sexta-feira, abril 03, 2009
O TRÂMITE DA SOLIDÃO
Imagem: fonte EcoAldeia
SINA DE URUTAU
Luiz Alberto Machado
Foi numa noite de julho que eu me apaixonei pela primeira vez de verdade
Numa noite negra sem luar que eu amei o primeiro reflexo reluzente do seu olhar atrevido
Foi você a princesa linda e exuberante que estava perdida no caminho
E eu lhe encontrei, mostrei o caminho de volta e dividi minha paixão
Bebi do seu gesto o mais angelical dos sorrisos e minhas narinas se avivaram com o cheiro da rosa de suas faces
Foi assim vertiginosamente lindo como um show pirotécnico na torcida do Flamengo em pleno domingo de decisão no Maracanã
E foi assim cravando o seu gadanho na minha carne
Invadindo minhas veias
E intoxicando o meu sangue
Foi tomando conta de mim
Tão ofegante quanto perdido em pleno trânsito de qualquer metrópole
E foi com o jeito René de Vielmond olhar para mim, na apoteose da minha cama, que me levou por múltiplos caminhos ouvindo a canção da natureza
E ensinou-me naquele momento o segredo de Ariadne, entregando-me o novelo que bordava para que pudesse sair do labirinto da vida achando o meu próprio caminho de volta a você
Foi assim e se fez minha Isolda, eu Tristão desfalecido pela espera de sempre,
Foi assim e seqüestrou minha paz para uma outra mais plena e verdadeira
Foi assim e ao toque de sua mão artesã minhas faces enrubesceram e o vinho quente subiu-me a cabeça e eu não via mais nada além de sua efígie no espelho da minha cabeça louca de amor
Foi assim
E eu não sabia aprendiz como haveria de amar assim tão perdidamente
Foi assim
E prá meu desalento um raio de luz revelou minha fealdade
Um raio de luz, simplesmente, desmoronando castelos e fantasias construídas em nome do amor
Um raio de luz apenas e tudo acabou
Um raio de luz afugentou aquela a quem havia doado toda minha alma
Ela fugiu num só instante
Feito a fuga da ninfa Aretuza à paixão arrebatadora de Alfeu
Feito quem foge do leprosário mais execrável
Foi assim
E assim tornei-me um pássaro triste
Passando a noite a dar funéreos gemidos
E me esgoelando em poemas das tripas coração
Sofrendo por haver recusado uma visita ao Menino Jesus
Foi assim
E hoje sou uma alma penada
Um fantasma em forma de ave
Quebrando o silêncio da noite
Com o meu fadário
Que foi? Foi! Foi! Foi!
Hoje sou ave sinistra
Largo agouros à lua
E a minha infinita tristeza
Esconde tenaz gargalhada de proteger donzelas de seduções
Foi! Foi! Foi!
Eu sei,
Estou morrendo por querer demais do ser amante
Um desprezado sob a luz de Capéi
Esperando Raoom eternamente
Certo de que o amor haverá de me recompensar
Um dia
Foi! Foi! Foi!
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