sexta-feira, março 20, 2009

O TRÂMITE DA SOLIDÃO



PAINEL DAS FÊMEAS

Luiz Alberto Machado

A mulher jaz do meu lado
E de mãos dadas
Somos finalmente felizes
Felizes além da vida
A vida pelo amor

A nossa consangüinidade sob a auréola da paixão
A pérola dela que mastiga meus pensamentos
E me atrevo chegar ao seu trono
Súdito sem cetro do seu querer
Inculto fiel da imagem dela

A quem seria dado a permissão de lhe desposar
Que plebeu afortunado alcançaria sua majestade
E renunciando um reinado
Seria apenas seu amante
Um rei destronado
Entronizado apenas pelo amor

A mulher jaz do meu lado

É quase de manhã
E a nossa distância cislunar
No que pese ser feliz

Ainda sinto seu cheiro quente
Seu repouso incólume
Depois da entrega dos corpos
Sem condenação inquisitorial
Sem gravidez rejeitada
Sem a perseguição de sicários

Dorme sem saber Heloísa
Sem a despedida de Tzvetaeva
Pelos vitrais dos sonhos
No prima de turmalina

A deusa mulher jaz do meu lado

Seu corpo modelado
Sua ferida santa e viva
Seu jeito grácil
O milagre da prodigalidade

Seu rosto belo
Feliz semblante de Thereza
A viúva bela
Mais bela sem par

Seu nome endereçado
O seu condão
O seu sexo desejado
Sua graça e seu feitio

A mulher jaz do meu lado
E insulto primeiro afeto
O seio embaixo da blusa
As mãos ungidas pelo prazer
A boca dos desejos que não se dizem
O corpo de tão puro recheio

- os maus pensamentos de Moliére repousam na minha cabeça

Minhas mãos resvalam e apalpo e enlevo
Pelo evasé de sua saia bandô

As coxas grossas
Roliças

A anca macia
A vulva
Fulvas redondas

Remexe o quadril a minha intemperança
A minha concupiscência

Hei de vê-la ferver no molde exato
A dar o que me falta

Coisa feita de coisas que não se dizem

Seu olhar lânguido na avareza do querer
Endemoninhando minha sede

Bebo na sua boca a água que me sacia
E me incendeia

Testemunho, portanto, seu poder de seduzir minha alma
Deusa Maceió

Invado sua maldita reclusa
Reclusa que detona o viço
E me engalfinho em seu esconderijo
Por suas peças íntimas
E intumescido e cheio
Me afogo
Bebo o seu rio
Mordo a sua carne

- sou seu canibal!!!

Índia pura
Seu corpo baila no meu Albertville

Achega-me
Sua chama me domina

A mira
O alvo
Tonta
E dança
Mais dança o meu coração

A dança do ventre de Sheyla Matos
Quando pudesse estimar o meu extermínio
E ela vem tão indomável quanto santa
A se despir

- um pênalti na pequena área do meu coração

E ela vem bulindo
Dinamitando meus sonhos
A se dissolver em mim

Com meu dedo na boca
E despejo a minha vida
E engole o meu sêmen
No centro do feitiço

Viúva alada
Dorso febril
E a febre e a cintura

Roço-lhe o esfíncter até Grafemberg
Na sua nudez Carolina Ferraz
Na penumbra ardente do seu ser

O seu gemido me extasia no movimento sensual
De Margret, de Durga, de Rachel
Das três uma de cabelos lisos em seu tamanho menor
Da geografia colada no vestido curto
No Delicate Sounds of Thunder

Aquela que faz valer a minha fantasia e desmaia

Oh! coreografia do prazer

Bundinha vai-e-vem

Viúva bela
Minha tenda de Maria Brown

Me enlaça e diz que sou a camisa dez do seu coração!!!

Me espera que eu contarei das aventuras
Ao me reabilitarem entre os vivos
E reinarei sobre sua volúpia
E derramarei meu esperma
E saltarei fundo na paixão

Vou dormir nos seus olhos
Com toda a minha agonia de ilha encantada
E cantarei a linda canção de amor de J. Alfred Pruckfork
E será lindo acordar com você do lado

A mulher jaz ao meu lado
Depois de um xeque mate no xadrez de Midleton
Sua meiguice sem pudor
No dever de sermos o protótipo dos deuses

Me acuda
São juras sinceras de um poeta vário e um verso lascivo

Amar não faz mal a ninguém

E ensaio versos pros seus olhos
Faço cantigas pro seu jeito
Rainha minha, rainha nua
Sequer suspeita que eu já morria
Enrubescido e despudorado
Com a cara e a coragem peculiares aos enamorados

Cadê você?
Pedi tanto prá São Lunguinho lhe encontrar
Logo jamais deixarei partir
Amando com voragem até saber
O feitiço do cogumelo de Alice
Que me rasga e me cura
E com todo ímpeto eu espero sem medo, viúva
Espero ver-lhe o talhe a alma o ser
Anestesiado na moita
Repousando às suas coxas
Na noite roxa e olhos revirando
No gemido de estar gozando
O prazer extremo

O átimo

O ápice
Da minha jugular aberta
Minha aorta infecta
De ser feliz deste lado
E do seu lado, viúva
Pra mulher que jaz
Agora aqui comigo.

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