sexta-feira, julho 11, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Imagem: The Education of the Children of Clovis, 186, do pintor neoclássico holandês/ingles Sir Lawrence Alma-Tadema (1836-1912).

POEMA EM VOLTA ALTA

et comme dieu je vais nu” (Mallarmé)

Luiz Alberto Machado

Eu sou um deus
Um deus vivo presente
Criado na mentira do mundo e dos homens
Indesculpavelmente humano
Efígie imperfeita da perfeição
Que se amedronta dos porões da floresta indigente que engole gente e todo tipo de ser vivente como ente que mente e mente mente
Que se refugia na poesia de viver para compensar a sua contumácia de manifestar-se desatino, imperfeito, perecível diante de todas as paradoxalidades indesvencilháveis com suas mil garras cheias de anúncios e gritos e choros e lamúrias eternas dentro dos edifícios bêbados de ostensiva imobilidade e pasmaceira e catatonia no meio dos relâmpagos que faíscam acordes naturais e imprimem alarmes e ameaças da toca o breu do concreto bruto do asfalto desvelando o sigilo absurdo dos rostos em pânicos ou felizes com seus pacotes das compras que se danam atônitas pelos semáforos e limites dos cartões de crédito e esquinas e alvoroços como cães famintos na lata de lixo, como um maçarico doido no coração do consumo onde a fugacidade do riso é perene n lodo capitalista!

Eu sou fruto que é raiz e que é semente. O tempo me asfixia. E tudo quanto eu disse era uma lâmina cega na raiz do meu coração imberbe. De que me resta ser herói aos vinte e três anos no meio da minha melancolia que já e suficiente na minha farsa.

Agora carrego ainda mais o meu amor essênio. Procurando a minha túnica de uma só peça e indo ao encontro dos homens de palavras suaves.

Ao mundo oferto o meu sonho herético: Maa kHeru! Maa kHeru!

Eu sou um deus
Eu sou um deus
Um deus vivo presente crucificado em seu próprio verbo, em seu próprio flagelo e tristemente vivo feliz! Não tenho gênesis nem registro acásicos nem júbilos nem hosanas nas alturas ou aleluias nas funduras. Estou cercado em mim mesmo, milpartido com todos os fragmentos compactados num vácuo tão intenso no meio da loucura coletiva e dentro da emboscada do futuro, crendo na vida mesmo que sirva de experimento para os que fabricam catacumbas, mesmo que eu saiba dos que fazem a experiência bélica com a vida dos outros, mesmo que sirva de cenário para as neuroses dos que povoam as ruínas de tudo na esclerose do veneno que asfixia o sol na multidão de anjos estúpidos luzindo com suas olheiras nos estandartes dos algozes: que tudo seja feito pelo amor aos dólares vis!

Eu sou um deus
Eu sou um deus
Um deus vivo presente crucificado em seu próprio verbo e à mercê da sina impressa no assoalho dos tempos. E constato ao tato o fato da minha crença na vida ser a minha festa e fecho-me em minha deificação débil e inútil e sou todo um mar revolto.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

VEJA MAIS:
PRIMEIRA REUNIÃO
PALESTRAS
CRÔNICA DE AMOR
BRINCARTE
PREVISÕES DO DORO PARA 2008 (Vem aí as previsões para 2009, aguarde)
FECAMEPA
PROESAS DO BIRITOALDO
RADIO TATARITARITATÁ – LIGUE O SOM E VAMOS CURTIR!!