sexta-feira, abril 25, 2008

PRIMEIRA REUNIÃO



Imagem: Madame Camus – 1870, do pintor francês Edgar Degas (1834-1917).

SUBMERSÃO DOS SENTIDOS

Luiz Alberto Machado

Meus filhos não sabem da guerra!
E nos seus olhos perdidos arreviro de noite
E vou me esvaindo sozinho, olhos secos nas noites em adagas
Enquanto sigo com as chagas abertas no sol.

Meus filhos não sabem da guerra!
E sigo sozinho desenterrando segredos
Aqueles segredos que não pude conter por muito mais tempo
No meu vário silêncio.
Segredos sem fechaduras, sem dentes, alicates,
Segredos de dor e da alma de ontem
Registros de cartas aviltadas
De sombrias desventuras
De resignação.

Meus filhos não sabem da guerra!
Soubessem, não me amavam sorrir.
E seus olhos são velas acesas e eu no escuro com medo
Em carne viva e beirando abismos menores que um triz
E eu afogado numa gota do escuro sem saber fugir
Metido no medo da infância e da ruindade adulta.

Meus filhos não sabem da guerra!
Soubessem, não me amavam sorrir.
Não sabem que sozinho amanheço de noite.

Meu mundo é miúdo menor que um aceno
Resignado à comunhão do rio da minha vida
Completamente vadio no fastio do mormaço
Porque ainda sonho sozinho na minha arredia solidão
E sorrio verdades na minha ingênua fadiga

Meus filhos não sabem da guerra!
Soubessem, não me amavam sorrir.
Não sabem que sozinho amanheço de noite.
Não sabem, meus filhos. Um que se foi, a outra que irá já tão tarde
Com a minha carne acesa no prisma da vida.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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