domingo, novembro 02, 2008

ENTREVISTA: CARLITO LIMA



Conheci Carlito Lima pelas mãos da amiga, médica, fotógrafa e crítica literária Cidinha Madeiro. Foi ela quem me presenteou o livro dele “Nordeste independente”. Fiquei maravilhado. Depois, foi a vez do “Confissões de um capitão”, uma obra-prima. Aí virei assíduo leitor das obras desta figura ímpar até estreitar amizade. Nada melhor que ter Carlito como amigo, uma das coisas que nos surpreende sempre e faz com que a vida seja mais ainda tão maravilhosa.

Pois bem, para quem ainda não conhece o Carlito, digo só que este cidadão é ex-capitão do Exército, ex-prefeito de Barra de São Miguel - Alagoas, engenheiro, ambientalista, membro da Academia Alagoana de Letras, membro da Academia Alagoana da Boemia, editor da revista internética Espia, colunista da Gazeta de Alagoas, agitador cultural, resenheiro mangador, tomador de umas e outras, gente boa, munganguento, espalhafatoso, cheio das nove horas e, acima de tudo, cabra bom danado. Bote fé e avalizo. Tudo isso sem contar que é um escritor porreta e que só começou a escrever aos 61 anos de idade, quando, em 2001, por insistência de da tropa amigos e pela estrepitosa torcida do vamos-que-vamos alagoano, foi editado seu primeiro livro de memórias, “Confissões de um capitão” que, na verdade, é um testemunho sóbrio, meticuloso, forte, sincero, humano e, diga-se de passagem, muito bem humorado. O livro nada mais é que um destemido depoimento de um oficial do Exército, com enfoque especial sobre 1964, quando o escritor servia na 2ª Cia de Guardas no Recife, exata ocasião em que teve convivência com presos políticos como Miguel Arraes, Francisco Julião, Paulo Freire, Pelópidas Silveira, Gregório Bezerra entre outros. Tanto é que a revista paulista CULT, colocou o livro entre as 14 melhores obras da bibliografia sobre o golpe militar de 1964. E o bafafá não deu outra: findou Carlito Lima no programa do Jô Soares, ampliando seu sucesso.



Aí ele não parou mais, foi contaminado e saiu virulentamente fazendo zoada e, além de publicar sues livros, saiu agitando o povo de Maceió com eventos de arregimentar multidões. Sou testemunha disso.

Para encurtar o proseado festeiro, topei Carlito Lima para uma entrevista que ele, exclusivamente, concedeu. Com você, Carlito Lima.

LAM - Carlito, vamos primeiro para a pergunta de praxe: quando foi e como se deu seu encontro com a Literatura?

Meu encontro com a literatura deu-se na minha infância, meu pai gostava de ler comprava muito livro. Eu com 13 anos recitava Espumas Flutuantes de Castro Alves e já havia lido todos os livros de Monteiro Lobato, alguns de Machado de Assis.
Com 16 anos fui para Escola de Cadetes de Fortaleza, lá eu era freqüentador da biblioteca. Sempre gostei de ler os grandes romances. Dostoievski, Jorge Amado, Graciliano.
Nos anos 60/70 me encantei com a literatura jornalística, liberal, bem humorado do Pasquim, de Ponte Preta e dos dramas do cotidiano de Antônio Maria e Nelson Rodrigues e a verve nordestina de Ariano Suassuna. Mas não sabia que tinha certo talento de escritor, só em 2001 por insistência de meus amigos escrevi meu primeiro livro: CONFISSÕES DE UM CAPITÃO.

LAM - Quais as influencias e acontecimentos que levaram um ex-capitão do exercito, ex-prefeito, engenheiro e ambientalista se voltar para a Literatura?

Foi a vontade de contar minha participação durante 1964, eu achei que tinha alguma coisa a contar e contei. Aproveitei e escrevi um livro de memória, para melhor situar o autor perante ao leitor.



LAM - Você publicou o laureado "Confissões de um capitão" que, inclusive, virou coluna de jornal, "A história do velho capita". Fala como se deu o processo de criação da obra, o que levou você a trazer as confissões e o resultado de criar a coluna de jornal.

