quarta-feira, janeiro 09, 2008

POETAS MOÇAMBICANOS



MIA COUTO

COMPANHEIROS

Quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho

por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros


-*-

A FABULA DO MACACO E DO PEIXE

Um macaco passeava-se à beira de um rio, quando viu um peixe dentro de água. Como não conhecia aquele animal, pensou que estava a afogar-se. Conseguiu apanhá-lo e ficou muito contente quando o viu aos pulos, preso nos seus dedos, achando que aqueles saltos eram sinais de uma grande alegria por ter sido salvo. Pouco depois, quando o peixe parou de se mexer e o macaco percebeu que estava morto, comentou - que pena eu não ter chegado mais cedo.

-*-

POEMA MESTIÇO

escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico
sangro norte
em coração do sul
na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo
hei-de
começar mais tarde
por ora
sou a pegada
do passo por acontecer


-*-

Mia Couto nasceu na cidade de Beira, Moçambique, em 1955. Licenciado em Biologia pela Universidade Eduardo Mondiane. Dirigiu a Agência de Informação de Moçambique, a revista Tempo e o jornal Notícias de Maputo. É membro da Organização Nacional de jornalistas e da Associação de Escritores Moçambicanos. É um dos escritores moçambicanos mais conhecidos internacionalmente. Estreou com o livro de poesia Raiz de Orvalho, publicado em 1983. Outras obras: CONTOS: Vozes Anoitecidas (1986), Cada Homem é uma Raça (1990), Estórias Abensonhadas (1994), Contos do Nascer da Terra (1997), Na Berma de Nenhuma Estrada (1999) e O Fio das Missangas (2003). ROMANCES: Terra Sonâmbula (1992), A Varanda do Frangipani (1996), Mar Me Quer (1998), Vinte e Zinco (1999), dentre outros. Em 1999 recebeu o Prêmio Vergilio Ferreira pelo conjunto de sua obra. Em 2007 recebeu o Prêmio União Latina de Literaturas Românticas e foi vencedor do prêmio Zaffari & Bourbon de Literatura, na Jornada Nacional de Literatura.

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