quarta-feira, julho 23, 2008

POETAS DA BAHIA



ALMANDRADE

O absurdo
Ronda
Um céu de metáforas
Sombra imóvel
Empoeirada
Namora
O ar dos museus
Palavras desertas
Soltas
No colorido
Dos jardins de Monet.
Esculturas de vento
Transparentes
Como os nomes
Sem as coisas
Suave é o século
Com sua pontualidade
Escondido na superfície
Das pedras e das águas.
A sonolência da cidade
Deposita
Sua essência
Na geometria dos cantos
Brilha
No feitiço das luzes
Rasgando
Nuvens densas
E tempestades de neve.
O equilíbrio do universo
Repousa
Numa esfera embriagada
Mas perfeita
O pensamento se curva
Dança
Viaja
Mira a beleza
Descobre
O doce mistério
Da invenção.
A fama engana.
Tudo que vejo
É o mundo,
Menos a escuridão
Que trapaceia o infinito
Há muitos séculos
O vento sopra
No mesmo lugar.
E o mar
Com a ternura do horizonte
Seduz a infância
Dos sentidos
O acaso traz o imprevisível.
Privilégio do verbo
O verso vem de longe
Traduz o dia pardo
O ser hesita
Na lógica de sua
Harmonia perceptível
E o universo
Talvez seja
Um vasto erro
Estendido entre
O signo e o vazio.
Uma fala
Nada, naufraga,
Acende o dia.
Não diz.
Todas as perguntas
Recolhem o espanto.
Templo vazio
Poço vazio.
No fundo,
Um dado suado.
Cenário abstrato
Do nada e das coisas.
O quadro é a geometria
Onde a realidade
Troca de lugar
Muda de enquadramento.
No calculo das cores
A visibilidade
Não nega
A ordem do imaginário.
Inflamável
É o atrito dos versos
Adversos
Súbito cansaço
Ironia
Voracidade
O brilho e o tédio
Dos metais
Palavras envelhecidas
Com múltiplos sentidos
Contraditórios
Em cada esquina.
Simetrias
Imperfeições abstratas
A representação
É a duvida
O nome não diz
Nada no pensamento
Mede o mesmo
...
hóspede da linguagem
solitário
com seu medo.
A luz
Molha a noite urbana
Exceto a fumaça
Um signo na pedra
Abelhas de cristal
Atrocidades
E cobaias
Está escrito
Nas extremidades
Campo de vôo
E distração.
O medo
Nomeia o inimigo.
O reflexo
Assume o escuro.
Intervalos
Desacordos.
Dura passagem
Esculpida
Na leveza da rocha.
O furor do novo
Embala a pressa
Em vão
Corre a tarde
O tempo é ouro
Os nomes passam
Devassam os lugares
Imprimindo-lhes
Uma marca
E uma tradição.
Fragmento
De um instante
Humor branco
Muros pintados
Escondem a cidade
O álbum mente
Atrás das fotos
Uma fabula diferente
Trânsito
Horror dos cinzas
Nervos fluidos.
O homem
Não encontra
O caminho
Da adversidade
O peso dos vícios
Sustenta um abismo
Prisioneiro e perdido
Na displicência
Das águas
Recorda
O futuro.
O exemplo do abstrato
Com sua forma indefinida
Ninguém vê
O estrago dos dias
Percebe depois.
Inútil percurso
Estendido
Na totalidade
Das coisas.
Deslocamento infantil
Para descobrir
Na matemática do espaço
A solidão
De habitar uma experiência.
Na fuga
Se esconde
A desordem inevitável
Do amanhecer.
O deslizar de um fio
Cruza o ar
Fantasia o raciocínio
A lã supreende
O frio
E se acomoda
No infinito
Do imagináio
Abraça
A pele e os pêlos.

ALMANDRADE – ANTONIO LUIZ M ANDRADE é artista plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano, poeta, professor de teoria da arte do curso livre do MAM-BA, que participou de várias mostras coletivas, entre elas: XII, XIII e XVI Bienal de São Paulo; "Em Busca da Essência" - mostra especial da XIX Bienal de São Paulo; IV Salão Nacional; Universo do Futebol (MAM/Rio); Feira Nacional (S.Paulo); II Salão Paulista, I Exposição Internacional de Escultura Efêmeras (Fortaleza); I Salão Baiano; II Salão Nacional; Menção honrosa no I Salão Estudantil em 1972. Integrou coletivas de poemas visuais, multimeios e projetos de instalações no Brasil e exterior. Um dos criadores do Grupo de Estudos de Linguagem da Bahia que editou a revista "Semiótica" em 1974. Veja mais Almandrade no Guia de Poesia.

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