segunda-feira, julho 07, 2008
LITERATURA BRASILEIRA
ARCADISMO – CLAUDIO MANUEL DA COSTA
Cláudio Manuel da Costa foi o primeiro modelo e o mais forte de todos para os poetas mineiros. Influenciou significativamente Tomás Antônio Gonzaga, de quem era o "amigo mais velho". Cláudio, considerado o mais árcade dos poetas do grupo, teve uma formação rigorosamente clássica.
A sua poesia bucólica focaliza, sobretudo, a paisagem montanhosa de Minas Gerais.
Nascido em Mariana (MG), Cláudio Manuel da Costa (1729 – 1789), filho de portugueses ligados a mineração. Estudou com os jesuítas, no Rio de Janeiro e cursou a Faculdade de Direito em Coimbra. Ainda em Portugal, publicou seus primeiros poemas. Retornou a Vila Rica, onde ocupou importantes cargos administrativos. O lançamento de suas obras marca o início do Arcadismo Brasileiro.
De volta ao Brasil, Cláudio Manuel exerceu em Vila Rica a carreira de advogado e administrador. Sua carreira de escritor teve inicio com a publicação de Obras Poéticas. Em 1789, foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Sua obra é a que melhor se ajustou aos padrões do Arcadismo europeu. O poeta cultivou a poesia Lírica e a Épica. Na Lírica, tem destaque o tema de Desilusão Amorosa. A situação mais comum em seus sonetos é Glauceste, o eu Lírico pastor, lamentar-se por não ter correspondido por uma musa inspiradora, Nise. Ou, então, lastima-se por se encontrar num lugar de grande beleza natural, mas não estar acompanhado pela mulher amada. Nise é uma mulher personagem fictícia, incorpórea, presente apenas pela situação nominal. Não se manifesta na relação amorosa, não é descrita fisicamente, nem da qualquer mostra de corresponder alguém de verdade. Apenas representa o ideal da mulher amada inalcançavel – nítido traço de reaproveitamento do neoplatonismo renascentista. Na épica, Cláudio escreveu Vila Rica, poema inspirado nas européias clássicas, que se trata da penetração bandeirante, de descoberta das minas.
Oficialmente a história registrou a morte de Cláudio Manoel da Costa como suicídio por enforcamento. Segundo alguns, o poeta não teria revestido ao sentimento de culpa, uma vez que havia delatado, sob tortura, os participantes da conjuração. Contudo, essa versão vem sendo contestada. Até hoje, em Ouro Preto, se fala que varias igrejas badalaram os sinos quando da morte do poeta. Por tradição, a igreja nunca toca os sinos a suicidas, o que pode ser indicio de assassinato e não suicídio.
Cláudio Manuel da Costa é um curioso caso de poeta de transição. Ele reconhece e admira os princípios estéticos do Arcadismo, aos quais pretende se filiar, mas não consegue vencer as fortes influências barrocas e camonianas que marcaram a sua juventude intelectual. Racionalmente um árcade, emotivamente um barroco. O poeta admite a contradição que existe entre o ideal poético e a realidade de sua obra. Com efeito, se os poemas estão cheios de pastores - comprovando o projeto de literatura árcade - o seu gosto pela antítese e a preferência pelo soneto indicam a herança de uma tradição que remonta ao Camões lírico e à poesia portuguesa do século XVII. Aliás, os seus temas são quase sempre barrocos. O desencanto com a vida, a brevidade dolorosa do amor, a rapidez com que todos os sentimentos passam são os motivos principais de sua expressão. Motivos barrocos. Contudo, para o homem barroco do século XVII, havia a perspectiva da divindade. Para o poeta de transição, existe apenas o sofrimento. A todo instante, o autor de Obras poéticas vale-se de antíteses - típico procedimento barroco - para registrar os seus conflitos pessoais. A montanha mineira, a penha, a pedra, o penhasco afloram a todo momento nos poemas de Cláudio Manoel da Costa como um símbolo de um mundo que ele não pode esquecer.
Obras - O introdutor do estilo árcade na literatura brasileira. Por isso seus primeiros poemas carregam ainda detalhes bem típicos do estilo barroco. Em 1768, lança seu livro se poemas intitulado "Obras" e funda Arcádia Ultramarina dando inicio ao Arcadismo, ao Neoclassicismo (Retorna a beleza e a pureza dos escritores clássicos contra o exagerado gongorismo). Sua obra anterior a 1768 compõe-se de algumas poesias barrocas, sob a influência jesuítica. apartir daquela data procurou sempre trabalhar de acordo com o pensamento árcade destacando por seus sonetos, perfeitos na forma e na linguagem. Seu temas giram em torno das reflexões morais, das contradições da vida, tão ao gosto dos poetas renascentistas, percebendo inclusive uma acentuada influência camoniana. Cultivou a poesia bucólica, pastoril, na qual menciona sua condição do pastor que tem a natureza como refúgio ou ainda o sofrimento amoroso, as musas idealizadas.
