quinta-feira, junho 23, 2011

ROSANGELA ALIBERTI



A POESIA DE ROSANGELA ALIBERTI

As três faces de Eva


provocações “ne me quitte pas”
não toque nos meus olhos de dia
aqui não tem nenhum par de jaboticabas adocicadas
de tardinha esmeraldas falsas, são pura armadilha
não, não! desça até meus artelhos
com prazer desarmo ferrões envenenados de escorpíões
quero dar asas aos filhos de Mercúrio aprisionados...
traçados brancos mesmo se for em giz, anjos
...os sonhos de Liberdade são apenas meus?
ok você venceu pode até ser... o óbvio também me cansa
o País das Maravilhas não existe...?
apenas os geminianos são dúbios!?!
sei até onde podem ir os repentes kamikazês
só para contrariar jogo com os do contra
tocarás em meus olhos, verdadeiras jades
descerás até os artelhos... sem be-a-bás
nos quadros-verdes inteligentes na madrugada
pensem mais de três vezes antes de dar corda a morte
um adeus nem sempre é um adeus
neste “ne me quitte pas”
provocações provocam ações
cantaremos Odes ao amor, até o sol raiar...

ATRAÇÃO FATAL

Que uni_verso naturalmente sinistro!
Homens pensam alinhando raios-x
cristãos ou não gamam nos contornos das coxas
Com olhares de peixe-morto
Batem palmas para a falta das lingeries...
Maurice Maeterlink tinha razão:
"O homem torna-se o que pensa"
Alguns admiram somente os ‘acessórios’(?)

Todo excesso cansa a beleza...
No final tudo acaba na nudez
Paro e olho os espelhos todos os dias!

Poesias sem ares de sexo parecem mofar nas prateleiras...

EVA-DANINHA

Quando olhei para você
meu coração, pegou Fogo...
e como sei que você
é um cabra muito macho
trocará de imediato
o peito, por um bundão.
Quando olhei para você
torci as mãos trêmulas
- E, agora o que é que eu faço?
Como sair fora dessa?
Borboletas voarão do papel...
Vi nossos corpos sozinhos no quarto
jogando as toalhas chão
o óbvio dependurado
num dos braços do mancebo...
você vestido de Adão
e na língua...
A maçã da Eva:
- Você é tão romântico
(amassa mais...)
- E, você é tão sensível!!!
Não era a sessão coruja,
nos ponteiros do exorcismo dos devaneios
nestas horas,
tudo é tudo possível
...a sessão da tarde pipocava
Voltei na mesa
o tempo é curto e inesgotável...
bebi um gole de coca
com um ar, mais do que profano
torci a sobrancelha
calando nosso canto.

Beijo, beijado... no olhar.

ÊXTASE

HOJE
Se a necessidade de prevenção se tornar realidade
Lembre-se da pílula contraceptiva
Quando os Sentimentos fotografarem outros gestos...
Quando os Sentimentos estiverem a flor-da-pele...
Lembre-se das camisinhas-de-vênus
Quando os Sentimentos transbordarem do fundo d´alma
Lembre-se dos informes sobre os dispositivos intra-uterinos
Se os Sentimentos estiverem unindo a dança de dois corações
Lembre-se dos tampões, dos implantes, dos diafragmas...

HOJE
Se os Sentimentos brotarem soltos nas teias do Tempo:
Se você continuar fazendo parte de um passado: HOJE
[será você e um outro alguém]
Se você FIZER parte do presente: HOJE
[será você e um outro alguém]
Se você estiver nos planos do futuro: HOJE
[será você e um outro alguém]
Teus olhos HOJE Mulher percorreram um outro corpo
Tua boca Mulher HOJE tocará suavemente noutros lábios
Tua mãos quentes HOJE Mulher deslizaram sobre uma pele macia
Tuas curvas Mulher HOJE insinuaram sorrisos à um outro corpo
Tuas entranhas HOJE Mulher invadiram os campos de outro ser
Teu sangue Mulher HOJE irá ativar o timbre de outra voz
Teu coração HOJE Mulher baterá no mesmo ritmo de outro alguém...
Talvez porque se tenha tão pouco a falar e muito à... FAZER

Faça com que teu corpo, tua alma, e coração cristalize um momento Mulher:
PURAMENTE ERÓTICO... marcando o ÊXTASE a REALIDADE!

HOJE contra os riscos de flashes desagradáveis... PREVINA-SE
Caso HOJE você estiver com outro alguém num quarto no OCEANO
do (in)visível antes dos corpos se aquecerem o pensamento tem que ser frio
Poderá abraçar com tranquilidade HOJE ao se entregar à outro alguém
E... poderá ouvir quem sabe um: EU TE AMO e dizer em seguida:
[EU AMO VOCÊ!]

