terça-feira, janeiro 10, 2012

TODO DIA É DIA DA MULHER: JÔ A. RAMOS

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JÔ A. RAMOS - A jornalista Jô A. Ramos, possui licenciatura em Letras pela Universidade Candido Mendes e Jornalismo pela CUP, pos-graduada em Sociologia Urbana pela UERJ e trabalha na ZL Comunicação com a produção de documentários e assessoria de imprensa, tem seu trabalho publicado como documentário na edição de setembro da Revista de Histórica da Biblioteca Nacional, atuando como palestrante sobre os direitos da mulher e a Lei Maria da Penha. É redatora do suplemento agrícola do Jornal da Bahia, editora responsável do Jornal l´art que é especialiado em música clássica, jornalista e repórter do House Organ da Cosigua do Grupo Gerdau, idealizadora e produtora do Tardes Clássicas e criadora do projeto Tardes Poéticas do Centro de Artes Galouste Gulbenkian. É autoria do projeto-livro Vista Carnaval – Pernambuco, aprovado pelo Ministerio da Cultura em 2010 e edita os blogs Jo A. Ramos, Finsde Tardes Poeticas e WJDW-Defesa da Mulher, este ultimo criado para denunciar a violência contra a mulher.

ENTREVISTA:

LAM - Jô, as primeiras perguntas são de praxe. Servem para traçar um breve perfil do entrevistado. Então vamos pra primeira: quando e como se deu seu encontro com o jonalismo?

Desde os 6 anos de idade eu já escrevia e lia muito, sempre foi assim. Sempre li sobre política, mesmo não tendo ninguém da família envolvida. O jornalismo foi a forma que encontrei para me comunicar com o maior número de pessoas possível. Acho que  realizei melhor esse desejo com o surgimento das redes sociais principalmente com a criação dos Blogs.

LAM - Que influências da infância e adolescência possibilitaram a formação de sua identidade profissional?

Sempre estive cercada por livros que comprava com o dinheiro da mesada. Aos 16 anos quando comecei a ler Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre e as entrevistas da jornalista italiana Oriana Fallaci, entendi muita coisa que estava acontecendo no mundo e principalmente com nós mulheres.

LAM - Qual a sua posição com relação à extinção do diploma da categoria?

Acho péssimo. Não por uma questão elitista e sim por defender a necessidade de um conhecimento acadêmico que é fundamental. Nem todo mundo nasce com um texto na cabeça e para realizá-lo, muitas vezes, é preciso o conhecimento da técnica. Para qualificar, filtrar e organizar os conteúdos é necessário o trabalho profissional, qualificado do jornalista. A quantidade de informações disponíveis hoje  é quase incomensurável, somente um profissional da informação, um jornalista qualificado pode organizar esse conteúdo para disponibilizar à sociedade.
É importante saber ouvir a sociedade, verificar a veracidade das notícias, manter contato com fontes de informações e, por fim, publicá-las. Até hoje, nenhuma profissão foi questinada sobre o fato de existir uma formação acadêmica para ser exercida, por que isso aconteceu com o jornalismo?  é uma boa pergunta.
Abro uma brecha para os colunistas. Esses sim, independentes de serem ou não jornalistas podem emitir suas opiniões. Quem decidi isso é o boss do veículo. Com a criação dos Blogs o leitor pode formalizar suas idéias e defendê-las como quiser, é mais um espaço para publicação.

LAM - Você desenvolve um trabalho bastante engajado em dois blogs que edita: o Defesa da Mulher e o Myself. Fala da proposta de cada um desses seus blogs.

O Defesa da Mulher é um blog que propõe a divulgação de notícias, dados, matérias, depoimentos e entrevistas sobre a violência contra nós mulheres, não só no Brasil como no mundo. É impossível viver em um país onde a cada 2 horas 1 mulher é assassinada, ficar omissa.
O Myself é mais livre no conteúdo. Falo sobre tudo, de política a religião, música, livros, cinema..etc.

LAM - A imprensa brasileira, a seu ver, tem dado a devida atenção e de forma idônea e isenta acerca do problema da mulher brasileira?

Não. A imprensa não cobre o assunto como deveria. Quando o assunto é violência contra as mulheres ainda estamos nas páginas policiais, mas, já existem  abordagens que mostram o tema como uma questão de saúde, de direitos e de políticas públicas e isso nós devemos aos movimentos de mulheres que conseguiram pressionar os órgãos de comunicação.
A mídia tem o poder na medida em que defini o que será manchete ou não, o que será lido ou não pelo público. É  preciso garantir que os profissionais de imprensa exerçam esse poder de maneira ética e com responsabilidade social. É fundamental estimular a responsabilidade social da imprensa, alertar, conscientizar e sensibilizar jornalistas a respeito da gravidade desse problema.

