segunda-feira, outubro 25, 2010

POETAS DO MARANHÃO: LUCIA SANTOS



LUCIA SANTOS

PRECAUÇÃO

Aviso aos navegantes:
Acenda
A coisa
Mas não
Me fume
t
r
a
g
u
e
mas não me leve
t
r
a
g
a
coisas de seiva sapos de
brejo vestidos de seda pura
mas não me cante
conte
estórias da carochinha acordes
de violinos manhãs acordadas de vicio
antes
de velejar
sobre as águas do Tejo
acendo lenhas no
p
r
e
c
i
p
i
c
i
o

AVE (NÃO – EVA)

E o que sou de poeta
Hoje me basta
Pra emergir do barro
Que tramou Deus

Já não tremo ao seduzir serpentes.

CILADA

Me esgueiro em teu pelo
Lagartixa tonta
Dentro em pouco ave

Te enlaço num beijo
Centopéia louca
Deixando mil rastros

Estrago teu tédio
Profano teu claustro
Descalça, de leve

Fuxico em teu peito
Uma palavra surda
Imitando chave.

URGENTE

Se o dia é agora
Quero o sol em minhas mãos
Antes que anoiteça

DOMESTICA

Coleciono selos
Cultivo pássaros em meu viveiro
Mas os meus zelos
Guardo-os todos
Para um homem de estimação.

UMA E OUTRA

Entre antiquada e moderna
Entre agressiva e terna
Entre nublada e acesa
Entre hippie e burguesa
Fico com a minha certeza
De não saber o que sou.

MÃOS AO ALTO!

Chega de esconde-esconde
Brincadeira de gato e rato
Chapeuzinho e lobo mau

Descortinemos o palco
E o público de pé
Aplaudirá nosso ato
- O amor caiu de quatro!

EQUAÇÃO

Num abraço
O amor nos ata
Arrebata
Embaraça

Num lance
Somos nós
Nó de um mesmo laço

DESPLANTE

Eu sou de veneta
Eu sou de repente
Eu sou por ocaso
Eu sol poente
Você de manhã
Você semente
Você somente
Nascente em mim.

LINGUAGEM

De dia
A lição das palavras
Ocas
De noite
A lição das bocas
Que só falam
Línguas

VINHO TINTO

Quando a solidão sangra
Ou o amor deleita
Um poema pinta
Escorre das veias
O vinho
A tinta
Jorra das tetas
O leite
As letras
Que às vezes, uivam
Às vezes, uva.

MERGULHO

Meu amor é imenso
E fundo
E belo
Feito esse mar teimoso que se arrebenta
Nas pedras
E não há ponte que o atravesse.

GRÃO

Se eu tentar me afogar
Salve-me
Se puder

O mar é tão grande
Que eu às vezes me perco de vista.

GUERRA SANTA

Sob o ventre
Entre pernas
- sagrados portais
Uma breve guerra ameaça
O inferno de paz

CENAS DO ÚLTIMO CAPÍTULO

Tem problema não
Pro coração não existe cancela
Lembra o bandido da vida real?
Virou mocinho na minha novela.

INCENSO

De longe
Teu brilho é intenso
De perto
Nem sei
Nem penso.



LUCIA SANTOS – A poeta e atriz maranhense Lúcia Santos é autora dos livros Quase azul quanto blue (2006), Batom Vermelho (1998) e Uma gueixa de Bashô (2006). Ela cursou teatro e ao lado de atores, músicos e poetas, roteirizou e apresentou vários recitais performáticos, como: Batom Vermelho, Cordel Technicolor, Eros&Escrachos, Dentro da Palavra, Cochichos de Bruxas, Ménage à Trois, Papas na Língua, Nu Frontal com Tarja e Companhia Ausente. Como letrista, tem parcerias com Dudu Caribé, Kléber Albuquerque, Cássio Gava, Kana do Brasil, Nosly, Rubens Kurin e Zeca Baleiro, entre outros. Participou das coletâneas, como Mulheres Emergentes (BH), Circuito de Poesia Maranhense, Afluências (RS) e Ekos (RS). Lúcia tem inéditos crônicas e histórias infantis, além de dois outros livros de poemas. Ela participa do Clube Caiubi de Compositores e tem uma entrevista dela pra 1ª Antologia Poética Momento Litero Cultural, editada pelo poetamigo Selmo Vasconcelos.

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