quarta-feira, outubro 21, 2009

POETAS DO RIO GRANDE DO SUL



PAULO GUGGIANA

AS PEDRAS

Arremessam velhas pedras, desesperados,
Duras pedras atingem homens fundamentos,
Como flores as colhemos, esperançados,
As pedras somadas nos dão novos alentos.
Frágeis emblemas e siglas são destroçados,
Mas, contra grande ideal, qualquer esforço é vão;
Nossos sonhos, muitos multiplicados,
Erguem sólidas paredes acima do chão.
Vestígio apagam, até palavra se mata,
Menos o que se tem guardado no coração.
O pedreiro a outro pedreiro lição ensina:
Fala da idéia que, sendo clara, tudo ilumina,
Que sentimentos os mais puros desata,
No âmbito febril da infindável construção.

A LUTA CONTINUA

Ecoam vozes, multplica-se cada gesto,
Pálido ergue-se o comício sob as luzes da lua.
Move contradanças longo pavio do protesto,
E bacharelando o latifúndio se perpetua.
No minifúndio das praças vinhas encarnadas,
Lemas garrafais a tarde cabernet acentua.
Banqueiros tudo penhoram com divida externa,
Zerados contra-cheques amargam barnabés,
Camelôs nas calçadas, desocupados na rua.
Entre lamentos e apupos a turba se alterna.
Livros. Sangram jornais, conspiram negros cafés
A chama clara do sonho. A luta continua.

GOSTO DE TI CALADA E TRISTE

Gosto de ti calada e triste;
Por teu sorriso de criança, teu jeito de menina.
Brincas em mim como uma aurora,
Uma aurora clandestina e pura.
Brincamos de amor e por amor choramos,
Por amor morremos...
Pequena Maria, o mundo é grande
E é pequeno o teu coração!
Encontrei-te frágil, encontrei-te triste,
Tuas lágrimas brancas eram fontes
E teus olhos eram estrelas móveis.
Gosto de ti calada e triste,
O mundo em teus olhos grandes fica lindo
E em tuas mãos pequenas é infinito.
Gosto de ti calada e triste.

CISNE NEGRO

Encaracolando ondas eu te vi,
Nas quebradas rendas do repouso.
Tu estavas lá, mas sei que estavas aqui,
Tisnando meu peito em alegre pouso.
Não peço que não vás, ficarás aqui,
Amemos – não haverá despedidas.
Fugias, o sol dourando a face rubi
E a brisa azul unindo nossas vidas.
Ficarás, mesmo alçada às alturas,
Onde receoso e vão não te procuro,
Penas contarei e marcas de ternuras.
Perto estavas e sonhando te senti,
Mar de amor, fazendo claro o escuro,
Cisne negro, sempre nadarás aqui.

PAULO GUGGIANA – O poeta, cronista e advogado gaucho de Uruguaiana, Paulo Cesar Gutierres Guggiana (1947-2000), era diplomado em Letras (1969), Ciências Jurídicas e Sociais (1972) e administração (1981), com pos-graduação em Lingua Portuguesa, foi funcionário público, membro da Casa do Poeta Rio-grandense, Grêmio Castro Alves, Prêmio I Concurso Nacional de Poesia (1981), autor de Castelho de Sonhos e outros livros individuais como Cisne Negro e outros poemas (1997).

Sobre ele escreve Darcy Muller: Conhecer Paulo Guggiana foi para mim uma felicidade. O silêncio e a bondade o caracterizavam. O caminhar pensativo, de cabeça baixa, fazia-o distante do que se passava ao redor. Quantas vezes o interrompia em suas reflexões caminhantes. ele, então, parava com alegria, bondade e disposição, como se fosse acordado, despertado do silêncio do pensamento. Imediatamente, fazia a clássica pergunta: "Alguma novidade?"Essa pergunta servia para entabular qualquer conversa, qualquer assunto. De preferência literário. Gostava, imensamente, falar de literatura. Como eramos membros da Academia Santanense de Letras me contava que estava enviando textos e livros dos acadêmicos para regiões do Brasil e para qualquer parte do mundo. Teus artigos estou enviando para Alemanha, me dizia, Paulo Guggiana era uma espécie de embaixador da Academia Santanense de Letras. Se comunicava com o mundo através da literatura. Participava de concursos literários dentro da geografia mundial. Quando menos esperava recebia correspondência de premiação de Portugal, Espanha, França, Itália, Estados Unidos ou de estados brasileiros. Era membro ativo de muitas instituições culturais locais, regionais, nacionais e internacionais. Além de profissional competente de auditoria fiscal do trabalho, sua vida era impregnada pela literatura. Durante muitos anos, tive o prazer e a honra de avaliar seus textos de poesia, contos e crônicas em concursos literários. Minha amizade com Paulo Guggiana, com a esposa Mari, com os filhos Isidoro e Paula Cristiana considero um rico e raro tesouro espiritual. Uns dez dias antes de sua despedida deste planeta, nos encontramos na hora do almoço no restaurante Integração. Ele me dizia e aconselhava para eu continuar escrevendo sobre os costumes germânicos. Perguntei-lhe, por que, ultimamente, ele escrevia pouco. Alegou-me muito trabalho estafante profissional. Mas dentro de um ano, já posso pedir minha aposentadoria. Aí; então, vou escrever tanto mais. Paulo Guggiana, o amigo silencioso, pai, esposo, profissional, o poeta, o escritor que escrevia com alma, com o coração, nos deixou. Foi para o além. Mas seus versos continuam presentes e imortais como este: "Gosto de ti calada e triste: O mundo em teus olhos grandes fica lindo E em tuas mãos esquenas é infinito.".

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