sexta-feira, abril 17, 2009
O TRÂMITE DA SOLIDÃO
Imagem: Mulher, de Arnaldo Garcez.
QUARTA-FEIRA
Luiz Alberto Machado
A festa acabou
E não houve nenhum barulho na madrugada
A rua está pesunhada em honra de Pã
Homenagem a Baco
A festa do povo passou
Neste dia
Eu te ofereço minha carne em holocausto
Neste luar que azula a escuridão
As ruas do pretérito caboclinho do Rabeca
O reluzente estandarte da Virgem Guadalupe
E a extinção de Tupác Amaru
Até sua descendência em quarto grau
Tudo apaixonadamente vivo
Tudo delirantemente sentido
Tudo escandalosamente passado a limpo
Contaminados se foram os cultores do pecado original
Do hedonismo
E do rig-veda
Hoje o morto carrega o vivo
E ontem de noite correu bicho em Matriz de Camaragibe
E anteontem o bufo inspirou Zé da Justa pra afinar a orquestra
E a Fubana dos artistas, varrida de sonhos,
Impetrava um calor nas reentrâncias das senhoras
E a folia fez-se noite
E a folia fez-se dia
Permita Deus
Este mês seja só carnaval
Dentro de mim passou a folia do planeta
Com seus trogloditas modernos
E o assoalho é só excrementos da festa
Da casa vazia
O reino dos fantasmas
Saia do sereno,
Saia do sereno,
Saia do sereno que esta frieza faz mal
Então o silêncio
E o meu sacrifício de Odin:
Apenas água para beber
E braços solidários
Tudo cinzas
E não fiz abstinência da carne
Nem interdição dos sentidos
A minha impulsividade e o suntuoso e o inexprimível
Um dia tão grande no desvario do frevo
Não quero penitência
Estou debilitado pelo incenso inebriante de mulher
Que dorme oculta no deleite do meu travesseiro
Tudo viverá enquanto meu verso existir
O bar, a noite, o cigarro e a solidão
O poeta morreu terça-feira
E eu sigo inquieto
O amor assim que deveria ser: a vida!
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