segunda-feira, julho 21, 2008

LITERATURA BRASILEIRA



ARCADISMO – TOMÁS ANTONIO GONZAGA - Nascido em Portugal, Tomás Antonio Gonzaga (1744 – 1810) passou parte da infância e da juventude no Brasil. Mudou-se depois para Portugal, onde se formou em direito. De volta ao Brasil, por algum tempo exerceu a profissão de advogado em terras portuguesas, mas em 1782 foi nomeado Ouvidor de Vila Rica, capital de Minas Gerais. Ocupou altos cargos jurídicos e em 1787 tratou casamento com Maria Joaquina Dorotéia de Seixas, a futura Marília. Ele tinha mais de quarenta anos e ela era pouco mais do que uma adolescente. Ele se apaixonou pela jovem Maria Dorotéia, a quem consagrou como Marília em seus poemas. Aderiu à Inconfidência Mineira e a detenção pelo envolvimento na Conjuração impediu o enlace. Ficou preso três anos numa prisão no Rio de Janeiro e, quando o movimento malogrou, foi julgado como participante, condenado e degredado para Moçambique, onde se casou com a filha de um rico mercador de escravos e morreria mais tarde. Viveu seus últimos anos completamente afastado da poesia.
Entre as suas obras, estão uma das obras mais estimadas e lidas no país, Marília de Dirceu (lírica) e Cartas Chilenas (satírica).
A poesia de Tomas A. Gonzaga, realiza com graça e equilíbrio o novo gosto pelo estilo simples e natural. Sua expressão é direta, seu vocabulário é acessível, desprovido de termos raros e cultos, e o sentido, na maior parte das vezes, é claro. O poeta não abusa das figuras de linguagem, como as metáforas, ainda que se utilize apenas de uma linguagem amorosa e cortês que se enquadra perfeitamente à forma poética escolhida. Seu estilo se caracteriza pelo pastoralismo, galanteria, clareza, recusa em intensificar a subjetividade, racionalismo neoclássico que transforma a vida num caminho fácil para as almas sossegadas, eis alguns elementos que configuram o Arcadismo nas liras de Tomás Gonzaga. Por causa disso, foi o mais famoso dos árcades brasileiros, merecendo essa distinção, quer pelas cores locais da lírica de Marilia de Dirceu, quer pela virulência das Cartas Chilenas, que lhe são atribuídas, pois apresenta em uma e outra obra indícios claros de seu pré-romantismo.
A diferença entre Cláudio e Gonzaga representa para o conjunto da poesia brasileira do século XVIII a chegada a um elevado grau de amadurecimento. Enquanto Cláudio Manuel deu preferência ao soneto. Gonzaga usou de formas poéticas mais variadas, da redondilha menor ao decassílabo.
Ao analisar a "Lira" de Tomás Antonio Gonzaga nota-se a exaltação da vida no campo, sua linguagem é simples e direta, sem excessos de ornamentos, ainda que se utilize apenas de uma linguagem amorosa e cortês. O amor aparece como um sonho, uma fantasia que serve de base para o poeta-pastor projetar uma vida retirada das atribulações e conflitos do mundo. Num meio mais calmo, no campo, ele e sua amada se bastam. No poema, Marília corresponde à figura da mulher padrão, ao ideal da figura feminina da época, usando uma linguagem simples e direta, aproximando-se da forma natural de falar ou escrever e da denotação, exceto a quarta estrofe, onde é apresentada a figura feminina por meio de metáforas, hipérboles e comparações. O eu lírico sonha com um viver do dia-a-dia, a sombra da paisagem bucólica (monte, campinas), usando um vocábulo ligado ao campo (vaqueiro, gado, vinho, legume, fruta, azeite, ovelhinhas, leite, pastores, etc), transmitindo um amor sereno e sem sobressaltos: "nem me cega a paixão, que o mundo arrasta". Pode-se verificar na estrutura do poema que seus versos são decassílabos e que sua estrutura frasal é simples, mas possuindo hipérbatos, percebendo que os adjetivos usados tem a função descritiva. Encontra-se presente no principal da mensagem gonzaguiana uma poesia suave, de acentuado cunho realista, de concepção burguesa da vida, dentro do espírito moralizador e didático.
As vinte e três liras iniciais de Marília de Dirceu são autobiográficas dentro dos limites que as regras árcades impõem à confissão pessoal, isto é, o EU não deve expor nada além do permitido pelas convenções da época. Assim um pastor (que é o poeta) celebra, em tom moderadamente apaixonado, as graças da pastora Marília, que conquistou o seu coração.
Percebe-se no poema o enquadramento dos impulsos afetivos dentro do amor galante. Está-se longe do passionalismo romântico. A expressão sentimental vale-se de alegorias mitológicas e concentra-se em fórmulas mais ou menos graciosas. Vai se encontrar um conjunto de frases feitas sobre os encantos da amada, sobre as qualidades do pastor Dirceu e sobre a felicidade do futuro relacionamento entre ambos. Conforme o gosto do período, há um esforço para cantar as qualidades da vida em família, do casamento, das módicas alegrias que sustentam um lar.

MARILIA DE DIRCEU - PARTE I – LIRA I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’pressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado,
Tenho próprio casal, e nele assisto,
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite,
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte
dos anos inda não está cortado:
os pastores que habitam este monte,
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela conserto a voz celeste,
Graças, Marília bela,
graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
de um rebanho, que cubra monte e prado;
porém, gentil pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
a quem a luz do sol em vão se atreve;
papoila ou rosa delicada e fina
te cobre as faces, que São cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o céu, gentil pastora,
para glória de amor igual tesouro!
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
o rio, sobre os campos levantado:
acabe, a peste matadora.
sem deixar uma rés, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso
nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
para viver feliz, Marília, basta
que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças. Marília bela,
graças à minha Estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
sustentada. Marília, no meu braço;
aqui descansarei a quente sesta.;
dormindo um leve sono em teu regaço;
enquanto a luta jogam os pastores,
e emparelhados correm nas Campinas,
toucarei teus cabelos de boninas,
nos troncos gravarei os teus louvores
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
Depois que nos ferir a mão da Morte,
ou seja neste monte, ou noutra serra,
nossos corpos terão, terão a sorte
de consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes.
lerão estas palavras os pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos que nos deram estes".
Graças. Marília bela,
graças à minha Estrela!

Veja mais Marilia de Dirceu.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
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