segunda-feira, setembro 28, 2009
POETAS DE PERNAMBUCO
MARIA DE LOURDES HORTAS
VARIAÇÕES EM MI(M) MENOR
8
Ao LEME deste barco
Dia
Velejo minha vida
Romaria
Rumo ao país sem
Geografia.
9
QUANDO as abelhas dormem
Roubo mel
E o sorvo muito longe da colméia
Depois fico tocando realejo
Cigarra em lua cheia
10
EM TUAS vias
Veias abertas
Ó terra
Me semeio.
Pro minhas veias
Vias abertas
Ó terra
Hão de passar
As tuas flores.
13
SOU a minha linguagem:
Nela venho e nela vem
Refletida esta paisagem
Que contenho e me contém.
15
EM TELAS
De silencio
Bordo
A fumo inconsútil
Estrelas
Onde arde
Minha tristeza
Inútil.
BARCAROLAS
67
DE CHUVA quero esta cantiga mansa
Por ti deslize como desliza a dança
Da chuva pelo sonho da infância.
De chuva quero esta cantiga terna
Em ti se empoce como se aguarda eterna
A chuva no escuro da cisterna.
71
E POR estar assim
Tão vasta e tão ardente
Mastigo a terra
E ao toque dos meus dentes
Brotam os rios
Rebentam as sementes
76
A MENINA que ela vê
É feita dele chegar
A veste de luz que usa
É a luz dele a olhar.
Alguém viu essa menina
Antes do amado a amar?
Suas cantigas e aroma
Fonte do seu coração
Suas rosas suas pombas
Todas de sede e algodão
As abelhas dos seus olhos
E o sorriso lunar
Nascem quando ele as chama
São feito dele chegar.
Alguém viu essa menina?
Antes do amado a amar?
C ANÇÕES
56
O ESPELHO da cisterna
Te dirá:
Esfinge, foste amado.
Longe estará
A que, por ter riscado
Tua face de bronze indecifrado,
Te fitará
Eterna
Das águas do passado.
59
ESTA RIBEIRA que sou
De colina em colina
A ti, meu rio, chegou
Afluentando em surdina.
Correntes acorrentadas
Desaguaremos no mar:
Água una, misturada
Quem poderá separar?
61
QUANDO minha paixão está crescente
Não posso conter porque sou fonte:
De mim transborda a vida e a alba se verte
Sobre a banca pagina do horizonte.
PRELÚDIOS
40
ESTA MANHÃ
Afago tudo
Inclusive as pedras
Sou a mãe do dia
Autora no horizonte
Solferina.
41
PORQUE sou de terra
Preciso de chuva
E par ser verde
De ti tenho sede.
42
FELINA
Por te amar
Esta vertigem
Se espreguiça
Virgem
Em meu corpo lunar.
46
Ô AMADO que partes em ter vindo
Eu despida de ti fico de luto
Ó amado e agora o meu destino
Que faço deste amor absoluto?
Que faço deste amor absoluto
Ó amado e agora o meu destino?
Eu despida de ti fico de luto
Ó amado que partes sem ter vindo.
SOLOS EM GUITARRA
25
COLHE-ME, vento
Que é o teu fado
Papoula rubra
Ardo.
Ser flama breve
É o meu fado
Se não me colhes
Ardo.
E se não vens
Me queimo e ardo.
Como deter
O fado?
27
AGORA
Não preciso vingar-te, hora
De florir o cometa no céu:
Na terra que me veste
Nenhuma hora existe
O tempo se ilimita
E só me ensaio morta.
31
OUTRA VEZ esta navalha me trespassa.
Urtigas outra vez nascem em mim.
Outra vez
Antes do pleno amor
O pleno fim.
MARIA DE LOURDES HORTAS – Portuguesa de nascimento, a escritora, poeta, artista plástica e advogada, Maria de Lourdes Mateus Hortas é também formada em Letras pela Fafire, dirige o Gabinete Português de Leitura de Pernambuco onde está radicada desde 1950. Ela ganhou seu primeiro prêmio em 1963, em Portugal, pelo livro de poesia "Aromas da Infância", publicado em 1965 pelas Edições Panorama, de Lisboa. O segundo prêmio veio em 1978, com o poema “Fio de Lã”, concedido pela Associação de Cultura Luso-Brasileira de Juíz de Fora – MG. Em 1979 organizou e publicou a antologia de poesia feminina brasileira contemporânea "Palavra de Mulher", pela Editora Fontana – RJ. Em 1980 ingressa no movimento cultural das Edições Pirata, editora alternativa, no Recife. Aí publica "Giestas", "A Cor da Onda por Dentro", Flauta e Gesto”, "Relógio d´ Àgua" e a antologia de "Poetas Portugueses Contemporâneos". Em seguida é premiada com a novela “Testamento de Tâmara” com o prêmio Fernando Chinaglia, da União Brasileira de Escritoras. Também recebeu os prêmios Mauro Mota, pela FUNDARPE, pelo livro de poesia "Outro Corpo", o Henriqueta Lisboa da Academia Mineira de Letras e o Jorge de Lima,da UBE pelo livro "Fonte de Pássaros". Depois publicou os romances "Adeus Aldeia" e "Caixa de Retratos", os livros de poesias “Recado de Eva”, "Dança das Heras" e "Fonte de Pássaros", a novela "Diário das Chuvas" e a coletânea de poemas “Cantochão de Todavia”. Os poemas selecionados são do livro “Flauta & Gesto”.
FONTE:
HORTAS, Maria de Lourdes. Flauta e gesto. Recife: Pirata, 1983.
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