Assim que o CONFISSÔES DE UM CAPITÂO fez sucesso um jornal me convidou para escrever essa coluna onde conto histórias baseadas na vida real. É uma das colunas mais lida na Gazeta de Alagoas no domingo.

LAM - Depois uma série de títulos que compõem a sua bibliografia, como "Nordeste Independente", "Histórias do Duque de Jaraguá", "Comédias Mundanas", "Viventes de Maceió" e "A caminhada de um guerreiro", fala como se deu a organização dessas obras efetuando uma avaliação da sua trajetória literária.

Não tive uma trajetória literária organizada ou planejada. O que dá vontade de escrever eu faço. Às vezes sou mal entendido porque não admito a hipocrisia e o hipócrita é sempre intolerante. No mundo atual você perde o bonde da história se não debater sobre sexo, aborto e outros temas que eram proibidos anos atrás.

LAM - O seu universo literário é voltado para Alagoas. Como você vê Alagoas? O que seduz em Alagoas e quais as suas perspectivas para o Estado?

Como conheço e amo minha terra principalmente o modo de viver dos alagoanos, minhas histórias são sempre baseadas em fatos reais, dou apenas minha verve, meu tempero bem humorado, aproveito para sempre colocar o cenário de nossa bela Alagoas nas histórias.

LAM - O que é a Academia Alagoana da Boemia?

Aproveitei essa boa idéia do Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco e fundei a Academia Alagoana da Boemia que se reúne bimestralmente.

LAM - Agora vamos falar de Internet: Você edita a revista eletronica Espia que já resultou na publicação de Anuários. Fala da proposta da Espia e o resultado dos Anuários, bem como da contribuição da Internet na difusão de seu trabalho literario.

Eu fico até assustado com a ESPIA, meu blog que vai ao ar às sextas-feiras. Aonde eu vou alguém diz que leu a ESPIA, é impressionante, são quase mil pessoas por semana. E o Prêmio ESPIA anual está cada dia mais disputado.



LAM - Você recentemente foi empossado na Academia Alagoana de Letras. Quais as expectativas e perspectivas do agora acadêmico Carlito Lima com relação à Academia, a vida literária alagoana e a produção literária de Alagoas?

Na minha vida particular nada mudou. Embora seja uma honra pertencer a Academia, eu quis ser acadêmico não por vaidade, mas para trabalhar de alguma forma pela cultura e pela literatura alagoana.

LAM - Como você avalia a receptividade de sua obra em Alagoas e no Brasil como um todo?

Por conta do blog e claro de repercussão de meus livros eu sou bem conhecido em muitos Estados do Brasil. Agora mesmo dia 6 de novembro, quinta-feira, estou lançando meus livros em Fortaleza no HOTEL PRAIA CENTRO, na Rua Monsenhor Tabosa 740 a partir das 18 horas. Esse ano fui à Cuba dar uma palestra, divulguei meus livros, alguns serão traduzidos para o espanhol. Já tive convites de mais dois encontros internacionais de escritores. Uma senhora no Rio leu um de meus livros e me aconselhou a morar no Sul para fazer sucesso. Mas esse preço é enorme para mim. Daqui não saio.

LAM - Quais as perspectivas literárias e projetos por se realizar?

Estou escrevendo 3 livros de uma vez. Um romance passado no tempo da ditadura. Minhas crônicas que no final do ano viram livro, e o CONFISSÕES DE UM SETENTÃO, diário que lançarei quando completar 70 anos em fevereiro de 2010.
Quanto a projetos:
1 – Feirinha de livros de autores nordestinos aos domingos na Ponta Verde.
2- FLIPENEDO – 2ª Festa Literária de Penedo.
3- PRÊMIO ESPIA 2008
4- DOAÇÃO DE LIVROS PARA SEREM DISTRIBUIDOS AOS POBRES NA PERIFERIA.
E outros que aparecerem, sempre estarei disposto a batalhar pela minha terra e pela literatura das Alagoas.

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