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JÔ A.
RAMOS - A jornalista Jô A. Ramos, possui licenciatura em Letras
pela Universidade Candido Mendes e Jornalismo pela CUP, pos-graduada em
Sociologia Urbana pela UERJ e trabalha na ZL Comunicação com a produção de
documentários e assessoria de imprensa, tem seu trabalho publicado como
documentário na edição de setembro da Revista de Histórica da Biblioteca
Nacional, atuando como palestrante sobre os direitos da mulher e a Lei Maria da
Penha. É redatora do suplemento agrícola do Jornal da Bahia, editora
responsável do Jornal l´art que é especialiado em música clássica, jornalista e
repórter do House Organ da Cosigua do Grupo Gerdau, idealizadora e produtora do
Tardes Clássicas e criadora do projeto Tardes Poéticas do Centro de Artes
Galouste Gulbenkian. É autoria do projeto-livro Vista Carnaval – Pernambuco,
aprovado pelo Ministerio da Cultura em 2010 e edita os blogs Jo A. Ramos, Finsde Tardes Poeticas e WJDW-Defesa da Mulher, este ultimo criado para denunciar a
violência contra a mulher.
ENTREVISTA:
LAM - Jô, as primeiras perguntas são de praxe. Servem para traçar um
breve perfil do entrevistado. Então vamos pra primeira: quando e como se deu
seu encontro com o jonalismo?
Desde os 6 anos de idade eu já escrevia e lia
muito, sempre foi assim. Sempre li sobre política, mesmo não tendo ninguém da
família envolvida. O jornalismo foi a forma que encontrei para me comunicar com
o maior número de pessoas possível. Acho que realizei melhor esse desejo
com o surgimento das redes sociais principalmente com a criação dos Blogs.
LAM - Que
influências da infância e adolescência possibilitaram a formação de sua
identidade profissional?
Sempre estive cercada por livros que comprava
com o dinheiro da mesada. Aos 16 anos quando comecei a ler Simone de Beauvoir,
Jean Paul Sartre e as entrevistas da jornalista italiana Oriana Fallaci,
entendi muita coisa que estava acontecendo no mundo e principalmente com nós
mulheres.
LAM - Qual a sua posição com relação à extinção do diploma da categoria?
Acho péssimo. Não por uma questão elitista e
sim por defender a necessidade de um conhecimento acadêmico que é fundamental.
Nem todo mundo nasce com um texto na cabeça e para realizá-lo, muitas vezes, é
preciso o conhecimento da técnica. Para qualificar, filtrar e organizar os
conteúdos é necessário o trabalho profissional, qualificado do jornalista. A
quantidade de informações disponíveis hoje é quase incomensurável,
somente um profissional da informação, um jornalista qualificado pode organizar
esse conteúdo para disponibilizar à sociedade.
É importante saber ouvir a sociedade,
verificar a veracidade das notícias, manter contato com fontes de informações
e, por fim, publicá-las. Até hoje, nenhuma profissão foi questinada sobre o
fato de existir uma formação acadêmica para ser exercida, por que isso
aconteceu com o jornalismo? é uma boa pergunta.
Abro uma brecha para os colunistas. Esses
sim, independentes de serem ou não jornalistas podem emitir suas opiniões. Quem
decidi isso é o boss do veículo. Com a criação dos Blogs o leitor pode
formalizar suas idéias e defendê-las como quiser, é mais um espaço para
publicação.
LAM - Você desenvolve um trabalho bastante engajado em dois blogs que
edita: o Defesa da Mulher e o Myself. Fala da proposta de cada um desses seus
blogs.
O Defesa da Mulher é um blog que propõe a
divulgação de notícias, dados, matérias, depoimentos e entrevistas sobre a
violência contra nós mulheres, não só no Brasil como no mundo. É impossível
viver em um país onde a cada 2 horas 1 mulher é assassinada, ficar omissa.
O Myself é mais livre no conteúdo. Falo sobre
tudo, de política a religião, música, livros, cinema..etc.
LAM - A imprensa brasileira, a seu ver, tem dado a devida atenção e de
forma idônea e isenta acerca do problema da mulher brasileira?
Não. A imprensa não cobre o assunto como
deveria. Quando o assunto é violência contra as mulheres ainda estamos nas
páginas policiais, mas, já existem abordagens que mostram o tema como uma
questão de saúde, de direitos e de políticas públicas e isso nós devemos aos
movimentos de mulheres que conseguiram pressionar os órgãos de comunicação.
A mídia tem o poder na medida em que defini o
que será manchete ou não, o que será lido ou não pelo público. É preciso
garantir que os profissionais de imprensa exerçam esse poder de maneira ética e
com responsabilidade social. É fundamental estimular a responsabilidade social
da imprensa, alertar, conscientizar e sensibilizar jornalistas a respeito da
gravidade desse problema.
LAM - Qual a sua perspectiva com a edição da Lei Maria da Penha?