Mais tarde escreve "Vila Rica" (narra a história da cidade desde sua fundação exaltando a atuação dos bandeirantes. O texto dividi-se em 10 contos, em versos decassílabos, e apresenta as seguintes partes: Preposição, Inovação, dedicatória, narração e epílogo) e "Memória histórica sobre a capitania de Minas Gerais". Traduziu "A riqueza das Nações" (de Adam Smith). Escreveu também textos teatrais, entre eles o "Parnaso Obsequioso", peça que foi musicada. Em Portugal publica: "O Labirinto de Amor", "Números Harmônicos", "Munúsculo Métrico". Dedicou-se, numa centena de sonetos, a reviver os motivos bucólicos e o idealismo neoplatônico, mas ficando só no nível dos motivos neoclássicos. Também tentou a épica narrativa na "Fábula do Ribeirão do Carmo" e no poema "Vila Rica", cuja o principal valor além do documental, é a pureza dos versos neoclássicos e também o nativismo da paisagem este mal revelado em seus sonetos. Também encontram espaços na poesia de Cláudio Manuel as influências da paisagem local: o ribeirão do Carmo, rio que corta a região; os vaqueiros, em lugar de pastores gregos; as montanhas e os vales e as constantes referencias às pedras, que sugerem o ambiente agreste e rústico de MG: "Destes penhascos faz a natureza o berço de ouro em que nasci: Oh quem cuidara, que entre penhas tão duras se criara uma alma eterna, um peito sem dureza.
O crítico Antonio Candido mostra que esta preferência por imagens e cenários onde predominam a pedra, a rocha e os penhascos, indica a maior das contradições de Cláudio Manuel da Costa. Educado em Portugal, lá encontra a sua pátria intelectual, lá dialoga com a cultura do Ocidente, lá forja suas concepções artísticas. No entanto, o seu inconsciente está preso a sua pátria afetiva, a pátria das primeiras emoções, da infância e da adolescência. Sua memória gira em torno deste mundo feito das rochas e das pedras de Minas Gerais. Por isso, a todo momento elas afloram em seus poemas europeizados, como símbolos das raízes brasileiras, que ele não quer (ou não consegue) eliminar. Além do gênero lírico, Cláudio Manuel da Costa tenta a epopéia num poemeto chamado Vila Rica, onde canta a fundação da cidade e procura mostrá-la já incorporada aos padrões civilizatórios europeus. Apesar da influência visível de O Uraguai, de Basílio da Gama, o resultado é de uma mediocridade irremediável. Observa Antônio Candido, "de todos os poetas mineiros talvez seja ele o mais profundamente preso às emoções e valores da terra". E o crítico o prova realçando o retorno da imagem da pedra em toda a lírica de Cláudio, resistente nisso as sugestões emolientes do puro bucolismo.
SONETOS
Estes os olhos são da minha amada,
Que belos, que gentis e que formosos!
Não são para os mortais tão preciosos
Os doces frutos da estação dourada.
Por eles a alegria derramada
Tornam-se os campos de prazer gostosos.
Em zéfiros suaves e mimosos
Toda esta região se vê banhada.
Vinde, olhos belos, vinde, e enfim trazendo
Do rosto do meu bem as prendas belas,
Daí alivio ao mal que estou gemendo.
Mas oh! Delírio meu que me atropelas!
Os olhos que eu cuidei que estava vendo
Eram (quem crera tal!) duas estrelas.
Formosa é Daliana; o seu cabelo,
A testa, a sobrancelha é peregrina;
Mas nada tem, que ver coa bela Eulina,
Que é todo o meu amor, o meu desvê-lo:
Parece escura a nove em paralelo
Da sua branca face; onde a bonina
As cores misturou na cor mais fina,
Que faz sobressair seu rosto belo.
Tanto os seus lindos olhos enamoram,
Que arrebatados, como em doce encanto,
Os que a chegam a ver, todos a adoram.
Se alguém disser, que a engrandeço tanto
Veia, para desculpa dos que choram
Veja a Eulina; e então suspenda o pranto.
Não se passa, meu bem, na noite, e dia
Uma hora só, que a mísera lembrança
Te não tenha presente na mudança,
Que fez, para meu mal, minha alegria.
Mil imagens debuxa a fantasia,
Com que mais me atormenta e mais me cansa:
Pois se tão longe estou de uma esperança,
Que alívio pode dar me esta porfia!
Tirano foi comigo o fado ingrato;
Que crendo, em te roubar, pouca vitória,
Me deixou para sempre o teu retrato:
Eu me alegrara da passada glória,
Se quando me faltou teu doce trato,
Me faltara também dele a memória.
Eu cantei, não o nego, eu algum dia
Cantei do injusto amor o vencimento;
Sem saber, que o veneno mais violento
Nas doces expressões falso encobria.
Que amor era benigno, eu persuadia
A qualquer coração de amor isento;
Inda agora de amor cantara atento,
Se lhe não conhecera a aleivosia.
Ninguém de amor se fie: agora canto
Somente os seus enganos; porque sinto,
Que me tem destinado estrago tanto.
De seu favor hoje as quimeras pinto:
Amor de uma alma é pesaroso encanto;
Amor de um coração é labirinto.
Musas, canoras musas, este canto
Vós me inspirastes, vós meu tenro alento
Erguestes brandamente àquele assento
Que tanto, ó musas, prezo, adoro tanto.
Lágrimas tristes são, mágoas, e pranto,
Tudo o que entoa o músico instrumento;
Mas se o favor me dais, ao mundo atento
Em assunto maior farei espanto.
Se em campos não pisados algum dia
Entra a ninfa, o pastor, a ovelha, o touro,
Efeitos são da vossa melodia;
Que muito, ó musas, pois, que em fausto agouro
Cresçam do pátrio rio à margem fria
A imarcescível hera, o verde louro!
Veja mais de Cláudio Manoel da Costa.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
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