HAICAIS

Laranjeira em flor
não se brinca com vespões
gritos de guri

Dia do Professor
nenhuma maçã na mesa
barriga roncando

Xarope de guaco
dentro da panela morna
uma abelha caída

PANDORA

Deveria notar apenas o broto, o verde em folha, mas o amarelo-flor
se apossa do verde (sei que nunca deveria usar este verbo, o utilizo
sem culpa quando há palidez aflora sem medo). Confundo-me com o
avesso, o castigo é a mortal curiosidade.
Queria não ver as nervuras, não ser seiva tendo em vista o suco.
Quisera não ser tão celular (por que o pensamento é heliotrópico?)
talvez a necessidade de verbalizar seja maior fortalecendo um novo
cantar.
Talvez exista em momento de entropia, real... de arrepiar, talvez um
girassol brilhe quando não se entrega ao definhar.
Queria não procurar “dormideiras” o tempo é tão curto entre um
oscilar e o outro quando a ansiedade não encontra o prumo.
Quisera não sentir o toque das folhas nas narinas
são como os ruídos das ondas levantando
- marejada –
Eu não deveria arrancar a folha do arbusto, não, eu não deveria...
vê-la correr solta por aí. Por que?
Instante de rio que nunca vi que insisto em imaginar.
Se a correnteza está cheia prá lá do nível quatro,
posso sempre contornar as pedras
sem me prender como as algas na água doce
sem procurar desenhar dentes nas folhas
nem sempre um movimento obsessivo
controla o voar...
[a fobia corre a veia indignada nos instantes que se encontra com
pessoas que afirmam a existência do “ser normal”]
Sou Ave sem asas, acho que nunca alcançarei a métrica, mas se
angústia é brilhante! O paraíso não está perdido.
Não sei por que o soneto é navalha?! Se você só pode se respeitar
sendo o que é.
Não sei como a memória seleciona e retém tantas coisas... sonhos
timbres conchas... quinquilharias
Abro acordes em silêncio, que não sei como explicar para onde vão
tantos vãos, por que vem? e logo se esvaem...
Existem certos momentos que os peixes necessitam dormir no colo das
águas tranquilas.


VINTE E QUATRO HORAS DE AMOR

o gosto das vinte quatro horas...
tem sabor de sinônimos e duplos sentidos
tem sabor de chiclete de canela
tem sabor de batom de fruta sem receio de borrar um colarinho
tem sabor de compota doce com cravo e chá de jasmim

o cheiro das vinte e quatro horas...
tem odor dos figurinos encostados no armário do camarim
tem odor da pintura nova nos cômodos
tem o odor que somente os os loucos e os irmãos compreendem bem
tem odor de jantar feito com os talheres de casa com carinho

o som das vinte e quatro horas...
franze as sobrancelhas e a testa para dores de cotovelo
despreza anedotas chulas e frívolas
corta as cordas das fofocas e alonga as asas às familiaridades
acolhe harmoniosamente a voz das ondas do mar

a visão das vinte e quatro horas...
tem dois castiçais prateados reluzentes sobre a mesa
tem uma nuvem branca esvoaçante de incenso de rosas
tem arranjos de flores enxertadas no parapeito da janela
tem esboços de desenhos de querubins espalhados no chão da sala

o sexto sentido às vinte e quatro horas...
é repleto de adivinhações
intuitivamente abre espaço para jogos de sedução
tem lá... seus mistérios indecentes e prudentes
tem certa música no ar que cavalga no interior de gente que é Gente

o toque das vinte e quatro horas...
ressalta os melhores sentimentos saboreados, ouvidos,
vistos excepcionalmente para quem vai além dos cinco sentidos
delimitados
atrai o calor dos corações entre os retrocessos dos erros e os
avanços dos acertos
não julga nenhum ser como sendo um reles perdedor
caminha de mãos dadas com o poder da invencibilidade das almas

1.440 minutos benditos reflexos dos ponteiros de um relógio cor de
âmbar
que passam e repassam sobre as mentes abertas
vinte e quatro horas de Amor...

ROSANGELA ALIBERTI – A escritora e psicóloga clínica paulistana ítalo-brasileira e geminiana, Rosangela Aliberti, trabalhei como Química na área de Metalúrgica, atua como Psicoterapeuta Floral de Bach e Minas; concluiu Especialização em Psicologia em Hospital Geral pelo Hospital das Clínicas em São Paulo (FMUSP), onde atuou como coordenadora de apoio às escolas públicas. Ela é integrante da Oficina de Rascunhos Poéticos na Casa das Rosas em São Paulo, desde 2005. Seus textos literários estão reunidos no Recanto das Letras e no Fórum do Guia de Poesia. Veja tudo isso e mais da autora no Crônica de Amor por Ela e no Brincarte.

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