quinta-feira, junho 26, 2008

POETAS DO RIO GRANDE DO SUL



LIGIA ANTUNES LEIVAS

ENTRELINHAS

Na insensatez dos conceitos
Emergem desejos...
Quebra-se o elo:
Desequilibra-se o universo.
A expectativa antessonha auroras
Neste querer maior
De peles de veludo unidas
No desenho de nós mesmos.
Na hora cálida da tarde
Atiçam-se todas as luzes...
Um pouco de mim, de ti, de nós
E a explosão de todos os sentidos.
Cada espaço traz a medida certa
... um oceano cresce entre nossas vidas
e nesta separação entre desenganos
descubro-me atônita!
Olhos ao longe (tão longínqua distância!...)
Sou voz perdida, sou desterro
Sou muito menos agora
Que as entrelinhas deste poema....

EMOÇÕES EMERGENTES

Mar revolto ante meu olhar!
Mistérios, segredos íntimos,
Profundezas abissais
Trazem outra vez meu passado.
Orla de majestoso contorno...
O primeiro encontro tão de repente!
Revejo-me contigo
(solicitudes, proximidades)
nós, entrelaçados,
sob o magnífico céu das estrelas
(tão bisbilhoteiras!)
inebriados
a viver a sensata insentatez
das transgressões dos amantes
que se descobrem
quase ao acaso do tempo
(magias das mil e uma noites!...)
a quem coube traçar
o estonteante destino
daquela madrugada?
Olho o mar... céu enfeitado!
(tão comportadas as estrelas!)
por certo elas sabiam:
um dia, nós nos perderiamos por aí
pelos descaminhos supreendentes
de nossos incertos caminhos.
Esta noite sou apenas confissão.

RASÓDIA DE UM CORAÇÃO FEMININO

... do pó?
... do barro?
... da costela de Adão?
Que importa? Há alguma diferença?
... surgia a Mulher tão-somente.
À sombra do homem ela deveria ficar
para sempre... sm cessar
qual Sísifo sacrificado.
O tempo passou;
a resignação sucumbiu.
E a Mulher buscou a luz,
buscou a própria essência.
Houve lástimas, lamentos.
No contraponto, porém,
vislumbrou o céu inteiro,
a noite total.
Hoje ainda há limites,
há fronteiras demarcadas...
mas a luta continua.
Mesmo que se algemem alguns pulsos,
o resgate foi feito:
mostramo-nos sem máscaras... - Somos Mulheres!

NAMORADO

Veio chegando junto com a juventude
Veio sorrateiro, disfarçado, de mansinho
E eu cuidava nos olhos seus o sorriso
e em sua boca eu buscava todo riso
Algo invisível (não sei se era o silêncio)
dizia-me muito... tudo que meu coração queria
e eu o seguia, espreitava-o em cada canto
e nesse jeito ia encantando todo meu dia
Passou o tempo, a hora, cada momento
e no meu peito foi brotando um sentimento
que era mel (não era fel!...) era começo
de um amor que igual até hoje desconheço!
Ah! mas veio o destino, a sina e não sei mais
Ele se foi... pra onde? ...não soube jamais
Voltou a vida em seus caminhos na calçada
e aqui fiquei... às lembranças abraçada

JULGAMENTO

Haverá o tempo de o tempo já ter ido.
Então, não caberás mais em mim
e eu?... não beberei estas lágrimas.
O amor será sílabas, monossílabos entre nós.
... ... ...
Tantas vezes é ele tão-somente
pulsações escarlates
acorrentadas à tua ausência.

QUANTAS VEZES QUIS TE DIZER.... PAIXÃO

Quantas vezes quis te dizer "Te amo!"
Não sei por que dobrei essa vontade.
Não sei por que guardei essas palavras.
Nem sei por que tanto adiei esse dizer
que tão feliz faz quem o declara calmamente!
Estranho... talvez não possas entender tão fácil
(assim também comigo acontece)
mas já naquela primeira frase
que me escreveste tão desinteressadamente
fascínio intenso assomou-me inteiramente...
o coração e todos os melhores sentimentos
(eu os senti no entusiasmo do meu viver)
Sim!... Como foi bom! Foi como pensei
devesse ser o verdadeiro amor:
contemplação, ardor, arrebatamento
carinho mel, enlevo céu, doce afeição
sentidos e aquerenciados
sem qualquer presença além da imaginação.
Sei... neste 'ser mais ser' vivi o pranto, a dor,
senti o coração sofrido...
transparente, porém... muito mais bonito!
Nenhum silêncio foi suficientemente forte
para constranger tão fiel amor
que a ti dediquei sem nada pedir em troca.
Sim! Este amor que hoje ainda tanto se propaga
e que não cansa de andar por todo meu ser
me faz feliz mesmo que por todo lado
com ele - tão calado - eu sempre ande!

TRILOGIA

Beija-flor! Ó beija-flor!
se fosses o meu amado,
jamais te deixaria beijares outra flor!
Amor e Posse
Bom humor?... hummmmmmmmmm...
Deixa-me ver... ... ...
E haverá melhor resposta para o amor?
Amor e humor
Pensei ser o homem algo bem comum.
...então, houve aquele dia... Encontramo-nos...
Descobri o significado do amor!
O amor e o amado

O ESSENCIAL PERMANECE

Quando a vida já não for mais vida
e se fizer apenas brumas e recordação
na tênue e sutil memória da humanidade
que percorre as esperanças escarpadas,
tu - homem! - serás essência
da alma tua que aqui passou.
Quando o mundo for só pedras desfeitas
e não tiveres mais por onde conduzir teus passos,
tu - homem! - serás apenas restos de ti mesmo...
Morto e apodrecido, tudo em ti terá perdido a validade
mas se alguém ainda assim te guardar na lembrança,
que seja para louvar a essência tua que aqui ficou.

MADRUGADA DO ADEUS

Madrugada
profana
obscura
Fantasmas dançam
( - à minha volta?...
- dentro de mim?...)
Testam meus passos
na melodia espectral deste silêncio
Me perco na dança
Meu corpo balança
A madrugada prossegue... sepulcral
Me faz insana
Perco meu rumo
... me sumo.

DESPEDIDA

Adeus...
Assim... quase rápido
quase leve
sussurro, suspiro
nada além de um respiro
Adeus...
Assim... pequeno,
tão frágil, tão forte
engasgado talvez
pacto frio, sem aceno
Essa voz em mim
conclusão já firmada
sem prosa ou mais nada
fel... (desejo sem jeito)
velado no peito...
Nenhuma noite tem volta
e o que morre não volta...

LIGIA ANTUNES LEIVAS – Nascida em Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, Ligia Antunes Leivas é graduada em Letras e Direito, pós-graduada em Língua Portuguesa. Possui diversos livros publicados pela Universidade Federal de Pelotas, dentre eles: “De Amor e de Dor”, “O Invisível de Cada Um de Nós”, “O Feminino no Real/Ficcional” e “A Noite Não É Um Tempo Calado”. É integrante da Academia Sul-Brasileira de Letras, do Centro Literário Pelotense e do Clube dos Escritores de Piracicaba, SP. É professora emérita em Extensão da Universidade Federal de Pelotas. Participa de mais de 68 coletâneas e foi incluída na III Antologia do Portal CEN. Veja mais dela na AVPB.

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