/SIOGE, 1994.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001
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