LAM - Qual a sua perspectiva com a edição da Lei Maria da Penha?  Esse instrumento atende os anseios no combate à violência contra a mulher? A legislação brasileira abrange e atende a expectativa de se erradicar a pratica da violência contra a mulher?

A Lei Maria da Penha foi um grande avanço, mas, precisamos de muito mais, para que ela seja cumprida. Desde a promulgação da Lei Maria da Penha, o número de serviços especializados aumentou em 35% (de 521 para 707).
Atualmente, existem 707 serviços especializados - 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, 166 Centros de Referência de Atendimento à Mulher, 71 Casas-Abrigo, 62 Defensorias Especializadas e 20 Promotorias Especializadas. No que se refere à justiça e à segurança, foram criados 53 juizados especializados/varas adaptadas de violência doméstica e familiar e 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Segundo a SPM, além da criação, muitos recursos têm sido investidos para o reaparelhamento/reforma das Delegacias Especializadas, de Centros de Referência de Atendimento à Mulher e de Casas-Abrigo.
Com tudo isso, ainda não podemos afirmar que estamos perto de um atendimento exemplar. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados de 2009 mostra que apenas 559 municípios brasileiros possuem os chamados Centros de Referência para mulheres em situação de violência. Isso representa apenas 10% do total de cidades brasileiras. Estes centros oferecem assistência psicológica e atendimento jurídico para vítimas de violência doméstica.




LAM - Ao trabalhar o mote "Todo homem que maltrata a mulher não merece jamais qualquer perdão", realizei uma série de estudos e pesquisas para poder fechar esse meu trabalho poético numa martelada para cordel. Nessa pesquisa, ao se fazer uma leitura que compreende tanto a abordagem feita pela Tannah Hill até as escritoras e estudiosas de hoje das causas das mulheres, observando que os reclamos não são menores até então, principalmente no que tange à exclusividade da luta dos homens nas suas causas, enquanto a das mulheres incorpora não só as causas delas, como a de todos os excluídos. O universo masculino tem demonstrado solidariedade, ou ainda é determinante o machismo de sempre?

O machismo ainda está muito presente na nossa sociedade, é só observar o número de mulheres estupradas, humilhadas e mortas em nosso país. A atenção voltada à temática da violência doméstica e o seu combate tem se intensificado desde a criação da Lei Maria da Penha, em agosto de 2006. Mas enquanto as mulheres são o foco principal das políticas públicas, há quem trabalhe na outra ponta do problema: os homens que as agridem. Um exemplo é o Instituto Noos, no Rio de Janeiro, que desde 1999 atendeu cerca de 300 homens que procuraram, espontaneamente, ajuda para pararem de bater em suas mulheres.

LAM - A seu ver, a internet tem contribuído para coibir os abusos e violências contra a mulher?

A internet é mais uma forma de divulgação, esclarecimento e informação do que de coibição. O que vai mudar o atual quadro de violência contra as mulheres são as políticas públicas, educação, construção de mais Centros de Referência e Casas Abrigo.



LAM - Você também edita um excelente blog literário, o Tardes Poéticas. A respeito dele, um verso do meu poema "Primavera de Ginsberg" ficou bem identificado: "[...] Só a poesia tornará a vida suportável". Qual a proposta desse seu blog?

A poesia tem a força de apaziguar-me com o mundo conturbado em que vivemos, por isso, ela é indispensável. Sou apaixonada por poetas e livros. A proposta é divulgar nas redes escritores e poetas tentando sensibilizar as pessoas e dizer  que nem tudo está perdido. Temos poesia.

LAM - Quais os projetos que você tem por perspectiva realizar?

São tantos... rssrsr..bom, tenho 3 documentários, dois já aprovados pela Lei Rounet e 1 livro:
1-Mulheres Benditas que vai falar de 6 mulheres brasileiras biografadas pela escritora Ana Arruda Callado.
2- Documentário sobre o Acervo do Museu-Casa de Rui Barbosa.
3-O projeto VIVA MULHER é um documentário com mulheres de várias cidades do Brasil sobre violência, principalmente a doméstica. Quero levar informações sobre direito, cidadania e formas de defesa para as mulheres, com palestras e debates. O documentário de 60 minutos vai registrar tudo em um período de 6 meses. Lançaremos nas casas de apoio às mulheres, nos centros, nos abrigos, e onde nos for dada a oportunidade de mostrar o trabalho. Complementando o projeto lançaremos um livro e disponibilizaremos cópias do documentário para cine clubes e bibliotecas. Nossa intenção é alcançar pequenas cidades, onde o acesso a informação é mais precária. Estamos buscando parceria e patrocínio.
E por último a publicação de um livro sobre Recife e Olinda, também aprovado pela Lei Rounet. Todos esses projetos estão à procura de patrocínios/apoio/parcerias.
Grata pela oportunidade de falar com seus leitores. Bj, Jô.