Esse instrumento atende os anseios no combate à violência contra a mulher? A
legislação brasileira abrange e atende a expectativa de se erradicar a pratica
da violência contra a mulher?
A Lei Maria da Penha foi um grande avanço,
mas, precisamos de muito mais, para que ela seja cumprida. Desde a promulgação
da Lei Maria da Penha, o número de serviços especializados aumentou em 35% (de
521 para 707).
Atualmente, existem 707 serviços
especializados - 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, 166
Centros de Referência de Atendimento à Mulher, 71 Casas-Abrigo, 62 Defensorias
Especializadas e 20 Promotorias Especializadas. No que se refere à justiça e à
segurança, foram criados 53 juizados especializados/varas adaptadas de
violência doméstica e familiar e 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher. Segundo a SPM, além da criação, muitos recursos têm sido investidos
para o reaparelhamento/reforma das Delegacias Especializadas, de Centros de
Referência de Atendimento à Mulher e de Casas-Abrigo.
Com tudo
isso, ainda não podemos afirmar que estamos perto de um atendimento exemplar.
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados de
2009 mostra que apenas 559 municípios brasileiros possuem os chamados Centros
de Referência para mulheres em situação de violência. Isso representa apenas
10% do total de cidades brasileiras. Estes centros oferecem assistência
psicológica e atendimento jurídico para vítimas de violência doméstica.
LAM - Ao trabalhar o mote "Todo homem que maltrata a mulher não
merece jamais qualquer perdão", realizei uma série de estudos e pesquisas
para poder fechar esse meu trabalho poético numa martelada para cordel. Nessa
pesquisa, ao se fazer uma leitura que compreende tanto a abordagem feita pela
Tannah Hill até as escritoras e estudiosas de hoje das causas das mulheres,
observando que os reclamos não são menores até então, principalmente no que
tange à exclusividade da luta dos homens nas suas causas, enquanto a das
mulheres incorpora não só as causas delas, como a de todos os excluídos. O
universo masculino tem demonstrado solidariedade, ou ainda é determinante o
machismo de sempre?
O machismo ainda está muito presente na nossa
sociedade, é só observar o número de mulheres estupradas, humilhadas e mortas
em nosso país. A atenção voltada à temática da violência doméstica e o seu
combate tem se intensificado desde a criação da Lei Maria da Penha, em agosto
de 2006. Mas enquanto as mulheres são o foco principal das políticas públicas,
há quem trabalhe na outra ponta do problema: os homens que as agridem. Um
exemplo é o Instituto Noos, no Rio de Janeiro, que desde 1999 atendeu cerca de
300 homens que procuraram, espontaneamente, ajuda para pararem de bater em suas
mulheres.
LAM - A seu ver, a internet tem contribuído para coibir os abusos e
violências contra a mulher?
A internet é mais uma forma de divulgação,
esclarecimento e informação do que de coibição. O que vai mudar o atual quadro
de violência contra as mulheres são as políticas públicas, educação, construção
de mais Centros de Referência e Casas Abrigo.
LAM - Você também edita
um excelente blog literário, o Tardes Poéticas. A respeito dele, um verso do
meu poema "Primavera de Ginsberg" ficou bem identificado: "[...]
Só a poesia tornará a vida suportável". Qual a proposta desse seu blog?
A poesia tem a força de apaziguar-me com o
mundo conturbado em que vivemos, por isso, ela é indispensável. Sou apaixonada
por poetas e livros. A proposta é divulgar nas redes escritores e poetas
tentando sensibilizar as pessoas e dizer que nem tudo está perdido. Temos
poesia.
LAM - Quais os projetos que você tem por perspectiva realizar?
São tantos... rssrsr..bom, tenho 3
documentários, dois já aprovados pela Lei Rounet e 1 livro:
1-Mulheres Benditas que vai falar de 6
mulheres brasileiras biografadas pela escritora Ana Arruda Callado.
2- Documentário sobre o Acervo do Museu-Casa
de Rui Barbosa.
3-O projeto VIVA MULHER é um documentário com
mulheres de várias cidades do Brasil sobre violência, principalmente a
doméstica. Quero levar informações sobre direito, cidadania e formas de defesa
para as mulheres, com palestras e debates. O documentário de 60 minutos vai
registrar tudo em um período de 6 meses. Lançaremos nas casas de apoio às
mulheres, nos centros, nos abrigos, e onde nos for dada a oportunidade de
mostrar o trabalho. Complementando o projeto lançaremos um livro e
disponibilizaremos cópias do documentário para cine clubes e bibliotecas. Nossa
intenção é alcançar pequenas cidades, onde o acesso a informação é mais
precária. Estamos buscando parceria e patrocínio.
E por último a publicação de um livro sobre
Recife e Olinda, também aprovado pela Lei Rounet. Todos esses projetos estão à
procura de patrocínios/apoio/parcerias.
Grata pela oportunidade de falar com seus
leitores. Bj, Jô.
Veja mais da Campanha Todo Dia e Dia da Mulher.